sábado, 11 de outubro de 2014

O FMI, A MÍDIA SELETIVA E O JUIZ MORO


"Encerra-se a primeira das três semanas cruciais para a imprensa brasileira. Nesta sexta-feira (10/10), as manchetes dos diários de papel são uma reprodução fiel do Jornal Nacional apresentado pela TV Globo na véspera: ali está aberta a agenda que a mídia oposicionista quer ver cumprida até o dia 26. Depois disso, seja qual for o resultado das urnas, será preciso fazer a meia volta e procurar o reencontro com o jornalismo.

Se for reeleita a presidente Dilma Rousseff, as principais empresas de comunicação precisarão repensar sua estratégia, pois terão perdido mais uma oportunidade de conduzir a Brasília um partido que lhe seja fiel. Se for eleito o candidato da oposição, bastará cobrar o cumprimento do acordo tácito que amadurece a cada disputa eleitoral. Nesse caso, o que veremos será a cessação imediata do catastrofismo e sua substituição pela estratégia da esperança em um novo/velho modelo de política econômica.

O rascunho pode ser analisado pelos telespectadores que acompanharam com atenção o debate entre o atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, na GloboNews. Presenteado com amplo espaço na mídia desde que foi anunciado como provável ministro em um eventual governo de Aécio Neves, Fraga repetiu o mantra que outros, mais ou menos qualificados, declamam diariamente em suas colunas de jornais: “O Brasil precisa crescer, o Brasil precisa crescer”.

E como cresceria o Brasil, na opinião do economista? A receita é a mesma que aparece nos editoriais e nos artigos de jornalistas bem afinados com a doutrina dominante na imprensa: reduzir o papel do Estado, afastar os bancos públicos da concorrência com a banca privada pela oferta de crédito e, principalmente, deixar que o mercado defina o valor dos salários, retirando todos os estímulos oficiais que têm mantido em alta o rendimento do trabalho.

O modelo vem sendo imposto aos países em desenvolvimento, pelo Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, desde os anos 1990. O núcleo da ideologia é a “flexibilização das leis trabalhistas”, neologismo criado pelo Banco Mundial para definir o controle do valor do trabalho versus a mais ampla liberdade para o capital.

A fala mansa do mercado

Não é por acaso que o noticiário econômico de sexta-feira (10) destaca uma declaração da diretora-gerente do FMI, Cristine Lagarde, na qual ela repete as críticas que a imprensa faz ao modelo brasileiro de desenvolvimento. Se a presidente Dilma Rousseff for reeleita e o Brasil superar suas atuais dificuldades, voltando a crescer sem abrir mão de proteger a renda dos trabalhadores, a receita tradicional do FMI, que consiste em primeiro aumentar o bolo para depois distribuir suas fatias, poderá ser globalmente desmoralizada.

Esse é, basicamente, o ponto central das discórdias entre o governo do PT e a oposição. No mais, os dois grupos políticos se assemelham muito no modo como formam suas alianças, nas trapaças com que se financiam, no uso do poder em benefício próprio. A diferença básica fica por conta da imprensa, que demoniza o governo petista e preserva – no limite da cumplicidade criminosa – seus aliados do outro lado do espectro político.

E a “nova política”?

A julgar pelo açodamento com que a maioria de seus dirigentes se encaixou na campanha de Aécio Neves, o PSB se revela mais uma sigla oportunista a usar o “S” de Socialismo para dissimular sua verdadeira opção ideológica. A demora da ex-ministra Marina Silva em tomar uma posição na disputa do segundo turno, que já provoca críticas da imprensa, não se deve a uma tentativa de ganhar mais espaço na nova aliança. Ela realmente não tem alternativa: para se engajar no grupo que agrega a nata do conservadorismo e da política reacionária, Marina terá que obter pelo menos uma concordância formal com os princípios que diz defender.

E Marina sabe que os princípios da sustentabilidade e da correção com que pavimentou sua carreira não sobrevivem no ambiente cáustico onde teria que conviver com defensores da indústria de armas, líderes do agronegócio mais predador e inimigos das políticas de defesa dos direitos humanos.

O escândalo no Jornal Nacional, que usou parte das declarações de um delator para colocar a presidente da República na defensiva, é manobra rotineira nas campanhas eleitorais. A verdadeira agenda da disputa está resumida na fala mansa de Armínio Fraga."




(De Luciano Martins Costa, post intitulado "A agenda oculta" - aqui.

O comportamento parcial da mídia, conforme acima retratado, remete a uma singela conclusão, exposta por Eduardo Guimarães, em seu blog:

"Dilma não tem um adversário, tem dois. E se tem dois adversários, não pode se defender ou atacar só um deles, por mais que seja injusta uma luta de dois contra uma. Terá, pois, que lutar com ambos.

Como? Dilma tem que denunciar exatamente o que está acontecendo – bombardeio midiático contra si e blindagem midiática de Aécio. Nem mais, nem menos."


Enquanto isso, o juiz Moro, com uma sutil habilidade, se serve do fato de uma das duas ações judiciais não estar sujeita a sigilo para escancarar à sôfrega mídia trechos dos depoimentos dos meliantes, sem qualquer preocupação com a apresentação de provas, e tudo isso sob o argumento de que em casos da espécie o princípio da publicidade deve ser observado. Ora, pela regra geral prevalecente em Direito, todo juiz, ao proferir sua sentença, está obrigado a fundamentar sua decisão, explicitando os motivos que a fundamentam, ou seja, não pode simplesmente decidir monossilabicamente, e fim de papo. Pois os depoimentos prestados pelos meliantes Costa e Youssef acabam tendo força de sentença - basta ler/ouvir a mídia -, sem que ao público/eleitor sejam apresentadas provas que a embasem - há, pois, a publicidade das 'sentenças', mas não a publicidade das provas - e tudo isso é julgado perfeitamente legal pelo douto juiz!

Em vista do exposto, concluímos que Dilma Rousseff age pertinentemente ao denunciar essa maquiavélica realidade - aqui).

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