quinta-feira, 31 de agosto de 2017

FAÇAM SUAS ESCOLHAS, BWANAS


Veronezi.

SOBRE PARAR DE FUMAR


Como parar de fumar em cinco passos, do vício ao Holocausto, em "No Smoking"

Por Wilson Ferreira

O primeiro filme de Bollywood (a indústria cinematográfica da Índia) a fazer uma adaptação de uma obra de Stephen King. Definitivamente, “No Smoking” (2007) é um filme para cinéfilos aventureiros e amantes do estranho. Parece até que David Lynch encontrou-se com Bollywood – um thriller neo-noir psicodélico, com muito humor negro, surrealismo, um guru irmão bastardo de Hitler e... cigarros. Um arrogante homem bem-sucedido e fumante obsessivo compulsivo é ameaçado pela sua esposa com o divórcio, depois de respirar tanta fumaça. Como largar o vício? “No Smoking” oferece um método de cinco passos: consiga ajuda profissional, envolva familiares e amigos, música, lembrar-se do Holocausto e, finalmente, morra para si mesmo. Além do tema do nazi-fascismo, controle e vigilância da mente e da alma, “No Smoking” faz também um curioso mergulho nas associações simbólicas do tabaco e fumaça associados à alma e consciência.
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Um homem está preso em uma casa de madeira no meio do nada, numa espécie de gelado Gulag siberiano. Lá fora, um grupo de soldados russos fortemente armados estão vigiando-o. Na sala há um pequeno monitor de TV PB mostrando um telejornal falado em russo. Através da imensa janela, olha para o deserto gelado e vê no alto da colina uma banheira e, ao lado, um maço de cigarros.

Ele descobre que está ao vivo naquele telejornal russo – vê-se a si mesmo olhando através da janela. Sente uma incontrolável vontade de fumar. Dirige-se à porta e aperta um botão para chamar o guarda. Ao invés do som de uma campainha, ouve uma sirene, dessas da Segunda Guerra Mundial, misturada com a voz de um discurso de Hitler. Pede um cigarro e, como resposta, o soldado russo dispara com um revólver na sua direção.

Desesperado, o homem quebra a janela e corre pela neve em direção daquele maço de cigarros ao lado da banheira, até receber um tiro nas costas de um soldado russo.

Essa é a primeira sequência do filme hindu, altamente metafórico e surreal, chamado No Smoking (2007) do diretor Anurag Kashuap. Um filme para os amantes do estranho. Uma produção que poderia ser descrita como o resultado do encontro de David Lynch com Bollywood, a indústria cinematográfica da Índia.

A princípio, No Smoking pode ser descrito como um neo-noir thriller psicodélico. O primeiro filme de Bollywood baseado em um conto de Sthephen King –Quitters Inc. de 1978.  

Embora o filme tenha recebido aplausos e louvor em diversos festivais pelo mundo, na Índia foi um fracasso de bilheteria. Parece que No Smoking estava à frente do seu tempo na indústria do cinema daquele país por apresentar um enredo obscuro e estranho misturando elementos de surrealismo, fantasia, sonho, realismo, horror, humor negro e muitas sequências musicais (praticamente vídeo clipes independentes dentro do filme), marca registrada dos filmes de Bollywood para conseguir apelo comercial.


Foi desaprovado pelo público e crítica indianos. Os poucos que assistiram ficaram perplexos com uma narrativa incomum na qual não há um tom dominante, confundindo o espectador mais desavisado acostumado a finais felizes e narrativas lineares.

O Filme


No Smoking acompanha um yuppie rico, bem sucedido, arrogante e  fumante obsessivo compulsivo. Sr. K (John Abraham), como é chamado, é capaz de passar horas em sua banheira fumando. E costuma expulsar velhinhas de elevadores que reclamam por ele fumar em lugares fechados.

A surreal cena que abre o filme é uma síntese alucinada do que veremos nas quase duas horas de projeção, oscilando entre a realidade e a ilusão, explorando o interior da mente de alguém viciado em tabaco. Na verdade o tabagismo é usado como uma metáfora para mostrar como o funcionamento da mente humana torna-se vítima de dispositivos autoritários de vigilância e controle tão insidiosos que são capazes de ir além da mente – alcançam a própria alma.

Em muitos aspectos, No Smoking lembra o filme Vidas em Jogo (The Game, 1997), no qual um entediado banqueiro bem-sucedido participa de um jogo que se torna cada vez mais pessoal, confundindo ilusão e realidade até chegar à paranoia e desespero.


Historicamente, sabemos que as primeiras campanhas de propaganda antitabagista foram criadas pelos nazistas na década de 1930 – Hitler, vegetariano e não fumante, acreditava que o cigarro envenenava a própria alma da raça ariana. Mas também sabemos que, para os médicos da SS, o antitabagismo foi um mero pretexto para o controle da população e identificação daqueles que supostamente não preenchiam os requisitos da pureza racial. Caso a Alemanha ganhasse a guerra, o Holocausto se voltaria contra o próprio povo alemão.

Com muito humor negro e surrealismo, No Smoking mostra cinco irônicos passos para abandonar o vício do cigarro. Mas, cuidado! Alguma coisa do velho misticismo e higiene social nazista está sendo ressuscitada em plena Índia...

Primeiro passo: consiga ajuda profissional


Sr. K tem pesadelos com russos negando-lhe cigarros. E sua esposa Anjali (Ayesha Takia), cansada de tanta fumaça, ameaça com o divórcio. Seu amigo Abbas (Ranvir Shorey), um ex-fumante, está ansioso em lhe recomendar uma ajuda profissional – uma empresa chamada “O Laboratório”, com um sinistro call center com mulheres vestidas de burca, localizada em uma suja viela em uma favela de Calcutá.

Lá o Sr. K encontra um enigmático vendedor de tapete com um olho de vidro que lhe mostra uma passagem secreta com infinitas escadarias, até encontrar um anão e outra mulher de burca.


Segundo passo: envolva família e amigos


Logo o protagonista encontra um guru que atende por Shri Shri Prakash Guru Ghantal Baba Bengali (Paresh Rawal), que proclama que ninguém saiu dali sem uma cura para os vícios – os vícios são doenças da alma, enquanto o corpo é puro, afirma o guru. Ao mesmo tempo em que o assistente anão lhe traz o contrato para ser assinado.

Na parede um estranho retrato no qual o guru anda de carro ao lado de Hitler – Baba Bengali seria um irmão bastardo do líder alemão. E logo percebemos as insólitas conexões: o programa de reabilitação do “Laboratório” consiste num jogo de punições de amigo e familiares, a cada cigarro que o Sr. K porventura ponha na sua boca. Além da ameaça de ter os dedos cortados...

Sua vida começa a ser monitorada 24 horas e dezenas de fitas VHS são arquivadas para análise no “Laboratório”.

Terceiro Passo: Dê um tempo para a música


Como em todo filme hindu, clips musicais são inseridos na narrativa. Musicas que, na verdade, são armadilhas para o Sr. K voltar a pegar num cigarro, como na cena do cabaret numa produção do tipo off-Broadway onde um rapaz andrógino e seus cantores de apoio cantam: “Cada vez que um cigarro é aceso, eu queimo...”.

O som é alto, mas a fala dos personagens aparece em balões de histórias em quadrinhos, numa curiosa experiência de intertextualidade fílmica – isso deve ter confundido os hindus: afinal, isso é comédia, drama ou thriller?


Quarto Passo: Lembre-se do Holocausto


Numa sequência vemos o filme A Lista de Schindler passando num monitor de TV. Além da narrativa fazer uma comparação entre campos de concentração e programas de extinção do tabagismo. Ou salas cheias de fumaça de cigarro no qual são presos familiares como castigo.

Fumaça do cigarro comparada com gás do Holocausto? Homens desconhecidos presos por trás de grades no “Laboratório” com uniformes que parecem com aqueles de Treblinka e Auschwitz?

O tema do fascismo é claro em No Smoking: como o tabagismo é o pretexto para controle e vigilância políticos.

Quinto passo: morra para si mesmo


Controle absoluto: a mente separa-se do corpo. Para Baba Bengali, somente uma mente forte pode domar o corpo puro. Mas se o vício enfraquece a mente e a alma, o corpo deve ser forçosamente separado.

O filme então mergulha em alucinações, tele-transportes via banheiras, dilatação do tempo, multiversos e finalmente a prisão da mente em um campo de concentração estilo nazista em algum universo paralelo – enquanto vê o seu corpo, o seu outro eu, vivendo finalmente em paz com sua esposa, sem fumar e... sem vida, virtus ou élan.


Além do tema do nazi-fascismo, controle e vigilância da mente e da alma, No Smoking faz também um curioso mergulho nas associações simbólicas do tabaco e fumaça associados à alma e consciência.

