domingo, 31 de dezembro de 2017

FELIZ ANO NOVO


HAPPY NEW YEAR


Milt Priggee. (EUA).

FELIZ ANO NOVO


Ziraldo. (Jeremias, o Bom).

O SIGNIFICADO OCULTO DO ANO NOVO


Mídia esvazia significado oculto do Ano Novo

Por Wilson Ferreira

Nesse momento de contagem regressiva para o Ano Novo, cada telejornal e programa de entretenimento recorre à pauta de sempre: as resoluções para o novo ano e as simpatias e crendices para o réveillon. Principalmente agora, época em que desempregados e trabalhadores temporários foram reciclados como “empreendedores” para tentar elevar o astral da patuleia. Mas tudo isso esconde um significado oculto e milenar das festividades de final de ano que envolve “Janus” -  a divindade indo-europeia ambivalente com duas caras, uma olhando para o futuro e a outra para o passado. De onde veio “Janeiro”, cujo primeiro dia do mês na Roma antiga era dedicado a rituais e sacrifícios ao deus criador das mudanças e transições, como progressão do passado para o futuro, de uma visão para a outra, de um universo para o outro. Janus olhava para o futuro, mas também para o passado para lembrar e aprender. Mas para a grande mídia é apenas a comemoração do fim de um ano velho e a celebração otimista de um ano supostamente novo. Não olhar para o passado e repetir os mesmos erros no futuro. Celebrar o esquecimento.
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Quando o melhor amigo de Einstein, Michele Besso, morreu em 1955 apenas algumas semanas antes da sua morte, Einstein escreveu uma carta para a família de Besso em que apresentou condolências que só o pai da Relatividade faria: “Ele partiu desse estranho mundo um pouco antes de mim. Mas nada disso importa. Para nós que somos físicos convictos, a distinção entre passado, presente e futuro é apenas uma ilusão, embora persistente”. 
Muito tempo antes de Einstein, o pré-socrático Parmênides sugeriu também algo parecido: o filósofo grego acreditava que o universo é o conjunto de todos os momentos de uma só vez. Toda a história do universo simplesmente é. A visão do espaço e tempo juntos como uma única coleção de quatro dimensões de eventos, ao contrário de um mundo tridimensional que evolui ao longo do tempo.

Algo que seria partilhado pelos seres Tralfamodorianos, raça alienígena que aparece no filme gnóstico Matadouro Cinco (1972, baseado no romance homônimo de Kurt Vonnegut – clique aqui) – para eles, visitar o passado ou o futuro seria nada mais do que atravessar uma rua.

Ou para o britânico Julian Barbour, o mais enérgico e persistente físico que incansavelmente há décadas investiga a tese de que o tempo não existe, construíndo modelos teóricos da gravidade clássica e quântica em que o tempo não desempenha qualquer papel relevante.

"Matadouro 5": ir do futuro ao passado é como atravessar uma rua

Arquétipos do Tempo


Mas mesmo esses defensores “eternalistas” ou do “universo em bloco atemporal” reconhecem a existência do relógio ou, no mínimo, que possam estar atrasados para algum prosaico compromisso marcado anteriormente. Afinal, tudo isso vai contra a nossa experiência habitual cotidiana: cada momento subsequente é trazido à existência a partir de um momento anterior pela passagem do tempo.

Mas se atualmente físicos teóricos entabulam seus modelos e equações para provar que o tempo é uma mera ilusão, há milênios no campo das mitologias e dos arquétipos ocorreram tentativas de compreender o Tempo através da captura dessa passagem de um momento para o outro por meio de narrativas fantásticas que tentam dar conta do fluxo da existência.

Mitologias e arquétipos que continuam presentes nos nossos dias, porém agora transformados em eventos secularizados, isto é, convertidos em comemorações como as festas de Réveillon promovidas pela grande mídia e indústria do turismo e entretenimento. A passagem do tempo transformou-se em mercadoria ou serviço oferecido pelo turismo ou como programa de TV para anestesiar o tédio daquelas que ficaram para trás nas comemorações.

Se as mitologias em torno do Tempo no passado, como a figura misteriosa de Janus (a divindade indo-europeia ambivalente com duas caras, uma olhando para o futuro e a outra para o passado) eram esforços da cultura em compreender a existência, hoje é o contrário: fazer esquecer o “ano velho” e apenas olhar para o futuro, firme em resoluções pessoais que jamais serão cumpridas.

E talvez o pior: o esforço midiático de explorar e mitologia e fazê-la regredir para a magia - toda a sorte de crendices, simpatias e superstições que envolvem as entradas de ano novo celebradas pela mídia em seus telejornais e programas de entretenimento como formas de celebrar o esquecimento e induzir um falso otimismo. Principalmente em tempos de baixo astral nacional com desemprego crescente e crise econômica crônica. 


