quarta-feira, 31 de julho de 2019

OLHO NOS VÍDEOS (31.07.19)


Olho nos Vídeos


.Rádio BandNewsFM - Reinaldo Azevedo:
O É da Coisa ............................................ AQUI.

.Blog da Cidadania - Eduardo Guimarães:
Mídia sofre com personagem que criou ........ AQUI.

.Paulo A Castro:
Sobre personagens desnorteados ................ AQUI.
Caso Lula, Justiça Federal e juíza Lebbos ...... AQUI.


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Bônus:

.TV GGN - Luis Nassif - Quem foi
o grande padrinho de Luiz Fux ......... Aqui.

ECOS DO LANÇAMENTO DO CONSÓRCIO DO NORDESTE


O Pacto de Moncloa brasileiro e a revolução que vem do Nordeste 
Por Luis Nassif
O cientista político José Luiz Fiori estava na Espanha no período do Pacto de Moncloa, que uniu o país no pós-franquismo.
O pacto foi conduzido por três personagens centrais. O presidente Adolfo Suárez, o primeiro ministro Felipe Gonzales e seu braço direito Alfonso Guerra, o braço guerreiro de Gonzales.
O pacto reuniu partidos políticos, associações empresariais e sindicatos, visando dois objetivos: preparar o país para a democracia e debelar uma profunda crise econômica.
O que seria o Pacto de Moncloa brasileiro, segundo Fiori?
O primeiro ato, essencial, seria a libertação de Lula. Depois, a composição da tríade espanhola.
Para presidente, poderia ser Fernando Henrique Cardoso, não fossem seus defeitos insanáveis de caráter. Olhando no devastado horizonte político brasileiro, Fiori enxerga esse papel para o senador Tasso Jereissatti. Para primeiro ministro, ele imagina Fernando Haddad. Para o papel de Afonso Guerra, Ciro Gomes.
É um desenho perfeitamente factível.
Aliás, o fator Bolsonaro está abrindo espaço para o que se configura o início de um processo profundo de busca de novas saídas e novas experiências.
Em momentos de transição, abre-se espaço para a incorporação de novos atores e novas ideias na construção de políticas públicas. Esse movimento ocorreu no início do governo Fernando Henrique Cardoso, com uma profusão de propostas de intelectuais socialdemocratas, desperdiçadas pela falta de vontade do presidente.
O movimento de renovação passou pelo Paraná de Jaime Lerner, por uma renovação relevante das Federações de Indústrias dos três estados do Sul, pela visão internacionalista assumida pela CUT.
Ocorreu também em dois momentos importantes da vida política paulistana, nos governos de Luiza Erundina e Martha Suplicy, assim como no início do governo Lula. Posteriormente, Fernando Haddad desenhou algumas das mais bem concebidas políticas públicas brasileiras, como Ministro da Educação e como prefeito de São Paulo, mas, aí, com uma visão de gabinete.
Nessa nova etapa, com o governo Bolsonaro se apresentando como a maior possibilidade de retrocesso já ocorrida na história, o país começa a buscar pontos de construção.
No Sudeste, o ciclo de renovação da política estacionou há muito tempo. São Paulo e Rio de Janeiro se tornaram o túmulo da política. Os partidos envelheceram, a participação social mirrou, as experiências inovadoras ficaram para trás.
Nesse mesmo período, houve uma renovação política no Nordeste, com as velhas oligarquias sendo ultrapassadas e sendo gradativamente substituídas por uma nova geração, aberta às inovações. Começa lá atrás pelo Ceará de Tasso e Ciro, passa por Pernambuco de Eduardo Campos, entra pela Bahia de Jacques Wagner, pelo Piauí – um estado que mereceria um estudo à parte -, até chegar ao Maranhão de Flávio Dino, derrubando a mais longeva das dinastias políticas brasileiras, a dos Sarney, e consolidando um modelo de gestão participativa que irá se espalhar por toda a região.
O lançamento do Consórcio do Nordeste, anunciado ontem, e juntando os 9 governadores da região, é o fato político mais importante do ano. E coloca o NE como o projeto piloto do grande Pacto de Moncloa que começa a se desenhar, na mesma proporção em que se desmancha o governo tenebroso de Bolsonaro.
É questão de tempo para que os empresários se deem conta de que esse desmonte do Estado brasileiro não obedece a nenhuma lógica liberal, mas a um ideologismo irresponsável; para que os militares entendam que não se pode construir um projeto de país sem paz social, e não existe paz social sem se abrir espaços de respiro para o pensamento dissidente.  -  (Aqui).

