domingo, 17 de julho de 2016

SOBRE A REAÇÃO À RECESSÃO


Carga rápida no crescimento

Por André Araújo

Os dados sobre a queda no setor de serviços em maio são assustadores. Transportes caíram mais de 9% em relação a maio de 2015, cabeleireiros, lanchonetes, lavanderias... todos os setores de serviços caíram entre 6 e 9%, uma tragédia porque são setores que empregam muita gente.
Hoje estive em uma fábrica de móveis para escritório. Marca nobre. O faturamento necessário e que conseguiam até meados de 2014 era de R$ 3 milhões mensais. Este ano têm faturado em média R$ 300 mil por mês. Têm 200 empregados. Vão demitir todos e fechar. Essa é uma realidade entre firmas médias. Como disse o dono, quem vai comprar móveis de escritório se estão fechando andares inteiros de escritórios? Um terço dos clientes está na Lava Jato, estão se desintegrando, estão vendendo tudo, até mesas e cadeiras; não têm mercado para móveis novos.
O Brasil está afundando numa recessão brutal nunca vista antes e persiste nos fatores que causaram essa recessão.
1. Política monetária restritiva: não só juros absurdos mas também pouco dinheiro em circulação. Ontem havia no Brasil R$ 208,8 bilhões de meio circulante físico em Reais para um PIB, em 2015, de R$5,9 trilhões, o que dá 3,53% do PIB. Nos EUA existe US$1,46 trilhão em circulação para um PIB de US$17,9 trilhões, o que dá 8,13%. Portanto os EUA têm um meio circulante duas vezes e meia maior que o do Brasil. A pergunta é: POR QUE o Brasil tem tão pouco dinheiro em circulação? Pior ainda, nível parado: em 2013 era de R$199,6 bilhões, um crescimento de 5% em três anos, muito abaixo da inflação. A falta de liquidez na economia é impressionante, irracional.
Falta de liquidez, falta de crédito, economia travada pela política monetária, e só vai ficar pior com a política econômica minimalista, medíocre, de "trazer a inflação para o centro da meta", enquanto o problema real da economia não é a inflação, é a recessão. Pouca moeda em circulação, Real valorizado muito além da lógica, moeda forte e economia em ruínas. Como se pode, diante da realidade à vista de todos, propor tal política monetária insana?
2. Falta de um programa agressivo de estímulos ao investimento em infraestrutura - mais de 1.500 obras paralisadas -, imensas carências em saneamento, moradia, ferrovias, prédios escolares em péssimo estado pelo Brasil todo.
Um Banco de Obras S.A. com R$1,6 trilhão de capital terminando obras e jogando pesado na infraestrutura (seria bem vindo): o desembolso é espaçado e a base produtiva tem enorme capacidade ociosa - enquanto (houver) desemprego não haverá inflação na mão de obra. Estímulo à economia produtiva (e não ao consumo) puxa a saída da recessão.
3. A Lava Jato precisa encerrar seus trabalhos para permitir o início de uma nova fase de crescimento, que necessita de um clima de otimismo fundamental para uma retomada. Prisões anunciadas como troféus e desmantelamento de empresas grandes e tradicionais, não há processo de crescimento nesse clima.
Todo ciclo de crescimento exige ousadia. JK fez o Brasil crescer com audácia e correndo riscos. Amanuenses da austeridade, contadores de feijões, gente que conhece economia só pela tela do computador e que nunca pisou em um chão de fábrica ou em um pátio de transportadora não tem o faro fino, a sensibilidade para dar saltos na economia.
Presidente algum vai puxar o crescimento com planilheiros que não entusiasmam nem seu motorista, e que jamais irão transmitir aquela faísca essencial para criar um "clima" de entusiasmo para os empresários ousarem.
Crescimento não é obra do acaso, exige elementos psicológicos definidos, liderança, disponibilidade de moeda, crédito em abudância, pouca burocracia, apoio da máquina toda voltada para o desenvolvimento, como foram os 30 grupos de trabalho de JK, ambiente pró-negócios, campanhas no exterior para trazer investidores.
Sem uma concentração de vários fatores o Brasil não sai da crise. (Fonte: aqui).

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A Operação Lava Jato vem sendo desenvolvida desde março de 2014, e a partir de então os impactos sobre a economia (não falemos de política...) se vêm sucedendo. Não obstante as perdas impostas à economia, entendemos, ao contrário do articulista, que a Operação - sem vazamentos e outras ilegalidades - deve durar o tempo julgado necessário.

Quanto à retomada do crescimento, faltou aludir: a) ao fato de que a classe empresarial está a exigir praticamente a extinção da CLT, com a eliminação de direitos trabalhistas (a exemplo do que se vê AQUI); b) à ausência de legitimidade do governo interino.

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