Há um significado oculto e milenar por trás de todos os rituais em comemorações em torno da chegada do Ano Novo. Acreditamos que se trata apenas de festas que trazem um novo ano com novas resoluções. Mas na realidade este dia tem um significado mais profundo: o nome do mês de janeiro é derivado do deus de duas faces com o nome latino de “janus”.

As duas faces de Janus


Por que ele tinha duas faces? Porque uma olha para o passado e outra para o futuro, essencialmente o que deveríamos fazer no começo do ano novo: olhar para o futuro cheio de esperanças; mas também olhar para o passado e relembrar os acertos e erros, momentos tristes, oportunidades perdidas e promessas que não se cumpriram. Mas fazemos exatamente o contrário – celebramos o esquecimento, em nome do otimismo celebrado pela grande mídia.

Janus foi um dos primeiros deuses de Roma, mas possui também origens nas tradições hindus com o mesmo duplo sentido – chamado de “Caminhos dos Deuses” (deva-yana) e “Caminho dos Ancestrais” (pitri-yana). O simbolismo de Ganesha guardava muitos paralelos com o de Janus: é também mestre dos “Dois Caminhos” que são construídos tanto para os céus quanto para os infernos. Correspondendo aos ciclos de purificação que precisamos seguir.

Assim Janus/Jana adquire poderes e virtudes na medida em que o candidato tenha se purificado em seu “inferno interior” cármico com sucesso – quanto mais descemos ao inferno pessoal, mais ascendemos ao nível do “céu” que corresponde ao nível de consciência que conseguimos através da purificação.

Em Roma, Janus tornou-se um deus criador das mudanças e transições, como progressão do passado para o futuro, de uma visão para a outra, de um universo para o outro. A deidade do início de qualquer coisa. O deus das portas.


Janus e Janeiro


Por isso o primeiro mês do ano lhe foi consagrado - “janeiro”, de “janus” ou “januaris”, “portão”. Para Jean Chevalier e Alain Gheerbrant:
É o Guardião das Portas que ele abre e fecha, tem por atributo o cajado e a chave de porteiro. Seu rosto duplo significa que vela tanto pelas entradas quanto pelas saídas, que olha o interior e o exterior, a direita e a esquerda, o alto e o baixo, a frente e as costas, o pró e o contra. Seus santuários são sobretudo arcos, como as portas e as galerias são seus lugares de passagem (CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain, Dicionário dos Símbolos, Rio de Janeiro: José Olympio, 2009, p. 512).
No primeiro dia do ano ofereciam-se sacrifícios para Janus, particularmente um boi branco. Muito incenso era queimado por toda a cidade. Os magistrados recém-eleitos faziam procissões pela capital oferecendo sacrifícios a Júpiter e Janus. Mais tarde a Igreja Católica comemorou o primeiro dia de janeiro em homenagem a circuncisão de Cristo.

Foi início da perda desse significado mitológico ambivalente: o futuro só pode ser pensado em conjunto com o passado como ciclo de aprendizado.

Pensamento mítico e mágico: da antiguidade à mídia


O pensamento mítico sempre representou uma forma do homem fazer frente ao seus medos, uma forma de controle ou apaziguamento que, mais tarde, a Ciência aprimoraria com a lógica e a racionalidade.

O Tempo sempre foi assustador para o homem por estar associado à morte, à finitude. Por exemplo, para o poeta Charles Baudelaire (1821-1867) o Tempo é “o inimigo vigilante e funesto, o obscuro inimigo que corrói o coração”. Tempo é passagem, de um momento para outro mas, principalmente, da vida para a morte, da criação e destruição. Mitologias que personificavam esse drama cósmico como Janus eram mais uma forma de apaziguamento desse mistério. Mas não apenas isso: também aprendizado e “purificação”. A lembrança e jamais o esquecimento.


Todo esse conjunto de simbolismos está presente de forma secularizada nas atuais comemorações de réveillon de todo final de ano. Mas essa ambivalência foi finalmente perdida em nome de um pragmatismo otimista que envolve principalmente o esquecimento: “adeus ano velho, feliz ano novo!”.

E não só o esquecimento: também a regressão a um pensamento mágico animista através da forma como a grande mídia e o entretenimento repercutem simpatias e superstições que envolvem os rituais de passagem de ano: vestir-se de branco, cumprimentar pessoas segurando uma moeda, comer doze uvas verdes à meia noite, guardar a tampa de garrafa de champanhe e esconder em um lugar que ninguém ache, e assim ad infinitum – a ideia mágica de que cada evento mantém uma relação de contiguidade com algum outro evento, não restando lugar ao acaso.

Se o pensamento mágico-animista guardava uma relação instrumental de controle quase infantil, no pensamento mítico havia uma ambivalência: existia uma seminal tentativa de compreensão, de entender o porquê que vai muito além do como instrumental do pensamento mágico.

