segunda-feira, 18 de julho de 2016

UM POUCO DE HISTÓRIA: A GUERRA CIVIL ESPANHOLA


Os oitenta anos da Guerra Civil Espanhola

Por André Araújo

No 17 de Julho se comemoram os oitenta anos do início da Guerra Civil de Espanha, um dos maiores acontecimentos políticos do Século XX. O maior historiador desse conflito, o inglês Hugh Thomas diz em seu clássico livro A GUERRA CIVIL ESPANHOLA que não é possível compreender esse conflito sem conhecer dois séculos anteriores da história da Espanha, pois a Guerra Civil foi o desatar de nós amarrados nesses 200 anos anteriores, desde conflitos dinásticos como a Guerra de Sucessão Carlista, as invasões napoleônicas, os conflitos regionais, a questão religiosa, a questão colonial, as greves operárias, lutas que se acumularam para os acertos de contas nesses três anos (de guerra).
O "alzamiento", o levante militar, se iniciou no Marrocos Espanhol, na guarnição comandada pelo general Francisco Franco Bahamonde Salgado Araújo, galego, com apoio na Espanha continental dos Generais Emilio Mola e José Sanjurjo. A rebelião visava derrubar o governo da Frente Popular, de esquerda, presidido por Manuel Azaña, a chamada República Espanhola instaurada pela queda da Monarquia em 1931, na pessoa do Rei deposto Alfonso XIII, bisavô do atual Rei Felipe de Bourbon; foi a Segunda República no seu desenrolar histórico.
No começo as forças rebeldes conquistam a maior parte da Andaluzia e parte do norte da Espanha e da Catalunha; o governo da República concentrava Madrid, a Espanha central e parte da Mancha e Galícia.
Com o desenrolar do conflito, que por várias vezes estacionou, Franco recebeu o apoio cada vez mais ostensivo dos regimes fascistas de Mussolini e Hitler, enquanto a República era apoiada pela União Soviética. Ambos os apoiadores mandaram pessoal e grande quantidade de material bélico. Os Partidos Comunistas da Europa ocidental criaram um apoio especial através de BRIGADAS INTERNACIONAIS, constituídas por voluntários de todos os países, até do Brasil, e organizadas por um comando central em Paris chefiado por Josip Broz, mais tarde conhecido como Marechal Tito, Presidente da Iugoslávia, comitê que pagava as passagens e fornecia documentos falsos aos voluntários.
No lado Republicano grandes estrategistas como o General Enrique Lister, cuja biografia já publiquei aqui no blog (Jornal GGN/Luis Nassif) por duas vezes. Extraordinário personagem, general de três exércitos (Espanha, Cuba e União Soviética). Do lado rebelde (conhecido como Nacionalista), de início Sanjurjo e Mola morreram em um desastre de avião, deixando Franco como líder absoluto. Na Andaluzia o General Queipo de Llano comandava a partir de Sevilha. O conflito se tornou a cada dia mais cruento. Os Nacionalistas executaram milhares de intelectuais e professores que consideravam de esquerda, poetas como Garcia Lorca. Os Republicanos tampouco faziam prisioneiros, eram executados a granel. A Igreja ficou majoritariamente ao lado de Franco, a intelectualidade ao lado da República, que teve grandes primeiros ministros, como Juan Negrin, professor de medicina, diplomatas como Alvarez del Vaio, chanceler de alto calibre.
Do lado franquista, o Duque de Alba, Embaixador dos rebeldes em Londres, Serrano Suñer, concunhado de Franco e chanceler dos rebeldes (morreu há pouco tempo, com mais de 100 anos, fiz artigo sobre ele aqui no blog).
A Guerra Civil Espanhola terminou com a conquista de Madrid por Franco, em março de 1939, quase três anos depois do início, com um banho de sangue; ao final cerca de um milhão de espanhóis mortos, feridos ou exilados. A República se transladou para o México, país que só reconheceu o regime franquista após a morte de Franco, mantendo a República como um governo no exílio até 1976.
A Guerra Civil de Espanha foi um conflito épico, prelúdio da Segunda Guerra Mundial, que começou 6 meses depois do fim da luta na Espanha. Um dos fatores da queda da República foi a suspensão do apoio soviético em fins de 1938. Stalin preferia que a esquerda não vencesse na Espanha porque isso levaria a França e a Inglaterra a ter medo do comunismo perto de suas fronteiras e as levariam a se aliar a Hitler contra a URSS. Assim ele calculava.
Durante todo o conflito a França e a Inglaterra se fingiam de neutras, bloqueando o fornecimento de material bélico à República, o que ajudou os Nacionalistas, que recebiam material da Itália e da Alemanha clandestinamente, além da Legião Condor alemã, uma força aérea completa que lutava por Franco nos céus da Espanha.
Além de Hugh Thomas, há abundante literatura sobre esse conflito, autores como Gerald Brennan e George Orwell, romance de Ernest Hemingway (Por Quem os Sinos Dobram). Orwell e Hemingway lutaram nas Brigadas Internacionais, a Brigada Abraham Lincoln, de voluntários americanos e a Brigada Garibaldi, de voluntários italianos. Tinham 2.000 homens cada uma, a Brigada Thalmann, de voluntários alemães, tinha 1.600 soldados.
Foi também o conflito da hipocrisia: todos se declaravam neutros e fingiam não ver a Itália e a Alemanha abastecendo Franco e Stalin, armando a República em grande escala.
Seis meses depois do fim da Guerra de Espanha iniciou-se a Segunda Guerra Mundial; todos pensavam que a Espanha iria se unir à Alemanha e Itália, mas Franco ficou neutro e se manteve como ditador com o título de Caudillo até sua morte em 1976, conseguindo fazer seu sucessor designado, o Rei Juan Carlos. De certa forma, o regime franquista não teve descontinuidade e se mantém até hoje, embora em plena democracia. (Fonte: aqui).

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