sexta-feira, 31 de agosto de 2018

ANTES DO JULGAMENTO, PELO TSE, DA CANDIDATURA LULA


"Todo o processo jurídico que envolveu a condenação do ex-presidente Lula no caso do apartamento no Guarujá deixou o fator jurídico em segundo plano. Prevaleceu o fator político a fim de que o Judiciário fizesse uma interferência política para tirar Lula da eleição presidencial.

No futuro, a História vai deixar isso claro.

A sessão extraordinária do Tribunal Superior Eleitoral prevista para as 14h30 de hoje deve ser entendida nesse contexto. Há possibilidade de que seja analisada a participação de Lula na propaganda do PT no rádio e na TV e, eventualmente, até o registro da candidatura.

Será importante ver os argumentos que os ministros do TSE apresentarão em resposta à decisão liminar do Comitê de Direitos Humanos da ONU que diz que o Brasil deveria permitir a candidatura de Lula até que tenham sido esgotados todos os recursos judiciais envolvendo a condenação do ex-presidente, que está preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

Além dos argumentos da defesa de Lula, foi entregue ao ministro Roberto Barroso, relator do caso do petista no TSE, uma carta de juristas e ex-ministros ressaltando a necessidade de respeito à decisão da ONU. Na carta, eles lembram que Barroso disse, em sabatina no Senado, que a jurisprudência do próprio STF entendia que tratados internacionais assinados pelo país tinham poder supralegal. Ou seja, a determinação do Comitê de Direitos Humanos da ONU estaria acima de óbices da Lei da Ficha Limpa, de acordo com essa visão.

Mas, se a Justiça decidir tirar Lula do páreo ou impedir a participação dele na propaganda eleitoral, haverá benefício para a estratégia do PT. Razão: o partido terá de apressar o Plano B, o ex-prefeito Fernando Haddad. O ex-prefeito está pronto para assumir a cabeça de chapa assim que a Justiça concluir sua interferência no processo político-eleitoral afastando Lula da corrida presidencial. (...)."



(Do jornalista e analista político Kennedy Alencar, post intitulado "TSE deve concluir processo de intervenção política para tirar Lula da eleição", publicado em seu blog - Aqui.
O texto acima foi publicado - e, obviamente, reproduzido - antes da sessão de julgamento, pelo TSE, das impugnações apresentadas por diversos interessados contra a candidatura do ex-presidente Lula nas eleições presidenciais 2018.
Pareceu-nos interessante deixar registrada neste blog a opinião política - que se nos afigura pertinente - do citado jornalista, enquanto aguardamos a decisão [aqui] do TSE sobre o tema.

Note-se que destacamos a opinião 'política' do articulista. As avaliações jurídicas estão alinhadas em vários posts aqui publicados - e muitas mais, aí sim, veremos na sessão do TSE acima referida).

A FILOSOFIA NIRVÂNICA


Custódio.

CARTUM DA UBERIZAÇÃO TOTAL


Custódio.

A MATEMÁTICA, ESSA PANTERA


Cláudio.

OLHO NOS VÍDEOS


Olho nos vídeos

.Entrevista com Sarah Cleveland ................ AQUI.

(Brian Mier entrevista a vice-presidente do Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas, que expediu liminar determinando ao Brasil que confira ao candidato Lula os mesmos direitos oferecidos aos demais concorrentes à presidência da República. 
Adendo em 01.09: Em inglês, com legendas).

.Boa Noite 247 de 30 de agosto ................. AQUI.

(Alex Solnik, Gisele Federice e Paulo Moreira Leite analisam a conjuntura).

A OBSCURIDADE E SUAS PERSPECTIVAS

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Enquanto o obscurantismo ameaça recrudescer e os acontecimentos se sucedem celeremente, com o ápice representado pela liminar do Comitê de Direitos Humanos da ONU em favor da garantia dos direitos políticos do ex-presidente Lula, intelectuais, mediante manifesto, solicitam ao ministro Barroso, relator do processo sobre impugnações ao registro do citado candidato, respeito à decisão daquela instância (aqui). Sintomaticamente, liminares sobre direitos humanos e manifestos em igual sentido sugerem estado de conturbação institucional. Não obstante, ao menos um bom desfecho já foi observado, relativamente a um outro caso, o que culminou no suplício e morte de Luiz Carlos Cancellier de Olivo, reitor da UFSC: a juíza (a mesma do feito anterior) incumbida de apreciar denúncia contra o novo reitor e seu chefe de gabinete, por pretenso dano à imagem de dirigente policial quando de coletiva de desagravo a Cancellier, determinou o arquivamento do pedido apresentado pela parte 'ofendida', por descabido. 
O obscurantismo, contudo, se mantém à espreita.