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Dom Hélder Câmara, Celso Furtado, Josué de Castro, Teotônio Vilela, Miguel Arraes e Evandro Lins e Silva. Eis seis ilustres personalidades que nos ocorreram em um minuto, em mero exercício de memória, presente este bravo Nordeste. Busque as suas. 

"Começa lá atrás pelo Ceará de Tasso e Ciro, passa por Pernambuco de Eduardo Campos, entra pela Bahia de Jacques Wagner, pelo Piauí – um estado que mereceria um estudo à parte -, até chegar ao Maranhão de Flávio Dino, derrubando a mais longeva das dinastias políticas brasileiras, a dos Sarney, e consolidando um modelo de gestão participativa que irá se espalhar por toda a região."

A propósito de Wellington Dias, sugerimos clicar AQUI para conferir "O governador do Piauí na sala de visitas com Luis Nassif", post publicado neste Blog em 25.09.16.

DA SÉRIE LÍNGUAS DESBOCADAS QUE ASSOLAM O PAÍS

J Bosco.
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.Bom dia 247 (31.07.19) - Instituições
tentam conter Jair Bolsonaro .................. AQUI.

A ARMAÇÃO EXPLICITADA


"Agora está explícito pra quem quiser ver e aprender o quanto se armou, o quanto se tramou, para eleger esse governo, o que se armou por baixo dos panos pelos grandes órgãos de comunicação, exaltando seus heróis juízes e procuradores".

"O juiz Sergio Moro foi eleito o homem do ano, o homem que faz a diferença e hoje sabemos qual a diferença. É 'Lula tá preso, babaca', 'Dilma caiu, babaca'. Eu dentro da minha babaquice quero prestar minha homenagem, minha solidariedade aos jornalistas do Intercept, e especialmente a Glenn Greenwald pelas ameaças que vem sofrendo do Bolsonaro 'de pegar uma cana' e do ministro Moro de ser deportado".






(De Chico Buarque de Hollanda, em encontro na noite de ontem, 30, na ABI Associação Brasileira de Imprensa, Rio de Janeiro - Aqui.

Enquanto isso, conforme se vê Aqui, "Na esteira do derretimento institucional, da crise penitenciária, da verborragia protofascista bolsonariana e da reportagem mais importante em tempos recentes - a Vaza Jato -, um abaixo-assinado de advogados e juristas com mais de 800 adesões defendeu a liberdade de imprensa e sugeriu algo de forte impacto na cena política: o afastamento de Sergio Moro do cargo de ministro da Justiça").

GLENN NA ABI: NÃO PODEMOS REGREDIR PARA A DITADURA

Pela liberdade de expressão! Pela supremacia da Constituição!
(ABI, Rio, 30.07)
Glenn Greenwald na ABI: Não podemos regredir para a ditadura
247 - O jornalista Glenn Greenwald afirmou nesta terça-feira, 30, durante ato na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro, que não irá deixar o Brasil por conta das ameaças sofridas por Jair Bolsonaro, pelo fato dele estar revelando as ilegalidades da operação Lava Jato. 
"Esse é meu passaporte norte-americano. Esse passaporte me permite ir para o aeroporto a qualquer minuto e sair do país", disse Glenn diante de um auditório lotado na ABI. "Eu não me importo com as ameaças que Bolsonaro fez contra mim. Eu não vou fugir desse país. Eu não vou deixar o país dos meus filhos regredir para a ditadura", disse Greenwald.
O ato em defesa de Greenwald e dos demais jornalistas do The Intercept Brasil que estão sendo alvos de ataques do bolsonarismo contou com a participação de centenas de pessoas, entre jornalistas, políticos, advogados, artistas, representantes de movimentos sociais. 
Em entrevista, Glenn (afirmou): "Quando o presidente está te ameaçando por três dias consecutivos, usando seu nome como Jair Bolsonaro está fazendo contra mim, obviamente o risco é grande de eu ser preso. Nós sabemos isso todo o tempo", afirmou.
O artigo 5º da Constituição Federal, que trata dos direitos e deveres do cidadão, estabelece que "é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional".  -  (Para continuar, clique Aqui).

