terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

OLD PHOTO

                    Foto do acervo da FGV. O ex-presidente João Goulart é fotografado pela esposa Maria Teresa, durante o exílio no Uruguai. 1964.
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A PROPÓSITO DA FOTO ACIMA...
 
Do blog de Fernando Rabêlo, filho do jornalista mineiro José Maria Rabêlo:

"O meu pai, o jornalista José Maria Rabêlo revelou em seu livro 'Belo Horizonte. Do Arraial à Metrópole – 300 Anos de História', que Belo Horizonte por pouco não se transformou na Dallas brasileira, onde um complô estava armado para assassinar o presidente da República João Goulart em 21 de abril de 1964. (...)." Eis o relato:

Complô para matar João Goulart

Por José Maria Rabêlo

O assassinato do então presidente da República João Goulart estava programado para acontecer em Belo Horizonte no dia 21 de abril de 1964, em comício na Praça da Estação. Naquele ato, o chefe de Estado anunciaria oficialmente as chamadas “Reformas de Base”, que se destinavam a transformar as estruturas sociais do País e que provocavam por isso a reação exasperada das elites conservadoras. O atentado somente não ocorreu porque houve antes o golpe militar que afastou Goulart do poder. O episódio, que mancharia de sangue aquele momento de nossa história contemporânea, reproduziria aqui a tragédia de Dallas, nos EUA, quando, em novembro de 1963, quatro meses antes, o presidente norte-americano John Kennedy foi morto por um atirador, durante desfile em carro aberto pelas ruas da cidade.

                   O plano para assassinar Goulart só 13 anos mais tarde seria revelado, mesmo assim com pouquíssima divulgação. Hoje está apenas na memória de um ou outro dos que o idealizaram, pois a maioria já faleceu, ou de uns poucos que dele tiveram conhecimento.

                   Em meu livro Belo Horizonte. Do Arraial à Metrópole, que acaba de ser publicado, eu mostro com detalhes como se daria o ataque ao palanque em que estariam o presidente e sua comitiva.

                   “Três linhas de ação foram adotadas”, revelou o general reformado José Lopes Bragança, conhecido pelo seu histórico e histérico anticomunismo, em entrevista ao jornalista Geraldo Elísio, do jornal Estado de Minas, em janeiro de 1977, que transcrevo no livro. “A primeira”, prosseguiu o general: “Um avião teco-teco, com capacidade de voo rasante, despejaria cargas de dinamite sobre o palanque onde estivesse João Goulart. Segunda linha: alguns de nós dispúnhamos de metralhadoras.
O plano era soltar bombinhas dessas usadas em festas juninas para distrair o povo. Nessa hora, um grupo de dois ou três homens armados de metralhadora, contando com a colaboração de outro grupo que abriria um corredor entre o público, se aproximaria correndo do palanque e metralharia seus ocupantes. Como terceira opção, caso falhassem as duas outras opções”, continuava o general, “atiradores de escol, munidos de armas dotadas de lunetas, deitados sobre caminhões ou ônibus próximos dali, alvejariam Jango (Goulart) e os principais líderes esquerdistas”.

                   Ainda conforme o general, o encarregado de comandar o pelotão de atiradores seria o coronel José Oswaldo Campos do Amaral, da Polícia Militar, campeão de tiro, conhecido entre seus colegas pela sugestiva alcunha de Cascavel.

                   Em carta ao Estado de Minas, publicada em 18 de janeiro de 1977, o coronel Campos do Amaral confirmou o plano de eliminação do presidente e das pessoas que o acompanhavam, o que seria feito, conforme suas palavras, “para o bem e a salvação do Brasil”.

                   No relato, o coronel apresentou outros detalhes, assumindo expressamente seu papel como um dos encarregados da operação e afirmando que a forma de executá-la tinha sido estabelecida depois de muitas discussões. “Foi então definitivamente escolhido o ataque frontal ao palanque”, diz em sua carta, “a ser realizado por todos os integrantes do grupo, que correriam então todos os riscos e participariam, em igualdade de condições, das responsabilidades futuras”. E acrescentou, em outro depoimento: “Ninguém escaparia vivo do palanque”.

                   Como se vê, por pouco Belo Horizonte deixou de transformar-se na Dallas brasileira, com violência ainda maior, manchando para sempre o nome e a reputação da Cidade.

                   Entendo que a Comissão Nacional da Verdade tenha interesse em conhecer esse episódio, que apesar de não haver alcançado os objetivos planejados, traduzia o ambiente de ódio que dominava o País naquela época, do qual resultaram tantos atos atentatórios aos Direitos Humanos.
                  
                   P.S. O livro Belo Horizonte. Do Arraial à Metrópole – 300 Anos de História pode ser adquirido nas principais livrarias da capital mineira ou pelo e-mail editorapassadoepresente@gmail.com. (Fonte: aqui).

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