O simbolismo da fumaça sempre esteve associado aos espíritos, almas, um canal analógico de comunicação com o mundo espiritual, como no caso das fumaças de charutos na Umbanda – sobre a semiótica da “macumba” clique aqui.

Parece ser sincrônica a obsessão antitabagista da propaganda nazi nos prenúncios da Segunda Guerra Mundial. Hitler queria o controle total de corações e mentes de uma nação. Nada mais lógico que combater o simbolismo da idiossincrasia, individualidade – o controle da fumaça como o controle da própria alma até morrermos para nós mesmos. A fumaça do tabaco foi substituída pelo gás da indústria química alemã.

Sem mais resistências, o corpo inerte se entrega à ordem totalitária.

A ambiguidade de No Smoking (afinal, o filme é contra ou a favor do tabaco?) foi demais para o público de Bollywood. 

Ficha Técnica

Título: No Smoking
Diretor: Anurag Kashyap
Roteiro:  Raj Singh Chaudhary, Anurag Kashyap
Elenco:  John Abraham, Ayesha Takia, Paresh Rawal, Ranvir Shorey
Produção: Big Screen Entertainment, Eros Entertainment
Distribuição: Big Screen Entertainment
Ano: 2007
País: Índia

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(Fonte: CINEGNOSE - aqui).

O JOGO APOCALÍPTICO


Thiago.

PERFIL DO FINANCIADOR


Financiador do filme sobre a Lava Jato é investigado pela Polícia Federal e pelo MPF no Pará

Por Luis Nassif

Principal financiador do filme sobre a Lava Jato, o empresário Sérgio Amoroso é um tipo controvertido. Self-made-man, começou a vida como office boy, montou uma companhia de venda de papéis e, em 1999, conseguiu assumir o controle do Projeto Jari, que estava sob intervenção do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), pagando 1 real e assumindo as dívidas.
Desde então, tornou-se uma espécie de Dr. Jekill e Mr. Hide do setor de celulose. Numa ponta, recebeu vários prêmios de responsabilidade corporativa, apregoando a defesa da sustentabilidade, as iniciativas em favor de crianças com câncer, entre outras atividades meritórias.
Em uma entrevista a uma revista de sustentabilidade, Amoroso deu a fórmula de sucesso do grupo:
“Para o Grupo Orsa, o desenvolvimento dos negócios deve ser um fator de transformação da sociedade, por meio de ações economicamente viáveis, socialmente justas e ambientalmente corretas. O compromisso com os funcionários, a cooperação com os fornecedores, o apoio às comunidades e a preocupação com o meio ambiente norteiam todas as decisões de negócio”.
No silêncio da selva amazônica, as informações que poucas vezes chegavam ao sudeste mostravam um perfil diferente.
No dia 4 de dezembro de 2015, uma operação de Polícia Federal foi atrás de agentes públicos do estado do Pará, da Secretaria do Meio Ambiente e do Instituto de Terra do Pará, envolvidos em fraudes no sistema de comércio florestal, beneficiando justamente o Projeto Jari. Houve buscas e apreensões em 41 endereços ligados a cinco empresas. Houve duas prisões preventivas e 16 temporárias.
Segundo as investigações, 81% da madeira retirada do plano de manejo fraudulento tinha sido destinada à Jari Florestal, uma das maiores empresas exportadoras de madeira do país. Com o avanço das investigações, a Polícia Federal descobriu que o mesmo tipo de operação com evidência de fraude ocorreu envolvendo a Jari e outros planos de manejo.
O golpe foi batizado de “lavagem de madeira”. Segundo a nota do Ministério Público Federal do Pará, “a madeira retirada em desmatamentos ilegais na Amazônia entra nos sistemas de controle da comercialização de produtos florestais por meio de fraude em planos de manejo aprovados pelo poder público, geralmente em nome de laranjas. Comprada por grandes empresas exportadoras, a madeira derrubada ilegalmente é vendida com aparência de legalidade para compradores no exterior”.
Só de um dos planos, segundo o Ministério Público, foram movimentados mais de R$ 28 milhões em madeira ilegal entre dezembro de 2014 e fevereiro deste ano, devido ao alto valor comercial do ipê.
Constatou-se que 81% da madeira fraudada tinha sido destinada à Jari Florestal S.A., de Sérgio Amoroso. Era tanta madeira que necessitava do equivalente a uma frota de 220 caminhões para ser transportada.
O golpe da Jari se ampliou com a compra de créditos para comercialização de ipê de sete empresas próximas a Belém. A fraude era tão escancarada que os registros indicavam que a madeira levou 10 minutos para ser transportada de Almerim a Belém, a 800 km de distância.
Foi apenas o desfecho de uma aventura empresarial enganosa. Amoroso criava uma falsa blindagem com seus projetos beneméritos. Mas desde a compra do Jari mergulhou em vários problemas financeiros. Em uma de suas últimas crises, contou com a ajuda de deputados do PT e do PSOL para obter ajuda do BNDES.
Sobram denúncias de abusos cometidos na Amazônia. Montou um negócio de madeira em que o plantio era de sitiantes. Aqueles que não concordavam em aderir ao plantio eram ameaçados.
Em duas ocasiões realizou demissões maciças de trabalhadores. Em 2008 recebeu R$ 170 milhões do BNDES para o financiamento do plantio de eucalipto, com a condição de manter os empregos. Para firmar posição a favor do emprego admitiu 800 trabalhdores. Mal recebeu o financiamento, demitiu 700.
Este ano, surgiram notícias de dificuldade de pagamentos a terceirizados, além de alguns pedidos de falência.
Aparentemente, financiando o filme, Amoroso visou comprar proteção.  -  (Fonte: Jornal GGN - aqui).
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Decorreria do temor da divulgação de perfis como o acima o mistério quanto ao(s) financiador(es) da produção cinematográfica? Na verdade, os meses de silêncio sobre o assunto funcionaram como estopim de desconfiômetro: se não divulgam o(s) nome(s), temem algo. De fato. 

