terça-feira, 26 de março de 2019

O ESTILO PAULO GUEDES SEGUNDO LUIS NASSIF

"O PhD do Guedes é da escola de Chicago e, pra piorar, da época do Reaganomics." - Do leitor Wagner F. S. ... E nada mais disse.
(GGN).
Paulo Guedes, a versão PhD de Jair Bolsonaro
Por Luis Nassif (No GGN)
Quem aposta que o centro de racionalidade do governo Bolsonaro é o Ministério da Economia, desista. A única vantagem do Ministro Paulo Guedes sobre o chefe Bolsonaro é não tuitar. E seu nível de piração ser da mesma intensidade que a do chefe maior, porém mais sofisticado.
Foi o que constataram seis aturdidos presidentes de Tribunais de Contas estaduais, depois de uma reunião convocada por ele.
Começou a reunião com 6 tribunais presentes. Guedes se fez acompanhar de uma tropa, com Mansueto de Almeida, Guilherme Afif e o indefectível procurador do TCU (Tribunal de Contas da União) Julio Marcelo.
O início foi intimidatório.
– Quero saber por que estados quebraram e vocês não fizeram nada!
Dos 6 estados representados, 5 eram estados quebrados. O 6º, São Paulo, não quebrou porque o governador Geraldo Alckmin não foi capaz de gastar o orçamento aprovado.
Um conselheiro tentou explicar a Guedes como funcionavam os tribunais, e sua incapacidade legal de interferir em decisões de políticas públicas. E Guedes implacável:
– Não me interessa!
Até que um, mais atrevido, cobrou a União. Se fosse responsabilizar o Tribunal de Contas pela quebradeira, então tinha que responsabilizar o TCU, pois a União quebrou e a única diferença em relação aos estados é que ela pode emitir títulos, e os estados não. E não constava que o TCU tivesse tomado medida alguma contra as renúncias fiscais de Dilma.
Aí Guedes deu um chute no traseiro de seus diplomas e foi buscar argumentos no bolsonarismo mais tosco, alegando que a União quebrou porque o governo de Dilma financiou o porto de Mariel, deu estádio para o Corinthians. E nem corou!
Um conselheiro lembrou que a Lei de Responsabilidade Fiscal prevê conselho gestor para normatizar a execução orçamentários que jamais foi implementado. Guedes não tinha a mais longínqua ideia de que bicho era esse.
– Tem isso Mansueto?
– Tem, Ministro, o projeto está a desde 2002 na Câmara
Depois, explicou seus planos econômicos. Disse que iria descentralizar os recursos para que fossem direto para estados e município. Um conselheiro ponderou:
– Ministro, Existe Congresso, senadores e deputados para representar estados e municípios. O que o senhor vai fazer com eles?
O impávido Guedes fingiu que não ouviu.
Outro conselheiro explicou que no seus Estado o Ministério Público estourou 2% das receitas, da mesma maneira que o Judiciário. Ou seja, Assembleias e tribunais estourando as receitas.
– E como você acha que poderíamos atuar?
Ai Guedes foi baixando a bola, e transmudando do fundamentalismo econômico para o terrorismo político. Literalmente baixou nele o espírito de Savonalora, o monge dominicano que ganhou fama prevendo o fim do mundo e das instituições – e terminou na fogueira -, precursor erudito do famosíssimo Beato Salu, o personagem de Dias Gomes que previa o fim dos tempos e com o qual Guedes era confundido em meados dos anos 90, por exorbitar do estratagema de prever o fim do mundo.
Dizia agora, o Savonalora tupiniquim:
– O país não tem mais centro. Ganhamos a eleição por causa do ódio político do outro lado, que é o Lula. Ou nós damos certos ou vamos para a guilhotina. O Brasil é uma Versalhes esperando a hora da guilhotina!
Um conselheiro pensou em perguntar “nós, quem, cara pálida?”, mas se conteve. diferença entre o Palácio de Versalhes e a República dos Bolsonaro é o nível de sofisticação entre um e outro. Guedes deixou o grupo de presidentes de TCs de boca aberta e de olhos arregalados, não por receio de perder o pescoço, mas de perder a razão com as pirações brasilienses.
Depois, toca a trocar ideias para entender de onde vinha toda aquela piração do Ministro. Não foi necessário muito tempo para identificar o guru das pirações: o Ministro do TCU Augusto Nardes, apadrinhado pelo conterrâneo Onix Lorenzoni e assessorado por Júlio Marcelo, o funcionário do TCU que foi testemunha central das pedaladas que levaram ao impeachment de Dilma.
Assim como seus colegas da Lava Jato, Marcelo cavalgou as ondas do impeachment e do moralismo e foi buscar sua parte no butim enganchado em um chefe suspeito de corrupção – Bolsonaro, no caso de Sérgio Moro; Nardes, no caso de Júlio Marcelo.
Por influência de Onix, Nardes se tornou o guru do modelo de gestão de Bolsonaro. Trata-se de um trio infernal, à altura da refundação da República prevista pelo Ministro Luis Roberto Barroso: Onix, Nardes e Guedes.
Aliás, a aliança do TCU com o governo Bolsonaro é tão ampla, que Guedes trouxe funcionários do órgão para sua assessoria pessoal.
Dia desses, o governo Bolsonaro juntou todos seus Ministros para assistir uma aula de práticas de boa governança ensinadas pelo inacreditável Nardes. Foram quase quatro horas de pura perda de tempo, com aulas do que se poderia classificar como auto-ajuda de gestão. O Power Point de Nardes é um acúmulo de lâminas com frases padrão de programas de qualidade, provavelmente reunidas por algum assessor. A exposição é de envergonhar qualquer estudante básico de administração.
Mas no reino dos Bolsonaros, a meritocracia vale apenas para os diletantes de Twitter.
Para completar o reino, o grande Marcos Cintra, economista que passou os últimos 40 anos com a mesma bandeira do imposto único, se pôs a campo no Twitter, atacando os parlamentares e dizendo que a equipe de Paulo Guedes é muito criativa. Tendo como guru gerencial Augusto Nardes, questionar, quem há de?

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