A nova obscuridade 

Por Rubens Casara

Em 1985, Jürgen Habermas publicou na Alemanha um livro intitulado A nova obscuridade – pequenos artigos políticos. Dentro do projeto de enfrentamento político e teórico das ameaças à democracia, o autor procurou refletir sobre as tensões e os problemas de um período marcado por uma crise do Estado social, permanências de um passado autoritário, políticas de rearmamento e repressões policiais a manifestações e protestos públicos. Todos esses sintomas do que Habermas chamou de “nova obscuridade” estão presentes e potencializados no Brasil de hoje. 
Aqui o quadro é bem mais grave. Nunca chegamos a construir um verdadeiro Estado de Bem-Estar Social e, hoje, vivemos um momento de profunda regressão social, política e ética. O sistema de proteção dos direitos individuais e sociais foi extremamente fragilizado a partir da crença de que não podem existir limites intransponíveis ao lucro de uns poucos e à acumulação do capital pelos detentores do poder econômico. Instalou-se um Estado conservador e voltado à realização dos desejos dos super-ricos.
Os direitos e garantias fundamentais passaram a ser tratados como objetos negociáveis e, portanto, descartáveis. O poder político voltou a se identificar sem pudor com o poder econômico, desaparecendo as mediações que caracterizavam o Estado moderno. Os valores democráticos perderam importância ao mesmo tempo em que o egoísmo foi elevado à virtude.
A aliança entre o neoliberalismo e o neoconservadorismo, responsável pela nova obscuridade, faz com que alguns analistas passem a identificar uma espécie de “revolução conservadora” em curso. Essa aliança pretende integrar a partir da racionalidade neoliberal, que faz com que tudo e todos sejam tradados como objetos negociáveis, o projeto de um mercado sem limites e o controle social através da moralização e da repressão estatal da população. No Brasil, essa aliança produziu, por exemplo, o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Nessa tentativa de síntese entre os interesses do mercado e a necessidade de compensar os efeitos socialmente destrutivos do neoliberalismo com promessas de ordem,  tenta-se criar um imaginário no qual seja compatível a expansão capitalista das grandes corporações econômicas e a priorização do capital financeiro (capital improdutivo) com uma sociedade estável e segura, de pequenos proprietários independentes e responsáveis pelos seus bens, em uma espécie de retrotopia (uma mistificação tola de um passado seletivamente reconstruído). Para tanto, o “mercado” é apresentado como um modo de existência fundamental, como uma realidade natural e inescapável, enquanto os direitos e garantias fundamentais, os valores democráticos e o projeto de liberdade, igualdade e fraternidade passam a ser vistos como óbices transponíveis tanto à realização dos fins do mercado quanto à eficácia repressiva do Estado.
A nova obscuridade é, em resumo, a antítese da democracia.
A contribuição da direita e da esquerda à nova obscuridade
A racionalidade neoliberal está na base do que chamei de Estado Pós-Democrático, forma jurídica em que desaparecem os limites rígidos ao exercício do poder econômico. Com o empobrecimento subjetivo e a mutação do simbólico produzidos pela razão neoliberal, os valores democráticos (como, por exemplo, a “liberdade” e a “verdade”) passaram a ser desconsiderados. Basta pensar na aceitação, em parcela da população, de linchamentos, prisões ilegais ou notícias falsas (fake news) que passam a produzir efeitos de verdade.
Correlato ao enfraquecimento do projeto da modernidade, deu-se a adesão a uma lógica pautada por meios linguisticamente empobrecidos (“dinheiro” e “poder”), mas adequados ao projeto de Estado desejado pelos grupos, partidos e movimentos de “direita”.
Não se pode esquecer que o neoliberalismo é um modo de ver e atuar no mundo que se mostra adequado a qualquer ideologia conservadora e tradicional. O projeto neoliberal é apresentado e vendido como uma política de inovação, de modernização, quando não de ruptura com práticas antigas. A propaganda neoliberal, de fórmulas mágicas e revolucionárias, torna-se no imaginário da população a nova referência de transformação e progresso. O neoliberalismo, porém, propõe mudanças e transformação com a finalidade de restaurar uma “situação original” e mais “pura”, onde o capital possa circular e ser acumulado sem limites.
Os movimentos neoconservadores, que sustentam as teses que levam à nova obscuridade, aparecem como fundamentais ao projeto neoliberal porque se torna necessário “compensar” os efeitos perversos (e desestruturantes) do neoliberalismo através de uma retórica excludente, moralista e aporofóbica, bem como de práticas autoritárias de controle da população indesejada.
Diante dessa tendência da “direita” à nova obscuridade e, em consequência, à destruição dos valores democráticos, poderíamos pensar que as forças progressistas (partidos e movimentos de “esquerda”) estariam unidos em defesa do que restou da democracia no Brasil. Mas, isso ainda não se deu.
Com uma retórica sectária e moralista (nesse sentido, muito próxima da encontrada nos adversários da direita), parcela dos partidos e movimentos de esquerda preferiram reafirmar narcisicamente as pequenas diferenças e os projetos pessoais ou partidários de poder, em vez de unir forças para atuar concretamente em defesa da democracia. Mesmo diante do crescimento do pensamento autoritário e das ameaças concretas aos direitos fundamentais, esses coletivos de “esquerda” preferiram o isolamento e apostaram na fragmentação das forças progressistas, na crença de que assim cresceriam de importância no jogo político.
Ao se fecharem para o diálogo com outros partidos do mesmo campo, não admitindo sequer receber apoio de outras forças políticas de esquerda (nesse particular, o caso do PSOL fluminense é exemplar), esses partidos e movimentos ajudam na consolidação da nova obscuridade. Ao reafirmarem diferenças, resgatarem ressentimentos e repetirem o discurso do “monopólio da pureza” (que também estava presente na infância do Partido dos Trabalhadores), esses grupos aproximam-se mais das experiências totalitárias (desnecessário lembrar dos grupos de extrema-direita que pretendiam purificar a sociedade ao mesmo tempo em que utilizavam o significante “corrupção” para destruir os inimigos políticos e a democracia) do que de um projeto libertador. Os recentes aplausos de lideranças dessa esquerda moralista e sectária a posturas autoritárias, contrárias à legalidade democrática, e à neutralização do direito – e do sistema de garantia corporificado no rol de direitos e garantias fundamentais – pela moral são muito significativos e preocupantes.
Em busca de um comum democrático
No campo da “direita”, os diferentes grupos de poder (os partidos políticos, os agentes conservadores entranhados nos poderes do Estado, as grandes corporações econômicas, dentre outros) que, unidos conseguiram a queda do Governo Dilma, apresentam fortes contradições, em especial porque cada um desses grupos de poder não deixou de conspirar contra os demais em favor de seus próprios interesses, pretendendo crescer sem ceder espaço, poder ou status.
A “direita”, a partir de uma racionalidade comunicativa empobrecida que gira em torno dos significantes “dinheiro” e “poder”, reúne partes tão diferentes que não conseguem apresentar uma estrutura estável, um projeto político coerente ou parir um candidato competitivo para as próximas eleições presidenciais (o que faz aumentar as apostas de que as eleições podem não ocorrer).
A nova obscuridade brasileira (que se apresenta na aproximação entre o poder político e o poder econômico, no desaparecimento dos limites ao exercício do poder, no crescimento do pensamento autoritário, nas tentativas de controle ideológico de professores e funcionários públicos, no desmantelamento da rede de proteção trabalhista, no controle e a manipulação da informação pelos meios de comunicação de massa, na divulgação de noticias falsas e a demonização dos inimigos políticos, na destruição de determinados setores da economia nacional, no desmantelamento dos instrumentos para uma política econômica soberana, na substituição da política pela religião e na intervenção militar na segurança pública) expressa bem essa pluralidade de interesses da “direita”.
Felizmente, a ausência de uma estrutura coerente, os interesses antagônicos e as contradições que envolvem os grupos de poder da “direita”, uma vez compreendidos, revelam a possibilidade de superação, resistência e reação à ofensiva antidemocrática e ao movimento neo-obscurantista. A briga por poder e status não vai acabar. Os interesses antagônicos no interior do Estado brasileiro são muitos e evidentes. Como conciliar os desejos nacionalistas de parcela das forças armadas (chamadas para conter os “indesejáveis” às lentes dos ideólogos neoliberais) com os desejos das grandes corporações internacionais? Como frear a onda conservadora e os discursos de ódio que não mais interessam à parcela “civilizada” dos meios de comunicação de massa? Como compatibilizar os interesses dos empresários produtivos com os da burguesia bancária? Como reduzir a carga de impostos, se há a necessidade de um Estado forte tanto para conter os pobres e os inimigos políticos do projeto de acumulação ilimitada neoliberal quanto para resgatar as instituições bancárias das crises que elas mesmo geram ao, na busca ilimitada por lucros, emprestar dinheiro que não possuem e que sabem (ou deveriam saber) que não poderá ser devolvido?
Há um claro limite para a propaganda e a violência, que foram os instrumentos até o momento utilizados para promover esse movimento de distanciamento com os valores da modernidade e da democracia. A propaganda e a violência não são capazes de melhorar as condições políticas e sociais, ao contrário, elas geram mais violência, ressentimento e ódio. A própria aliança entre o neoliberalismo e o neoconservadorismo apresenta limitações evidentes: os atores sociais neoconservadores procuram compensar os efeitos sociais  típicos do projeto neoliberal com uma retórica moralizante e discriminadora somada à defesa de práticas autoritárias e repressivas adequadas à tradição brasileira, porém o poder de enganar a população, vendendo a imagem de que o “mercado” e os lucros absurdos das instituições financeiras são uma realidade natural e compatível com a nostalgia de uma sociedade estável e “pura”, não dura para sempre.
Está aberto um campo de disputa. Seria importante contar com todos aqueles dispostos a superar a racionalidade neoliberal, resgatar os valores democráticos e defender a modernidade cultural. Não é o momento de se contentar com cirandas ou frases de efeito. Não é o momento para o narcisismo das pequenas diferenças. É hora de fraternidade, não de egoísmo, de reconstrução da democracia, não de ficar preocupado com interesses menores. É hora de resistência democrática.
A democracia é uma experimentação do comum. Deve-se, para construir esse comum, desvelar a artificialidade do mercado e os interesses das oligarquias, ao mesmo tempo em que se busca a coordenação das lutas tanto no nível local quanto no nível nacional, sem esquecer a necessidade de se criar também um bloco democrático internacional. Contra a nova obscuridade, a defesa da democracia. E isso exige efetiva participação popular na tomada das decisões políticas, eleições livres e o respeito incondicional aos direitos e garantias fundamentais, que são exteriorizações do comum e, portanto, inegociáveis.  -  (Aqui).

