sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

UM BREVE PERFIL DOS MANDARINS

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Observações adicionais prévias: A liturgia do cargo é cultuada solenemente pelos mandarins hodiernos: empáfia perfeita; postura lapidada preferencialmente em Harvard; olhos e bolsos atentos a benesses colhidas pela 'douta instância', que sempre acabam por ser estendidas a eles, mandarins, of course; e a convicção inabalável do 'tudo pela causa', poderosa a ponto de compelir a pisotear escrúpulos dos mais variados matizes.  


Os mandarins concursados

Por Wilson Ramos Filho

Na distante China, em outros tempos, os Mandarins, por terem sido aprovados em concursos, achavam-se pessoas especiais. Havia hierarquia entre eles, identificada nos barretes que utilizavam para esconder calvices ou dominar madeixas.

Uns, de maior dignidade autoatribuída ou em decorrência das carreiras, dispunham de muitos assessores que os endeusavam, elogiavam, paparicavam a tal ponto que, vaidosos, sinceramente se convenciam de seus méritos incomuns. Outros, além do séquito, faziam questão de jamais cortarem as unhas das mãos. Quanto mais longas, maior o tempo de mandarinato. Cresciam retorcidas, algo escurecidas, a ponto de inviabilizar qualquer trabalho manual, por mais simples de fosse. Com elas demostravam seu poder. Tinham quem lhes limpasse os venerandos traseiros, tarefa impossível com tamanhos gadavanhos.
A nobre função era aspirada por Mandarins de piso, e pelos asseclas que gravitavam em seus entornos. Não eram coisa pouca, como as unhas atualmente exibidas por alguns cobradores de ônibus. Eram  longas gafas a indicar aos incautos e aos ignorantes que o portador do gatázio se dedicava somente ao labor intelectual.
À quase totalidade não lhes ocorria que talvez não fossem tão excepcionais. O cosmos os havia predestinado ao Mandarinato, obtido por mérito segundo os desígnios da ordem do universo, como prescreviam o Confucionismo, o Taoismo, o Budismo, e todos esoterismos que importavam.

Havia mesmo um imperativo moral na defesa do Mandarinato. Era a ordem natural das coisas. Seus privilégios não decorriam de suas augustas vontades, estavam previstos em leis sobre as quais não caberiam críticas ou cogitações sobre a oportunidade ou justiça intrínsecas.

Assim era na China há muitos anos atrás. Havia sido e haveria de ser assim até o final dos tempos em respeito ao mérito, aos antepassados e à ordem universal. Quem haveria de contrariar o destino?  -  (Aqui).
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(Wilson Ramos Filho, o Xixo, é doutor em direito e advogado aposentado; preside o Instituto Defesa da Classe Trabalhadora).

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