Mas, e quanto ao filme? A pré estreia já aconteceu, e a imprensa estava lá:

Post Jornalista da Folha detona filme da Lava Jato: exagerado, partidário e clichê - AQUI:



FILME SOBRE A OPERAÇÃO LAVA JATO TROPEÇA EM CLICHÊS E EXAGEROS

Por Bernardo Mello Franco

Ninguém esperava uma versão nacional de "Todos os Homens do Presidente". Mesmo assim, "Polícia Federal - A Lei é Para Todos" fica devendo, e muito, para uma produção que se propõe a recriar a maior operação anticorrupção do país.

Com orçamento milionário e elenco de globais e ex-globais, o filme exagera no tom de exaltação da Operação Lava Jato.
O resultado é uma trama maniqueísta, sem nuances, que, em vários momentos, se assemelha a uma peça de propaganda.
Depois dos créditos iniciais, uma citação de Ruy Barbosa dá uma ideia do que vem a seguir: "De tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto".
O roteiro não tem vergonha de nada: retrata investigadores como heróis quase infalíveis e recorre à caricatura para barrar qualquer empatia com os investigados.
A produção assume um partido desde o título: o partido da polícia. A ação é comandada por um trio de delegados determinados a prender políticos corruptos e passar o país a limpo.
O protagonismo dos homens de preto é tanto que os procuradores da força-tarefa e o juiz Sergio Moro, representado pelo galã Marcelo Serrado, ficam relegados a papéis secundários.
O filme adota tratamento desigual até na apresentação dos personagens.
Políticos e empreiteiros aparecem com nomes reais, como Lula e Marcelo Odebrecht. Os investigadores são protegidos por pseudônimos, embora alguns pareçam clones dos originais.
Os diálogos patinam em clichês como "a corrupção chegou aqui com as primeiras caravelas" e "o sistema é feito para não funcionar".
Os trechos que se salvam são os que contam como uma apuração corriqueira, com foco na ação de um doleiro, abriu caminho para a descoberta de um gigantesco esquema de corrupção na Petrobras.
No entanto até nisso a produção tropeça na inverossimilhança. Numa passagem, policiais remexem papéis queimados numa churrasqueira e descobrem contas secretas na Suíça.
Em outra, um delegado acorda no momento em que a presidente Dilma Rousseff anuncia, na TV, a nomeação de Lula para a Casa Civil.
Como o fato ocorreu às 16h de uma quarta-feira, fica a suspeita de que alguém dormiu demais: o personagem ou o roteirista.
O empenho em defender a Lava Jato de qualquer crítica deve empolgar os foliões do Morobloco, mas pode afastar um público mais moderado das salas de exibição.
Num momento em que a Lava Jato cerca o governo Temer e atinge políticos de todos os grandes partidos, a ênfase nas acusações ao PT passa a impressão de que o filme resolveu contar apenas uma parte da história.
Os produtores prometem ampliar o leque de vilões numa continuação. O problema será convencer os espectadores do primeiro episódio a retornarem ao cinema.

quarta-feira, 30 de agosto de 2017

DO ÓDIO


Michael Kountouris. (Grécia).