RUBENS R.R. CASARA é juiz de Direito do TJRJ e escritor. Doutor em Direito e mestre em Ciências Penais. É professor convidado do Programa de Pós-graduação da ENSP-Fiocruz. Membro da Associação Juízes para a Democracia e do Corpo Freudiano

quinta-feira, 30 de agosto de 2018

A ECOLOGIA DAS FAKE NEWS


Duke.

A ECOLOGIA DAS FAKE NEWS

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Post produzido há algumas semanas. Atualíssimo.


O algoritmo na cabeça das pessoas

Por Carlos Orsi

O Brasil é um dos cinco países que mais usa WhatsApp, e linchamentos motivados pela internet não são novidade por aqui, mas a imprensa nacional meio que vem ignorando a grande polêmica que cerca o aplicativo no mundo de língua inglesa -- a saber, a onda de linchamentos, na Índia, estimulada por boatos divulgados nessa rede. Jornais britânicos (aquiaqui e aqui) e americanos (aqui) vêm cobrindo o assunto com atenção. E por um bom motivo: a tragédia indiana abre um novo capítulo no debate sobre "fake news", seus impactos e modos de ação.

Muitas das notícias publicadas falam de apelos das autoridades para que a rede, de alguma forma, coíba a circulação de boatos. Isso me parece fazer tanto sentido quanto pedir para as fábricas de motocicleta que façam algo para coibir o uso desses veículos em assaltos na saída de caixas eletrônicos, ou que as operadoras de telefonia façam algo para combater os trotes.

Afinal, diferente do Facebook, que aplica uma série de filtros e algoritmos ao conteúdo postado, e que cria "bolhas" de audiência com fins publicitários, o WhatsApp é neutro: ele mostra o que as pessoas põem nele, na ordem em que põem, e pronto. As "bolhas" do Zap são as que as próprias pessoas escolhem: família, amigos, colegas de trabalho. Não há um "algoritmo" para culpar.

Ou melhor, há: o algoritmo que habita a cabeça das pessoas -- a minha, a sua, a de todo mundo. Vivemos numa era populista, em que não é de bom tom sugerir que o cidadão comum, pacato trabalhador de bem, pai (ou mãe) de família, seja algo menos do que perfeito. Se há algo errado no mundo, a responsabilidade tem de estar em outro lugar. A crise de fake news homicidas no WhatsApp, no entanto, sugere algo diverso.

O cérebro humano contém uma série de atalhos que nos permitem formar opiniões e tomar decisões sem precisar pensar a fundo nos assuntos sobre os quais estamos opinando ou agindo. É uma questão de eficiência: se esses atalhos, mesmo conduzindo ao erro de tempos em tempos, forem bons o suficiente -- ou, ao menos, melhores do que ficar parado ponderando os prós e contras de fugir de um estouro de manada de elefantes -- eles serão preservados ao longo da evolução.

Um desses atalhos é o da conformidade: ele nos estimula a concordar com a opinião predominante no grupo humano em que estamos inseridos. Sendo o Homo sapiens um animal que existe em sociedade, muito do nosso aparato mental se desenvolveu no sentido de facilitar a relação com os demais membros da espécie: você não precisa ser o melhor caçador da tribo, se for simpático o bastante para que o caçador vá com a sua cara e tope dividir a gazela.Ser membro da igreja dominante é mais vantajoso, do ponto de vista social, do que ser o ateu da aldeia -- ou o herege.

Dois fatores importantes na modulação da conformidade são a proximidade e a credibilidade: pessoas que, por alguma razão, sentem-se próximas -- seja por laços familiares, culturais, de classe, etc. -- tendem a confiar -- acreditar -- mais umas nas outras do que em quem está distante, e a apresentar conformidades convergentes. Traduzindo isso para o mundo da boataria de redes sociais, é mais fácil e natural levar a sério o boato que chega com a chancela do celular da sua prima do que o desmentido que vem da nota oficial do governo.

Só que, na ecologia das fake news, o "fácil" e o "natural" são os vetores, as armas do inimigo. Não estou dizendo que é para parar de confiar nos amigos e nos parentes -- empreste dinheiro para o seu sobrinho abrir lá a pizzaria dele, por que não? -- mas pense duas vezes antes de passar adiante o que o namorado da sua tia põe no WhatsApp da família. Não é porque a fonte imediata da informação é, geralmente, confiável que a fonte original também era.

Estudiosos de folclore e de histerias coletivas conhecem alguns fatores que aparecem com frequência em ondas de pânico moral. Um gatilho comum é o do "perigo para as crianças". Seja o plástico da mamadeira, a baleia azul, a erotização das menininhas ou os palhaços da van, há algo de visceralmente assustador nas ameaças à infância. Se a ameaça envolve sequestro -- a separação forçada dos pais -- a execução sumária dos supostos responsáveis é uma forte possibilidade. De fato, os linchamentos na Índia (e no Brasil) foram motivados dessa forma.

Então, se uma pessoa que você confia lhe diz que um estranho de hábitos esquisitos está de olho nos seus filhos -- bem, seguro morreu de velho, certo? Esse era o poder da calúnia de sangue da Idade Média, e é o poder do pânico de WhatsApp, hoje.

É improvável que uma solução tecnológica, política ou burocrática surja para esse problema. Se houver solução possível, ela terá de passar por um processo complicado de reeducação cognitiva -- de realfabetização midiática. E afetiva: temos de nos convencer de que gostar de uma pessoa, ou respeitá-la, não nos obriga a acreditar em tudo o que ela diz.  -  (Fonte: Blog de Carlos Orsi - Aqui).

CARTUM JUDICIOSO

- Pode ficar tranquilo: Votarei pela aprovação de seu reajuste salarial em 16,38%, com efeito cascata e tudo, incluindo o meu, claro, e mais: Silenciarei sobre os auxílios-moradia irregulares que você aufere e cujo 'fim' é a 'justificativa' para o reajuste, e não darei um pio sobre os demais penduricalhos, como o auxílio-alimentação, que você, espero, continuará recebendo. No mais, sigamos juntos na busca incessante de uma nova realidade, almejando a Refundação da República!

(AQUI: 'Temer ignora gravidade da crise, dizem economistas sobre aumento para juiz').

Jorge Braga.

RETIRANTES


Simanca.

