quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

BLACK BLOCS E O RIOCENTRO DE QUEM NELES INVESTIU


Por que os black blocs foram tão aceitos?

Por Fernando Brito

Rogerio Gentile, na edição de hoje da Folha, escreve sobre a “benevolência, para não dizer simpatia” com que os black blocks foram tratados por “artistas, políticos, intelectuais, publicitários e jornalistas. Foram condescendentes com depredações de prédios públicos, ataques a bancos, tentativas de linchamento de policiais etc., sempre partindo da premissa de que os vândalos estavam mudando o país“.

Mudando o país, em quê?

Tirando o famoso “padrão Fifa” e os “não é só por 20 centavos”, alguém consegue lembrar de alguma coisa que propusessem ou desejassem os movimentos iniciados em junho, cuja face se ornou de máscaras negras?

Mas, mesmo sem apontar a razão profunda dessa simpatia, Gentile tem razão quando diz que a condescendência com os quebra-quebras e outras violências partiam da premissa de que aquilo seria “mudar o país”.

A mídia, a direita, o conservadorismo, desde o primeiro dia, sentiram ali o cheiro da desestabilização de um governo que, até então, ostentava índices de aprovação tão maciços que eram como uma parede de concreto para suas pretensões eleitorais em 2014.

Vale dizer, pela via democrática de oposição, na qual acumulam três derrotas e caminhavam para o quarto insucesso.

Vou dispensar-me de citar os Jabores de ocasião.

E, a seguir, em alguns dias, quando as “depredações de prédios públicos, ataques a bancos, tentativas de linchamento de policiais etc” passaram do limite do “socialmente aceitável”, continuaram servindo, porque isso tumultuava o cotidiano, espalhava a imagem do caos, reforçava a imagem do “desgoverno”.

Melhor ainda porque a juventude parecia emprestar-lhes um ar “esquerdista”, libertário, muito mais simpático que os estandartes da TFP dos anos 60.

Mas, igualmente, também desestabilizadores de um governo que, como todos os seus pecados e vacilações, é o grande inimigo a ser batido pelo capitalismo colonialista de que nosso país é vítima.

2014 passou a ser ansiosamente esperado, e isso foi dito e repetido em alto e bom som pelos políticos de oposição, como o ano em que esses “movimentos” – e leia-se confronto em lugar de movimento, porque uma concentração pacífica em uma praça do centro da cidade não tem “graça nenhuma” – fariam a festa da Copa do Mundo virar um pesadelo.

Os senões da Copa – os estádios já eram caros antes – não eram o importante, senão para umas mocinhas bonitas que já têm hospital e escola “padrão Fifa”. O importante era preparar o povo brasileiro para desejar “um governo”, porque as ruas conflagradas e embaçadas da fumaça de bombas de gás, em todas as redes de TV do mundo, tomariam o lugar da alegria, da diversão e, sobretudo, da autoestima brasileira.

Os que chamam, agora, de “monstros” estavam ali todo o tempo.

Os partidos e a política, que diziam não estar ali, também estavam, tanto nos desvãos ocultos da manutenção de alguns “porra-loucas” quanto, sobretudo, na promoção ansiosa da mídia à espetaculosidade que se procurava a paulada, a chamas, a bombas.

E que ela, pressurosamente, lhe dava.

Até que veio o seu “Riocentro”, ferindo e matando o cinegrafista Santiago Andrade.

Esse é o cerne das razões que explicam a ”benevolência, para não dizer simpatia” a que se refere o articulista.

O resto, permitam-me, é perfumaria. (Fonte: aqui).

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Meu comentário: é exatamente isso.

2 comentários:

Anônimo disse...

Dodô
Marilena Chauí em agosto de 2013 já previa tudo isto. O sistema usa usa, chega uma hora que descarta. Usaram os ultra esquerdistas e agora os estão queimando. Uma massa de namobra mesmo.
ab
jão antonio

Dodó Macedo disse...

Recordo perfeitamente a análise feita por Chauí, amigo. Pertinente, como sempre.
Um abraço.