sexta-feira, 8 de julho de 2016

CAPACITAÇÃO E DOUTRINAÇÃO MADE IN USA


Os cursos nos EUA, a lógica de poder e a doutrinação ideológica

Por André Araújo

O artigo esgota o tema. Os EUA, desde a Segunda Guerra, adotaram uma prática de doutrinação, na visão deles no bom sentido, para abraçar corações e mentes de estrangeiros em relação ao "American way of life" em todos os campos da cultura, da economia, da política, das profissões. Há dois tipos de sensibilidade em relação a cursos e treinamentos nos EUA: pessoas de formação mais sofisticada, que já saem do Brasil com boa base cultural e visão de mundo com certo grau de informação ampla, são menos sensíveis a esses "cursos". O perigo está nas pessoas mais simples que têm uma visão de vida e de mundo limitada ou provinciana. Ai o efeito dessa doutrinação é devastador, porque age como se o paraíso fosse revelado, uma lavagem cerebral evidente sobre mentes virgens de maiores conhecimentos.
Tive uma experiência própria sobre esse tema: em 1974 a empresa de minha família foi vendida a uma multinacional americana, das maiores naquele tempo e hoje, com sede em St. Louis, no Missouri. Depois da compra, eu continuei como diretor presidente por contrato e, no segundo mês, começaram a levar gerentes para cursos nos EUA. Era uma empresa familiar e os gerentes eram pessoas simples do ABC paulista; voltaram completamente transformados, outras pessoas, falando exaustivamente sobre a viagem, sobre o que viram, pareciam convertidos em uma nova religião, entusiasmados com tudo o que vivenciaram, não só nos cursos mas também na cidade, na organização da vida, ficaram "americanizados fanáticos", deslumbrados porque o choque entre sua vivência simples e uma civilização mais avançada foi muito grande e dado de uma só vez sem tempo para absorção e reflexão.
Essa "doutrinação" levada a cabo nos centros de ensino, governamentais ou privados, nas empresas, nos "think tanks", não se resume a técnicas mas inclui, de propósito, a transferência de valores e posturas da civilização americana, sua ética, que tem pontos positivos e negativos, como toda civilização tem; ao proporcionar cursos eles fazem isso na melhor das intenções, não é algo maligno na visão deles, mandaram 400 mil jovens ao exterior nos PEACE CORPS, para regiões inóspitas e perigosas, é uma visão de pregador que quer ganhar convertidos; se isso faz mais mal do que bem, na percepção dos americanos eles só estão promovendo o bem.

Essa leitura pode ser feita de várias formas; a mais simplória delas é manejar "teorias da conspiração" que são falsas.
O apoio tem sim valor geopolítico, mas os EUA acham que estão ajudando e não atrapalhando os países receptores. Foi assim no Plano Marshall, foi assim no Acordo do Trigo com o Brasil na década de 40; desse acordo e da Missão Abbink e da Missão Cooke sairam a ideia e os recursos para criar o BNDE e o primeiro plano de desenvolvimento integrado.
Um caso famoso desse processo citado por George Kennan em seu primeiro livro A RÚSSIA E O OCIDENTE, um clássico, narra a ação da Comissão Hoover, no fim da Primeira Grande Guerra, que levou trigo à uma Europa devastada e faminta. Hoover, que depois seria Presidente dos EUA, ofereceu enviar grande volume de alimentos à Rússia então recém-convertida ao comunismo, Lenine agradeceu a generosidade, mas não aceitou as condições da Comissão Hoover. Os americanos queriam controlar a distribuição da farinha dentro da Rússia e Lenin não aceitou essa condição, o povo continuou faminto mas Lenin, que tinha sua própria lógica de poder, disse  “se nós não podemos controlar a distribuição de que nos serve a farinha?".
Há sim uma lógica de poder nesses cursos nos EUA, mesmo que na visão deles exista boa intenção. Esses cursos para procuradores e juízes nos EUA deveriam, a meu ver, ser totalmente vedados a nossos operadores do Direito porque se aproximam muito dos riscos geopolíticos de doutrinação real. Uma coisa é dar cursos para médicos, outra coisa muito mais perigosa é dar cursos para procuradores e juízes, porque aí não se trata de técnica e sim de VALORES E PRINCÍPIOS e isso diz respeito à politica, estamos submetendo funcionários brasileiros à doutrinação politica e isso vai contra os fundamentos de grandes Estados nacionais, que têm seus próprios objetivos geopolíticos, aí incluindo princípios de aplicação do direito sobre a sua realidade nacional que não é a mesma dos Estados Unidos. (Aqui).

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Alguma abordagem sobre Direito, a partir das bases latina e anglo-saxã - a exemplo do que está sugerido aqui -, certamente seria interessante 

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