SOBRE TODAS AS CORES

                        (Pablo Picasso em Cannes, 1959).
Todas as cores as cores não passam de luz branca
Por Eliseu Raphael Venturi
E foi numa arena corroída de tourada pós-moderna que o Matador decidiu descumprir algumas regras clássicas de figurino, conduta, jogo, apresentação. Quem se importa? 
Havendo sangue, sangrando-se as técnicas, as éticas, as interpretações e as argumentações, destruir a razão junto com o corpo é lucro à plateia! Afinal: quem gosta de Lei? Aplausos à sombra.
Rasgou-se por si aquele traje incrustado de pedras preciosas, penduricalhos, ornamentos em ouro; não fora pelo chifre veloz que as contas explodiram ao chão como pérolas aos porcos.
Pois que, verdadeiramente, eram as entranhas do Toureiro: vazaram como um corte de chifre na barriga gorda, caíram ao chão fezes, sangue, gordura, carne, água, com um som insuportável de líquido amniótico pré-parto de um nascituro indistinto. Restou aos bofes e continuava esnobista. 
Perguntávamos, então, diante do espetáculo: precisar-se-ia de tais vazamentos para se ver tudo aquilo que já estava ali, posto na praça pública; tudo aquilo que havíamos visto exigia tamanha canibalice? Uma semiótica da conduta não bastara? Por que o vício derradeiro da violação quando ao óbvio do teatro não se precisava de bastidores?
Aquela tourada menor não era novidade – não a nós que vivemos vida sobre vida após morte sobre morte, e que já estávamos um tanto velhos e cansados naquela época que nos recolhia os fluídos das juntas. 
A Rainha de Copas, nascida da entorpecência, que o dissesse: das profundezas de um buraco surrealista hiperreal ela ordenava, ordenava e ordenava cortar, cortar e cortar. Lá habitávamos, a propósito, naqueles anos vencidos, todos riscados dia-a-dia da nossa ampulheta apressada. 
E eu, sinceramente, era feliz por estar vivo. Ao invés de me preocupar com toda aquela gente bem alimentada que vivia muito mais do que eu, eu me preocuparia mesmo com quem me nutriu a vida inteira, decidira, me dando aos trabalhos da metáfora com pitadas de fábula apenas por compromisso como devaneio, quando queria mesmo era garimpar cada vez mais o belo e o monstruoso.
Era, de mais a mais, o Matador, muito estranho. Esperava-se virilidade, descolada do gênero; esguio e forte, elegante e cruel, preciso e artístico, um ápice de humanidade, um acrobata da luta e da dança, um deus na terra, um demônio na terra, um maldito irresistível. Era uma crença, porque visto de perto exalava o fudum do antiperfume, eram homenzinhos cujo bolo algum ampliaria. Dizem que o recrudescimento da boquinha e a recalcitrância do nariz de sua esposa eram um protesto facial de incontinência, nada de estética cubista naquilo tudo, mas as pessoas só se horrorizavam com o melhor das vanguardas modernas e suas representações pictóricas. É possível entender?
Mas, vejam: os tenores do nosso tempo iam mal, umas vozes estridentes pagando-se sapo de virtuose da técnica, analisem o sentido de jurisdição, parece claro, audível. Puros temores que cassariam sua liberdade, plenos tumores. Que artista nos representaria, chorávamos às escadarias fumando, pedindo por alguém que não viria mais na imensa solidão daquele reino confuso, decadente, decaído, acabado, devastado. Nós estávamos era condenados aos engodos, um gado enganado.
No meio de toda sorte de contradições performativas, contradições lógicas, contradições jurídicas e, diziam mais, em meio a uma feira de contradições quaisquer, como que em um belíssimo herbário de barbáries, os escribas menores apagavam as diferenças e diziam: “todos são culpados, afinal em polarizações tudo se equivale”. Mas de onde foi que saiu essa gente, Deus do céu? 
Alguém lembrou à Rainha que haveria diferenças entre a ordem da sentença e do veredito, mas não se ouviu, não se compreendeu, não se quis. Monarcas desejam e o desejo deles é a regra nata como pingo de suor, saliva de fome. Insistiu-se, inutilmente, com toda sorte de explanações, boatos de que até se faria um seriado destes, destas televisões obtusas cultuadas, explicando. Vão esforço, vãos de boataria por dentre os quais era tudo correria.
O homem mais lido da minha cidade, devo citar, até debochava de que se faziam bolos de cenoura empregando-se beterrabas, e aos alunos advertia com o mais concreto, didático e pedagógico dos exemplos elucidativos, mas ele não era compreendido e, então, seu olhar se tornava vidro. É bem verdade que rimos muito naqueles anos de ferro… Oxidado. Tempos crônicos.
Os séculos de esforços da humanidade em criar diferenciação foram esforços inócuos. Palavras vãs. Para quê consoantes quando tudo é vogal? Pouco importou o esforço do primata em, ao som de Strauss, levantar o osso do cadáver animal em ferramenta. Todas as cores não passam de luz branca.  -  (Aqui).

