sábado, 3 de março de 2018

CIÊNCIA: A EVOLUÇÃO É UMA SENHORA TEORIA

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A questão da evolução é um tema apaixonante, como a própria Ciência. Semanas (meses) atrás divulgamos uma polêmica série sobre Ciência, de autoria de Gustavo Gollo, movidos pelo interesse que o tema desperta e a despeito da fragilidade (segundo muitos leitores do blog Jornal GGN) das teses expostas. Concepções são concepções, como vimos em "Cinco concepções de 'Ciência'" ou "Ciência", entre outras postagens de autoria do citado Gollo AQUI -, mas o importante, no fim das contas, é perceber que há quem se debruce sobre o assunto e conceba suas ideias, mesmo que questionáveis (o que não é o caso do post abaixo).
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Segundo o autor, o artigo a seguir integra o livro 'O que é darwinismo' (no prelo), cujo lançamento deve ocorrer ainda no primeiro semestre de 2018. Para informações a respeito do livro anterior do autor, 'O evolucionista voador & outros inventores da biologia moderna' (2017), inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, ver aqui; para conhecer outros artigos e livros, ver aqui.


O ciclo de vida das teorias

Por Felipe A P L Costa

Um dos comentários equivocados mais comuns a respeito da evolução diz mais ou menos o seguinte: “O problema é que se trata apenas e tão somente de uma teoria”. É um duplo equívoco. Primeiro, porque ignora o que sejam teorias e o papel que as teorias têm na ciência; além disso, as trata como se fossem caraminholas que vagueiam soltas por aí, desvinculadas da realidade.

Antes de tudo, deveríamos observar que teorias científicas não são opiniões pessoais nem engenhocas que brotam do nada. Melhor pensar nelas como uma trama articulada de ideias. A elaboração e, sobretudo, o refinamento de uma teoria é um processo histórico que se estende por gerações. E mais: o chamado progresso científico decorre mais do refinamento de teorias, do que de novos equipamentos ou do acúmulo de dados.

O refinamento costuma envolver a substituição de partes de uma teoria que não mais funcionam (e.g., modelos ou subteorias auxiliares). Pense em alguma teoria ou em algum modelo – e.g., teoria da gravitação ou o modelo geofísico segundo o qual o núcleo da Terra seria uma esfera sólida de ferro. Como representação do mundo, essas ideias sobrevivem enquanto (i) são condizentes com outras teorias ou modelos em vigor; e (ii) explicam de modo satisfatório os resultados que obtemos no dia a dia.
Às vezes, porém, as explicações se tornam inadequadas ou inconsistentes. Quando isso ocorre, a suspeita inicial recai sobre os resultados, que passam a ser vistos como ruins ou anômalos. Se os resultados ruins continuam a aparecer, instala-se uma crise. Percebemos isso quando as teorias até então hegemônicas e incontestáveis passam a ser criticadas abertamente – o status quo delas é questionado. Chega uma hora em que os cientistas se dão conta de que os problemas não estão nos dados. Visto que as anomalias não decorrem de problemas metodológicos ou de outro tipo de distorção, a crise se aprofunda. O impasse às vezes resulta naquilo que alguns filósofos e historiados da ciência chamam de revolução – a teoria em crise é abandonada e uma nova ganha fôlego, atraindo mais e mais adeptos.
Todavia, como os cientistas não trabalham sem um pano de fundo teórico, eles não abandonarão as ideias antigas, mesmo admitindo que elas são problemáticas, sem que antes surja no horizonte ao menos um esboço de alguma ideia alternativa. A teoria substituta deverá ser capaz de lidar com as anomalias. Finalizada a ruptura e restaurada a normalidade, os resultados até então vistos como anômalos passam a ser tratados como exemplares. Assim, o que antes ficava escondido debaixo do tapete, vai agora servir para educar as novas gerações.  -  (Aqui).

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