sábado, 18 de outubro de 2014

A MÍDIA E A PACIFICAÇÃO NACIONAL


A grande pacificação nacional

Por Artur L - no Jornal GGN

Lembro quando na primeira eleição de Dilma, pouco após sua posse, a presidente foi ao aniversário da Folha de São Paulo, a uma entrevista no JN e ao programa de Ana Maria Braga, num gesto de paz aos grandes grupos de mídia, sinalizando que não havia guardado mágoas em relação ao jogo baixo praticado contra ela por essas organizações. Na ocasião, creio que você escreveu um artigo elogiando o movimento de Dilma e tratando-o como sábio e estratégico justamente por se tratar de um esforço para desarmar os espíritos incendiados pela guerra eleitoral.

À época, cá com meus botões, familiares e conhecidos, discordei da sua opinião por entender que a tensão se dava não por duas pessoas puxando uma mesma corda em sentidos opostos, mas por uma estar simplesmente segurando a corda enquanto que a outra sim, a está puxando fortemente. Ou seja, o país não estava, como não está, a meu ver, rachado por um ódio mútuo, mas por um ódio unilateral, nutrido pela seiva diária da mídia, e que incomoda na prática a cada quatro anos. No interstício ele fica latente, podendo inclusive ser minorado consideravelmente por efeito da percepção a mudanças positivas reais que afetem seu meio direta ou mesmo indiretamente. Ilustro esse efeito positivo na diluição da implicância com as ações acertadas de Haddad em São Paulo, que em algum momento deverão se reverter numa aprovação consistente.

Como é a mídia que desperta, alimenta, dirige e potencializa o ódio antipetista, ou de classe, ou de região - que não teria a resposta que tem se não houvesse uma boa dose de egoísmo e de orgulho ferido com o status abalado pela chegada de novos participantes num grupo antes exclusivo, das pessoas com formação universitária, com casa e carro e que viajava ao exterior -, minha tese é a de que a grande pacificação nacional começa e termina na mídia, passando no meio do caminho pela reforma eleitoral (leia-se financiamento público de campanha e voto não-distrital, o resto é menos importante) e pelo papel do Ministério Público.

Ressalto que se no lugar dessa mídia rasteira e mesquinha tivéssemos jornalismo real, nobre, que quer o bem do país e do seu povo, não nutrindo rancores, mas unindo e promovendo a compreensão, a diversidade e a inclusão, esse egoísmo e orgulho ferido ficariam eternamente num estágio embrionário, inofensivo, restrito a rápidos pensamentos que mal chegam a virar comentários no táxi ou na barbearia.

Seria desejável utilizar as eleições para um debate elevado, nobre, que ajudasse a pacificar o país, mas para isso precisar-se-ia combinar com os russos. Apenas a reforma econômica da mídia - regulamentando a Constituição e implementando seu espírito de forma efetiva no mercado de informação, juntamente com a criação e utilização de uma lei ágil, prática, justa e acessível de direito de resposta - conseguiria desarmar essa bomba quadrienal.

Registro também o papel tímido e muitas vezes omisso dos Ministérios Públicos estaduais e federal, no que tange às demonstrações de preconceito contra os nordestinos e os pobres, inclusive alimentadas continuamente pela mídia através de suas novelas, seus programas de rádio e de auditório, e suas reportagens sempre criadoras de estereótipos reducionistas e alienantes.

Espero ter contribuído com o debate. (Fonte: aqui).

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O texto acima e muitos dos comentários a ele, expostos na 'fonte', são interessantes. 

De fato, a Constituição Federal, em seu artigo 220, § 5º, proíbe taxativamente a formação, direta ou indireta, de monopólios ou oligopólios de comunicação. Para produzir efeitos práticos, porém, o dispositivo precisa ser regulamentado, providência a cargo do Congresso Nacional. O problema é: como alcançar a regulamentação, num Congresso tão fragmentado e amplamente dominado por forças conservadoras?

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