terça-feira, 30 de julho de 2019

OLHO NOS VÍDEOS (30.07.19)


Olho nos Vídeos


.Rádio BandNews FM - Reinaldo Azevedo:
O É da Coisa ............................................. AQUI.

.TV GGN - Luis Nassif:
As lições do jornalismo, o caso Intercept 
e os mil grampos que viraram dez ............... AQUI.

.Boa Noite 247:
O embaixador de Trump ............................. AQUI.

.Paulo A Castro:
Sobre dois personagens e uma armação ....... AQUI.
Presidente da Câmara vai na jugular da LJ .... AQUI.


................


Extras:

.TV GGN: Glenn deixa a Globo
em uma sinuca .................... aqui.

.Click Política: Voltando ao 
caso da Fundação Lava Jato .. aqui.

DIÁLOGOS TRANSCENDENTAIS, O RETORNO


- Mais uma vez o senhor me surpreendeu, Conselheiro! De início, considerei uma temeridade a orientação que o senhor traçou para o nosso Líder, e confesso que ainda estou meio estupefato.

- Foi preciso, meu caro, foi preciso.

- Mas, o mundo inteiro expressa indignação! Um ministro do STF sugeriu que nosso Líder seja amordaçado, parlamentares se dizem furibundos, ex-presidentes da tal OAB se dirigirão conjuntamente ao Supremo contra nosso Guia, até setores militares estariam incomodados, e, como se não bastasse...

- Chega, rapaz! Isso já encheu. 

- Mas...

- Não seja tacanho! Pense, pense!

- Mas...

- Que assunto monopoliza o noticiário?

- Claro que é a agressão, digo, a revelação sobre as circunstâncias da...

- Entendeu? Era preciso arrumar uma válvula.

- Não consigo entender...

- Responda, responda! Depois do lance, alguém ainda fala em fake-facada? Alguém ainda fala na providencial divulgação da delação fajuta do Palocci às vésperas do primeiro turno, vital para a eleição de nosso Líder?

- Na verdade não...

- Entããão?! 

- Mas, e se...

(Como diria Veríssimo, pano rápido).

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P. S.: Este Blog admite que o texto acima - ao inserir no contexto a figura de um conselheiro - pode ter ficado transcendental demais.

ENTRE O LIXO PSÍQUICO DIGITAL E A CENSURA NA INTERNET

Entre o lixo psíquico digital e a censura na Internet no documentário "The Cleaners" 
Por Wilson Ferreira
Facebook, Google e Twitter, assim como as empresas de tecnologia em geral, passam uma imagem de serem “limpas”. Mas assim como o lixo eletrônico é enterrado longe dos nossos olhos em países africanos, empresas terceirizadas escondem o lixo psíquico das redes sociais. O documentário “The Cleaners” (2018) acompanha trabalhadores terceirizados de Manila (Filipinas) que fazem a moderação dos conteúdos das redes sociais: vídeos terroristas, auto-mutilação, pornografia infantil e suicídio ao vivo são submetidos ao código binário “excluir/ignorar”. Um lixo psíquico tão tóxico que muitos funcionários se matam ou se afastam por sérios transtornos psíquicos. Mas também a terceirização dos serviços de moderação se torna uma forma secreta de censura e filtragem da realidade, modelando nossa percepção do mundo de acordo com os propósitos das gigantes do Vale do Silício. Com a terceirização, elas acabam se eximindo de qualquer responsabilidade, seja legal, política ou humana.