Hoje a mídia corporativa alia o esquecimento com o pragmatismo instrumental mágico, esvaziando toda a simbologia mítica dos antigos rituais não só da celebração da passagem de ano, mas da passagem do próprio Tempo.


E no caso da grande mídia brasileira, em tempo de crise econômica e desemprego crônicos, e vendo a necessidade de levantar a moral da patuleia fazendo as pessoas pensarem na falta de trabalho formal como oportunidade de empreendedorismo, todo esse ritual midiático de esquecimento e magia vem a calhar.

O leitor poderá perceber nesse momento como a mídia, mais do que nunca, vem celebrando apenas um dos rostos de Janus: aquele que olha para o futuro e se mantém cego para o passado. Um passado que deve urgentemente ser esquecido em nome de um otimismo em que tudo se resolverá como num passe de mágica.

Sem compreendermos o passado e, muito menos, figurar esse “universo em bloco atemporal” (passado, presente e futuro coexistindo aqui e agora), somos condenados a repetir os mesmos erros. E continuamos prisioneiros da ilusão de que a cada Ano Novo tudo seja magicamente renovado e recomeçássemos do zero.  -  (Fonte: Cinegnose - AQUI).

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DOMINGO É DIA DE ANÉSIA

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No limiar de 2018, eis que...


Will Leite.

RETROSPECTIVA: ÍNDEX PROHIBITORUM MÍDIA 2017


.Artigo 5º da Constituição Federal
(Qualquer alusão a ele será encarada como heresia).

.Dívida Pública X Orçamento da União
(Jamais informar que o serviço da dívida - juros e amortizações - abocanha algo em torno de 50% do orçamento público. Em decorrência, o percentual correspondente à Previdência, em vez de 25% do orçamento, deve ser alardeado como sendo de 75%, ou mais).

.Papa Francisco
(Silenciar quanto aos apelos do Papa em defesa dos pobres e suas críticas ao neoliberalismo. Ignorar o fato de Francisco haver recusado convite de visitar o País).

.Reservas de Petróleo da Venezuela
(Centrar fogo na situação interna. Omitir a informação de que a Venezuela é a número 1 do mundo em reservas provadas de petróleo, e de que não é amiga).

.Marisa Letícia

.Teori Zavascki

.Luiz Carlos Cancellier de Olivo

.Tacla Durán

.Impeachment
(Mandado de segurança de autoria da defesa da presidente Dilma Rousseff foi submetido ao Supremo em dezembro de 2016...).

.Código SWIFT
(Odebrecht e demais: Transferências de capital: Jamais aludir ao fato de que extratos bancários desprovidos de código SWIFT têm validade zero. Não citar a palavra SWIFT - e muito menos explicar do que se trata).

VIVA O ANO NOVO

                             - Vamos lá. No Oriente já é Ano Novo!
Seyran Caferli. (Azerbaijão).

