terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

O CD DE CHICO BUARQUE EM INGLÊS


Frieza técnica pauta experiência de ouvir Chico Buarque em inglês, com poesia

Por Mauro Ferreira

Embora Chico Buarque seja um dos maiores compositores brasileiros do gênero rotulado como MPB, a música do compositor carioca nunca obteve no exterior a visibilidade obtida pelas obras de colegas como o também carioca Ivan Lins e o alagoano Djavan. Além de o cancioneiro de Chico ter diálogo nulo com o jazz (porta que abriu o mercado do exterior para Djavan, por exemplo), as letras de suas músicas são pontos fortes e indissociáveis de sua obra.

Produzido pelo poeta brasileiro O. J. Castro de forma independente, o inusitado CD The Chico Buarque experience tenta heroicamente reverter essa situação ao apresentar versões em inglês de dez músicas do compositor, a maioria lançada nos anos 1960 e 1970, décadas do auge produtivo do autor. Autorizadas por Chico, as dez versões são assinadas por Castro.

Em tese, o disco de título em inglês pode abrir os ouvidos de dois bilhões de pessoas para a obra de Chico. Ouvintes em potencial que se comunicam em inglês e que são refratários a músicas feitas em português, língua de alcance e entendimento reduzidos em esfera planetária. As versões em si são boas. A autorização de Chico para a edição do disco não veio à toa. Castro procurou - e conseguiu - preservar o sentido e a poesia de versos de músicas como a lírica As vitrines (1981), rebatizada Gallery na versão gravada por Altay Veloso.

Mesmo diante da eventual impossibilidade de fazer tradução literal, o versionista persegue o significado das letras sempre precisas de Chico. Por mais que as versões soem estranhas e antinaturais para ouvidos brasileiros, o problema do álbum não reside nelas. São as interpretações - corretas do ponto de vista técnico, mas geralmente sem alma - que esfriam a experiência de ouvir Chico Buarque em inglês. O dueto de Ithamara Koorax e Zé Luiz Mazziotti em Lounger boy - versão de Sem fantasia (1967) - exemplifica com perfeição essa frieza técnica que faz com que o disco soe asséptico demais. (...). (Para continuar, clique aqui).

................
Considerando o talento de Chico Buarque, arrisco: vale a pena ouvir o CD. O crítico Mauro afirma que as interpretações, embora corretas do ponto de vista técnico, são 'geralmente sem alma'. Convém tirarmos a prova.

Nenhum comentário: