domingo, 30 de novembro de 2014

HOT CARTOON

              Bush, circa 2002:
              "O aquecimento global é apenas uma teoria".

Ross P. Kettle. (EUA)

A VEJA E A MELHOR IDADE


"A queda pode ser corajosa, pode ser digna, pode ser épica.

Ou pode ser cômica e patética.

A queda da Veja vai pelo segundo caminho.

Um episódio é particularmente revelador do anedotário que cercará a transformação de uma grande revista, na Era do Papel, para uma revistinha nos tempos digitais.

Considere.

O presidente da Abril, Fabio Barbosa, procurou o diretor de redação da Veja, Eurípides Alcântara, para tratar de um assunto que o preocupara: o envelhecimento dos leitores da revista.

Este é um drama para qualquer publicação. Nos anos 1980, o Estadão perdeu uma liderança centenária para a Folha exatamente pelo envelhecimento de seus leitores.

Leitor jovem, como qualquer tipo de consumidor jovem, é tudo o que os editores querem: isso costuma garantir fidelidade por muito tempo. E é um excepcional fator de atração de anunciantes, também eles em busca de jovens, com seu imenso apetite por consumir, consumir e ainda consumir.

Para jornais e revistas, há um drama adicional: leitores velhos não demoram muito a morrer. É triste, mas é a vida como ela é.

Posto diante do problema do envelhecimento dos leitores, Eurípides se saiu com a seguinte resposta: “Somos que nem o Charles Aznavour. Sempre vamos ter o nosso público.”

Não ficou claro se Fabio Barbosa comprou a resposta. Mas uma frase dessas, numa corporação, jamais morre numa única conversa. Não se sabe bem como, ela passou a ser contada como piada entre os executivos da Abril.

Não é a única.

Gargalhadas explodem quando é rememorada a primeira reunião de Alexandre Caldini, comandante da divisão de revistas da Abril, com os novos subordinados. “Nosso negócio é revista”, disse ele. “Quem não acredita em revista pode levantar e ir embora.” Só faltou, para a perfeição, o fecho justo: “O último apaga a luz, por favor.”

De volta a Aznavour.

Não é algo que possa ser usado como arma de vendas pela equipe de propaganda, naturalmente. Quem anuncia quer um público interessado em consumir mais que bengalas e medicamentos diversos.

O público que lota as exibições de Taylor Swift é mais auspicioso, aos olhos do chamado mercado, do que os veteranos que prestigiam Charles Aznavour.

Fora da comédia, como a Veja se rejuvenesceria para ganhar público jovem?

É a chamada missão impossível.

O conteúdo teria que ser outro, capaz de captar o espírito do tempo. E a mídia, em si, também: o papel morreu.

Dito tudo isso, é divertido imaginar os funerais da Veja com a trilha sonora de Charles Aznavour.

Dance in the old fashioned way."





(De Paulo Nogueira, em seu blog DCM, post intitulado "O envelhecimento dos leitores da Veja" - aqui
Entreouvido na Sala do Ostracismo: "Os leitores da Veja estão envelhecendo. Definitivamente, a Melhor Idade, no âmbito da imprensa escrita, não é o melhor.").

VEJA: BOIMATE BRASIL


Mais um boimate da Veja

Por Miguel do Rosário

Já virou lenda a inacreditável barriga da Veja quando reproduziu uma matéria, publicada na imprensa londrina (no dia da mentira), de que cientistas alemães haviam conseguido criar um híbrido entre o boi e o tomate.

O boimate tornou-se símbolo da decadência do jornalismo brasileiro, em especial da facção reacionária representada magnificamente pela revista Veja.

Desde então, a Veja produz boimates em série.

Hoje fiquei sabendo de mais um.

Há (duas) semanas, Rodrigo Constantino, colunista da Veja, publicou um iracundo post repercutindo uma denúncia, feita por um procurador de Goiás, de que crianças brasileiras estariam sendo levadas para a Venezuela, para serem doutrinadas na ideologia bolivariana.

O procurador e o colunista basearam-se numa notícia, catada no site do governo venezuelano, que algumas crianças de uma comunidade do Brasil receberiam aulas de jornalismo comunitário.

Era boimate puro na veia.

A comunidade chamada Brasil fica no estado de Sucre, Venezuela.

Não tem qualquer relação com o Brasil. Não há sequer comunidade brasileira na cidade. (Fonte: aqui; mais comentários, aqui).

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A comunidade de Brasil é um bairro popular situado na cidade de Cumaná, no Estado de Sucre, 400 km a oeste de Caracas.

De fato, a visão do colunista de Veja e do procurador foi embaçada pelo denuncismo exacerbado.
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Acima, ilustração da matéria 'Fruto da Carne', publicada por Veja em sua edição nº 764, em 1983.  

RECICLAGEM


Julio Carrion Cueva. (PERU).

CRISE MUNDIAL: AUSTERICÍDIO NA BERLINDA


Fortalezas ideológicas neoliberais começam a ceder diante da crise

Por José Carlos de Assis

Paul Krugman, de longe o comentarista econômico mais acurado da atualidade, observa em sua coluna em The York Times que os economistas ditos ortodoxos e obcecados por duras medidas contracionistas começam a se dar conta, seis anos depois do início da crise financeira (que se tornou fiscal), de que vem recomendando medidas equivocadas de contração para enfrentá-la.

Aparentemente, depois de todos esses anos de sofrimento inútil, principalmente na Europa, os keynesianos voltam a cena em alguns centros importantes de formulação de ideologia econômica como a OCDE, que começa a pregar expansão fiscal.

Na verdade, o fundamentalismo neoliberal para enfrentar a crise não é um fenômeno que apareceu em 2008, mas sim em 2010. Em 2008, na reunião do G20 em Washington, e posteriormente em Londres e Pittsburg, em 2009, até Sarkozy se dizia keynesiano. Com isso a economia começou a recuperar-se. Foi a obsessão alemã com medidas de austeridade fiscal e monetária, ancoradas em pareceres dos tecnocratas do FMI e da OCDE, que fez abortar uma recuperação em andamento para levar os países industrializados à prolongada recessão que, na Europa, ainda continua.

O lado espantoso disso tudo é que os Estados Unidos, que têm voz proeminente nas instituições internacionais que pregam a austeridade, realizam eles próprios uma política fiscal e monetária extremamente expansiva, de corte keynesiano. É verdade que eles saíram de um déficit de 1,7 trilhão de dólares para menos de 1 trilhão; contudo, este último ainda é um déficit gigantesco. Quanto à expansão monetária, o que fizeram é sem precedentes na história: afogaram o mundo em 3,4 trilhões de dólares para "irrigar" o mercado. Não há surpresa que a economia norte-americana, diferentemente da europeia, esteja se recuperando razoavelmente nesse último ano.

A boa notícia trazida por Krugman infelizmente ainda não chegou ao Brasil. Nossos ortodoxos, isto é, nossos fiscalistas ainda não se deram conta de que a parte que eles consideram equivocada da nossa política econômica, por exemplo, a redução do superávit primário, é indiscutivelmente a parte certa num contexto de economia recessiva. Também foi certa a política de redução de juros, infelizmente abortada de forma precipitada por pressão do mercado. Mas foi equivocado o expediente de querer reduzir a inflação com aumento dos juros, aplaudido pelos falcões, quando não havia pressão real de aquecimento econômico sobre os preços.

O fato é que o neoliberalismo não reconhece a existência do ciclo econômico. Acha que a economia evolui numa linha reta ascendente, em qualquer circunstância, bafejada pela "confiança" infinita do empresariado nos seus fundamentos neoliberais. Essa crença contamina as instituições internacionais dominadas pela ortodoxia, e impregna profundamente a mídia dita especializada. Entretanto, seis anos de fracassos econômicos, sobretudo na Europa, é tempo demais. Vai chegar o momento em que até o FMI se dará conta de que não há saída fora de uma dose certa de keynesianismo e de expansão fiscal deficitária. Infelizmente, até lá, continuará o sofrimento de milhões. (Fonte: aqui).

J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

sábado, 29 de novembro de 2014

CARTUM IANQUE, LEITURA PIAUIENSE


Eric Allie. (EUA).
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O cartum aborda a crise previdenciária vivenciada pelo estado de Illinois, EUA, às voltas com a escassez de recursos para saldar pensões. Faz lembrar a crise por que passam o Piauí mais meia dúzia de estados brasileiros para fechar o orçamento 2015: déficits altíssimos, desrespeito à lei de responsabilidade fiscal, demandas avantajadas do Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público.

As demandas já são avantajadas em si mesmas, mas para 2015 há agravantes especiais:

.polpudo auxílio-moradia para juízes em geral e promotores/procuradores - inclusive, ao que consta, para magistrados e fiscais da lei residentes em imóvel próprio -, sem contar, no que tange aos primeiros, o que poderá vir de elevação salarial em razão do efeito cascata produzido pelo novo salário, em perspectiva, dos ministros do STF, que 'monocraticamente' decidiram estabelecer aumento de cerca de 22% para si mesmos, independentemente do já assegurado - também 'monocraticamente' - o já mencionado auxílio-moradia;

.o aumento salarial dos parlamentares, na esteira do efeito cascata do novo salário dos ministros do STF, além, obviamente, do início da nova legislatura.

Conclusão: vai faltar cobertor.

BRASIL CONTINUA ATRAENTE PARA INVESTIDOR ESTRANGEIRO


Investidor estrangeiro não dá 'bola' para crise e segue apostando no Brasil

Por Mauro Santayana

Enquanto aqui dentro, refém da síndrome da "crise" e do "fim do Brasil", muita gente está com medo de fazer negócios ou adiando investimentos, os estrangeiros, menos afeitos à imprensa local e aos comentários nos portais da internet, continuam apostando firme na segunda economia das Américas e sétima maior do mundo.

A Comissão Econômica para a América Latina informa que, até setembro, o IED - Investimento Estrangeiro Direto, caiu em cerca de 28%, em média, no continente, com destaque negativo para o México (- 18%), tido como o "queridinho" dos mercados. Enquanto isso, ainda segundo a CEPAL, o Brasil foi o único país em que cresceu o Investimento Estrangeiro Direto - acima de 8% -, que deverá se manter em um patamar superior aos 60 bilhões de dólares até dezembro, sem queda expressiva com relação aos últimos anos.

Segundo informa o "Valor Econômico", as estatísticas do Banco Central mostram que os investidores nacionais e estrangeiros reagiram de forma bem distinta quanto a um segundo mandato para Dilma Rousseff.

Se o investidor local, no período eleitoral e pós eleitoral, tirou dinheiro do país, os estrangeiros - certamente motivados pelo fato de o Brasil ter voltado a ter superávit primário no mês passado, ainda ter reservas acima de 375 bilhões de dólares, com uma dívida líquida pública de apenas 33% do PIB, e por recomendações de compra de ações como as da Petrobras, feita pelo Deutsche Bank, há alguns dias - apresentaram forte aporte em IED e na compra de títulos públicos e ações, com ingresso conjunto, no país, de mais de 11 bilhões de dólares em outubro. (Fonte: aqui).

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Essa informação - elevação do IED no Brasil - é minimizada pela imprensa, que elegeu a 'crise' como tema central. Pior ainda do que isso é o silêncio absoluto da mídia quanto às reservas que o país formou ao longo dos últimos anos, o chamado Fundo Soberano, o qual gira em torno de 375 bilhões de dólares.

O Fundo Soberano foi criado em 2008, mediante a Lei nº 11.887, por iniciativa do governo Lula, e tem como uma de suas finalidades "fazer poupança pública", para utilização, p. ex., em eventuais situações de desequilíbrio nas contas externas. Isso evita que aconteça o que se via no passado, quando era comum a ida do Brasil ao FMI, de 'pires na mão', em busca de socorro financeiro, como se viu em 1999, no governo FHC (que, note-se, recorreu outras vezes à 'ajuda' do Fundo).

Muitos empresários e investidores brasileiros desconhecem a existência do Fundo Soberano, visto que suas 'fontes analítico-midiáticas' nada informam a respeito. O que, pelo que se observa, está longe de acontecer relativamente aos investidores estrangeiros.

FICARAM OS (SABOROSOS) REPLAYS


Amarildo.

SOBRE FILMES QUE TRANSCENDEM A DIVERSÃO


Filmes que ensinam sobre história e economia

Por Clemente Ganz Lúcio

Um bom filme, espetáculo de teatro ou livro são capazes de garantir não apenas diversão, mas também grandes aprendizados. Cada situação, enredo e argumento pode propiciar oportunidades para refletir e desenvolver o conhecimento sobre a complexidade do mundo e das relações sociais.

Entre filmes que valem a pena ser vistos e revistos, há muitos, entre os quais os listados abaixo. São obras que nos recolocam diante de contextos e desafios muito atuais, com bons enredos, ótimas interpretações e pesquisas cuidadosas.

Grande Demais para Quebrar (Too Big to Fail, de Curtis Hanson, 2011, EUA) – retrata os bastidores que desencadearam a grande crise econômica de 2008.

Um Sonho Intenso (de José Mariani, 2013, Brasil) – documentário que trata da trajetória do desenvolvimento econômico e social brasileiro.

O Capital (Le Capital, de Costa-Gravas, 2012, França) – como o capital cria os escravos do sistema.

O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, de Martin Scorsese, 2013, EUA) – trata de rentismo, hipotecas e sistema financeiro.

O Exercício do Poder (L’Exercice de L’Etat, de Pierre Schoeller, 2011, França/Bélgica) – a vida de um político e a luta pelo poder.

Dossiê Jango (de Paulo Henrique Fontenelle, 2012, Brasil) – documentário que resgata fatos da política no Brasil nos anos 1950 e 1960.

Jango (de Silvio Tendler, 1984, Brasil) – documentário sobre Jango Goulart e o golpe de 64.

Getúlio (de João Jardim, 2013, Brasil) – os últimos 20 dias de Getúlio na presidência e as causas do suicídio.

No (de Pablo Larraín, 2012, Chile) – a luta política e a mídia no plebiscito no Chile pelo fim da ditadura de Pinochet.

Trabalho Interno (Inside Job, de Charles H. Ferguson, 2010, EUA) – documentário sobre a crise de 2008.

Tudo pelo Poder (The Ides of March, de George Clooney, 2011, EUA) – uma campanha presidencial nos Estados Unidos.

O Dia que Durou 21 anos (de Camilo Tavares, 2012, Brasil) – documentário que mostra a influência dos Estados Unidos no golpe civil-militar de 1964 no Brasil.

O Palácio Francês (Quai d’Orsay, de Bertrand Tavernier, 2012, França) – a burocracia e os jogos de poder.

A Questão Humana (La question humaine, de Nicolas Klotz, 2007, França) -o psicólogo do departamento de recursos humanos de uma grande empresa é chamado para uma tarefa adicional: monitorar um diretor, cujo comportamento parece suspeito.

Margin Call – O dia antes do fim (Margin Call, de J.C. Chandor, 2011, EUA) – o começo do efeito dominó da crise de 2008.

O Corte (Le Couperet, de Costa- Gravas, 2005, Bélgica/França/Espanha) – o drama de um executivo desempregado.

Boa Noite, Boa Sorte (Good Night, and Good Luck, de George Clooney, 2005, EUA) – um âncora de TV que tenta mostrar dos dois lados da história, em plena era do macarthismo, compra briga com o senador Joseph McCarthy e pela liberdade de expressão.

A Corporação (The Corporation, de Jennifer Abbott e Mark Achbar, 2003, Canadá) – documentário sobre as grandes corporações multinacionais.

Também há muito boas animações, como O Menino e o Mundo (de Alê Abreu, 2008, Brasil), sobre um garoto que, em busca do pai,se depara com a pobreza, exploração e falta de perspectivas.

Bons filmes! (Fonte: aqui).

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Clemente Ganz Lúcio é sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

AVE, ÁGUA


Angel Boligan.

BRASIL TEM BOA SAÚDE FISCAL


Brasil tem boa saúde fiscal

Por Diogo Costa

Há uma paranoia injustificável em relação ao tema do superávit primário.

Em primeiro lugar, nos últimos 20 anos, entre 1994 e 2013, em apenas duas oportunidades o Brasil apresentou déficit primário. Foi nos anos de 1996 e 1997, no primeiro governo de FHC-PSDB.

Nos outros 18 anos o Brasil sempre teve superávit primário (somos um dos países mais saudáveis da face da Terra).

Com exceção do primeiro governo do PSDB - 1995 a 1998 - quando o superávit ficou em patamares irrisórios (e a dívida pública explodiu), nota-se que este percentual sempre foi bastante elevado.

Os maiores superávits primários dos últimos 20 anos aconteceram no último ano do governo de Itamar Franco, em 1994, e no primeiro mandato de Lula (2003 a 2006), com um recorde de 4,84% do PIB em 2005.

A curva do superávit primário no governo Dilma Rousseff é descendente e acompanha os movimentos da intensa crise econômica internacional, que iniciou com o Crash em 15 de setembro de 2008 (política anticíclica se faz diminuindo os superávits, vide o governo Lula em 2009 e 2010).

Pouca gente sabe, mas até 2008 os governos do Partido dos Trabalhadores acumularam grandes superávits fiscais e comerciais, numa política tipicamente pró-cíclica.

Depois do Crash, como não poderia deixar de ser, a política econômica anticíclica teve que contar com superávits fiscais menores para ser implementada.

Ou fazíamos isto ou o desemprego estaria hoje na casa dos dois dígitos e o Brasil teria mergulhado numa crise social sem precedentes.

O novo Ministro da Fazenda, Joaquim Levy (Secretário do Tesouro Nacional no primeiro mandato de Lula), sinalizou que a meta para 2015 será de um superávit primário do setor público consolidado na casa de 1,2% do PIB.

Não é nenhum absurdo e seria, com exceção de 2014, o menor superávit dos últimos 17 anos.

Ou seja, não haverá arrocho algum e o tal do "ajuste", se é que é mesmo necessário, será feito de forma gradual para preservar os avanços sociais dos últimos 12 anos.

Por fim, apenas lembro que os EUA e a União Europeia trabalham com imensos déficits primários desde 2009. E uns e outros ainda dizem que é o Brasil que "não faz o dever de casa..."

Segue logo abaixo a série história dos superávits.

Superávit primário do setor público consolidado como proporção do PIB (1994/2013):

1994: 5,21%
1995: 0,27%
1996: -0,09%
1997: -0,95%
1998: 0,01%
1999: 3,19%
2000: 3,46%
2001: 3,64%
2002: 3,89%
2003: 4,25%
2004: 4,59%
2005: 4,84%
2006: 4,32%
2007: 3,98%
2008: 4,07%
2009: 2,06%
2010: 2,78%
2011: 3,11%
2012: 2,38%
2013: 1,90%
2014: ?
2015: proposta de 1,2% do PIB. (Fonte: aqui).

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

FOTO DE FAMÍLIA


A PORTA DOS MUROS DO MUNDO


Pavel Constantin. (Romênia).

PIB POSITIVO: BRASIL SAI DA RECESSÃO TÉCNICA


PIB mostra Brasil pronto para retomar crescimento

Por Fernando Brito

O mundo, todos sabem, vive uma imensa crise de estagnação.

Anteontem, o Estadão comemorou o fato de a Alemanha, governada pela nada “bolivariana” Ângela Merkel ter conseguido uma proeza:

“PIB da Alemanha cresce 0,1% no 3º trimestre e economia do país escapa da recessão”.

Repare a diferença de tratamento a uma situação exatamente igual no Brasil, registrada pelo IBGE no terceiro trimestre.

Repare que, não fosse a queda do PIB agrícola, que foi determinada pela queda do preço das commodities exportadas pelo Brasil, poderia ter chegado ao dobro.

E pela retração do consumo das famílias, sobre o qual influenciou, além dos juros, o clima de terror econômico espalhado sobre o Brasil.

O fato objetivo é que a reversão da queda registrada nos dois primeiros trimestres cria um clima positivo para o novo período de governo.

Mais uma razão para não se esperar que, da nova equipe econômica, venha qualquer “choque”, como o tão pedido pelo “mercado”.

Que, em matéria de siglas, prefere uma Selic a um PIB.

Leia, abaixo, a nota-resumo da Agência Brasil sobre os números do PIB:

“O Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país, cresceu 0,1% no terceiro trimestre deste ano, na comparação com o período anterior. A soma do PIB no trimestre correspondeu a R$ 1,29 trilhão. No segundo trimestre, a economia brasileira caiu 0,6%. Os dados foram divulgados hoje (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, a economia brasileira recuou 0,2%. No ano, o PIB acumula alta de 0,2%. Já no período de 12 meses, a taxa acumulada de crescimento é de 0,7%.

Na comparação do terceiro com o segundo trimestre deste ano, entre os setores produtivos da economia, a principal alta foi observada na indústria:  1,7%. Os serviços também tiveram crescimento (0,5%). Por outro lado, a agropecuária recuou 1,9%.

Pelo lado da demanda, o crescimento de 0,1% foi puxado pela formação bruta de capital fixo, ou seja, os investimentos, e pela despesa de consumo do governo, ambos com alta de 1,3%. O consumo das famílias caiu 0,3%.

No setor externo, as exportações tiveram um crescimento menor (1%) do que as importações (2,4%).” - (Fonte: aqui).

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A expectativa era de PIB superior ao observado. 

Importante é constatar que o Brasil, se deve preocupar-se em promover mudanças em sua política econômica - não tão radicais como pregam certos analistas, mas cujos possíveis impactos agravarão o desafio da superação (aqui) -, ostenta emprego e renda em nível robusto, ou seja, o país seguiu caminho diverso do preconizado por FMI e outros 'fiscais', cujas lições, por exemplo, levaram países como a Grécia (ora atravessando greve geral) a situação de desespero, vítima do famigerado mal do austericídio.

ECOS DO AQUECIMENTO GLOBAL


J Bosco.

QUANDO O PAI DE DOM QUIXOTE DRIBLOU A INQUISIÇÃO


Dom Quixote escapa da inquisição

Por Thérèse Jerphagnon

Em 16 de janeiro de 1605, Miguel de Cervantes, então próximo dos 60 anos, publicou em Madri a primeira parte de O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha. Naquele dia, os romances de cavalaria e a mentalidade medieval como um todo receberam um golpe mortal. No livro, que é considerado a obra fundadora da literatura espanhola, Cervantes narra a saga de um nobre que sonhava com aventuras incríveis de cavalaria mas não conseguia ver a miséria da realidade que o cercava.

A história começa em um vilarejo da região de Castela-La Mancha, vasta planície localizada ao sul da capital espanhola. Ali vivia um fidalgo cinquentão, Alonso Quijano, tão apaixonado por romances de cavalaria que perdeu o juízo. Certo dia, ele abandonou a sobrinha, a governanta e os empregados domésticos e partiu, montando um pangaré chamado Rocinante, armado unicamente com uma espada e tendo sobre a cabeça uma cuia de fazer a barba como capacete.

Inspirado por alucinações, Quijano tomou uma estalagem por castelo, onde se fez armar cavaleiro. Acabou convencendo seu ambicioso vizinho, Sancho, a se tornar seu escudeiro. Tendo cismado em defender os pobres e oprimidos, não faltariam a ele aventuras reais ou imaginárias: lutar contra moinhos de vento, libertar presos das galés e fazer penitência na cordilheira de Serra Morena.

O encanto da obra nasce do descompasso entre o idealismo do protagonista e a realidade na qual ele atua. Cem anos antes, Quixote teria sido um herói a mais nas crônicas ou romances de cavalaria, mas ele havia se enganado de século. Sua loucura residia no anacronismo. Isso permitiu ao autor fazer uma sátira de sua época, usando a figura de um cavaleiro medieval em plena Idade Moderna para retratar uma Espanha que, após um século de glórias, começava a duvidar de si mesma.

                             Frontispício da primeira edição da obra de Cervantes,
                                     publicada na cidade de Madri em 1605.

Quando Cervantes escreveu sua obra-prima, a Espanha de Carlos V, que governava um imenso império onde "o Sol nunca se punha", já era coisa do passado. O soberano abdicou em 1556, quando dividiu seus domínios entre dois herdeiros: o irmão, Fernando, ficou com o título de sacro imperador romano-germânico e com as terras localizadas nas atuais Áustria e Alemanha; o filho assumiu o trono da Espanha com o nome de Felipe II e ficou com as terras da península Ibérica, dos Países Baixos e da América.

Durante seu reinado, Felipe II conseguiu manter a Espanha como a principal potência europeia do período e ainda expandir seus domínios, anexando Portugal em 1581. As ameaças, porém, estavam por todas as partes. Os primeiros sinais de crise surgiram já em 1558, quando os planos espanhóis de invadir a Inglaterra naufragaram junto com os navios da "Invencível Armada", que foram parar no fundo do canal da Mancha. O fracasso na Inglaterra ofuscou até a vitória contra os turcos na Batalha de Lepanto, em 1571
.

Além do revés militar, o monarca também teve de combater os movimentos que colocavam em risco a unidade religiosa do Império Espanhol, como a expansão do protestantismo nos Países Baixos e os levantes dos muçulmanos convertidos no sul da Espanha. Felipe II conseguiu fazer frente a esses grandes desafios, mas seu filho e sucessor não teve a mesma sorte. Felipe III não tinha as mesmas virtudes do pai e, ao ser coroado, em 1598, deixou que seu favorito, o duque de Lerma, praticamente governasse em seu lugar. A corrupção, então, se espalhou por toda a administração.

                         Dom Quixote & Sancho Pança, por Gustave Doré.

Foi em uma Espanha em crise que Cervantes criou seu cavaleiro fora do lugar. Nesse reino decadente, as classes superiores eram incapazes de gerar riquezas e se refugiavam na trilogia: "Igreja, mar, casa real". Os nobres viviam para defender a própria honra, e sua única fortuna estava na espada. Como diz Cervantes: "Com razão, os príncipes deveriam estimar esse primeiro tipo de cavalaria, pela qual (...) alguns garantiram não somente a salvação de um reino, mas a de muitos (nobres)". Diante dessa cavalaria de "velhos cristãos", emergia também uma nova nobreza, que vivia da riqueza da corte e só conhecia o inimigo de ouvir falar. Todos os ambiciosos conspiravam para se apoderar das migalhas do poder.

A repulsa pelo trabalho tinha contaminado até os camponeses. A manipulação do dinheiro, tradicionalmente reservada aos judeus, expulsos em 1492, era desprezada por todos. Seria preciso esperar por muito tempo ainda para ver emergir, na Espanha, uma burguesia industrial e comerciante, como nos países protestantes. Mesmo no fim do século XVIII, as atividades manuais e comerciais ainda eram evitadas por uma nobreza que substituiu a "pureza de sangue" por uma "pureza de ofícios". O próprio Sancho, contaminado pela loucura de seu amo, se pretendeu governador da imaginária ilha de Barataria.

O fausto e o ócio da corte conviviam com a miséria das ruas. O ouro das Índias na prática havia empobrecido a população do país, mas esta se acreditava rica para sempre. Em Sevilha, onde Cervantes viveu até 1600, ao lado da população trabalhadora havia toda uma turba que povoava a literatura picaresca: malandros, prostitutas e assaltantes de todo tipo. É nesse contexto que a fome se transforma em personagem: Sancho tem uma única obsessão: encher a pança.

CLERO AGIGANTADO  
Como sublimar essa realidade, se não pela fuga rumo ao sonho? Os mais jovens se refugiavam na religião. Naquela época, contavam-se na Espanha 9 mil conventos, onde viviam, entre outros, 32 mil franciscanos e dominicanos. A magnitude do clero espanhol salta aos olhos quando comparada com o do resto da Europa: a Companhia de Jesus, por exemplo, não contava com mais de 13 mil membros em todo o continente no mesmo período. 

Em um país como esse, a fina ironia do livro de Cervantes não seria tolerada. A obra, que revelava as contradições da Espanha no início do século XVII, certamente seria alvo da Inquisição, que ganhara ainda mais poder durante o reinado de Felipe II e sobreviveria na Espanha até 1834. Naquele contexto de perseguição, como um escritor poderia evitar ou contornar a censura? Cervantes recorreu a um duplo subterfúgio. Primeiro, recusou a paternidade da obra. O escritor alegou ser tão-somente o herdeiro de Cide Hamete Benengeli, historiador mouro traduzido por um erudito muçulmano da cidade de Toledo que havia se convertido ao cristianismo no século XVI. O segundo álibi utilizado pelo autor foi declarar a loucura de seu herói. 

A ambiguidade da obra e das posturas de Cervantes salvou Dom Quixote da fogueira. À primeira vista, o escritor parecia aderir à Contra-Reforma católica, que procurou deter o avanço do protestantismo reafirmando os dogmas da Igreja romana no Concílio de Trento, encerrado em 1563.
Logo no início do livro, o padre da aldeia de Dom Quixote faz um sermão que parece claramente inspirado no Index dos livros proibidos, publicado pelo tribunal da Inquisição em 1564: "Não há de passar de amanhã, sem que deles (romances de cavalaria) se faça auto-de-fé, e sejam condenados ao fogo, para não tornarem a dar ocasião, a quem os ler, de fazer o que o meu bom amigo (Quixote) terá feito". Na presença da governanta, os livros atirados pela janela alimentavam um auto-de-fé bem ao estilo dos tempos da Inquisição. Como se não bastasse, Cervantes termina seu relato se justificando: "Eu nunca tive outra intenção que não a de fazer os homens detestarem as fabulosas e extravagantes histórias dos romances de cavalaria". 

Essas passagens dão a impressão de que o criador do Quixote era um seguidor da rigorosa moral definida pelo Concílio de Trento, mas em outras partes da obra o autor faz críticas claras à Inquisição. Em um ponto da narrativa Sancho cobre a cabeça de seu asno com um sanbenito, chapéu em forma de cone utilizado por aqueles que eram acusados de heresia pelo Santo Ofício.

O autor parece também zombar da tese da "pureza do sangue", que permitia separar os descendentes de judeus e muçulmanos convertidos dos verdadeiros cristãos. Em uma passagem do livro, que foi alvo de severas críticas, Dom Quixote dá o seguinte conselho a Sancho Pança: "Não tenhas vergonha em dizer que és filho de lavradores, orgulha-te mais em seres humilde virtuoso que pecador soberbo. Inumeráveis são os que, nascidos de baixa estirpe, subiram à suma dignidade. Não há motivo para ter inveja dos príncipes e senhores, porque o sangue se herda e a virtude se adquire; e a virtude por si só vale o que não vale o sangue". O suposto desprezo de Cervantes pela pureza de sangue ajudou a reforçar a suspeita de que o autor não era um verdadeiro cristão. A própria palavra "Mancha" seria um jogo de duplo significado: fazia certamente referência à região árida, à imagem do herói que dela emana, mas não apontaria também para uma "mancha" judaica na ascendência do personagem e de seu criador?

As acusações de ligação com o judaísmo foram uma constante na vida do escritor. Foi em pleno bairro judeu de Toledo, na rua de Alcana, que se descobriu o manuscrito de Dom Quixote. A mulher de Cervantes, Catalina de Salazar y Palacios, nascida na região de Esquivias, tinha ali um tio cristão novo (judeu convertido), chamado Alonso Quijada, que teria inspirado o autor. Outro antepassado de Cervantes também teria se convertido ao catolicismo.

Sabe-se que o pai de Cervantes chegou a pedir um exame de "pureza de sangue" para que o filho pudesse obter um cargo no governo. O laudo atestou que Cervantes era um fidalgo, mas isso não prova muita coisa. A sanha da Inquisição tinha contaminado as pesquisas genealógicas, e as falsificações abundavam. No romance, Sancho pretendia ter "a alma bem protegida por uma camada de quatro dedos de gordura de velho cristão". Mas seria isso um elogio ou uma sátira?

Para uns, Cervantes era judeu; para outros, antissemita. Ele já foi considerado um seguidor da moral rigorosa do Concílio de Trento e também um humanista inspirado pelas críticas à Igreja feitas por intelectuais como Erasmo de Roterdã (1466-1536). Nenhuma dessas contradições, no entanto, tira o brilho do autor e de sua obra. É justamente na ambiguidade que reside o fascínio do Quixote.

O movimento pendular entre o idealismo do cavaleiro errante e o realismo popular de seu escudeiro é a própria trama de todo o romance. Se ainda hoje o leitor vibra com Quixote e ri de Sancho, é porque se emociona com a capacidade que esses personagens têm de tocar no que temos de mais profundo, nas inúmeras contradições que carregamos em segredo dentro de nós.