A CIDADANIA AVILTADA E O ANO QUE NÃO TERMINARÁ EM DEZEMBRO


"Interessante que a anomia atual venha justamente da busca, desde sempre, das classes dominantes por um governo de força que lhes desse controle sobre o país.
Única monarquia europeia das Américas, teve dois imperadores de feições absolutistas, quando o absolutismo já não existia mais na própria Europa. Monarquia derrubada por um golpe de Estado que implementou uma ditadura militar que foi substituída por uma oligarquia que foi derrubada por uma ditadura civil que foi derrubada por um golpe militar. Um breve interregno democrático sujeito a tentativas de golpe, suicídio de presidente e mantido por um golpe militar legalista. Substituído por nova ditadura militar que governou até cair de podre. E uma constituição cidadã e um novo período democrático de menos de três décadas para um novo golpe, agora parlamentar, quando a democracia não mais interessava às classes dominantes que promoveram todos os golpes e ditaduras anteriores.
Eis a história política do Brasil contada em um único parágrafo.
O Brasil, por suas classes dominantes, é demófobo. O Brasil, enquanto país, se mantém pelo seu povo.
Como o absolutismo e as ditaduras não têm mais sustentação no mundo ocidental, desde 2005 – com o advento do Mensalão – as classes dominantes buscam uma forma de democracia sem povo.
Pareciam ter encontrado a fórmula na figura de um “poder moderador” – o Judiciário – pairando sobre o poder democrático ou sobre um títere que representasse tal poder democrático.
Uma aristocracia de sábios aparando as arestas de um “povo que não sabe votar”, segundo os interesses das classes dominantes.
O que é a Lei da “Ficha Limpa” se não a expressão dessa demofobia? Limpos são aqueles que as classes dominantes assim considerarem, segundo seus interesses. O que é a Lava Jato – aliás, hoje, uma entidade autônoma de poder– se não a expressão dessa demofobia? Encarcerados estão aqueles que as classes dominantes consideram corruptos, segundo seus interesses.
Mas erraram as classes dominantes.
Erraram as classes dominantes ao não entender que a hipocrisia necessária para tanto teria que render homenagens às virtudes democráticas. Quando não mandaram para a cadeia os políticos tucanos flagrados em corrupção, e quando mantiveram no poder um criminoso que lhes é útil, se deslegitimaram mesmo perante à pequena-burguesia que lhe era aliada. Restaram isoladas e sem representante viável no campo democrático.
Erram, agora, ao se fiarem na manutenção do poder através apenas do Judiciário.
Erram as classes dominantes porque o Judiciário no Brasil jamais se enxergou como uma aristocracia – não exercem um poder delegado, exercem o poder divino. Ungidos por um concurso público; mas ungidos, não nomeados. E mostraram-se um poder com interesses próprios que não se subordinam a nenhum outro.
Erram as classes dominantes. O Judiciário, alçado à condição de único Poder, mostrou-se o mais desunido dos poderes. Formado por pequenos tiranetes de Vara – não raro em estranhamentos intestinos - fazendo suas próprias leis ao interpretá-las ou casuísta ou personalisticamente. E temos instalada a jurisprudência do “couro de pica”, onde uma decisão é tomada em uma direção e a seguir no seu oposto. A exegese do “lavou, está novo” como se Têmis – a deusa da justiça - tivesse hímen complacente. A insegurança jurídica cobra seu preço em paralisia do tecido social e econômico ou em convulsão social.
Erram as classes dominantes ao desconsiderarem uma lei imutável do comportamento humano – todo poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Liberado de seus freios e contrapesos democráticos, o Judiciário é a pior das ditaduras – aquela que só é contida pelo poder natural – o da força. A seguir assim, em breve teremos outra vez um caso do monstro voltando-se contra seu criador.
Erram as classes dominantes – Têmis é pudica. Extravagante é Nêmesis – a deusa da vingança.
E a tentativa de impedir judicialmente o candidato das forças populares de concorrer nas próximas eleições pode se converter no erro fatal das classes dominantes.
Isto porque o Brasil e sua cidadania aviltada decidiram conceder até 2018 um período de indulgência findo o qual se pretenderia reestruturar democraticamente o país. Eis porque o país ainda se mantém minimamente organizado, apesar da anomia. Mas não será factível manter um país estável por mais quatro anos de um governo ilegítimo tutelado por um Judiciário despótico.
O que virá, então? Neste momento, não há quem saiba. Virá o que vier. Talvez a derradeira batalha da construção da nossa cidadania enfrentando o último baluarte das nossas classes dominantes demófobas – o Judiciário classista. Talvez não. E a alternativa pela negativa estará longe de ser boa para alguém.
E assim chegamos aos estertores de 2017 sabendo que ele não terminará. Seguirá por 2018 afora e além até o resgate final de nossa cidadania aviltada.
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PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia: um otimista é alguém mal informado."



(De Sérgio Saraiva, post intitulado "A cidadania aviltada e o ano que não terminará em dezembro", publicado no Jornal GGN - aqui.
Sérgio Saraiva é cineasta - e titular do blog Oficina de Concertos Gerais e Poesia, acima citado).

BALANÇO ANUAL


Jarbas.

ANO NOVO, LIÇÃO SISTÊMICA


Eneko.

sábado, 30 de dezembro de 2017

O ILUMINISMO É AFRICANO (OU A FILOSOFIA DE ZERA YACOB E ANTON AMO)

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Um leitor da Folha questionou, citando motivos vários, no entender dele, a fidedignidade do post abaixo (clique no 'Ilustríssima', no início do post abaixo, ou no 'AQUI', ao final), mas um outro, além de não fazer reparos ao conteúdo, enfatizou, com acerto, os males infligidos aos povos africanos pelo colonialismo europeu, inclusive, e especialmente, na esfera artístico-cultural. De qualquer modo, é reconfortante conhecer um pouco do pensamento filosófico de Zera Yacob e Anton Amo.


O iluminismo é africano

Por Dag Herbjornsrud
(Traduzido pelo caderno Ilustrissima, da Folha)

RESUMO Os ideais mais elevados de Locke, Hume e Kant foram propostos mais de um século antes deles por Zera Yacob, um etíope que viveu numa caverna. O ganês Anton Amo usou noção da filosofia alemã antes de ela ser registrada oficialmente. Autor defende que ambos tenham lugar de destaque em meio aos pensadores iluministas.
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Os ideais do Iluminismo são a base de nossas democracias e universidades no século 21: a crença na razão, na ciência, no ceticismo, no secularismo e na igualdade. De fato, nenhum outro período se compara à era do Iluminismo.