SINCERIDADE BATE RECORDE NA POLÍTICA


S Salvador.

O CASO DO AMIGO DO JUIZ


"Apesar de tratar o advogado Rodrigo Tacla Duran como um bandido, a verdade é que o juiz Sergio Moro, num primeiro momento, não quis transformá-lo em réu na Lava Jato. A desculpa utilizada foi que processar um foragido que precisa de extradição junto com pessoas já presas no Brasil iria atrasar o julgamento. Por isso, Moro decidiu não aceitar a primeira denúncia do Ministério Público Federal contra Duran. Só veio a fazê-lo em outra tentativa dos procuradores, meses depois.
A denúncia contra Duran por lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa foi apresentada pelos procuradores de Curitiba em 11 de abril deste ano - quando o investigado, que tem cidadania espanhola, já era considerado foragido da Justiça. Nove dias depois, Moro analisou a acusação e decidiu não aceitar a parte que diz respeito ao advogado.
No domingo (27), a jornalista Mônica Bergamo publicou reportagem sobre um trecho vazado de um livro que Duran pretende lançar nos próximos meses. O advogado promete relatar na obra um episódio comprometedor para um “amigo pessoal” de Sergio Moro, o advogado trabalhista Carlos Zucolotto. De quebra, as informações expõem os procuradores de Curitiba.
Segundo os relatos de Bergamo, Duran acusou Zucolotto de “intermediar negociação paralela com a força-tarefa da Lava Jato”. Segundo ele, o amigo de Moro o procurou para oferecer seus serviços em Curitiba alegando que tinha “bons contatos” e que poderia ajudar a construir um acordo de colaboração premiada com o Ministério Público Federal.
Em troca, o amigo de Moro pediu para receber ⅓ dos honorários “por fora”, com a desculpa de que precisava pagar as pessoas que participaram das tratativas nos bastidores.
Antes de Zucolotto entrar em cena, o procurador Roberto Pozzobon teria proposto a Duran uma multa de 15 milhões de dólares para fechar a delação. Pelos relatos no livro, Zucolotto fez algumas “sondagens” e afirmou que poderia “melhorar a proposta”, inclusive usando um “contato” para levar Deltan Dallagnol à mesa de negociação.

"(...) de fato, os procuradores Julio Noronha e Roberson Pozzobon enviaram por e-mail uma minuta de acordo de colaboração com as condições alteradas conforme o que Zucolotto havia indicado em suas mensagens", assinalou Duran
Contrariado com a narrativa, Moro entrou em contato com seu amigo pessoal e publicou uma nota no site O Antagonista, na qual diz que não há provas das acusações relatadas e lamenta “o crédito dado pela jornalista ao relato falso de um acusado foragido tendo ela sido alertada da falsidade por todas as pessoas citadas na matéria.”
Os principais fatos envolvendo Duran ocorreram na seguinte ordem:
- Em 5 de julho de 2016, Moro decreta a prisão preventiva e autoriza o bloqueio de bens de Duran, que vinha sendo investigado por offshores para lavar dinheiro para empreiteiras que tinham contratos com a Petrobras. O pedido (busca e apreensão criminal nº 5035144­ 88.2016.4.04.7000) foi feito pelo MPF no âmbito do processo 5048976­28.2015.4.04.7000 - que, segundo o portal da Justiça do Paraná, está em segredo de Justiça.
- Em novembro de 2016, a imprensa deu notícias de que as autoridades, a mando de Moro, bloquearam recursos das contas de Duran.

- Em 11 de abril de 2017, o MPF acusa Duran e outros por lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa.

- No dia 20 de abril de 2017, Moro acolhe parcialmente a denúncia, livrando Duran da situação de réu. O argumento usado pelo juiz foi que Rogério Gonçalves, um dos denunciados, já estava preso preventivamente no Brasil, enquanto a situação de Duran exigia um embate com a Justiça da Espanha em torno da extradição. Moro avaliou como um prejudicial à celeridade do julgamento o fato do MPF ter optado por denunciar Duran nessas condições, e decidiu rejeitar esse trecho da acusação. “Não é apropriado reunir na mesma ação penal pessoas que se encontram em situação processual díspares, sendo necessário imprimir urgência à ação penal contra o acusado preso no Brasil, o que não será possível com outro acusado no exterior”, disse. O juiz sugeriu aos procuradores que apresentem um caso exclusivamente sobre Duran. “Assim, essa parte da denúncia não será recebida e deverá o MPF, querendo, promover ação penal em separado a respeito desses fatos, não sendo apropriado incluí-la na presente."

