segunda-feira, 11 de junho de 2018

O DESMONTE DA ECONOMIA NACIONAL E DO ÂNIMO DOS CIDADÃOS


O desmonte da economia nacional: muito mais que uma ópera bufa

Por Roberto Amaral

O governo, agônico, é duplamente ilegítimo: deriva de uma fraude e executa um programa econômico rejeitado quatro vezes pelo eleitorado
Michel Temer, nosso pato manco, já chegou à Presidência como mamulengo, ator sem voz própria
Os norte-americanos grafaram a expressão -lame duck (pato manco)- para designar o presidente que já está com os dias contados no cargo e nele permanece guardando a cadeira de seu sucessor. Poder esvaziado, nada mais lhe sobra senão arrumar as gavetas.
Normalmente, esse esvaziamento se observa entre as eleições e a posse do novo presidente, quando o antigo titular vê crescer a grama na soleira de seu gabinete. É também um período de vácuo, pois o novo presidente é, ainda, apenas uma potência de poder.
Michel Temer, nosso pato manco, porém, já chegou à Presidência como mamulengo, ator sem voz própria, tentando desempenhar papel escrito pelos deuses do mercado. Foi sempre um farsante empolado, falso jurista e falso intelectual, sem brilho, sem carisma, sem liderança, sem voto, um intruso rejeitado pela opinião pública, que lhe dedica desprezo e rejeição em níveis até aqui inéditos.
O presidencialismo, qual o praticamos desde 1889, não se compadece com a ausência de poder, e hoje o atual presidente é um mero estorvo – que, no entanto, em face das circunstâncias, e tendo em vista as expectativas que se criam com as eleições de outubro próximo, precisará continuar fazendo de contas que ainda preside a República, conduzindo solenidades e fugindo do contato popular.
A quatro meses de eleições distantes de qualquer resolução (quando nem o quadro das candidaturas está definido, à direita e à esquerda), a seis meses da transmissão do cargo ao qual ascendeu ilegitimamente, Michel Temer é mera figuração na farsa da presidência tomada de assalto em 2016.
A peça que nos é impingida por uma governança ilegítima, seria apenas uma ópera bufa, encenada e cantada por atores menores, não vivêssemos, quase sem reação, o planejado desmonte da economia nacional, a destruição de nossa soberania, o desmonte da escola pública e da universidade, e, nela, da ciência e da tecnologia, as restrições aos direitos trabalhistas, a desindustrialização e o desemprego, a depredação do Estado, o fim da proteção social, em síntese,  uma deliberada política de terra arrasada.
Fica o pato manco, porque manco, mas a destruição do país precisa ser contida.
O governo, agônico, é duplamente ilegítimo, porque tanto deriva de uma fraude, o golpe do impeachment, quanto executa (sob o comando do mercado e em aliança com um Congresso em fim de mandato) programa econômico rejeitado pelo eleitorado em quatro pleitos presidenciais sucessivos.
Mas, não obstante a irrelevância do presidente, prossegue a súcia no desmonte da economia. Em pleno agravamento da crise interna (política e econômica), e surda e cega diante dos anúncios da crise internacional, insiste na privatização da Eletrobras e na fragilização dos bancos públicos, a começar pelo BNDES, nossa principal agência de desenvolvimento.
Ainda é cedo para o inventário dos desdobramentos da greve-locaute de caminhoneiros, mas, de logo, deve-se tributar a essa quase insurreição a denúncia da incompatibilidade do neoliberalismo com os  interesses nacionais.
A Petrobras pode ser um bom ‘estudo de caso’.
A tal propósito, nada mais exemplar do que a administração do Dr. Pedro Parente, cuja herança, de par com o desfolhamento dos ativos da Petrobras, deixa, ainda intocada, uma política de preços que majora os custos internos da  produção e os preços ao consumidor, levando o desassossego a uma população de mais de duzentos milhões de pessoas, depois de penalizar dois milhões de caminhoneiros, entre autônomos e assalariados.