A Antiguidade é inspiradora, mas está a um mundo de distância das sociedades modernas. A Idade Média é mais razoável do que sua reputação sugere, mas ainda assim é medieval. A Renascença foi gloriosa, mas em grande medida graças ao seu resultado: o Iluminismo. O romantismo veio como reação à era da razão, mas os ideais dos Estados modernos não se expressam em termos de romantismo e emoção.

Segundo a história mais contada, o Iluminismo tem origem no "Discurso do Método" (1637), de René Descartes, continuou por cerca de um século e meio com John Locke, Isaac Newton, David Hume, Voltaire e Kant e terminou com a Revolução Francesa, em 1789 —talvez com o período do terror, em 1793.

Mas e se a história estiver errada? E se o Iluminismo puder ser associado a lugares e pensadores que costumamos ignorar? Tais perguntas me assombram desde que topei com o trabalho de um filósofo etíope do século 17: Zera Yacob (1599-1692), também grafado Zära Yaqob.
Yacob nasceu numa família pobre numa propriedade agrícola perto de Axum, a lendária antiga capital do norte da Etiópia. Como estudante, ele impressionou seus professores e foi enviado a uma nova escola para estudar retórica ("siwasiw" em ge'ez, a língua local), poesia e pensamento crítico ("qiné") por quatro anos.
Em seguida, estudou a Bíblia por dez anos em outra escola, recebendo ensinamentos dos católicos e dos coptas, bem como da tradição cristã ortodoxa, majoritária no país.
Na década de 1620, um jesuíta português convenceu o rei Susenyos a converter-se ao catolicismo, que não tardou a virar religião oficial da Etiópia. Seguiu-se uma perseguição aos livres-pensadores, mais intensa a partir de 1630. Yacob, que nessa época lecionava na região de Axum, havia declarado que nenhuma religião tem mais razão que outra —e seus inimigos o denunciaram para o rei.
Yacob fugiu, levando apenas um pouco de ouro e os Salmos de Davi. Viajou para o sul, para a região de Shewa, onde se deparou com o rio Tekezé.
Ali encontrou uma área desabitada com uma "bela caverna" no início de um vale. Construiu um muro de pedra e viveu nesse local isolado para "encarar apenas os fatos essenciais da vida", como Henry David Thoreau descreveria uma vida também solitária, dois séculos mais tarde, em "Walden" (1854).
Por dois anos, até a morte do rei, em setembro de 1632, Yacob permaneceu na caverna como ermitão, saindo apenas para buscar alimentos no mercado mais próximo. Na caverna, ele alinhavou sua nova filosofia racionalista.
Ele acreditava na primazia da razão e afirmava que todos os seres humanos, homens e mulheres, são criados iguais. Yacob argumentou contra a escravidão, criticou todas as religiões e doutrinas reconhecidas e combinou essas opiniões com sua crença pessoal em um criador divino, asseverando que a existência de uma ordem no mundo faz dessa a opção mais racional.
Em suma: muitos dos ideais mais elevados do Iluminismo foram concebidos e resumidos por um homem que trabalhou sozinho em uma caverna etíope de 1630 a 1632.
LIVROS
A filosofia de Yacob, baseada na razão, é apresentada em sua obra principal, "Hatäta" (investigação). O livro foi escrito em 1667 por insistência de seu discípulo, Walda Heywat, que escreveu ele próprio uma "Hatäta" de orientação mais prática.
Hoje, 350 anos mais tarde, é difícil encontrar um exemplar do trabalho de Yacob. A única tradução ao inglês foi feita em 1976 pelo professor universitário e padre canadense Claude Sumner. Ele a publicou como parte de uma obra em cinco volumes sobre a filosofia etíope, que foi lançada pela nada comercial editora Commercial Printing Press, de Adis Abeba.
O livro foi traduzido ao alemão e, no ano passado, ao norueguês, mas ainda é basicamente impossível ter acesso a uma versão em inglês.
A filosofia não era novidade na Etiópia antes de Yacob. Por volta de 1510, "The Book of the Wise Philosophers" (o livro dos filósofos sábios) foi traduzido e adaptado ao etíope pelo egípcio Abba Mikael. Trata-se de uma coletânea de ditados de filósofos gregos pré-socráticos, Platão e Aristóteles por meio dos diálogos neoplatônicos, e também foi influenciado pela filosofia arábica e as discussões etíopes.
Em sua "Hatäta", Yacob critica seus contemporâneos por não pensarem de modo independente e aceitarem as palavras de astrólogos e videntes só porque seus predecessores o faziam. Em contraste, ele recomenda uma investigação baseada na razão e na racionalidade científica, considerando que todo ser humano nasce dotado de inteligência e possui igual valor.
Longe dele, mas enfrentando questões semelhantes, estava o francês Descartes (1596-1650). Uma diferença filosófica importante entre eles é que o católico Descartes criticou explicitamente os infiéis e ateus em sua obra "Meditações Metafísicas" (1641).
