E, geração após geração, essa mentira vai se repetindo.
O fato, porém, é que crime compensa, e muito, apesar do que se faça para coibi-lo - decretos, leis, prisões, forcas, pelotões de fuzilamento...
O crime compensa tanto que aqui no Brasil ele já domina as instituições, desde o Executivo até o Judiciário, passando, claro, pelo Legislativo e Ministério Público.
É importante esclarecer que há criminosos e criminosos. Há os chamados "marginais", os fora da lei, e aqueles que roubam sem sair de seus escritórios com ar-condicionado, feitos para abrigar os homens de bem.
A percepção de que o crime compensa, em grande parte devido a um Judiciário que protege os endinheirados e pune os pobres coitados, se aprofunda em tempos de crise - econômica, política, moral -, como esta que se abateu no país depois que uma presidenta honesta foi apeada do poder por uma quadrilha e se comete todo tipo de barbaridades contra a população em geral e certos setores da sociedade em particular.
Mas se hoje existe a certeza de que o crime compensa, isso não quer dizer que em outros tempos houvesse, generalizado, um sentimento contrário.
Não é preciso nenhum esforço sociológico para se chegar a essa conclusão.
Basta, por exemplo, ouvir o que os artistas populares dizem sobre isso.
Gente como o sambista Dicró, o "xerife" do Piscinão de Ramos, parque de lazer para os pobres do Rio de Janeiro, pelo qual muito batalhou, e autor de dezenas de composições bem humoradas.
Em parceria com o genial humorista e compositor bissexto Chico Anysio, Dicró, infelizmente falecido em 2012, fez e gravou o esclarecedor partido-alto "Cabide de Emprego".
É uma brincadeira, claro, mas muito séria, e que nos remete a profundas reflexões sobre esta sociedade em que vivemos.
Se não fosse o crime, muita gente morria de fome
O vagabundo é quem garante o pagamento dos homens
Porque um preso dá vários empregos, você pode acreditar
É um policia pra prender
Um delegado pra autuar
Um promotor pra fazer a caveira
Um juiz pra condenar
Um carcereiro pra tomar conta
E um advogado pra soltar
Se não fosse o crime, muita gente morria de fome
O vagabundo é quem garante o pagamento dos homens
Eu não faço apologia, mas infelizmente é verdade
Existe o bem e o mal
Em todo canto da cidade
Quem nunca foi assaltado, por favor, levante o dedo
A maré esta tão braba, que eu já ando até com medo".
(De Carlos Motta, post intitulado "Quem disse que o crime não compensa?", publicado no Jornal GGN - aqui -, que traz o vídeo 'Dicró - Cabine de Emprego', samba partido-alto que, como se constata da letra acima, nos remete a profundas reflexões sobre esta sociedade em que vivemos).
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