quarta-feira, 17 de abril de 2019

A CONJUNTURA SEGUNDO RICARDO CAPPELLI

(GGN).
Uma longa travessia
Por Ricardo Cappelli
As últimas pesquisas fornecem algumas pistas de para onde podemos estar indo. Os militares possuem o maior nível de confiança da população (66%).  O Senado (17%), a Câmara (11%) e os partidos (7%) são as instituições de menor prestígio.
Sérgio Moro (59%) segue sendo o político mais popular do Brasil. Bolsonaro encolheu. Apesar disto, o presidente representa a nova política para 61%. A maioria considera que ele deve endurecer ou manter como está sua relação com o Congresso.
Metade da população considera que os governos Lula e Dilma são os responsáveis pela crise.
A democracia é uma invenção humana, uma construção dos sapiens, espécie dotada da capacidade de acreditar e cooperar em torno de abstrações.
Para a grande maioria do povo, ela é apenas meio para a melhoria de sua condição de vida. Seu João e Dona Maria participam da democracia apenas de dois em dois anos quando, obrigados, votam.
A democracia, na sua plenitude, é exercida por uma elite. Como dizia Churchill, “é a pior forma de governo, com exceção de todas as demais”. Mas, e se a democracia não funcionar?
O Brasil passou por três presidentes nos últimos quatro anos. Aguentaria o quarto, numa eventual queda de Bolsonaro? Ou seria mais um fracasso da alternativa democrática?
Roma foi uma República exitosa durante séculos, até que uma guerra pelo poder dividiu os romanos. A disputa entre Júlio César e Pompeu Magno gerou um vácuo de poder. O caos administrativo teve como conseqüência fome e desesperança.
Quando César voltou a Roma vitorioso e colocou ordem na casa, saciando a fome do povo, sentiu que poderia governar sozinho. O Senado, manchado por denúncias de corrupção e inoperância, foi obrigado a se dobrar diante do autoproclamado ditador.
O povo apoiou César. Ele manteve o Senado, esvaziando seus poderes. Os senadores, inconformados, assassinaram o mito com 23 facadas. Foi inútil. O destino da República já estava selado. Os Imperadores estavam a caminho.
Os movimentos de junho de 2013 formaram uma poderosa onda anti-sistema. Bolsonaro é apenas o surfista que pegou a onda certa. Não domina e está longe de ser a própria onda.
A esquerda, no governo, era a representação do sistema a ser derrubado. Com a economia crescendo foi possível enfrentar a onda. Quando o emprego faltou, a narrativa da corrupção como “causa sistêmica” finalmente triunfou.
Mas, e se mesmo com o triunfo do “combate à corrupção” o país não voltar a crescer? Os ataques sistemáticos ao Congresso Nacional e ao STF dão pistas de quem serão os próximos culpados engolidos pela onda.
O horizonte não é nada promissor. O Itaú revisou sua expectativa para o PIB deste ano para +1,3%. A capacidade ociosa da indústria beira os 40%.  O consumo das famílias já recuou 5,2% em 2019. A retomada do crescimento é uma miragem.
Na contramão da política de austeridade e desmonte, Bolsonaro anunciou a contratação de mil novos policiais federais e nomeou um delegado da PF para a chefia do Inep.
É pouco provável que os militares embarquem numa aventura aberta contra as instituições democráticas, mas com um Estado Policial sendo montado – que coloca faca até mesmo no pescoço de ministros do STF -, será preciso se expor? O destino da República está selado?
Levará tempo para que o povo consiga diagnosticar corretamente o fenômeno e suas causas. Por enquanto, vai sendo manipulado numa brutal guerra semiótica.
Tudo indica que o desfecho da crise, infelizmente, pode ser ainda pior. A travessia será longa. A onda parece estar longe do fim.
................
Leitores do GGN questionaram alguns pontos da análise acima. Um deles, Severino de Oliveira, manifestou-se sobre dois registros do articulista:
1. "'Metade da população considera que os governos Lula e Dilma são os responsáveis pela crise.' 
É evidente, meu caro cidadão “lúcido”, que muito mais da metade da população é influenciada pelo que diz CEM POR CENTO da imprensa mercenária brasileira.
E parte da população, principalmente aquela que se considera ilustrada e “lúcida”, é CEM POR CENTO dirigida pelo que propaga a imprensa mercenária.
O PT nos deu de presente várias coisas extraordinárias. Primeiro demonstrou, pela primeira vez na história desse país, que um Brasil melhor, mais humano e menos violento e desigual é possível.
Depois comprovou que é possível (...) manter equilibradas as contas públicas, com pleno emprego.
Depois, e o mais importante, forçou a parte podre da população brasileira e das instituições a mostrar a cara feia que sempre manteve escondida sob uma máscara de cordialidade. Esse é o maior legado deixado pela passagem do PT no poder central do país. Mostrou ao país a sua própria doença, a hipocrisia, a violência e o ranço escravagista que sempre esteve presente nos traços mais fundamentais da formação originária da sociedade brasileira e, por isso, só agora se sabe o que deve ser eliminado para que essa terra possa ser algum dia uma grande nação."

2. "'A esquerda, no governo, era a representação do sistema a ser derrubado. Com a economia crescendo foi possível enfrentar a onda. Quando o emprego faltou, a narrativa da corrupção como “causa sistêmica” finalmente triunfou.'

Não tem nada a ver com a realidade dos fatos. Ao contrário, alinha-se com a interpretação fantasiosa produzida, com muito esforço e poder de comunicação, pelo Ali Kamel, para consumo das massas ignaras.
O desemprego foi construído deliberadamente pela atuação deletéria da parceria criminosa entre a Farsa a Jato e o oligopólio midiático controlado pelas forças do deus Mercado, a partir de 2014. Coroando uma campanha de desestabilização do PT iniciada junto com o governo em 2003. Com a inestimável colaboração da quadrilha de parlamentares liderada pelo bandido Eduardo Cunha, no Congresso, mantido pelo PGR bandido, Rodrigo Janot, até que o GOLPE, “o grande acordo nacional, em torno do nome de Michel Temer, com STF, com tudo” estivesse perfeitamente estruturado. A política interna nacionalista e desenvolvimentista e externa altiva e soberana implementadas pelo governo social democrata realizado pela coalizão liderada pelo Lula não pode e não deve ser chamada de esquerda e tampouco representava coisa nenhuma. Esse projeto político construído pelo PT era e é o próprio alvo do movimento golpista arquitetado, coordenado e implantado pelo Mercado. Desde 2005 o PT enfrentou todo esse poderio midiático que, junto com as esquerdas, faziam coro numa campanha impiedosa de acusações e difamação. Todo esse conjunto de forças, a tal esquerda, que se diz autêntica e os corneteiros da imprensa, merece crédito de autoria do desastre que se abateu sobre o país. Outra realidade extraordinária que se revelou foi a negação daquela crença de que a esquerda só se unia na cadeia. Agora sabe-se que essa afirmação não é verdadeira. Só quem vai para a cadeia é o PT que deve ser sempre grato a todos que o ajudaram a ser condenado e enclausurado."

Nenhum comentário: