18 de fevereiro de 2018. TV Brasil - Desfile das Campeãs do Carnaval.
A Comissão de Frente da Paraíso do Tuiuti segue emocionando a todos. Entre informações curtas e precisas sobre o regime escravocrata e elogios rasgados (e merecidos) à performance da Escola, a comentarista informa: "Neste momento, quase 3 da manhã, a posição da Tuiuti no Twitter é a seguinte: 1º lugar no Brasil e 2º no mundo!"
Definitivamente, a Paraíso do Tuiuti, com o seu extraordinário samba-enredo e excelente evolução/performance (o Vampirão estava lá - mas não com a faixa presidencial - aqui), entrou para a História. Isso, nas partes que foram mostradas, já que houve cortes diversos na apresentação.
Ao longo da exibição da Tuiuti, a lembrança da observação de Darcy Ribeiro: As elites nacionais jamais aceitaram o fim da escravidão.
(Relativamente à censura imposta pela - e à - TV Brasil ao desfile da Tuiuti, clique AQUI).
Quanto à intervenção na segurança do Rio...
Xadrez da segunda etapa do golpe político
Por Luis Nassif
Peça 1 – a falsa legalidade
A ideia de que a intervenção no Rio é democrática, porque segue os preceitos da Constituição, é tão falsa quanto a da legalidade do impeachment.
Segundo o Ministro da Justiça Torquato Jardim (que foi jogado para escanteio nesse planejamento) "é importante repetir que a intervenção na segurança pública do Estado do Rio de Janeiro cumpre estritamente o ordenamento jurídico brasileiro e servirá para aperfeiçoar a democracia no nosso País."
Michel Temer decretou uma intervenção no Rio de Janeiro. Mas não se contentou com uma intervenção qualquer. Foi uma intervenção militar com um interventor das Forças Armadas, respondendo diretamente ao Presidente da República.
Não há sinais estatísticos de uma situação fora de controle.
Entrevistada pelo Estadão, a diretora presidente do Instituto de Segurança do Rio (ISP), Joana Monteiro, informou que os dados de segurança mostram que não houve uma onda de violência atípica (clique aqui),
Segundo ela, “foram registradas 5.865 ocorrências policiais no total no Rio, entre os dias 9 e 14 de fevereiro, enquanto no carnaval do ano passado (quando a Polícia Civil ainda estava em greve), foram 5.773. Em 2016, 9.016 ocorrências foram registradas e, em 2015, computaram-se no total 9.062”.
Esse mesmo sentimento foi manifestado pelo próprio interventor, General Walter Braga Neto, que atribuiu o clima de fim de mundo aos excessos da mídia (clique aqui).
Peça 2 – o papel da Globo
Temer não é dado a jogadas de risco. Ë figura menor. Assim como no impeachment, sua adesão ao golpe foi estimulada diuturnamente pela cobertura de carnaval da Globo, em tom francamente alarmista. Em cima desse quadro, um grupo de assessores tratou de convencê-lo a endossar o golpe.
Fica claro que, daqui para diante, o novo fantasma nacional será a violência do crime organizado.
Agora à noite, a comentarista Natuza Nery, também da Globonews, falava de um clima de violência que ameaça envolver o país inteiro. E atribuiu ao fracasso da política.
É fácil entender as estratégias da Globo porque há sempre um alinhamento total de seus comentaristas com as ordens que vêm de cima. Agora à noite, além da unanimidade de comentaristas da Globo News, insistiu-se no clima de fim de mundo para o Rio, com a seleção de entrevistados endossando as medidas.
Como não houve pontos fora da curva entre os comentaristas, reafirma-se a suspeita de que as medidas já eram de conhecimento da Globo, que, assim, teve tempo de alinhar seus soldados – ao contrário do que ocorreu nos primeiros momentos das delações da JBS.
Trata-se, portanto, de um novo golpe, com papel central das Organizações Globo. Carregou no noticiário, criou um quadro de escândalo, deu ênfase a violências urbanas deploráveis, mas antigas, visando criar o clima de pavor. Da mesma maneira como cobriu arrastões armados, no governo Leonel Brizolla.
Peça 3 – a luta contra o crime
Para que o golpe se sustente, há a necessidade de manter um clima permanente de catarse.
Há dois caminhos delineados.
O primeiro, de forte apelo popular, de intervenção no orçamento do Rio de Janeiro, reduzindo as benesses do Judiciário e outros setores privilegiados. Essa possibilidade foi aventada por autoridade de Brasília que tem sido consultada frequentemente por Michel Temer.
A segunda é partir para a luta aberta contra organizações criminosas, visando elevar a temperatura ainda mais.
São Paulo já tem experiência dessa maluquice, quando, em 2006, o governo Geraldo Alckmin, e um Secretário de Segurança pirado, Saulo de Castro, decretaram guerra contra o PCC.
Houve a invasão da cidade pelo PCC, seguido de um massacre da PM, matando indiscriminadamente jovens de periferia sem antecedentes criminais. Foram mais de 600 mortes em uma semana.
O que as Forças Armadas poderiam fazer no Rio? Montar barricadas, trincheiras? Invadir casas? As organizações criminosas não estão situadas em territórios próprios, como na guerra convencional. Estão misturados às pessoas, aos cidadãos comuns, vítimas deles. O que ocorreria com esses cidadãos, em caso de confrontos diretos entre Exército e organizações criminosas?
Peça 4 – os fatores de risco
Nos próximos dias, a Globo vai ampliar o discurso de caos na segurança, visando legitimar a segunda etapa do golpe.
Por outro lado, as Forças Armadas foram jogadas no meio da fogueira. O fracasso da operação será o fracasso da intervenção. Qual seria a reação das Forças Armadas? Assimilar o desgaste ou exigir ampliação da sua interferência?
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