No fim da vida, cheio de pessimismo em relação ao mundo real que redescobriu ao recobrar a sanidade, o moribundo Quixote pede perdão a Sancho por tê-lo arrastado em sua loucura e lamenta não ter podido lhe oferecer um reino, que ele bem merecia, por sua fidelidade. Perdida a glória, restava a virtude da caridade: "Eu fui Dom Quixote de La Mancha, e agora sou Alonso Quijano, o Bom". No leito de morte, distribuiu seus parcos bens àqueles que o cercavam, mas advertiu a sobrinha de que ela seria deserdada se viesse a se casar com algum leitor de romances de cavalaria. Saía de cena o cavaleiro errante e surgia uma outra figura, que o jesuíta Baltasar Gracián chamaria de "o Sábio" e Molière de "o Fidalgo". Um novo modelo de homem para o século XVII.

CRONOLOGIA

1547
Nascimento de Miguel de Cervantes Saavedra, em Alcalá de Henares
1569
Viagem a Roma
1571
Perde os movimentos da mão esquerda lutando na Batalha de Lepanto
1575
Fica cinco anos preso em Alger
1584
Casa-se com Catalina de Salazar y Palacios
1597-1597
Coletor de impostos malsucedido, se retira para uma assembleia religiosa em Sevilha, de onde é expulso. É preso por erros de tesouraria
1600
A peste o faz abandonar Sevilha
1605
Publicação da primeira parte de Dom Quixote
1614
Publicação da segunda parte de Dom Quixote
1616
Morre em Madri, aos 69 anos
Rota do Quixote


Cervantes não quis identificar com precisão a cidade natal de Dom Quixote "para permitir que todas as cidades e vilarejos de La Mancha disputassem a glória". Uma "Rota do Quixote", de 2.500 km de extensão, atravessa as cinco províncias que atualmente formam a comunidade autônoma de Castela-La Mancha. O itinerário passa por 145 cidades, entre as quais El Toboso, o vilarejo de Dulcineia, e três candidatas à cidade natal de Dom Quixote: Villanueva de Los Infantes, Argamasilla de Alba e Esquivias.

Os moinhos que o Cavaleiro da Triste Figura enfrenta no romance provavelmente ficavam na cidade de Campo de Criptana. Atualmente há uma dezena deles no município, mas apenas um existia na época de Cervantes. Várias prisões da região reivindicam a honra de ter acolhido o ilustre personagem, entre elas a de Argamasilla.

A estalagem onde Dom Quixote foi sagrado cavaleiro fica em Puerto Lápice, e a prefeitura de El Toboso conserva com orgulho algumas edições raras do romance. Na extremidade do vilarejo, pode-se visitar a imaginária "casa" de Dulcineia. Por fim, o episódio da gruta de Montesinos se passa em meio às lagoas de Ruidera, localizadas entre as cidades de Ciudad Real e Albacete. 

PARA SABER MAIS 

O engenhoso fidalgo Dom Quixote de La Mancha (v.1). Miguel de Cervantes, Editora 34, 2002

O engenhoso cavaleiro Dom Quixote de La Mancha (v.2). Miguel de Cervantes, Editora 34, 2007 - (Fonte: aqui).


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Thérèse Jerphagnon é professora de espanhol e colaboradora da revista Historia
© Duetto Editorial.

PARADISE


Angel Boligan.

A FILHA DE RYAN

                Sarah Miles: Rosy Ryan.

A filha de Ryan

Por Marden Machado, no Cinemarden

O cineasta inglês David Lean vinha de três premiados grandes sucessos de público e crítica: A Ponte do Rio Kwai, Lawrence da Arábia e Doutor Jivago. Esta harmonia foi quebrada em 1970, quando foi lançado A Filha de Ryan. O público adorou e lotou os cinemas onde o filme foi exibido. Os críticos não tiveram a mesma simpatia e definiram a obra como pequena, em comparação com as anteriores. O tempo se encarregou de provar que o povo estava certo. A partir de um roteiro original escrito por Robert Bolt, acompanhamos a história de Rosy Ryan (Sarah Miles). Ela se casa com Charles Shaughnessy (Robert Mitchum), um viúvo que havia sido seu professor. As coisas não se revelam tão boas assim no casamento. Por conta disso, Rosy termina se envolvendo com o major Randolph Doryan (Christopher Jones) e é acusada de um crime. A ação se passa em 1916, época da Primeira Grande Guerra. O romance proibido provoca fortes reações na população. O estilo Lean de bem contar histórias épicas continua intacto. Tudo funciona à perfeição neste seu penúltimo filme. Depois de A Filha de Ryan, ele só votaria a dirigir 14 anos depois, quando realizou sua derradeira obra: Passagem Para a Índia.

A FILHA DE RYAN (Ryan's Daughter - Inglaterra 1970). Direção: David Lean. Elenco: Robert Mitchum, Sarah Miles, Trevor Howard, Christopher Jones, John Mills, Leo McKern e Barry Foster. Duração: 194 minutos. Distribuição: Continental.

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O filme tem um interessante ingrediente adicional: os militares britânicos, comandados pelo major Doryan, estão na cidadezinha irlandesa para monitorar a relação do Exército Republicano Irlandês (IRA, inimigo dos ingleses e, claro, visto com simpatia pelos irlandeses) com os alemães. Quando o líder do IRA aparece na região, o pai de Rosy o denuncia aos militares, mas os habitantes da cidade acreditam que Rosy é a traidora, em função de seu relacionamento com o major. É, de fato, uma trama bem urdida.

ENSAIO GERAL PARA 2015


S Salvador.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

RUI BARBOSA: A IMPRENSA E O DEVER DA VERDADE


"A imprensa é a vista da nação. Por ela é que a nação acompanha o que  lhe passa ao perto e ao longe, enxerga o que lhe malfazem, devassa o que lhe ocultam e tramam, colhe o que lhe sonegam, ou roubam, percebe onde lhe alvejam, ou nodoam, mede o que lhe cerceiam, ou destroem, vela pelo que lhe interessa e se acautela do que a ameaça.

Sem vista mal se vive. Vida sem vista é vida no escuro, vida na soledade, vida no medo, morte em vida: receia de tudo, dependência de todos; rumo à mercê do acaso; a cada passo acidentes, perigos, despenhadeiros. Tal condição do país, onde a publicidade se avariou, e, em vez de ser os olhos, por onde se lhe exerce a visão, ou o cristal que lha a clareia, é a obscuridade, onde se perde, a ruim lente, que lha turva ou a droga maligna, que lha perverte obstando-lhe a noticia da realidade, ou não lha deixando senão adulterada, invertida, enganosa.

Já lhe não era pouco ser o órgão visual da nação. Mas a imprensa, entre os povos livres, não é só o instrumento da vista, não é unicamente o aparelho de ver, a serventia de um só sentido. Participa, nesses organismos coletivos, de quase todas as funções vitais. É sobretudo mediante a publicidade que os povos respiram.

Todos sabem que cada um de nós tem na ação respiratória, uma das mais complexas do corpo, e uma das em que se envolvem maior número de elementos orgânicos. A respiração pulmonar combina-se com os tecidos, para constituir o sistema de ventilação, cuja essência consiste na troca incessante dos princípios necessários à vida entre o ar atmosférico e o sangue, da circulação da qual vivemos. Nos pulmões está o grande campo dessas permutas. Mas os músculos também respiram, e o centro respiratório se encontra, bem longe do aparelho pulmonar, nesse bulbo misterioso, que lhes preside a respiração, e lhe rege os movimentos.

Da mesma sorte, senhores, os corpos morais, nas sociedades humanas, essa respiração, propriedade e necessidade absoluta de toda célula viva, representa, com a mesma principalidade, o papel de nutrição, de aviventação, de regeneração, que lhe é comum em todo o mundo orgânico animado ou  vegetativo.

Nos indivíduos, ou nos povos, o mundo espiritual também tem a sua atmosfera, donde eles absorvem o ar respirável, e para onde exalam o ar respirado. Cada um dos entes que se utilizam desse ambiente incorpóreo desenvolve, na sua existência, graças às permutas que com esse ambiente entretêm, uma circulação, uma atividade sanguínea, condição primordial de toda a sua vida, que dele depende. Não há vida possível, se esse meio, onde todos respiram, lhes não elabora o ar respirável, ou se lhes deixa viver o ar respirado.

