sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

UMA CHACOTA MATOU A SOLIDARIEDADE

                   Michele Maximino, (ex)maior doadora de leite materno do Brasil.

Maior doadora de leite materno do Brasil perde mais uma batalha

Do Pragmatismo Político


Texto enviado a Pragmatismo Político pelos autores Michele Maximino e Ederval Trajano

Em janeiro de 2009 chegamos à cidade de Quipapá para prestar concurso público para a Prefeitura Municipal. Enquanto tentava uma vaga para Professor de História, Michele Maximino tentou uma vaga para Técnica de Enfermagem. Com o resultado do concurso, comemorei o primeiro lugar, mas Michele não obteve êxito. Em junho de 2009, tomei posse do cargo e em julho comecei a trabalhar.

Pedi remoção do concurso estadual, da Escola Bernardo Vieira de Melo, em Jaboatão dos Guararapes, para a Escola Dr. Fernando pessoa de Méllo e finalmente estava em uma cidade pequena, com cerca de 25 mil habitantes, e de uma receptividade grandiosa. Boas amizades, clima bom, custo de vida melhor ainda, sem trânsito, violência quase inexistente, típica cidade do interior onde todos se conhecem. Um belo local para criar filhos e educá-los.

No dia 03 de outubro 2013 tudo mudou. Em um programa ‘humorístico’ de televisão em rede nacional e internacional, blindados pela liberdade de expressão, somos atacados (relembre aqui) por um projeto de humorista que em pouco mais de um minuto e meio desferiu vários golpes contra a honra e a dignidade de uma doadora, que além de doar mais de trezentos e cinquenta litros de leite humano, ainda dirigia cerca de 80 quilômetros até o banco de leite mais próximo, na cidade de Caruaru, PE. (acesse aqui o site de Michele)

Tudo mudou. Pessoas ligavam, passavam mensagens, comentários nas ruas, risadas em grupos, ataques no facebook; casos típicos de uma pequena cidade do interior e de uma pequena minoria que é invejosa e caluniosa. Quipapá não se resume a essas pessoas, elas não representam o sentimento da maioria.

Fomos vencidos, perdemos a primeira batalha. Uma pequena parcela da população regida pela “simples piada” de Danilo Gentili que até hoje “surfa” na onda da piada, nos atacou covardemente. Já Danilo Gentili ganhou mais seguidores no facebook; ganhou mais audiência em seu programa; consequentemente mais patrocinadore$; uma nova emissora (SBT); um salário que pode saltar de 70 mil para até 700 mil mês.

Quem ganhou com a piada? Michele deveria ser alvo de chacota em rede nacional porque fazia campanha para incentivar mais doações de leite humano? Desde o momento percebi que existe uma inversão de valores nesse episódio. A doadora de leite humano que salva vidas foi transformada em uma criminosa, pelo simples fato de doar leite e sensibilizar outras lactantes a doarem o seu excesso de leite materno.

Mais uma batalha perdida

No último domingo (26 de janeiro de 2014) saímos da cidade e estamos recomeçando nossas vidas no Recife. Incertezas é o nome dessa mudança de vida, causada por “uma simples piada”. Deixei cinco anos de uma vida tranquila, um concurso municipal, em virtude de uma humilhação em rede nacional.

Recomeçar é a palavra de ordem, procurar uma escola para meu filho Gabriel estudar, procurar um emprego para Michele Maximino trabalhar e ajudá-la a esquecer tudo. Não estamos arrependidos de nada, faríamos tudo novamente, pois temos a certeza de que Deus está no comando e não vai nos abandonar. Perdoamos todos os que nos fizeram mal, pois tenho a certeza de que ódio é um sentimento que devemos eliminar para não desencadear outros males. Doar é dividir o seu amor com o próximo. (Fonte: aqui).

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Lastimável. (Mas, cuidado: em certos círculos, deplorar/condenar o império da chacota é encarado como baita anacronismo. Os tidos como astros midiáticos geniais podem fazer e acontecer).

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