Essa perspectiva encontra eco na "Carta sobre a Tolerância" (1689), de Locke, para quem os ateus não devem ser tolerados.
As "Meditações" de Descartes foram dedicadas "ao reitor e aos doutores da sagrada Faculdade de Teologia em Paris", e sua premissa era "aceitar por meio da fé o fato de que a alma humana não morre com o corpo e de que Deus existe".
Yacob, pelo contrário, propõe um método muito mais agnóstico, secular e inquisitivo —o que também reflete uma abertura ao pensamento ateu. O quarto capítulo da "Hatäta" começa com uma pergunta radical: "Tudo que está escrito nas Sagradas Escrituras é verdade?" Ele prossegue pontuando que todas as diferentes religiões alegam que sua fé é a verdadeira:
"De fato, cada uma delas diz: 'Minha fé é a certa, e aqueles que creem em outra fé creem na falsidade e são inimigos de Deus'. (...) Assim como minha fé me parece verdadeira, outro considera verdadeira sua própria fé; mas a verdade é uma só".
Assim, ele deslancha um discurso iluminista sobre a subjetividade da religião, mas continua a crer em algum tipo de criador universal. Sua discussão sobre a existência de Deus é mais aberta que a de Descartes e talvez mais acessível aos leitores de hoje, como quando incorpora perspectivas existencialistas:
"Quem foi que me deu um ouvido com o qual ouvir, quem me criou como ser reacional e como cheguei a este mundo? De onde venho? Tivesse eu vivido antes do criador do mundo, teria conhecido o início de minha vida e da consciência de mim mesmo. Quem me criou?".
IDEIAS AVANÇADAS
No capítulo cinco, Yacob aplica a investigação racional a leis religiosas diferentes. Critica igualmente o cristianismo, o islã, o judaísmo e as religiões indianas.
Ele aponta, por exemplo, que o criador, em sua sabedoria, fez o sangue fluir mensalmente do útero das mulheres, para que elas possam gestar filhos. Assim, conclui que a lei de Moisés, segundo a qual as mulheres são impuras quando menstruam, contraria a natureza e o criador, já que "constitui um obstáculo ao casamento e a toda a vida da mulher, prejudica a lei da ajuda mútua, interdita a criação dos filhos e destrói o amor".
Desse modo, inclui em seu argumento filosófico a perspectiva da solidariedade, da mulher e do afeto. E ele próprio viveu segundo esses ideais.
Depois de sair da caverna, pediu em casamento uma moça pobre chamada Hirut, criada de uma família rica. O patrão dela dizia que uma empregada não estava em pé de igualdade com um homem erudito, mas a visão de Yacob prevaleceu. Consumada a união, ele declarou que ela não deveria mais ser serva, mas seu par, porque "marido e mulher estão em pé de igualdade no casamento".
Contrastando com essas posições, Kant (1724-1804) escreveu um século mais tarde em "Observações sobre o Sentimento do Belo e do Sublime" (1764): "Uma mulher pouco se constrange com o fato de não possuir determinados entendimentos".
E, nos ensaios de ética do alemão, lemos que "o desejo de um homem por uma mulher não se dirige a ela como ser humano, pelo contrário, a humanidade da mulher não lhe interessa; o único objeto de seu desejo é o sexo dela".
Yacob enxergava a mulher sob ótica completamente diferente: como par intelectual do filósofo.
Ele também foi mais iluminista que seus pares do Iluminismo no tocante à escravidão. No capítulo cinco, Yacob combate a ideia de que "possamos sair e comprar um homem como se fosse um animal". Assim, ele propõe um argumento universal contra a discriminação:
"Todos os homens são iguais na presença de Deus; e todos são inteligentes, pois são suas criaturas; ele não destinou um povo à vida, outro à morte, um à misericórdia e outro ao julgamento. Nossa razão nos ensina que esse tipo de discriminação não pode existir".
As palavras "todos os homens são iguais" foram escritas décadas antes de Locke (1632-1704), o pai do liberalismo, ter empunhado sua pena.
E a teoria do contrato social de Locke não se aplicava a todos na prática: ele foi secretário durante a redação das "Constituições Fundamentais da Carolina" (1669), que concederam aos homens brancos poder absoluto sobre seus escravos africanos. O próprio inglês investiu no comércio negreiro transatlântico.
Comparada à de seus pares filosóficos, portanto, a filosofia de Yacob frequentemente parece o epítome dos ideais que em geral atribuímos ao Iluminismo.
ANTON AMO
Alguns meses depois de ler a obra de Yacob, enfim tive acesso a outro livro raro: uma tradução dos escritos reunidos do filósofo Anton Amo (c. 1703-55), que nasceu e morreu em Gana.
