"Analistas políticos passaram os últimos dias dizendo que Bolsonaro é “louco”, “inepto”, um “sem noção”. Será? Vamos analisar os fatos com frieza.
Rodrigo Maia convida Bolsonaro para um almoço com Toffoli e Alcolumbre. O
presidente aceita o convite, mas leva com ele 14 ministros.
É uma prática manjada em Brasília. Quando você não quer conversar, mas não quer ser deselegante, você enche a sala de pessoas. Se o principal projeto é a reforma da previdência, faz sentido implodir uma reunião com os comandantes do processo?
Vamos seguir os sinais. Moro fica irritado com a decisão de Maia de adiar a análise de seu pacote anticrime. Faz cobranças. O presidente da Câmara reage chamando o ex-juiz de “funcionário de Bolsonaro” e desqualificando o “copia e cola” do ministro da Justiça.
O que faz Moro? Solta uma nota e dobra o ataque ao Congresso: ”Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não agüenta mais.” Carlos Bolsonaro sai na defesa do ex-juiz e ataca Maia nas redes.
Nos EUA, o “guru” Olavo de Carvalho chama Mourão – que vinha sinalizando moderação e entendimento – de idiota. Bolsonaro leva Olavo e Bannon para reuniões na terra do Tio Sam.
Temer é preso. Segundo Bolsonaro, “acordos políticos feitos em nome da governabilidade” levaram Michel e Moreira para o xilindró.
A prisão do ex-presidente é acompanhada de uma ofensiva nas redes contra o STF. Ela foi uma evidente reação – novamente arbitrária e ilegal – da Lava Jato às suas derrotas recentes na Suprema Corte. A República de Curitiba resolveu mostrar quem manda. [Em tempo: Temer, Coronel Lima, Moreira Franco e os cinco parceiros presidenciais já estão soltos, à vista de HC]
Acompanhando Bolsonaro no exterior, Felipe Martins, assessor da presidência da República, é claro e direto. Defende nas redes a união da ala “anti-establishment” do governo, a mobilização popular, a “quebra da velha política” e a Lava Jato.
Surgem sinais preocupantes na caserna. Circula a informação que o ministro da Defesa, tido como moderado, resolveu condecorar o “Torquemada” Deltan Dallagnol.
A proposta de reforma da previdência dos militares é uma peça de ficção. A economia de 1 bilhão por ano é irrisória. A proposta é acompanhada de uma reorganização das carreiras, privilegiando os mais graduados. Descuido? Trapalhada?
O mercado fica apavorado com a briga de rua entre Bolsonaro e Rodrigo Maia. O “Botafogo” foi chamado de namoradinha de beicinho pelo Capitão. A crise escala. Demonizaram a política e desestabilizaram a democracia. Esperavam o quê?
O Capitão vota no Congresso? Os generais votam? O MPF vota? De quem é o dever constitucional de aprovar leis? O executivo encaminha a proposta, mas quem vota?
A derrota na previdência e o caos financeiro podem ser o “pretexto final”. Bolsonaro já disse que não gostaria de fazer a reforma. Os militares são contra. As corporações da Lava jato, elite do funcionalismo público, idem.
Que tal o desemprego subindo, a miséria aumentando e a culpa do caos ser dos políticos que só pensam nos seus próprios interesses e de ministros do STF que “vivem de soltar corruptos”?
A aliança entre a turma Olavo-Bannon, militares e Lava Jato está emparedando o STF e o Congresso. Rodrigo Maia parece iludido. Ainda não percebeu que ele e seus amigos do Centrão são os inimigos, os próximos na fila do Dr. Bretas.
Se a reforma não passar, a aliança entre o mercado e os grandes grupos de mídia vai tentar derrubar Bolsonaro. O Capitão vai reagir. Pode até cair descartado como excesso indesejável, mas nenhum país resiste a tanta instabilidade.
Ficando ou caindo, diante do caos, as condições para um fechamento democrático estarão dadas.
Quem empurrou o Brasil para esta situação talvez não tivesse noção do que fazia.
Bolsonaro está sendo coerente. Tem noção do que faz. Veio para destruir um sistema político definido como “velho e podre” por Merval Pereira e sua trupe.
A gravidade do momento exige que liberais e socialistas, democratas e ativistas de todas as matizes sentem e conversem. A democracia está derretendo no Brasil."
(De Ricardo Cappelli, post intitulado "Bolsonaro tem noção", publicado no GGN.
Cappelli sempre certeiro.
Mas o leitor Luis Baptista resolveu, em parte, dissentir:
"Não sei se ainda existem 'liberais' para a gente conversar com eles.
Tirando isso, o artigo está corretíssimo. Bolsonaro não é um idiota. É um fascista. Para quem não é fascista, a 'lógica' interna do fascismo parece simplesmente loucura. Mas, louca ou não louca, ela funciona. E uma das peças fundamentais do seu funcionamento é o fato de todos os outros agentes políticos – conservadores, liberais, socialistas, social-democratas, comunistas – terem muita dificuldade de entender esse funcionamento, e, exatamente, tenderem a reduzi-lo à loucura, ou à estupidez – ou 'falta de noção'.
Também Hitler era um 'palhaço'. Também Mussolini era um 'palhaço'. A questão fundamental é: o 'mercado', ou seja, o capital, agora exige, com urgência, a transformação do caixa da previdência em capital. Essa imensidade de dinheiro circulando como simples fundo de consumo é inaceitável para o capital, para o qual todo dinheiro deve gerar mais dinheiro. Por outro lado, não há maneira de fazer essa transformação com o beneplácito da maioria da população, a qual percebe perfeitamente (ou imperfeitamente, o que, para efeitos práticos, dá no mesmo). A democracia, assim, se transformou num óbice para o capital. Ela precisa ser removida. O capitão é um instrumento para isso. A 'ala sensata' do seu governo, também. E, pior, a briga entre as duas alas é o instrumento central para a destruição da democracia. Estamos sendo convidados a apoiar uma ditadura militar para impedir a vitória do fascismo; estamos sendo convidados a apoiar o fascismo a fim de impedir uma ditadura militar. Para nós, é um jogo de perde-perde."
Com que, então, a ser pertinente o diagnóstico acima oferecido, está o povo brasileiro ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA: fascismo e ditadura.
A propósito, eis que aflora a velha paixão pelas palavras e expressões: De onde vem a expressão 'entre a cruz e a caldeirinha'?
Vi aqui:
"FICAR ENTRE A CRUZ E A CALDEIRINHA é estar num dilema, numa situação muito difícil (...). A expressão é originária da Inquisição. O réu tinha duas opções: (a) converter-se ao catolicismo ou (b) morrer. A cruz representa a conversão. Já a caldeirinha tem duas explicações:
1ª) era a caldeira de água fervendo em que a vítima era enfiada quando escolhia a opção "b" (...);
2ª) Representava a encomendação de um cadáver no caixão: junto aos pés, o assistente do padre com a cruz erguida; junto à cabeça, o padre com a caldeirinha, que é o nome do pequeno recipiente para água benta."
CRUZ E CALDEIRINHA: fascismo e ditadura? Mas, e se ambos forem sinônimos, em essência?)
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