O PAPA FRANCISCO E A REAÇÃO DA ALA CONSERVADORA

Reproduzimos abaixo matéria publicada na Revista IHU (Instituto Humanitas Unisinos), presentes as iniciativas do papa Francisco em busca da verdade (e transparência) e reações  partidas da ala conservadora da Igreja, inconformada com as  medidas adotadas pelo primeiro papa jesuíta da história e buscando a sua fragilização, situação, aliás, que se vem observando desde o anúncio das primeiras providências, tempos após a posse de Francisco em março de 2013. 
                              (O arcebispo Carlo Maria Viganò)
Carta de Viganò expõe conspiração em andamento contra o papa Francisco
O testemunho do arcebispo Carlo Maria Viganò prova uma coisa: o ex-núncio do Vaticano nos Estados Unidos está para a crise de abusos sexuais do clero como Oliver Stone está para o assassinato do presidente John Kennedy, um traficante de teorias conspiratórias que mistura fato, ficção e veneno para produzir algo explosivo, mas também suspeito. Quando você terminar de ler este testemunho, como no final do filme de 1991 de Stone, “JFK”, você pode apenas concluir que o produto nos fala mais sobre o autor do que sobre o assunto. 
A reportagem é de Michael Sean Winters, jornalista, publicado por National Catholic Reporter, 26-08-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Viganò está certamente correto em dizer que o cardeal Angelo Sodano, durante muito tempo secretário de estado do papa João Paulo II, era patrono do ex-cardeal Theodore McCarrickStone reconheceu que o assassinato ocorreu em Dallas. Mas por que Viganò não menciona o papel fundamental desempenhado pelo cardeal Stanislaus Dsiwisz na proteção de McCarrick?
Viganò alega que o papa Francisco suspendeu as sanções contra McCarrick que foram impostas pelo papa Bento XVI. De fato, a manchete da história de Edward Pentin que deu a notícia desse testemunho diz: "O ex-núncio acusa o papa Francisco de não agir contra o abuso de McCarrick". Mas, Francisco agiu sim. Ele é quem removeu McCarrick do ministério em junho. O foco central deste testemunho é a afirmação de que Bento XVI impôs sanções contra McCarrick: “o cardeal deveria deixar o seminário onde ele estava morando, estava proibido de celebrar [a missa] em público, de participar de reuniões públicas, de dar palestras, viajar, com a obrigação de se dedicar a uma vida de oração e penitência”, escreve Viganò.
Durante o papado de Bento XVI, com meus próprios olhos, testemunhei McCarrick celebrando a missa em público, participando de reuniões, viagens, etc. Mais importante ainda, o mesmo aconteceu com o papa Bento XVI! Se Bento impôs essas penalidades, ele certamente não as aplicou. Ele continuou a receber McCarrick com o resto da Fundação Papal, continuou a permitir que ele celebrasse a missa publicamente no Vaticano, até mesmo concelebrando com Bento XVI em eventos como consistórios. Mas, como Viganò conta, é tudo culpa do papa Francisco.
Viganò é mais do que um pouco obcecado com a homossexualidade e cita o nome de prelados que ele acusa de apoiar os esforços de "subverter a doutrina católica sobre a homossexualidade". O cineasta Stone estava obcecado com uma colina coberta por grama. Nos meus dias de seminário, quando um dos seminaristas dava sinais desse tipo de obsessão, fazendo declarações exaltadas sobre a homossexualidade, suas fontes e seus efeitos, ignorando os dados científicos e psicológicos emergentes, o resto de nós olhava um para o outro e alguém dizia algo como: "Eu gostaria de saber com quem ela gostaria de dançar".
Algo semelhante está acontecendo durante todo esse verão. Bispos e arcebispos falam sobre pessoas gays com tanto ódio, que você se pergunta como um ministro do Evangelho poderia falar tão maldosamente sobre outros seres humanos, mas então passa por sua cabeça: eles não estão falando sobre outros seres humanos. E você tem que se perguntar se o que você está vendo é uma manifestação de auto-ódio.
