A culpa não é dos nordestinos
Por Ricardo Kotscho
"A eleição presidencial mais parelha dos 125 anos de República deixa o país dividido entre os que produzem e pagam impostos e os beneficiários de programas sociais. O desenho esboçado no primeiro turno, com a divisão do país em dois grandes blocos, recebeu traços mais fortes: grosso modo, o Norte-Nordeste perfilado ao PT, o Sudeste-Sul-Centro/Oeste com a oposição. Fica evidente que o país que produz e paga impostos - pesados, ressalte-se - deseja o PT longe do Planalto, enquanto aquele Brasil cuja população se beneficia dos lautos programas sociais - não só o Bolsa Família - financiados pelos impostos, não quer mudanças em Brasília, por razões óbvias".
Engana-se quem atribuir a análise acima ao sociólogo Fernando Henrique Cardoso, na mesma linha da que o ex-presidente já havia feito ao final do primeiro turno das eleições presidenciais.
Desta vez, o pensamento único dos que dividem o Brasil entre quem produz e os vagabundos que vivem de bolsas está no editorial do jornal carioca O Globo, sob o título "A Mensagem das Urnas", publicado em sua edição desta terça-feira - de resto, é o que está na raiz das manifestações racistas e preconceituosas contra os nordestinos que invadiram as redes sociais desde que foi anunciada a vitória de Dilma Rousseff na noite de domingo.
Grosso modo, como diria o jornal, os números finais divulgados pelo TSE desmentem esta teoria. Vamos a eles.
Quem assegurou a vitória do PT foram exatamente os eleitores do Sul e Sudeste, que deram 26,6 milhões dos votos totais obtidos por Dilma, ou seja, mais de 2 milhões de votos a mais do que os obtidos por ela no Norte e Nordeste, com 24,5 milhões de votos.
Ao contrário do que afirmam o editorial de "O Globo" e dez entre dez analistas da grande mídia, isto significa que Dilma recolheu 48,8% dos seus 54,5 milhões de votos na chamada região "rica e produtiva" do Sul e Sudeste, e 45% vieram do "pobre e dependente" eleitorado do Norte e Nordeste.
Quem diz e escreve o contrário, como se fosse a verdade absoluta das coisas, é porque não conhece o Brasil e se baseia nos mapas eleitorais produzidos nas eleições americanas, em que o candidato leva todos os votos dos delegados de Estados onde venceu as eleições.
Aqui não é assim. Nos mapas publicados pela imprensa brasileira, o Rio Grande do Sul, por exemplo, onde Aécio Neves venceu, aparece em azul, mas lá Dilma conseguiu 46,47% dos votos, quer dizer, quase a metade. No Rio de Janeiro, que aparece em vermelho no mapa, aconteceu o contrário: Dilma venceu, mas Aécio teve 45,06% dos votos.
Se prestassem mais atenção nos números do TSE, editorialistas, sociólogos e analistas perceberiam que não é o país que está dividido ao meio, geográfica e socialmente, mas apenas os votos dos partidos, que se espalharam por todos os Estados, com predominância de um ou outro candidato, dando na soma final a vitória a Dilma por uma diferença de apenas 3 milhões de votos.
Assim, não se pode afirmar que quem derrotou o candidato tucano foi o Nordeste, onde o PSDB sempre foi muito fraco e o PT é hegemônico. Mais justo seria buscar as razões da derrota de Aécio em Minas Gerais, Estado por ele governado durante oito anos, que agora aparece em vermelho no mapa. Era de lá que o PSDB planejava sair com uma vantagem de três milhões de votos, exatamente o que lhe faltou para vencer as eleições. E lá Aécio acabou ficando com 548 mil votos a menos do que Dilma. "Nem na pior projeção pensamos nesse resultado, após o Aécio sair do governo com 92% de aprovação", lamentou-se Marcus Pestana, presidente do PSDB mineiro.
Não é justo, portanto, colocar a culpa nos nordestinos.
Vida que segue. (Fonte: aqui).
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Certamente irão insistir na tese da divisão do país. É o caminho para tentar dificultar e/ou minimizar a reforma política, bem como inviabilizar a obtenção da maioria no Congresso Nacional necessária para a regulamentação do § 5º do artigo 220, da CF 88, que veda o monopólio ou oligopólio dos meios de comunicação.
Nota: Quanto ao lamento do presidente do PSDB mineiro, Sr. Marcus Pestana, o que ocorre, segundo consta, é que, enquanto Aécio Neves saiu do governo com 92% de aprovação, o controle exercido sobre a mídia estadual (via publicidade) ao longo do período chegava a 100% - o que privava o povo de informações sobre a realidade real...
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