segunda-feira, 29 de julho de 2019

A NAVALHA DE OCCAM E O GARGANTA PROFUNDA DE CURITIBA


"I Os hackers de Curitiba

Terça feira, 23 de maio de 2019 – a Polícia Federal acaba de prender quatro suspeitos de serem as pessoas que invadiram os celulares do ministro da Justiça, Sergio Moro.

São capturados na cidade de Araraquara – São Paulo.

Araraquara é uma cidade média do interior paulista com industrias do ramo têxtil e agroindustrial. Nada que a rivalize com o Vale do Silício na Califórnia e suas indústria de alta tecnologia na área da informática. Tem um centro universitário importante e é uma referência em farmácia e bioquímica, mas não em ciências de computação.

Tampouco as pessoas que passaram a ser chamadas de “hackers de Araraquara” são experts em informática. Um deles organizava festas e o outro era motorista de aplicativo e fazia curso técnico de eletricista. Ambos, pequenos golpistas com passagens pela polícia.
Mesmo assim, somos informados, através de vazamentos da Polícia Federal obtidos pela Rede Globo, que os hackers utilizando de seus próprios celulares e computadores e de um provedor de voz por IP conseguiram ter acesso aos celulares de, pelo menos, mil autoridades da República – inclusive do próprio presidente. E mais do que isso, quebraram a criptografia do serviço internacional de mensagens Telegram.
(Ilustração)
Para tanto, os “hackers de Araraquara” utilizando-se de um estratagema extremamente simples – mas jamais tentado por outra pessoa – enviaram ao Telegram um pedido de alteração de senha da conta de um político local e, com ela em mãos, conseguiram acesso à lista de contatos desse político. E, então, com esses primeiros contatos de um político do interior, em uma fantástica série de inter-relacionamentos, foram acessando telefones de outras autoridades – de deputados federais a ministros do Supremo, até chegar em Sergio Moro e Deltan Dallagnol.
Por que motivo delinquentes caipiras e pés-de-chinelo entrariam em tal conspiração? Para chantagear autoridades e ficarem ricos? Não – para salvarem a pátria e resguardarem o Estado democrático de Direito.
Copiaram as mensagens do procurador Deltan Dellagnol e repassaram para o site The Intercept que as tem revelado ao público na série jornalística que revela desmandos praticados pela Operação Lava Jato – do enriquecimento do próprio Dallagnol ao projeto de poder de Sergio Moro, passando pela interferência da crise da Venezuela.
Em nova série de invasões, partindo da ex-presidente Dilma Rousseff chegaram em Manuela D’Avila – ex-candidata do PC do B na chapa de Fernando Haddad para a presidência da República. De Manuela obtiveram o contato de Glenn Greenwald – jornalista responsável pelo The Intercept.
Simples assim.
Óbvio que a informação da quebra da criptografia de um programa internacional de mensagens deveria ser noticiada no mundo inteiro e levar a falência dessa empresa de comunicação pela fuga de todos os seus usuários. Mas, estranhamente, nada aconteceu.
Navalha de Occam 
O princípio metodológico conhecido como Navalha de Occam diz que, entre duas teorias que explicam os mesmos fenômenos, devemos sempre escolher a teoria mais simples.
"II - O Garganta Profunda de Curitiba
Criaremos aqui uma outra teoria.
(Arq.)
A de que não há hacker nenhum. E sim de que as revelações do The Intercept são fruto de um “inside job”. Alguém de dentro da própria Lava Jato ou da Polícia Federal e próximo a Deltan Dalagnol copiou as informações do computador de Deltan. Basta supor que Deltan tinha o aplicativo instalado no seu computador e, em um determinado momento, deixou-o aberto. Quebrar a senha de um computador é muitas vezes mais simples do que quebrar a criptografia de um serviço de mensagens.
Por que alguém da equipe trairia o coordenador da equipe e poria em risco todo um trabalho de quatro anos que culminou com a prisão do presidente Lula? Trabalho esse que resultou em fama, dinheiro e poder para Sergio Moro e Deltan, além de promoções para integrantes da operação mais próximos ao chefe.
Porque alguém estava realmente insatisfeito na República de Curitiba e tinha lá os seus motivos.
O caso Watergate – um precedente
Watergate foi um escândalo político americano de 1974 envolvendo espionagem contra o Partido Democrata. Acabou por levar à primeira renúncia de um presidente dos Estados Unidos – Richard Nixon.