Amo estudou e lecionou por duas décadas nas maiores universidades da Alemanha (como Halle e Jena), escrevendo em latim. Hoje, segundo o World Library Catalogue, só um punhado de exemplares de seu "Antonius Guilielmus Amo Afer of Axim in Ghana" está disponível em bibliotecas mundo afora.
O ganês nasceu um século após Yacob. Consta que ele foi sequestrado do povo akan e da cidade litorânea de Axim quando era pequeno, possivelmente para ser vendido como escravo, sendo levado a Amsterdã, para a corte do duque Anton Ulrich de Braunschweig-Wolfenbüttel —visitada com frequência pelo polímata G. W. Leibniz (1646-1716). (Nota deste blog: Polímata = Sábio; que domina muitas ciências).
Batizado em 1707, Amo recebeu educação de alto nível, aprendendo hebraico, grego, latim, francês e alemão —e provavelmente sabia algo de sua língua materna, o nzema.
Tornou-se figura respeitada nos círculos acadêmicos. No livro de Carl Günther Ludovici sobre o iluminista Christian Wolff (1679-1754) —seguidor de Leibniz e fundador de várias disciplinas acadêmicas na Alemanha—, Amo é descrito como um dos wolffianos mais proeminentes.
No prefácio a "Sobre a Impassividade da Mente Humana" (1734), de Amo, o reitor da Universidade de Wittenberg, Johannes Gottfried Kraus, saúda o vasto conhecimento do autor, situa sua contribuição ao iluminismo alemão em um contexto histórico e sublinha o legado africano da Renascença europeia:
"Quando os mouros vindos da África atravessaram a Espanha, trouxeram com eles o conhecimento dos pensadores da Antiguidade e deram muita assistência ao desenvolvimento das letras que pouco a pouco emergiam das trevas".
O fato de essas palavras terem saído do coração da Alemanha na primavera de 1733 ajuda a lembrar que Amo não foi o único africano a alcançar o sucesso na Europa do século 18.
Na mesma época, Abram Petrovich Gannibal (1696-1781), também sequestrado e levado da África subsaariana, tornava-se general do czar Pedro, o Grande, da Rússia. O bisneto de Gannibal se tornaria o poeta nacional da Rússia, Alexander Pushkin. E o escritor francês Alexandre Dumas (1802-70) foi neto de uma africana escravizada e filho de um general aristocrata negro nascido no Haiti.
Amo tampouco foi o único a levar diversidade e cosmopolitismo a Halle nas décadas de 1720 e 1730. Vários alunos judeus de grande talento estudaram na universidade. O professor árabe Salomon Negri, de Damasco, e o indiano Soltan Gün Achmet, de Ahmedabad, também passaram por lá.
CONTRA A ESCRAVIDÃO
Em sua tese, Amo escreveu explicitamente que havia outras teologias além da cristã, incluindo entre elas a dos turcos e a dos "pagãos".
Ele discutiu essas questões na dissertação "Os Direitos dos Mouros na Europa", em 1729. O trabalho não pode ser encontrado hoje, mas, no jornal semanal de Halle de novembro de 1729, há um artigo curto sobre o debate público de Amo. Segundo esse texto, o ganês apresentou argumentos contra a escravidão, aludindo ao direito romano, à tradição e à razão.
Será que Amo promoveu a primeira disputa legal da Europa contra a escravidão? Podemos pelo menos enxergar um argumento iluminista em favor do sufrágio universal, como o que Yacob propusera cem anos antes. Mas essas visões não discriminatórias parecem ter passado despercebidas dos pensadores principais do iluminismo no século 18.
David Hume (1711-76), por exemplo, escreveu: "Tendo a suspeitar que os negros, e todas as outras espécies de homem em geral (pois existem quatro ou cinco tipos diferentes), sejam naturalmente inferiores aos brancos". E acrescentou: "Nunca houve nação civilizada de qualquer outra compleição senão a branca, nem indivíduo eminente em ação ou especulação".
Kant levou adiante o argumento de Hume e enfatizou que a diferença fundamental entre negros e brancos "parece ser tão grande em capacidade mental quanto na cor", antes de concluir, no texto do curso de geografia física: "A humanidade alcançou sua maior perfeição na raça dos brancos".
Na França, o mais célebre pensador iluminista, Voltaire (1694-1778), não só descreveu os judeus em termos antissemitas, como quando escreveu que "todos eles nascem com fanatismo desvairado em seus corações"; em seu ensaio sobre a história universal (1756), ele afirmou que, se a inteligência dos africanos "não é de outra espécie que a nossa, é muito inferior".
Como Locke, Voltaire investiu dinheiro no comércio de escravos.
CORPO E MENTE
A filosofia de Amo é mais teórica que a de Yacob, mas as duas compartilham uma visão iluminista da razão, tratando todos os humanos como iguais.