- O processo 5015608-57.2017.4.04.7000, que poderia ter Duran como réu, mas não tem, entrou em fase de alegações finais. A ação originária (50565024620154047000), que ainda pode estar relacionada ao advogado, está em segredo de Justiça. 
- O Ministério Público acatou a ordem de Moro e apresentou uma denúncia apartada, que só foi aceita pelo juiz em 29 de maio (ação penal 5019961-43.2017.4.04.7000). No mesmo despacho, Moro disse que preferiria aguardar o resultado do processo de extradição antes da citação por cooperação internacional.
- Em 28 de julho, a imprensa divulgou que a Espanha negou a extradição de Duran, mas advertiu que ele poderá ser julgado naquele país com base nas informações enviadas pela Justiça brasileira quando da ordem de prisão preventiva. 
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Folha ainda expôs que Rosangela Moro e Zucolotto eram sócios, mas Moro afirmou que se tratava de uma "sociedade de advogados sem comunhão de trabalho ou de honorários", e que Rosangela "jamais trabalhou em processos do escritório do sr. Carlos Zucolotto e vice-versa".
Uma fonte que atua na Lava Jato em Curitiba afirmou ao GGN, contudo, que "ao que parece" a esposa de Moro "saiu correndo" do escritório em 2016, qando este entrou na mira de investigadores por "prestar serviços para petrolíferas com interesse nos resultados da Lava Jato".
Zucolotto, por fim, disse que as acusações de Duran são inverídicas e não passam de uma tentativa de implicar Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato, com o objetivo de fugir de uma ação penal."



(De Cíntia Alves, jornalista, post intitulado "Moro já chegou a livrar suspeito que acusa seu amigo pessoal de cobrar propina", publicado no Jornal GGN - aqui.

Da referida jornalista:

"Moro mudou versão sobre sociedade da esposa com o 'amigo' após escândalo

Após a revelação de que pode ter existido tráfico de influência e possível pagamento de propina em uma negociação de acordo de delação na Lava Jato de Curitiba, o juiz Sergio Moro admitiu à imprensa que sua esposa, Rosangela, teve sim sociedade com o escritório de Carlos Zucolotto, seu "amigo pessoal". Mas reforçou que a parceria se deu "sem comunhão de trabalho ou de honorários", numa tentativa de preservar a mulher das denúncias que agora caem sobre os ombros de Zucolotto.

Mas a relação de Rosangela com o escritório de Zucolotto ainda não está muito clara. Principalmente porque, de acordo com uma reportagem do Conjur, há dois anos, Moro deu outra versão sobre essa parceria: ele disse que sua esposa tinha sociedade com Zucolotto visando"apenas a partilha de honorários", o que não significa, contudo, que eles atuavam nos mesmos processos.

A fala contraditória de Moro está registrada em uma representação contra dois blogueiros que teriam publicado notícias falsas sobre as atividades de Rosangela no escritório de Zucolotto.

Em 2015, surgiram informações dando conta de que a empresa de Zucolotto advogava para empresas como a Helix e a Ingrax. O Jornal i9, um dos processados por Moro, teria associado a Ingrax à Shell e levantado conflito de interesse na atuação da Lava Jato contra a Petrobras."  -  Para continuar, clique AQUI.
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                              (Clique para ampliar).

Dá-se, então, que a defesa do ex-presidente Lula peticionou ao juiz da Lava Jato a "substituição de uma testemunha na ação penal em que o petista é acusado de ter recebido propina da Odebrecht para a compra de um terreno que seria destinado à construção do Instituto Lula. Em vez de Maria Lúcia de Oliveira Falcon, que está na lista e ainda não foi ouvida, os defensores do ex-presidente indicaram justamente um ex-advogado da empreiteira: Rodrigo Tacla Duran". O pedido foi indeferido. A defesa anuncia que vai recorrer.

O jornalista Reinaldo Azevedo comentou os argumentos apresentados pelo juiz para embasar sua decisão: "Moro crava coisas perigosas em decisão contra Lula; fosse como diz, Lava Jato teria de cair". - AQUI.

Duran promete detalhar suas denúncias em livro a ser lançado em outubro. Até lá, algo nos diz que mais fatos e contornos virão).