O caso foi investigado e denunciado pelo jornal Washington Post que revelou que o presidente sabia das operações ilegais. O jornal recebia informações de uma fonte anônima: Deep Throat – o “garganta profunda”.
Somente em 2005 – mais de 30 anos após Watergate – soube-se tratar-se de Willian Mark Felt – ninguém menos do que o vice-diretor do FBI. Seus motivos para entregar o presidente da República? Proteger a agência em que trabalhava de ser manipulada por Nixon para atacar seus adversários políticos.
Mas há quem diga que Mark Felt – um funcionário de carreira, em vésperas de aposentadoria, que ascendeu na hierarquia do FBI e esperava ser nomeado diretor e suceder o lendário J. Edgar Hoover, morto em 1972 e a quem Felt era ligado – se sentiu passado para trás quando Nixon nomeou uma pessoa de fora do FBI para liderar a agência de investigação. Felt deixou o FBI em 1973, depois de trinta anos de serviço.
O STF em ação
Há ainda uma teoria da conspiração muito mais escabrosa. A Lava Jato é de conhecimento público que entrou em atrito com alguns ministros do Supremo Tribunal Federal. Um ministro com bons contatos na Polícia Federal e ….
Escabroso. Deixemos para lá.
Uma navalhada profunda no garganta
O que a Navalha de Occam diria em relação às teorias aqui apresentadas e ao que a Globo apresentou sobre os “hackres de Araraquara”?
Agora suponha que Sergio Moro e Deltan Dallagnol saibam que foi um serviço interno. Suponha que conheçam o método utilizado pelo invasor; mas que ou não chegaram ao nome do invasor, ou chegaram e não podem ou não querem torna-lo público.
E por que não tornariam público o nome do invasor?
Somente para levar nossa teoria para o extremo: se fosse para sumir com alguém, seria melhor que esse alguém nunca tivesse existido.
Já, para completar o serviço e acabar com Glenn, bastaria associá-lo a um ato criminoso com o “hacker de Araraquara”. Moro até assinou uma portaria que permitiria fazê-lo.  As mensagens obtidas pela Polícia Federal, por óbvio, seriam destruídas – como divulgá-las, sendo frutos de um crime? Afinal de contas, os hackers poderiam ter alterado as mensagens para torná-las mais interessantes ao jornalista. E há ainda o dinheiro, altas quantias encontradas em suas contas. Dinheiro esse que alguém lhes deu em pagamento por alguma coisa. Glenn?
Teorias e teorias.
Conhecendo o que conhecemos de Sergio Moro – lembremos da condenação de Lula e dos atos de ofício indeterminados – criaria Moro uma história com os “hackers de Araraquara”? Imagino que somente se não tivesse nada melhor. E talvez não tenha mesmo.
Post Scriptum com Manuela D’Avila
A participação de Manuela D’Avila em nada se altera seja com o “Hacker de Araraquara” ou com o “Garganta Profunda de Curitiba”. Alguém a contatou anonimamente buscando acesso a Glenn e ao The Intercept.
Mas, por que o “hacker de Araraquara” o faria? Já tinha o número de Glenn copiado da lista de contatos do celular de Manuela. Bastava fazer contato com Glenn invadindo seu celular. Glenn com certeza acreditaria em alguém com essa capacidade de ação.
Já o “Garganta Profunda de Curitiba” precisava de uma “carta de apresentação”. Tinha informações que diziam respeito ao Ministro da Justiça, chefe da Polícia Federal e da Força Tarefa da Lava Jato – material muito pesado que poderia lhe custar muito caro se caísse nas mãos erradas– não poderia simplesmente anexá-lo usando o aplicativo que o portal do The Intercept disponibiliza. Precisava fazer chegar diretamente a Glenn.
Tratava-se do “Garganta Profunda de Curitiba” e não de um “Hacker de Araraquara”.
....
PS: Oficina de Concertos Gerais e Poesia – uma visão distorcida que permite ver as coisas exatamente como elas são."



(De Sérgio Saraiva, texto intitulado "A Navalha de Occam e o Garganta Profunda de Curitiba", publicado no GGN - Aqui.

Divagação à toa: É fato que o sujeito que enxovalhou a Constituição Federal de todas as maneiras imagináveis é hoje o encarregado de chefiar o grupo incumbido de investigar as malfeitorias perpetradas, mas o que importa é que ainda há quem julgue que desta vez referido sujeito não ficará por cima da carne seca. Os otimistas irrecuperáveis têm dessas coisas.

Errata: Na divagação acima, onde se lê "o sujeito que enxovalhou a Constituição Federal", leia-se "o sujeito que FOI AUTORIZADO PELO PODER a enxovalhar a Constituição Federal visando ao alcance de um determinado objetivo").

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