terça-feira, 26 de julho de 2016

UM POUCO DE HISTÓRIA: 60 ANOS DA NACIONALIZAÇÃO DO CANAL DE SUEZ


Há 60 anos, Nasser nacionalizava o Canal de Suez

Por André Araújo

Em 26 de julho de 1956 o Presidente  do Egio, Gamal Abdel Nasser nacionalizava o Canal de Suez. Nasser teve recusado seu pedido de empréstimo de 2 bilhões de dólares junto ao Banco Mundial para  financiar a construção da represa e hidroelétrica de Assuwan, por ele considerada obra fundamental para o desenvolvimento do Egito. Com a recusa, viu seu projeto político principal naufragar e como única alternativa nacionalizou a Companhia Universal do Canal Marítimo de Suez, empresa com sede em Paris mas cujo maior acionista era o Tesouro britânico.
A nacionalização desencadeou a chamada "Crise de Suez" e em outubro do mesmo ano uma ação militar conjunta da Inglaterra, França e Israel para retomar o controle do Canal.
Os Estados Unidos e a União Soviética agindo em conjunto, algo raro, obrigaram os três invasores a recuar e desfazer a ocupação do Canal. A crise terminou com a ocupação da Zona do Canal por uma Força de Paz da ONU, com um contingente majoritário de tropas do Exército brasileiro.
A nacionalização não gerou as receitas que Nasser esperava porque muitos navios maiores preferiam dar a volta pelo Cabo da Boa Esperança, e o Canal sofrera danos de navios afundados durante o conflito.
Para construir a represa de Assuwan, Nasser apelou à União Soviética, que em contrapartida estabeleceu uma espécie de protetorado sobre o Egito, dominando seu comércio exterior, que sofria um embargo "branco" da Inglaterra, até então sua maior parceira comercial, e da França. A influência russa sobre o Egito durou até a morte de Nasser e a ascensão de seu sucessor Anuar el Sadat, que tinha uma visão mais pró-ocidental.
A Companhia do Canal, fundada pelo francês Ferdinand de Lesseps, engenheiro idealizador do canal e também do Canal do Panamá, foi capitalizada na França. Mas em 1887 o Banco N. M. Rothschild comprou o bloco de ações que pertenciam ao Khediva do Egito por 4.400.000 de Libras, por conta e em nome do Tesouro britânico, com o que o controle da Companhia passou a ser, desde então, britânico, permanecendo a administração francesa.
O Egito era na época da construção do Canal e até 1918 uma província do Império Otomano, embora com um soberano local, o Khediva, cuja dinastia era albanesa. O último Rei foi Farouk, deposto por Nasser em 1952.
Desde 1882, quando navios de guerra ingleses bombardearam Alexandria, o Egito tinha uma curiosa situação: era uma província turca nominalmente, a cultura da elite era francesa, a moeda e os nomes das ruas eram em francês assim como a Gazeta Oficial, mas o controle político e militar era britânico. Tropas inglesas estavam aquarteladas na Zona do Canal, o Rei apontava seu Primeiro Ministro  mas tinha que, antes, ter a aprovação do Embaixador inglês. Eram também inglesas as ferrovias, os bondes, a eletricidade, os bancos, os clubes, os hotéis, entre os quais o mítico Hotel Shepheard, no Cairo.
           Hotel Shepheard, Cairo: um dos grandes hotéis coloniais britânicos
O Egito era um paraíso para a aristocracia inglesa, que fugia do frio de Londres no inverno e fazia a viagem do Cairo a Luxor de navios fluviais de luxo. O filme Morte no Nilo, do mesmo romance de Agatha Christie, mostra essa época.
A terra agriculturável era da aristocracia turca. No Cairo, 300 palácios dessa aristocracia mantinham uma intensa vida social, era "de rigueur" ter mordomo  inglês, cozinheiro belga e babás francesas.
A imprensa era dominada por libaneses, o comércio por gregos e judeus, a colônia judaica de Alexandria era de 300 mil, a grega de 200 mil, também 120 mil italianos, gregos e judeus lá estavam há 2.000 anos, os camponeses eram miseráveis, a base da economia era a exportação de algodão, o melhor do mundo (até hoje).
Depois da nacionalização, a Companhia de Suez, com imensas reservas financeiras constituídas pela exploração do Canal, tornou-se um dos maiores grupos econômicos da Europa, fundindo-se com o Banco da Indochina, e hoje é um dos grandes players de energia e gás do mundo. Forte no Brasil através de sua subsidiária Tractebel, que comprou nos leilões de privatização parte das usinas geradoras da Eletrosul. Também são do Grupo Suez os dois navios de reigaseificação de gás arrendados à Petrobras que ficam em Pecem, no Ceará, e em Sepetiba, no Rio de Janeiro.
Hoje pelo Canal de Suez passam cerca de 50 navios por dia e 300 milhões de toneladas de carga por ano.
Cento e cinquenta anos após sua construção o majestoso Canal de Suez é ainda uma das maiores obras de engenharia já feitas na História. Impressiona pela perfeição de seu traçado, considerando que foi construído  em uma época de execução basicamente manual da escavação; na sua inauguração foi apresentada no Teatro do Cairo a ópera AIDA, composta por Verdi sob encomenda do Khediva Ismail para comemorar a inauguração do Canal. (Nota deste blog: a Wikipedia - AQUI - nega tal informação: "Sua estreia mundial aconteceu na Casa da Ópera, no Cairo, em 24 de dezembro de 1871. Ao contrário do que muitas vezes é afirmado, Aida não foi composta por encomenda do governo egípcio para comemorar a inauguração do canal de Suez, fato que ocorreu em 17 de novembro de 1869.").

Para atender aos turistas ingleses no Egito, foi lá criada por Thomas Cook a primeira agência de viagens da história.
Cook inventou o cruzeiro marítimo, o travelers cheque, as excursões para ver monumentos, os pacotes turísticos combinando navio, hotel, excursões de camelos e trens.
A Wagon Lits Cook criou também o carro dormitório e o carro restaurante nos trens. (Fonte: aqui).

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