Infelizmente, a rede de desinformação de Viganò deixará sua marca. No meio de um tumulto de eventos, ninguém vai parar para fazer perguntas básicas e até mesmo os jornalistas podem esquecer-se de realizar tarefas básicas, como buscar por confirmação ou analisar as perguntas que surgem de um texto como o de Viganò. Aqui estão algumas das minhas perguntas:
Viganò diz que ele deve desabafar sua consciência agora. Porque agora? Se ele se sentia tão perturbado pela imundície quanto afirma, por que ele não disse nada publicamente ou, pelo menos, à conferência dos bispos? Lembro-me de alguns anos atrás, em uma reunião da conferência dos bispos, sentado do lado de fora do salão de festas em Baltimore conversando com um monsenhor da nunciatura. Ele estava esperando por Viganò, que estava na sessão executiva da reunião dos bispos. Por que ele não disse nada naquele momento?
Se, como ele afirma, McCarrick teve uma influência tão grande em Francisco, como ele explica as brigas de McCarrick com os bispos argentinos sobre o padre Carlos Buela e o Instituto do Verbo Encarnado? Quando os bispos argentinos, sob a liderança do então cardeal Bergoglio, se recusaram a ordenar os seminaristas do Verbo EncarnadoMcCarrick interveio para fazê-lo.
McCarrick não teve nada a ver com a escolha do bispo Blase Cupich para se tornar arcebispo de Chicago, nem com o arcebispo Joseph Tobin indo para Newark. É verdade que essas principais sedes foram preenchidas sem o consentimento ou opinião do núncio, o que diz apenas que Francisco conseguiu reconhecer o quão doente ele era antes que o resto de nós o reconhecesse. Meu cachorro, Ambrose, tem mais influência sobre o papa Francisco do que McCarrick teve.
Viganò chega até a recrutar o falecido padre jesuíta Bob Drinan para sua conspiração, bem como os signatários da declaração da Land O’Lakes de 1967 sobre o ensino superior católico. Sério? Lembro-me de uma velha piada de Joan Rivers sobre o fato de que um OVNI nunca aterrissou em HarvardYale ou Stanford. São sempre três broncos em uma pick-up bebendo cerveja: “Eu vi! Estava ali!”. Church MilitantCardinal Newman SocietyLifeSiteNews, esses são os bêbados da igreja e ficou claro que, por algum tempo, Viganò concordou com esses personagens. Lembram como ele tentou arruinar uma viagem anterior do papa? Foi ele quem, em 2015, levou Kim Davis, a funcionária do condado de Kentucky que se recusou a emitir certidões de casamento para casais do mesmo sexo, a se encontrar com Francisco e falsamente a apresentou como defensora da liberdade religiosa. Na verdade, Davis foi mandada para a prisão porque tentou impor suas opiniões religiosas aos outros.
E, como meu colega Joshua McElwee apontou, sabemos o quanto Viganò se preocupa com as vítimas do abuso sexual do clero. Em MinnesotaViganò encorajou o bispo auxiliar Lee Piche a destruir documentos relacionados à investigação do arcebispo John Nienstedt.
Viganò é um ex-empregado insatisfeito. Pessoas assim estão sempre com um pouco de raiva. Eles também costumam ser pouco confiáveis. Ele sempre foi um excêntrico. Mas não se engane: este é um ataque coordenado contra o papa Francisco. Uma conspiração está em andamento e se os bispos dos EUA, como um corpo, não defenderem o Santo Padre nas próximas 24 horas, estaremos nos encaminhando para uma cisão muito antes da reunião dos bispos em novembro. Os inimigos de Francisco declararam guerra.
Nota de IHU On-Line: Na viagem de retorno de Dublin, o Papa Francisco se referiu ao testemunho de Viganò, afirmando:
"Li na manhã de hoje esse comunicado de Viganò. Digo sinceramente isto: leiam-no atentamente e tirem suas conclusões pessoais. Não direi nenhuma palavra sobre isto. Creio que o documento fala por si mesmo. Vocês têm a capacidade jornalística suficiente, com sua maturidade profissional, para tirar suas conclusões".
A íntegra da entrevista do Papa Francisco pode ser vista, em italiano, aqui.  -  (Fonte: Revista IHU - Instituto Humanitas Unisinos - AQUI).