Entre as sociedades modernas, esse grande aparelho de elaboração e depuração reside na publicidade organizada, universal e perene: a imprensa. Eliminai-a da economia desses seres morais, eliminai-a, ou envenenai-a, e será como se obstruísseis as vias respiratórias a um vivente, ou o pusésseis no vazio, ou o condenásseis à inspiração de gases letais. Tais são os que uma imprensa corrupta ministra aos espíritos, que lhe respiram as exalações perniciosas.

Um país de imprensa degenerada  ou degenerescente é, portanto, um país cego e um país miasmado, um país de ideias falsas e sentimentos pervertidos, um país que, explorado na sua consciência, não poderá lutar com os vícios, que lhe exploram as instituições.

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Todos os regimes que decaem para o absolutismo vão entrando logo a contrair amizades suspeitas entre os jornais. Bem se sabe, por exemplo, o que, a tal respeito, foi o império de Napoleão III. Mas na Alemanha, debaixo da influência bismarckina, é que se requintou, em proporções desmedidas e com inconcebível generalidade, essa anexação da publicidade ao governo.

Vai por cerca de cinquenta anos que um historiador prussiano, dos mais notáveis de sua terra, professor WUTTKE, lente na universidade de Leipzig, escrevia o seu célebre livro sobre a verba dos reptis (Reptilienfund), livro clássico no assunto.

Por ele se veio a saber que, com o nome de “Repartição da Imprensa”, “Bismarck estabeleceu às margens do Spréia (vi, no Google, 'Spree', rio que corta Berlim - blog domacedo) a mais vasta fábrica da opinião pública até então conhecida, e lhe derramara as filiais pelo mundo inteiro” .

É um depoimento estupendo acerca desse terrível mecanismo, graças ao qual, há mais de meio século, já o gabinete de Berlim se considerava senhor de toda a imprensa. Foi por esse meio que se aparelhou a vitória alemã contra a Áustria, em 1886, se vingou o triunfo alemão contra a França, em 1871, e estava organizada, para 1914, a inundação do mundo pela Alemanha.

Por meio desses recursos diabólicos é que desde a falsificação da ordem do dia de Benedeck,  no primeiro desses assaltos, e a ordem do telegrama de Ems no segundo, até as monstruosas fábulas que caracterizaram o terceiro, se maleou, nas forjas da mentira, para a execução das vontades da casta militar, essa nacionalidade enganada e alucinada, que desperta agora aturdida entre as decepções da mais inesperada realidade.

A surpresa desse acordar entre ruínas tais, desse cair de tão vertiginosa altura em tão incomensurável abismo, lampeja com uma claridade sinistra sobre o regime, que ora se vai introduzindo no Brasil, de apagamento da consciência das nações  pela imersão habitual do seu espírito e costumes da mentira.
Ora, assim nas autocracias, como nas oligarquias o poder corre ao encontro dos maus exemplos, como a limalha ao do ímã.

No Brasil, a monarquia não padeceu sensivelmente desse vício. Mas a República, adernando logo ao começo da sua inauguração constitucional, como nau que mete água dentro ao sair do porto, simpatizou com esses modelos, e foi já, desde os seus mais verdes anos, prematurando com a corrupção da sua primeira idade a obra do tempo.

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Três ancoras deixou Deus ao homem: o amor da pátria, o amor da liberdade, o amor da verdade.

Cara nos é a pátria, a liberdade mais cara; mas a verdade mais cara que tudo.  (...). Damos a vida pela pátria. Deixamos a pátria pela liberdade. Mas à pátria e à liberdade renunciamos pela verdade. Porque esse é o mais santo de todos os amores. Os outros são da terra e do tempo. Este vem do céu e vai à eternidade.

Nenhum país salva a sua reputação com os abafos, capuzes e mantilhas da corrupção encapotada.
Durante a campanha da Crimeia, em 1854, o Times, o jornal dos jornais europeus, não hesitou em romper na mais tremenda hostilidade contra a administração militar da Grã Bretanha, sustentando que seu serviço era “infame, infamous”, que os soldados enfermos não achavam nem cama, onde jazessem, que o exército, gasto, desmoralizado e miserando, não tinha, em Balaclava, nem onze mil homens capazes de entrar em combate.

Russel, o famoso correspondente desse jornal britânico no teatro da guerra, perguntava em carta, a Delane, o célebre diretor do grande órgão: “Que hei de fazer? Dizer estas coisas ou calar?”  Mas o interrogado não hesitou na resposta. As instruções, em que lha deu, recomendaram-lhe, com energia, “falar a verdade, sem indulgência nem receios” .  O Times, declaravam elas, o Times não admitia “véus”.

Era opinião do seu editor que, “nas circunstâncias do caso, a publicidade constituía o meio de cura indispensável”.  Embora chegassem a dizer que “o exército deveria linchar o correspondente do Times”,  embora o príncipe consorte o apodasse de “miserável libelista”,  embora o presidente do conselho dissesse, no Foreing Office, que “três batalhas campais, ganhas pela Inglaterra, não a restituiriam do dano “causado pelas correspondências e editoriais daquela folha", o Times não variou seu rumo, de atitude e de franqueza, até o termo da luta do Reino Unido com o Império Russo.

Sabeis com que resultados, senhores? A Câmara dos Comuns acabou por mandar abrir, em 1855, um inquérito sobre a situação do exército em Sebastopol. O gabinete caiu, demolido pela campanha do terrível órgão londrino. As mais eminentes autoridades militares declararam, afinal, que ele, “narrando com fidelidade ao público os padecimentos da tropa, salvara o rosto do inglês”. O governo da Rainha Vitória, pela voz de Gladstone, agradeceu a Delane o “valioso apoio” (palavras suas), o valioso apoio do Times, subscrevendo, sem reservas, o principio seguido por ele, de que “nunca se deve encobrir ao público em circunstância alguma, quaisquer que sejam os inconvenientes da sua divulgação”."






(De Rui Barbosa - 1849/1923 -, "A imprensa e o dever da verdade"; Biblioteca do pensamento vivo; O pensamento vivo de Rui Barbosa - Bahia 1924, pág. 15 -, apresentado por Américo Jacobina Lacombe. Livraria Martins Editora, 1967. Fonte: aqui.

A imprensa, como pregava Delano, do Times de Londres, nunca 'deve encobrir ao público em circunstância alguma, quaisquer que sejam os inconvenientes da sua divulgação'. Bela lição. Bom seria se tal pregação inspirasse os adeptos da parcialidade, seletividade e manipulação, tão comuns em certas plagas).

REI MORTO, REI POSTO


Fausto.

EUA: JUSTIÇA DE FERGUSON (E DEMAIS)


Bado. (Canadá).

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E eis que a indignação que grassa em mais de trinta estados em face dos, digamos, critérios judiciais observados pelos EUA em face do caso Ferguson se internacionaliza: inspira manifestações de repúdio em Londres, Oslo e Tóquio. Os WASP, porém, com certeza permanecerão impassíveis. Vida que segue.

A PUNIÇÃO DOS CORRUPTOS


A punição dos corruptos sob a ótica de Dante Alighieri

Por Cláudio Andrade

Não restam dúvidas de que, no Brasil, a corrupção é endêmica e se encontra entranhada em quase todas as instituições, notadamente as públicas, que administram o dinheiro do contribuinte.

As últimas operações da Polícia Federal, que resultaram em várias prisões, fizeram-me recordar do escritor, poeta e político italiano Dante Alighieri, autor da “Divina Comédia”.

Naquela obra de arte, ele realiza uma viagem ao inferno (que tem nove círculos), retratando a sua visão medieval e apresentando o destino de cada pessoa segundo seus pecados praticados durante a vida.

No belo texto da “Divina Comédia”, o autor reserva “Quinta Bolgia” para contar, com maestria, o destino dos corruptos.

Segundo Alighieri, os corruptos estão submergidos em um lago de espesso piche fervente. Os que tentam ficar com a cabeça acima do caldo são torturados por demônios que os dilaceram.

Durante a sua existência terrena, os corruptos tiraram proveito da confiança que a sociedade neles depositava; no inferno, estão submersos em caldos, pois suas negociações eram feitas às escondidas.