Para o engenheiro de computação e insider do Vale do Silício, Jaron Lanier, as gigantes Facebook, Google e Twitter têm uma agenda tecnológica bem clara: alcançar um ponto de singularidade tal que a Internet se transforme numa entidade autônoma, senciente, onisciente e onipotente. 
Se essa hiper Inteligência Artificial for criada por seres humanos à nossa imagem e semelhança, certamente irá levar consigo não apenas o nosso intelecto. Essa singularidade tecnológica também carregará dentro de si o nosso id, o magma do inconsciente com todas as nossas pulsões, desejos, fantasias. Mas também toda a sombra psíquica: pesadelos, perversões, violência e impulsos instintivos mais nefastos e autodestrutivos.
E, mantendo essa espécie de versão expandida e autônoma do nosso aparelho psíquico, essa hiper Inteligência Artificial deverá obrigatoriamente contar com instâncias de superego – formas de reprimir, denegar ou, simplesmente, excluir da consciência essa lava que sobe do vulcão do inconsciente.
Um serviço que deve ser secreto e anônimo, porque é sujo e, muitas vezes, imoral. Afinal, assim como criamos a melhor imagem de nós mesmos em nossas relações com os outros, também essa hiper IA vai querer mostrar seu melhor lado para os usuários: a hiper IA existe para que cada um compartilhe seus melhores sentimentos e experiências com os outros em qualquer ponto do planeta.
Essa instância secreta do superego digital das gigantes do Vale do Silício já existe: são os “cleaners”, empresas terceirizadas para fazer a moderação dos conteúdos do Facebook, Youtube e Twitter. Em geral, sediadas em lugares pobres e periféricos como em Manila, Filipinas.


Para os candidatos a esse trabalho, conta o glamour de trabalhar em empresas de tecnologias em prédios pós-modernos espelhados e um salário acima da média de um país pobre. Mas o custo psíquico de assistir em média 25 mil fotos e vídeos por dia, para julgar se deve ser ignorado ou excluído, é alto: depressão, suicídio ou apatia emocional. 
Mas, consideram-se importantes, pois são moderadores que protegem a sociedade de ver postagens de crimes, conteúdo sexual impróprio e discursos de ódio. Pelo menos, é o que é inculcado nas cabeças desses empregados durante o treinamento.

O Documentário

É sobre esse tema que trata o documentário The Cleaners (2018), dirigido pelos cineastas, ensaístas e músicos alemães Hans Block e Moritz Riesewieck e com produção-executiva dos brasileiros Fernando Dias e Maurício Dias. 
Sob a aparência que as gigantes tecnológicas criam de que todo o conteúdos das redes são monitorados automaticamente por algoritmos, machine learnings ou motores de busca, empresas como Facebook escondem, por meio da terceirização, de que quem na verdade faz esse trabalho sujo (que muitas vezes implica em censura política) são empresas terceirizadas em regiões periféricas do centro tecnológico do planeta.
Mas o documentário apresenta um quadro ainda mais preocupante: num contexto atual de ascensão das fake news, bolhas virtuais, escândalos de invasão de privacidade das informações como no caso Cambridge Analytica e a polarização política mundial, poderíamos pensar que estes gigantes da Internet empregam exércitos de especialistas altamente treinados para agir como guardiões das nossas sensibilidades.


Mas The Cleaners mostra que não é bem assim: são pessoas comuns, que passam por um rápido treinamento e que terão que trabalhar apenas com as opções “ignorar”/”excluir”, submetidos a uma jornada diária de milhares de fotos e vídeos de pornografia, violência, mortes e suicídios, muitas vezes ao vivo. 
Em questão de segundos, terão que descobrir as complexidades de, por exemplo, a diferença entre pornografia e a charge política de Trump nu, ou fazer o juízo sobre liberdade de expressão e discurso de ódio. Decisões editoriais sutis e altamente contextuais que devem ser tomadas em cerca de oito segundos!
The Cleaners inicia mostrando o perfil sócio cultural de um grupo de moderadores da região da capital das Filipinas, Manila. Seguem-nos nos seus trajetos de casa para o trabalho – famílias pobres que dependem do salário do moderador. 
Muitos deles remexem no lixo para reciclar e ganhar alguns trocados. A ironia é que “os cleaners” são a elite local que estudou para fugir do lixo físico. Para depois sobreviverem remexendo o lixo psíquico da Internet.
Eles são anônimos e propositalmente escondidos por camadas de empresas terceirizadas pela gigantes do Vale do Silício. Essa é mais uma ironia do documentário: empresas de tecnologia têm a imagem de serem “limpas” por desenvolverem uma tecnologia “não poluente”. Mas, assim como o lixo eletrônico altamente poluente de baterias e componentes eletrônicos são enterrados em contêineres em países africanos, da mesma forma o trabalho sujo de remexer o lixo psíquico tóxico é terceirizado por empresas de países do terceiro mundo ou periféricos.
Mostra como uma moderadora católica fundamentalista exclui todo e qualquer nu, independente do contexto, linguagem ou propósito.
Enquanto essa fundamentalista considera seu sofrimento um sacrifício necessário na luta bíblica do Bem contra o Mal, outros moderadores não aguentam: ou se matam (como no caso de um funcionário que se enforcou diante do seu laptop), ou pedem demissão, levando consigo sérios transtornos psíquicos. Claro que a estratégia de terceirização do Vale do Silício também é uma forma de se eximir de toda e qualquer responsabilidade pelos danos ocupacionais.


Censura secreta

Mas tudo isso é apenas o começo. The Cleaners descreve como essa terceirização dos moderadores se transforma num tipo secreto de censura contra os usuários de todo o planeta – mais do que isso, os moderadores involuntariamente acabam modelando a própria realidade ao nosso redor.
Por exemplo, a icônica foto da Guerra do Vietnã (mostrando uma menina nua caminhando numa estrada, com o corpo queimado por Napalm) jamais seria publicada nas atuais redes sociais. Aquela foto de 1972, com impacto suficiente para aumentar os protestos pelo fim da guerra, hoje seria “excluída” – um pequeno exemplo de como o real é filtrado por essas empresas, censurando notícias sob o pretexto de bloquear “conteúdos extremos ou ofensivos”.
Mas, ao mesmo tempo que exclui notícias sobre o mundo real, por outro lado premia feedsde discursos de ódio e selfies de extremistas por angariar mais likese compartilhamentos.
Paradoxalmente, de tanto verem violência, muitos moderadores se tornam apáticos e indiferentes ao discurso de ódio. Como na onda de racismo e genocídio em Mianmar (antiga Birmânia) contra a minoria Rohingya – vídeos de espancamentos, estupros coletivos e incêndios são ignorados. Principalmente devido a uma contradição interna do próprio serviço de moderação: se os moderadores cometem erros, são punidos. Mas se eles não permitirem exibir o suficiente destas imagens extremas durante seu turno, também estão em apuros. 


Acordos com governos de extrema direita

Em The Cleaners são revelados acordos das gigantes da Internet com governos de extrema direita, como no caso da própria Filipinas, sob o governo de Rodrigo Duterte – incentivador de esquadrões da morte para matar milhares de pessoas associadas ao tráfico de drogas, além de se dizer “curado” de se tornar gay. 
Postagens de fotos e vídeos das chacinas policiais e de milícias são excluídas pelos moderadores (para não prejudicar a imagem do Governo), enquanto vídeos pornográficos de uma banda de rock de strippers que apoia explicitamente Duterte são liberadas.
Em estética cyberpunk, figurando a cidade de Manila e as empresas de tecnologia em cenários que lembram o filme Bladerunner,The Cleaners pinta um retrato sombrio de como esse paradigma da terceirização tecnológica e de relações trabalhistas está arruinando a própria democracia – empresas poderosas cinicamente não se responsabilizam por nada, como o documentário apresenta: vemos sessões no Congresso onde senadores questionam CEOs do Facebook, Twitter e Google, nas quais fogem de quaisquer responsabilidades, simplesmente dizendo que algumas decisões dessas empresas de moderação podem ser “tristes”.
Esses CEOs (e seus próprios bilionários empregadores) podem não se responsabilizar por nada ou fazerem ares de surpresos. Mas a questão é que, assim como nos cassinos de Las Vegas, quem banca o jogo nunca perde – todos os “erros” dessas pequenas empresas prestadoras de serviço sempre beneficiam a elite do Vale do Silício.
Essa mínima constatação já seria suficiente para enquadrar legalmente essas empresas.

Abaixo, o documentário com legendas em alemão. Pode ser configurado com legendas geradas automaticamente em português.

Como o documentário possui muitas entrevistas com moderadores filipinos, clique aqui para o documentário com legendas em inglês.
(Fonte: Cinegnose - Aqui).

