'O Brasil tem histórica fama de refúgio de bandidos', diz o articulista. De fato. Eram relativamente comuns, em antigos filmes policiais classe 'b' norte-americanos, cenas em que o meliante confessava para um terceiro: "Pratico o assalto, pego a grana e vou passar bem no Brasil". Enquanto isso, o Brasil, ao dispensar - sem reciprocidade - visto de entrada para turistas dos EUA, Japão, Canadá e Austrália (aqui), estaria deixando de arrecadar algo como sessenta milhões de Reais por ano. Por sua vez, o 'visto eletrônico' por aplicativo (E-visa), implantado pelo Brasil em 2018, já se revela eficaz para incrementar, mesmo que ainda longe do potencial brasileiro (se existisse empenho efetivo, equipes estruturadas, organização, seriedade) o número de turistas vindos do exterior, inclusive os dos países acima referidos.
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Dois milhões de presidiários têm passaporte americano
Por André Motta Araújo
A ideia que a mídia oficialista tem de turista americano é a de um loiro alto, protestante, de cuca fresca, pronto para gastar aqui seu cartão de crédito. Mas 60 milhões de americanos têm outro perfil. São iraniano-americanos, saudita-americanos, cubano-americanos, indu-americanos, vietnamita-americanos, coreano-americanos, chineses de San Francisco, que poderão entrar no Brasil sem visto.
Por incrível que pareça, existem também bandidos com passaporte americano, contrabandistas de Miami, cafetões de Las Vegas, traficantes de armas e de drogas químicas, estelionatários, mafiosos de Chicago.
O Brasil tem histórica fama de refúgio de bandidos, que agora será revigorada pela desnecessidade de visto de entrada para nacionais de alguns grandes países, a começar pelos EUA, onde não há só gente honesta, há de tudo, apesar da idolatria que ignorantes fazem dos EUA, terra do faroeste e da máfia.
Nos anos 50, Cuba passou a receber turistas americanos em grande quantidade, virou o paraíso dos cassinos e da prostituição, um turismo predatório, que foi um dos ingredientes da revolução castrista. Há uma certa visão romântica, simplória, do turismo de massa mas há que analisar prós e contras.
O Brasil deveria ter enorme apelo turístico, mas faltam certas condições que são pré-requisitos para um país de grande atração para visitantes:
1. Sistemas de orientação e atendimento em aeroportos, rodoviárias, pontos turísticos. Os quiosques de turismo em aeroportos operam em ritmo de repartição pública, há atendentes que a cada meia hora desaparecem para tomar café, voltando duas horas depois.
2. Museus desaparelhados para atender visitantes estrangeiros. Parques sem nenhuma estrutura, sem banheiros limpos, cafés , lojas de souvenires.
3. Notória falta de segurança. No caminho do Corcovado, por exemplo, há turistas que querem andar a pé, os assaltos são diários.
4. As cidades litorâneas não têm barcos de passeio, os rios, quando os têm, são precários. Praias em geral poluídas. Trens turísticos são pouquíssimos e esse meio de transporte tem grande apelo para se conhecer um País ou região, vide os magníficos trens turísticos da Africa do Sul e Austrália.
5. O País, os Estados e as Prefeituras têm Ministérios e Secretarias de Turismo desprovidas de programas, projetos, são meros cabides de emprego.
6. Faltam guias em línguas estrangeiras nas atrações turísticas, museus e parques. Faltam sinalizações em inglês nas grandes cidades.
O mercado turístico do futuro é o ecológico, o Brasil seria o grande beneficiário, mas faltam condições básicas, algumas bem simples.
Dispensar vistos por si só não significa grande coisa para incrementar turismo, há muito mais fatores, mas esses dão trabalho para implementar.
O Brasil é o único grande País do mundo que não faz campanhas de mídia para divulgar o Pais no exterior, o México é campeão em belas campanhas, países ícones do turismo, como França e Espanha, fazem continuamente campanhas de divulgação, os Estados alemães como a Baviera fazem suas próprias campanhas de divulgação nos EUA; o mercado turístico é altamente competitivo e é preciso disputá-lo continuamente.
Relato aqui um fato de que participei há cinco anos. Uma das maiores agências de publicidade dos EUA, que faz campanhas para o México, preparou um projeto para divulgação do turismo para o Brasil nos EUA.
Acompanhei os executivos da agência nos órgãos federais que tratam de turismo. Nem quiseram ver, alegaram falta de verba. Na maioria dos países, as entidades associativas empresariais também patrocinam campanhas de divulgação, o turismo traz benefícios para o comércio em geral, para hotéis, bares, restaurantes, casas de shows.
Procurei a Confederação Nacional do Comércio, que também cuida de turismo, não passei da telefonista. A mesma Confederação, que tem sede nacional em Brasília, acaba de gastar 26 milhões de reais para comprar dois apartamentos de luxo em Ipanema para seu presidente e diretor financeiro quando vêm ao Rio. O fato saiu nos jornais há quinze dias, dinheiro arrecadado por contribuição parafiscal usado em benefício privado.
A campanha para divulgação turística do Brasil nos EUA custaria menos do que isso. Realmente aumentar o turismo no Brasil precisa muito mais do que eliminar o visto.
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