A “Sétima Bolgia” Dante reserva para os ladrões que têm seus corpos roubados constantemente por serpentes, que os atravessam e os desintegram, retirando seus traços humanos. É a punição por terem se apoderado em vida do que não era deles, sendo que agora, as serpentes se apoderam de suas próprias identidades.

No Nono Círculo, chamado de “Esfera da Antenora”, Alighieri relata a punição dos traidores de sua pátria ou partido político. Essas almas ficam submersas no nível do pescoço, com apenas suas cabeças fora do gelo.

Impressionante como uma obra do ano de 1266 retrata de forma magistral a atualidade e esculpe o destino certo que deveriam tomar todos os corruptos, ladrões e traidores que se valem da corrupção, nas suas mais variadas vertentes, para enriquecimento próprio e manutenção no poder.

Os séculos se passaram e as formas de se corromper foram aperfeiçoadas. A dilapidação do patrimônio público continua soando nos ouvidos pilantras como um canto sedutor em que tudo pode e deve ser feito para que o Sistema podre de conchavos e negociatas seja mantido.

A Polícia Federal deve seguir a sua cruzada. Mesmo sendo um órgão vinculado ao Ministério da Justiça que, por sua vez segue as ordens da presidente da República, não pode deixar de atuar em prol de uma nação de homens probos e que respeitem a sociedade.

O escritor americano Richard Wright (1908/1960) já dizia que não podemos deixar indícios para serem interpretados quando existem provas a serem apresentadas. Essa deve ser a função da Justiça.
Espero que a nação brasileira supere mais essa onda de corrupção e que a visão de Dante Alighieri, tão atual e mordaz, sirva (ao menos) de reflexão e que os corruptos de nossa nação sejam julgados e condenados.

Sigamos em frente, pois como bem disse o escritor sul-africano Alan Paton: “desistir de reformar a sociedade é desistir de suas próprias responsabilidades como homem livre.” (Fonte: aqui).

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O articulista foi preciso em sua abordagem, exceto quanto ao fato de considerar desconfortável (ou um obstáculo) a vinculação da PF ao Ministério da Justiça e à presidência da República. Incorreu em sério equívoco: o comportamento dos superiores à PF é irrepreensível, não havendo indícios de quaisquer tentativas de cerceamento, muito pelo contrário. De outra parte, convém lembrar que o Procurador-geral da República é nomeado pela presidência, e não se tem notícia de interferência na atuação do PGR; a figura do engavetador-geral é coisa de um passado cada vez mais distante, felizmente. 

CUPIDO, ARAUTO DO CONSUMISMO


Angel Boligan.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

IDH: EVOLUÇÃO EXEMPLAR

              As 16 regiões metropolitanas analisadas

Atlas IDH metropolitano: Brasil vem desenvolvendo trabalho exemplar na redução de desigualdades

As regiões metropolitanas de posição mais baixa no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal  foram as que mais cresceram entre os anos 2000 e 2010.

Com isso, o Brasil reduziu, em dez anos, pela metade, a desigualdade entre as regioes metropolitanas.

Entre São Paulo (SP) e Manaus (AM), respectivamente melhor e pior colocadas no IDHM, a porcentagem da desigualade caiu de 22,1% para 10,3%.

É o que aponta o relatório “Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas Brasileiras”,  que foi lançado nesta terça-feira (25) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro.

(Para continuar, clique aqui).

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A fonte acima destaca: "A desigualdade entre as metrópoles diminuiu. Por causa dos programas sociais!"

Sem a mais remota dúvida. 

Não obstante, convém registrar: Para o economista e presidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio Pochmann, o Brasil está mais preparado para lidar com a desigualdade, mas certamente, está longe de superá-la; Pochmann afirma que, em comparação ao ano de 2000, mudanças significativas são observadas, principalmente em relação à educação, ao emprego e renda; mas ainda há problemas visíveis, como é o caso da violência “que se manifesta cada vez mais como uma problemática das metrópoles urbanas” - AQUI.

VIOLÊNCIA E POLUIÇÃO: ÍNDICES ASCENDENTES


Arcadio Esquivel.

SOBRE AS PESQUISAS ELEITORAIS


"Pausa para gargalhar antes mesmo de começar.

Leio que a Associação Nacional dos Jornais, a ANJ, está inconformada com a possibilidade de que seja aprovada uma emenda que proíbe a divulgação de pesquisas 15 dias antes do primeiro e do segundo turnos.

A emenda deve ser votada ainda esta semana no Senado.

“É um retrocesso”, diz a nota.

A explicação para isso é hilariante. “A ANJ entende que as pesquisas têm sido um fator que contribui para o debate político e para o esclarecimento do eleitorado.”

Um momento.

Que contribuição é essa?

Me vêm algumas cenas marcantes sobre pesquisas nestas últimas eleições.

A revista Época, do grupo Globo, por exemplo, divulgou com alarido, nas redes sociais, que tinha a primeira pesquisa do segundo turno, quando se confrontavam, afinal, Dilma e Aécio.

E tinha mesmo. Só que era uma pesquisa que fazia exatamente o contrário do que afirma o ANJ: jogava os leitores numa escuridão absoluta.

Nesta pesquisa da Época, feita pelo Instituto Paraná, Aécio aparecia com uma vantagem virtualmente intransponível sobre Dilma, coisa de oito pontos porcentuais.

Aécio hoje estaria se preparando para subir a rampa do Planalto, com seu melhor terno e uma tintura básica na cabeleira preservada com discreto implante, caso houvesse qualquer coisa de verossímil na pesquisa que a Época anunciou triunfalmente.

Não havia.

Bem perto da eleição, no dia 24, a revista Isto É, como fizera a rival Época, também colocou Aécio na presidência. Apoiada no Instituto Sensus, a Isto É deu 54,6% a 45,4% para Aécio.

Os decimais, imagino, se prestaram a dar aparência de realidade ao trabalho fantasioso da Sensus e da Isto É.

Outro momento inesquecível no terreno das pesquisas se deu quando o próprio estatístico de um instituto, o Veritás, admitiu que Aécio usara dados “não representativos” para afirmar que estava à frente de Dilma em Minas – não apenas em um, mas em dois debates.

A sorte dos institutos é que a cada eleição as pessoas esquecem os erros grosseiros que cometeram na anterior, ou por incompetência ou por má-fé.

Fora os números com frequência tão enganadores, há também o uso que a mídia dá aos resultados.

Com que frequência colunistas como Merval Pereira não viram, aspas, em dados de Dilma sinais inequívocos de um colapso iminente?

Isso (para) não falar em coisas como dar manchete a uma pesquisa “amiga”, em que o candidato da casa aparece bem, e esconder em algum canto uma pesquisa “desagradável”.

Não.

As pesquisas têm servido muito mais para manobrar os eleitores do que para esclarecê-los, ao contrário do que diz a ANJ.

Num mundo menos imperfeito, em vez de as grandes empresas de mídia as defenderem sofregamente, as pesquisas estariam sendo investigadas com rigor.

Muitos institutos cometeram crimes eleitorais.

Não à toa, um dos próximos projetos de crowdfundind do DCM é exatamente este: revelar o obscuro universo das pesquisas eleitorais."





(De Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo, post intitulado "Os jornais defendem o indefensável: as pesquisas eleitorais" - aqui

Nas eleições 2014, repetiu-se o ritual de sempre: institutos de pesquisa manipularam o quanto bem entenderam. Uns, como Veritas e Sensus, seguiram mentindo até  a véspera do segundo turno; outros, a exemplo do Datafolha, após 'feito o serviço' nas pesquisas anteriores, no apagar das luzes cuidaram de 'ajustar' seus percentuais. Esse instituto, aliás, quase que acerta na mosca: prognosticou em 4% a diferença de Dilma Rousseff sobre Aécio Neves, e o que se viu foi 3,28%. 

Independentemente do destino a ser dado aos institutos e suas pesquisas eleitorais, é lícito que nos limitemos a dizer que a atuação da quase totalidade dos institutos nada teve de edificante).

THIS IS USA


Olle Johansson.