Ficha Técnica 


Título: The Cleaners (documentário) 
DiretorHans Block e Moritz Riesewieck
Roteiro:  Hans Block e Moritz Riesewieck
Elenco:  Mark Zuckerberg, Donald Trump, Nicole Wong, Sarah Roberts, Ed Lingao
Produção: Gebrueder Beetz Filmproduktion, Grifa Filmes
Distribuição: Lighthouse Home Entertainment
Ano: 2018
País: Alemanha/Brasil

Postagens Relacionadas










(Dica de leitura Cinegnose: "Como fugir da barbárie sem celulares e tablets em 'À espera dos bárbaros'"  -  Aqui).

O SEMEADOR

Laerte.
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.Bom dia 247 (30.07.19):
Bolsonaro, a repercussão .............. AQUI.

FLAGRANTE DE UMA QUADRA NADA EDIFICANTE DE NOSSA HISTÓRIA...

Genildo.
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(Com o perdão das professoras e professores do Brasil).

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"O PIOR DE TUDO É O MAU EXEMPLO, A ASSOCIAÇÃO DO SUCESSO POLÍTICO OU QUALQUER OUTRO À INCIVILIDADE E À GROSSERIA. POR OUTRO LADO, ACHO QUE PODE SER UM MARCO DE COMO AS PESSOAS NÃO DEVEM SER. A REPUGNÂNCIA TEM SIDO GERAL."

(De um ministro do STF -  Coluna de Tales Faria, UOL - AQUI).

segunda-feira, 29 de julho de 2019

OAB: NOTA DE REPÚDIO ÀS DECLARAÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA


"A Ordem dos Advogados do Brasil, através da sua Diretoria, do seu Conselho Pleno e do Colégio de Presidentes de Seccionais, tendo em vista manifestação do Senhor Presidente da República, na data de hoje, 29 de julho de 2019, vem a público, no uso das atribuições que lhe são conferidas pelo artigo 44, da Lei nº 8.906/1994, dirigir-se à advocacia e à sociedade brasileira para afirmar o que segue:
1.    Todas as autoridades do País, inclusive o Senhor Presidente da República, devem obediência à Constituição Federal, que instituiu nosso país como Estado Democrático de Direito e tem entre seus fundamentos a dignidade da pessoa humana, na qual se inclui o direito ao respeito da memória dos mortos.
2.    O cargo de mandatário da Chefia do Poder Executivo exige que seja exercido com equilíbrio e respeito aos valores constitucionais, sendo-lhe vedado atentar contra os direitos humanos, entre os quais os direitos políticos, individuais e sociais, bem assim contra o cumprimento das leis.
3.    Apresentamos nossa solidariedade a todas as famílias daqueles que foram mortos, torturados ou desaparecidos, ao longo de nossa história, especialmente durante o Golpe Militar de 1964, inclusive a família de Fernando Santa Cruz, pai de Felipe Santa Cruz, atingidos por manifestações excessivas e de frivolidade extrema do Senhor Presidente da República.
4.    A Ordem dos Advogados do Brasil, órgão máximo da advocacia brasileira, vai se manter firme no compromisso supremo de defender a Constituição, a ordem jurídica do Estado Democrático, e os direitos humanos, bem assim a defesa da advocacia, especialmente, de seus direitos e prerrogativas, violados por autoridades que não conhecem as regras que garantem a existência de advogados e advogadas livres e independentes.
5.    A diretoria, o Conselho Pleno do Conselho Federal da OAB e o Colégio de Presidentes das 27 Seccionais da OAB repudiam as declarações do Senhor Presidente da República e permanecerão se posicionando contra qualquer tipo de retrocesso, na luta pela construção de uma sociedade livre, justa e solidária, e contra a violação das prerrogativas profissionais.
Brasília, 29 de julho de 2019
Diretoria do Conselho Federal da OAB
Colégio de Presidentes da OAB
Conselho Pleno da OAB Nacional"




(Da Ordem dos Advogados do Brasil, a propósito de declarações proferidas pelo sr. Jair Bolsonaro nesta data sobre crime praticado pelo estado brasileiro nos chamados anos de chumbo. 
A Nota, que este Blog subscreve integralmente, foi colhida no site da Instituição - Aqui.

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O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, afirmou que irá ingressar com uma ação junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que Jair Bolsonaro preste explicações sobre o paradeiro de seu pai, Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, que desapareceu em 1974, após ser preso por agentes da ditadura militar no Rio de Janeiro.  "Vou ao STF interpelar para que ele esclareça”, destacou Santa Cruz. O advogado da ação será o ex-presidente da OAB, Cezar Britto [247: aqui]).