quarta-feira, 29 de agosto de 2018

CARTUM OTIMISTA


Veronezi.

O PORQUÊ DO ESTADO DE COISAS

O general Golbery do Couto e Silva, emérito conselheiro do general Geisel, teria comentado nos anos de chumbo, diante do poder monumental do SNI, Serviço Nacional de Informações, literalmente incontrolável pela Cúpula: "Criamos um monstro". Nesses tempos estranhos, é de perguntar-se: Quem construiu as condições para que o ódio aflorasse? Desde quando se desenvolve esse processo? Quantos hoje, em nosso País, admitem a perspectiva de que a barbárie prospere e venha a se estabelecer? Quem se omitiu, quem ignorou, quem distorceu as diretrizes alinhadas em cláusulas pétreas da Constituição da República? Faz sentido, agora, certas pessoas se dizerem surpresas ante a ascensão do senhor Bolsonaro, que, frise-se, está agindo segundo as normas eleitorais?  
(Barbárie, por Pedro Franz).
Bolsonaro no JN: o discurso fascista encontra quem fez vista grossa à barbárie
Por Tiago Barbosa
A fúria indomável do Jornal Nacional contra Ciro Gomes temperou a expectativa de ver os âncoras peitarem Jair Bolsonaro, candidato cuja linguagem é um mix de fake news de whatsapp com bordão fascista das passeatas antipetistas.
Era a chance de deixar nua a debilidade das propostas e esvaziar o discurso de ódio do ex-militar, alçado ao estrelato das pesquisas eleitorais pela lacuna civilizatória e política instalada com os abusos da Lava Jato.
Mas os entrevistadores falharam com tentativas toscas de exigir complexidade de um presidenciável cujo compromisso com a humanidade se resume a andar de pé - e não de quatro como seria mais alinhado ao conteúdo das suas declarações homofóbicas, misóginas e racistas.
Bonner e Renata Vasconcellos repetiram erros de entrevistas passadas ao tentar extrair de Bolsonaro constrangimento sobre demonstrações públicas de preconceito e burrice.
Em vão. O candidato logrou visibilidade justamente por se alimentar da barbárie para a qual a mídia fechou os olhos, em anos recentes, porque era necessário extirpar o PT da vida pública.
Bonner ousou falar de corda em casa de enforcado e ficou desmoralizado quando o ex-militar disparou “Eu fico com o Roberto Marinho”, em alusão ao apoio da emissora ao golpe de 1964 - reconhecido pela empresa 50 anos depois.
A vergonha é redobrada porque a Globo é acusada por forças progressistas de liderar o golpe parlamentar de 2016 aplicado contra Dilma Rousseff e estendido ao ex-presidente Lula - silenciado em uma cela após uma condenação sem provas assinada por um juiz protegido pela emissora.
As reações de Bonner e Renata se resumiram a frases balbuciadas e quase inaudíveis: “Não vai fazer nada sobre desigualdade salarial (entre homens e mulheres)”, “o senhor concorda com isso (retirada de direitos do trabalhador)”, afirmaram de forma contida.
A atitude mais enérgica se deu quando Bolsonaro tentou acusar a Globo de remunerar de forma diferente homens e mulheres. “Pago o seu salário”, chegou a dizer a apresentadora.
Ele já havia acusado a empresa de “pejotizar” os funcionários - prática comum entre as empresas de mídia para cortar benefícios dos trabalhadores.
Voluntário na ignorância, truculento por vida e oportunismo, o candidato ainda usou o tempo na TV para defender abertamente o direito de policiais matarem com respaldo do estado - apologia ao vivo, para milhões de pessoas, em um país conflagrado pelo extermínio de jovens, negros e pobres pelas mãos da criminalidade e de parte de uma polícia assassina.
Os âncoras silenciaram - assim como sempre se calaram o Ministério Público e o Judiciário, cujo exemplo de omissão mais recente remonta ao adiamento do julgamento de Bolsonaro, à tarde, por ter se referido a negros como animais, pesados em “arrobas”.
O pesquisador Jessé Souza defende a tese segundo a qual Bolsonaro é filho da Lava Jato com a Globo, ou seja, do abuso corporativo com o antipetismo midiático, do fascismo com a seletividade e a omissão.
Ao fim do JN, Bonner releu fragmento do editorial no qual a Globo reconhece o apoio equivocado no golpe de 1964.
Surtiu pouco efeito.
Enfrentar a tirania de Bolsonaro exigiria da mídia revisar o próprio papel antidemocrático manifestado, cotidianamente, no desprezo às bandeiras e aos candidatos progressistas.
Mas isso nem a ONU conseguiu mudar.  -  (Aqui).

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.Clique AQUI para conferir "Bolsonaro usa JN de escada", por Luis Nassif.

.Clique AQUI para ler "Em debate não se fazem propostas. Em debate se vai à guerra", por Gilberto Maringoni.

O CÍRCULO VIRTUOSO


("Nada obstante, é bom dar uma olhada AQUI e AQUI para ver como anda a conjuntura...").

Clayton.