segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

DA ARTE DE FINGIR ABOMINAR A BARBÁRIE


Josias pergunta por que 22% "flertam com a barbárie". Ora, Josias, abra um jornal ou ligue a TV

Por Fernando Brito

Quando eu era guri, numa vila do subúrbio do Lins de Vasconcellos, e alguém falava mal do outro esquecendo de si mesmo, a gente perguntava se “não tinha espelho em casa”.

É o que tive vontade de fazer quando li o artigo de Josias de Souza o prestigiado colunista da Folha/UOL, perguntando, a propósito da pesquisa Datafolha, por que 22% “flertam com a barbárie”.

Talvez a pergunta correta seja “por que 78% não flertam com a barbárie, mesmo que ela seja insuflada, direta e indiretamente, pelos meios de comunicação comerciais?”

Será que Josias não “lembra” do que faz a televisão com seus programas de “mundo cão”, sejam os mais “sofisticados” sejam os explícitos, com apresentadores de porrete na mão?

Será que colocar limites públicos a isso é pretender controlar, autoritariamente, a imprensa?

Ou seria às empresas de comunicação, que permitem e, em geral, promovem esse tipo de coisa como fonte de audiência e de lucros publicitários?

Josias de Souza deveria ter a coragem intelectual de seu colega Maurício Stycer, que não se acovardou e apontou hoje, na "Folha", quem tem, também, responsabilidade nisso, a respeito do caso da infeliz Raquel Sheherazade:

Sheherazade difundiu sua mensagem (“Num país que sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível”) numa rede de TV aberta, uma concessão pública, sem que a emissora tenha oferecido qualquer contraponto a ela.

É uma opinião dela? Sim. Ela é a âncora do telejornal? Sim. Ela pode falar o que quiser? Tudo que o SBT considerar aceitável.

Ao justificar uma ação criminosa, do seu púlpito, a apresentadora contou com o endosso (silencioso) da emissora que a colocou no lugar em que está.


Mas quando alguns blogs apontam a responsabilidade das empresas de comunicação que fazem isso – e campanhas políticas sistemáticas com teor igual de violência, como no caso do chamado mensalão, quando qualquer coisa que não fosse o linchamento dos acusados era “defender a corrupção" – somos apontados inimigos da liberdade de expressão?

Ou alguém pode deixar de ver que personagens muito bem postos nos meios, como Merval Pereira, portaram-se como “Sheherazades do Mensalão”, inclusive sugerindo que o STF deveria ser pressionado “pelas ruas”, com seus black blocs e tudo?

Josias. Se você não entende por que 22% das pessoas flertam com a barbárie, eu posso dar uma contribuição para que descubra.

Olhe aí, nos comentários de sua página, para ver como se reúne o enxame selvagem à procura do “mel” amargo e violento do qual se nutrem.

E, se tiver espelho no "grupo Folha" e nas empresas de comunicação, veja quem são os veículos de comunicação que estão provocando este clima de barbárie.

Do contrário, sua pergunta não é retórica. É hipócrita. (Fonte: aqui).

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Ora, ora, fingir abominar a barbárie é uma arte...

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