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EUA: Revolta em 31 estados por conta da dispensa de policial que matou jovem negro (desarmado) de ir a julgamento em tribunal do júri, restrições explícitas (incluindo a construção de muro na fronteira com o México) à entrada de 'cucarachas' e deserdados em geral, inconformismo do partido republicano, Tea Party e outros conservadores face ao Obamacare - eis o perfil dos Estados Unidos. Os cartunistas, por sua vez, agem sem mais delongas: baixam a ripa em quem tomar qualquer iniciativa minimamente progressista, como a recente emissão, por Obama, de decreto que legaliza a situação de cerca 4,5 milhões de imigrantes latinos. A charge acima insinua: Venham, venham, convida Obama, o 'sabotador' do american way of life.

CERTAS PALAVRAS


Bruno Galvão.

QUANDO AS DENÚNCIAS NÃO COLAM


Renato.

O IRMÃO ALEMÃO DE CHICO BUARQUE


Historiador revela detalhes sobre "irmão alemão" de Chico Buarque

Da Deutsche Welle

Em seu novo livro, o músico e autor brasileiro se refere ao irmão alemão descoberto em 2013. O historiador João Klug, que localizou o parente perdido de Chico, conta em entrevista à DW Brasil como foi a busca em Berlim.

O compositor, poeta e romancista brasileiro Chico Buarque acaba de lançar seu novo livro, O irmão alemão. Ele se inspira no meio-irmão, fruto do relacionamento de seu pai, Sérgio Buarque de Holanda, com uma alemã, durante sua passagem pelo país entre 1929 e 1930, como correspondente de O Jornal.

O irmão alemão nasceu em 1930. Seis anos depois, o também historiador Sérgio Buarque se casou no Brasil e teve outros filhos. A existência do meio-irmão era conhecida pela família brasileira. No entanto a última notícia que havia dele datava da Segunda Guerra Mundial, gerando a suposição que pudesse ter morrido nesse período.

              O historiador João Klug.

A história mudou em maio de 2013, quando, a pedido da editora Companhia das Letras e do próprio Chico Buarque, o historiador brasileiro João Klug e o museólogo alemão Dieter Lange identificaram o irmão desconhecido. E ele se revelou uma celebridade da comunista República Democrática Alemã (RDA), com a mesma profissão do pai e o talento do meio-irmão brasileiro.

"Há quem diga que o talento artístico estava no DNA, pois coincidentemente esse irmão do Chico foi alguém que se destacou no meio artístico na RDA e, de fato, ele era um ótimo cantor", conta Klug em entrevista exclusiva à DW Brasil.

DW Brasil: Você já estava em Berlim desde outubro de 2012, onde ia morar por um ano, fazendo sua pesquisa de pós-doutorado, quando a Companhia das Letras o contatou, em maio de 2013. Como a editora chegou até você?
João Klug: Foi através do historiador Sidney Chalhoub, da Unicamp, que também estava em Berlim para uma pesquisa. Ele me chamou para conversar, mas eu não tinha a mínima noção do que se tratava. Como ele publica seus livros pela Companhia das Letras, o Luiz Schwarcz, que é editor da empresa, pediu um auxílio para o livro que o Chico Buarque estava começando a escrever, relacionado à trajetória do pai dele em Berlim e à questão do irmão. O Sidney disse que não sabia por onde começar, e também não sabia alemão, e me pediu um auxílio.

Como vocês descobriram a identidade do irmão do Chico Buarque?
Tínhamos, no início, duas ou três cartas do Sérgio Buarque de Holanda trocadas com o Ministério alemão das Relações Exteriores, falando dessa criança e do interesse do Sérgio Buarque de repatriar esse menino. Deu para ver um empenho muito grande na tentativa de trazer a criança para o Brasil.
Mas já era 1934, em uma correspondência era exigido do Sérgio Buarque um atestado de arianismo e claro que ele não tinha. Em 1935 cessava tudo, e não havia mais nada sobre esse filho.

Fiz uma cópia dos documentos e conversei com meu amigo Dieter Lange que conhece muito bem esses caminhos da arquivologia. Assim, resolvemos pesquisar em alguns arquivos.

              Chico lê trecho de 'O irmão alemão'.

Na pesquisa, vocês descobriram que essa criança havia sido adotada. Vocês tinham outras informações sobre ela, inclusive o nome. Como chegaram à família do irmão alemão?
Descobrimos que ele havia entrado para o coral do Exército na Alemanha Oriental aos 16 anos e que se projetou em função da sua voz, além de ter sido apresentador. Eu e o Dieter frequentávamos um bar, uma lojinha de vinhos, de um espanhol no bairro de Prenzlauer Berg, onde se reuniam algumas pessoas da velha guarda da RDA, entre elas, dois jornalistas, o Werner Reinhardt e o Manfred.

Numa tarde, lançamos ao acaso a pergunta: alguém de vocês conhece um tal de Sergio Günther? No ato, o Werner afirmou que sim, "ele foi muito meu amigo". Então a coisa se abriu no momento dessa descoberta quase que por acaso. O Werner tinha trabalhado junto com o Sergio Günther, e nos forneceu muitas informações.

O que aconteceu depois?
Escrevi para o Luiz Schwarcz, informando os detalhes sobre o irmão, e ele imediatamente comunicou ao Chico, que ficou em êxtase. O Chico veio para Berlim e nós fizemos uma espécie de trilha, seguindo os rastros do seu pai – onde ele provavelmente morou, que cafés frequentava – e também do irmão.

Quais são os motivos que levaram à adoção dessa criança?
Essa é a grande interrogação, por que a mãe entregou a criança para a adoção. Isso não está claro, ainda estamos tentando investigar nos arquivos de Berlim, mas não conseguimos nada concreto até agora.

O irmão de Chico Buarque foi um jornalista e cantor famoso na Alemanha Oriental e faleceu em 1981. Na procura, você encontrou a família dele e intermediou um encontro com o irmão brasileiro.
Como foi esse encontro?

Nós localizamos a viúva do Sergio Günther, a filha e a neta. Elas concordaram em conhecer a família brasileira, mas eu não revelei quem era o Chico Buarque no Brasil, e elas também não tinham a mínima noção. O primeiro encontro foi de operação de reconhecimento, a sobrinha do Chico trouxe documentos e fotos.

O encontro foi de tarde no Hotel Adlon. Na semana seguinte, foi marcado outro encontro, dessa vez veio a viúva de Sergio e foi muito agradável. Eu fiquei meio de "papagaio de pirata" no meio disso tudo, tentando traduzir e ajudando.

Como esse encontro marcou o Chico? Qual a importância dele para o livro?
Eu percebi que para o Chico o fato, como ele mesmo falou, de conhecer o lado alemão da família, foi altamente inspirador. E eu acho que inspirou o título do livro. Eu ainda não li o romance e também desconheço o conteúdo, mas à medida que o Chico ia escrevendo, ele me telefonava para perguntar detalhes.

A preocupação dele era com eventuais informações históricas, para não cometer nenhum deslize, com alguma frequência a gente estava em contato para tratar dessa questão.

              Sergio Günther, o irmão alemão de Chico, falecido em 1981. Fonte:
                 Folha de São Paulo.

Quem foi Sergio Günther?
Pelas informações que a gente teve, ele era o homem da TV. Ele apresentava, por exemplo, um programa intitulado Berlin bleibt Berlin[Berlim permanece Berlim], no qual saía pelos bairros fazendo entrevistas, com o objetivo de mostrar como tudo funcionava bem e harmônico na RDA.
Há quem diz que o talento artístico estava no DNA pois, coincidentemente, esse irmão do Chico foi alguém que se destacou no meio artístico na RDA e, de fato, ele era um ótimo cantor. Quando eu enviei a primeira música que achei do irmão para o Chico, eu ainda brinquei com ele e disse: "Isso aí que é voz, não a tua." O Chico me respondeu dizendo: "É, o alemão tem lá o seu suingue."

E como foi seu primeiro encontro com o Chico Buarque?
No primeiro momento, devo confessar, que a adrenalina aumentou um pouquinho, porque, afinal de contas, era o Chico, aquele indivíduo que a gente admirava de ver televisão e ouvir as músicas. Mas, logo no primeiro encontro, foi algo muito agradável, talvez o termo melhor é "muito natural", como se fosse uma outra pessoa qualquer, com que a gente tivesse lidando.

O Chico é uma pessoa extremamente humilde e de fácil trato. Essa relação se tornou uma amizade. (Fonte: aqui).

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"Irmão de Chico foi apresentador de TV na Alemanha Oriental" - Folha de São Paulo - aqui.