Para a greve dos caminhoneiros, vitoriosa inclusive do ponto de vista político, independentemente de seus objetivos originais, muito concorreu o apoio da população, tão importante quanto a logística em que se apoiou o movimento paredista, oferecendo caminhos e lições para quem quiser aprender com a experiência, o que justifica o pânico que tomou conta do Planalto e suas adjacências.
De outra parte, e apenas ancilarmente, a greve expôs a insustentável dependência do país, ao transporte rodoviário, com o desprezo de modais como as malhas ferroviária e aquaviária depois da destruição da cabotagem e da indústria naval em país que tem suas principais capitais, centros econômicos e  concentração populacional em sua costa (7.367 km) e nada menos de 30 mil km de rios navegáveis.
Mas este é tema que pede análise própria.
Homem do dito mercado, a serviço do mercado enquanto presidiu a Petrobras, Pedro Parente anuncia sua renúncia exatamente no meio do pregão de sexta-feira provocando, como esperado, e possivelmente como
desejado, a queda das ações nas bolsas de São Paulo e Nova York, ensejando, aos especuladores, a compra na baixa artificial para a venda na alta inevitável em dois ou três dias.
As ações da Petrobras, como esperado,  despencaram a ponto de as bolsas interromperem a negociação, enquanto o dólar, como igualmente era previsto, voltou a subir.  Ao fim e ao cabo a  empresa contabilizou um prejuízo superior a R$ 50 bilhões em valor de mercado.
Mas no  último dia quatro, para a surpresa de ninguém, as ações voltaram a subir, 8,42% cotada em R$ 17,58. Quem sabia, ou ‘adivinhou’, ganhou. Mas os ‘acasos’ não se esgotam.
Na mesma sexta-feira da saída de Parente, enquanto as ações da petrolífera caíam 15%, as da BRF subiram 11%.  O mercado explica: há meses o hoje ex-presidente da Petrobras está sendo esperado para assumir o comando  do Conselho da BRF, em substituição a Abílio Diniz, e agora especula-se que,  com salário milionário e sem ter de cumprir quarentena, possa assumir mesmo a presidência do conglomerado.
Ainda não se conhece pronunciamento da Comissão de Valores Mobiliários a respeito das peripécias do incensado gestor.

A grande e talvez única alternativa que nos resta, nas circunstâncias – e está à disposição de todos a experiência legada pela greve – é a mobilização popular, primeiro para conter a sanha antinacional e antipopular do governo moribundo e, segundo, para assegurar o processo eleitoral, sem adiamentos, sem os golpes de mão a que sempre recorrem os donos do poder quando  se veem na iminência de uma derrota.
A propósito, não pode ser considerada como fato trivial a decisão da presidente Cármen Lúcia de marcar data para que o STF decida se a mudança do sistema político pode ser feita por emenda, sem consulta  popular, na contramão de todas as constituições brasileiras republicanas e dois plebiscitos. Por coincidência ou não, o ministro Gilmar Mendes, o Chalaça de Temer, já apresentou ao Senado Federal, em seu nome e no do chefe,  um projeto de  reforma que visa à implantação do que ele denomina de ‘semi-presidencialismo’.
As duas iniciativas, concertadas ou não, coincidem com o agravamento da crise do governo que se reproduz, até aqui,  na inviabilidade eleitoral de seus pretensos candidatos. 
Por todas as razões óbvias – gato escaldado teme água fria – é preciso, manter e fortalecer a mobilização popular, tanto questionando o governo ilegítimo quanto antecipando a campanha eleitoral, com os  candidatos nas ruas, e desde logo, garantindo as eleições, para assegurarmo-nos de que serão realizadas sem golpes de mão, sem casuísmos, sejam legislativos, sejam judiciais.

Notas avulsas:

        * Na passeata dos evangélicos em São Paulo (31/5), foram admitidos e sagrados três políticos: Doria, Bolsonaro e Márcio França.
        * Quando saberemos quem mandou matar Marielle? O PSOL parece muito quieto.  -  (FonteAqui).


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(Roberto Amaral é escritor e ex-ministro de Ciência e Tecnologia).

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O artigo acima é recente, mas, por mais incrível que possa parecer, o Brasil conseguiu piorar um pouco mais (notadamente na percepção dos cidadãos) após a sua publicação. A propósito, vejamos:

"Não foi apenas o setor de grandes obras que foi o diretamente afetado pela falta de investimento do governo Temer, logo em seu primeiro ano de gestão. Os dados da Pesquisa Anual da Indústria da Construção (Paic), do IBGE, divulgada na última semana, trouxeram como a raiz dos problemas para a economia nos últimos três anos a falta de investimento e de acesso ao crédito por bancos públicos, que desencadearam quedas nos mais diversos cenários econômicos desde 2016.

Se por um lado, a infraestrutura teve o pior desempenho nos últimos 10 anos, como mostrou o GGN em reportagem neste sábado, também foram impactados outros recursos, como o crédito imobiliário, com queda de 16%, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o programa Minha Casa, Minha Vida, o Orçamento de Investimento das estatais, a paralisação do Programa de Investimento Logística (PIL), entre outros.

O PAC saiu de R$ 72,58 bilhões em 2014 para R$ 44,45 bilhões em 2016. E a queda não foi paralisada no ano do impeachment: caiu para R$ 30,16 bilhões em 2017. Neste ano, até abril são R$ 5,55 bilhões. Se o primeiro quadrimestre se repetir, serão R$ 15 bilhões de despesas do PAC neste último ano do governo Temer.  (...)."


(Para continuar a leitura de "Dados econômicos mostram quedas bruscas em diversos setores no governo Temer", clique AQUI).

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