domingo, 28 de abril de 2019

LUCIANO MACEDO, HERÓI BRASILEIRO

               O catador Luciano Macedo, herói nacional

Do GGN: Na madrugada do dia 17 do corrente o Hospital Estadual Carlos Chagas confirmou a segunda morte do atentado praticado pelo Exército em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, e que culminou na morte do músico Evaldo dos Santos Rosa, alvejado com 80 tiros. A segunda vítima é Luciano Macedo, ferido com 3 tiros nas costas enquanto socorria a família de Evaldo.
Os detalhes a seguir, registrados pelo jornal Extra, revelam as características de um verdadeiro herói brasileiro. Luciano tinha 27 anos, era catador de material reciclável e morava na rua com a mulher, Daiana Horrara.
No momento em que o carro de Evaldo estava sendo atacado pelo Exército, o jovem passava com a esposa catando pelo caminho pedaços de madeira. Com o material eles iriam improvisar um barraco na favela do Muquiço para a família que estava crescendo. Daiane está grávida de cinco meses.
No meio do tiroteio, Luciano abriu uma das portas traseiras do carro e salvou o filho do músico, de 7 anos. Depois de colocar a criança em local seguro, voltou para o carro na tentativa de tirar Evaldo.
Quando foi socorrê-lo, a esposa gritou para ele não ir. “Fica aí, ele está morto! Aí ele falou: ‘mas ele olhou pra mim'”, relembrou a mulher.
“Meu irmão era atencioso, carinhoso. Só tínhamos nós dois de irmãos e minha mãe”, contou Lucimara Macedo, irmã mais velha. Os dois perderam o pai cedo, ainda crianças, em um acidente doméstico, e foram criados pela mãe, a auxiliar de serviços gerais Aparecida Macedo.
Ao jornal Extra, Lucimara conta que o irmão estudou até a 5ª série e aos 18 anos saiu de casa para viver sozinho. Como na história do filho pródigo e de milhões de brasileiros em situação econômica de risco, não foi bem sucedido e acabou indo morar nas ruas. Há dois anos, reencontrou uma antiga paixão, Daiana, e começaram um relacionamento. Pessoas próximas contam que o casal vivia um momento feliz com a espera do filho.
“Se meu irmão errou muitas vezes na vida, ele acertou ali naquele momento. Deus levou ele. Ele foi salvar uma vida e deu a dele”, registrou Lucimara.
“Luciano morreu no seguinte contexto: estava com a esposa Daiana numa rua de Guadalupe catando madeira para construir um barraco a fim de poder oferecer um lar para o filho deles. Vale a pena frisar ele foi um herói naquele momento. Porque, segundo relatos da esposa, ele viu o drama da família de Evaldo, especialmente da esposa, que gritava muito por ajuda. Ele percebeu o filho do casal dentro do carro”, pontuou Antônio Carlos Costa, fundador da ONG Rio de Paz.
“Segundo a esposa, ele tem muito carinho por crianças. E foi na direção do carro e tirou o menino lá de dentro”, completou. A organização criou uma vaquinha online para ajudar a família a enterrar Luciano.
“A família está muito cansada, se sente abandonada, ignorada pelo poder público. Ninguém do Exército, do governo federal a procurou. Entendemos que o Exército errou em três ocasiões distintas: ao atirar em Luciano, ao não prestar socorro imediato, pois viu ele agonizando no chão, pedindo ajuda, e, por fim, ignoraram o drama da família durante esse período de internação. Se não é a mobilização da sociedade civil, a família, muito pobre por sinal, estaria só. Permita-me falar: só deram esse tratamento para a família porque ela é pobre”, desabafou Costa.
*Clique aqui para ler a matéria do Extra.

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Sem querer parecer impertinente, o fato é que, vendo o caso do herói brasileiro Luciano se esfumaçar no passar dos dias, vem-nos à mente o suplício e morte de Luiz Carlos Cancellier de Olivo (em 02.10.2017), ex-reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, também jogado no cesto do esquecimento. 

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