Seu trabalho é profundamente engajado com as questões da época, como se vê em seu livro mais conhecido, "Sobre a Impassividade da Mente Humana", construído com um método de dedução lógica utilizando argumentos rígidos, aparentemente seguindo a linha de sua dissertação jurídica anterior. Aqui ele trata do dualismo cartesiano, a ideia de que existe uma diferença absoluta de substância entre a mente e o corpo.
Em alguns momentos Amo parece se opor a Descartes, como observa o filósofo contemporâneo Kwasi Wiredu. Ele argumenta que Amo se opôs ao dualismo cartesiano entre mente e corpo, favorecendo, em vez disso, a metafísica dos akan e o idioma nzema de sua primeira infância, segundo os quais sentimos a dor com nossa carne ("honem"), e não com a mente ("adwene").
Ao mesmo tempo, Amo diz que vai tanto defender quanto atacar a visão de Descartes de que a alma (a mente) é capaz de agir e sofrer junto com o corpo. Ele escreve: "Em resposta a essas palavras, pedimos cautela e discordamos: admitimos que a mente atua junto com o corpo graças à mediação de uma união natural. Mas negamos que ela sofra junto com o corpo".
Amo argumenta que as afirmações de Descartes sobre essas questões contrariam a visão do próprio filósofo francês. Ele conclui sua tese dizendo que devemos evitar confundir as coisas que fazem parte do corpo e da mente. Pois aquilo que opera na mente deve ser atribuído apenas à mente.
Talvez a verdade seja o que o filósofo Justin E. H. Smith, da Universidade de Paris, aponta em "Nature, Human Nature and Human Difference" (natureza, natureza humana e diferença humana, 2015): "Longe de rejeitar o dualismo cartesiano, pelo contrário, Amo propõe uma versão radicalizada dele".
Mas será possível que tanto Wiredu quanto Smith tenham razão? Por exemplo, será que a filosofia akan tradicional e a língua nzema continham uma distinção cartesiana entre corpo e mente mais precisa que a de Descartes, um modo de pensar que Amo então levou para a filosofia europeia?
Talvez seja cedo demais para sabermos, já que uma edição crítica das obras de Amo ainda aguarda ser publicada, possivelmente pela Oxford University Press.
COISA EM SI
No trabalho mais profundo de Amo, "Treatise on the Art of Philosophising Soberly and Accurately" (tratado sobre a arte de filosofar com sobriedade e precisão, 1738), ele parece antecipar Kant. O livro trata das intenções de nossa mente e das ações humanas como sendo naturais, racionais ou de acordo com uma norma.
No primeiro capítulo, escrevendo em latim, Amo argumenta que "tudo é passível de ser conhecido como objeto em si mesmo, ou como uma sensação, ou como uma operação da mente".
Ele desenvolve em seguida, dizendo que "a cognição ocorre com a coisa em si" e afirmando: "O aprendizado real é a cognição das coisas em si. E assim tem sua base na certeza da coisa conhecida".
Seu texto original diz "omne cognoscibile aut res ipsa", usando a noção latina "res ipsa" como "coisa em si".
Hoje Kant é conhecido por seu conceito da "coisa em si" ("das Ding an sich") em "Crítica da Razão Pura" (1787) —e seu argumento de que não podemos conhecer a coisa além de nossa representação mental dela.
Mas é fato sabido que essa não foi a primeira utilização do termo na filosofia iluminista. Como diz o dicionário Merriam-Webster no verbete "coisa em si": "Primeira utilização conhecida: 1739". Mesmo assim, isso foi dois anos depois de Amo ter entregue seu trabalho principal em Wittenberg, em 1737.
À luz dos exemplos desses dois filósofos iluministas, Zera Yacob e Anton Amo, talvez seja preciso repensarmos a Idade da Razão nas disciplinas da filosofia e da história das ideias.
Na disciplina da história, novos estudos comprovaram que a revolução mais bem-sucedida a ter nascido das ideias de liberdade, igualdade e fraternidade se deu no Haiti, não na França. A Revolução Haitiana (1791-1804) e as ideias de Toussaint L'Ouverture (1743 -1803) abriram o caminho para a independência do país, sua nova Constituição e a abolição da escravidão.
Em "Les Vengeurs du Nouveau Monde" (os vingadores do novo mundo, 2004), Laurent Dubois conclui que os acontecimentos no Haiti foram "a expressão mais concreta da ideia de que os direitos proclamados na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, eram de fato universais".
Nessa linha, podemos indagar se Yacob e Amo algum dia serão elevados à posição que merecem entre os filósofos da Era das Luzes.  -  (Fonte: AQUI).
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[Este texto foi publicado originalmente no site Aeon.
DAG HERBJORNSRUD, 46, é historiador de ideias e fundador do SGOKI (Centro de História Global e Comparativa de Ideias), em Oslo.
CLARA ALLAIN é tradutora.
FABIO ZIMBRES, 57, é quadrinista, designer e artista visual].