terça-feira, 12 de outubro de 2021

O PAÍS ONDE SER NEGRO OU MULHER É COMORBIDADE

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Da série os ecos brutais da pandemia covid-19.


Por Hellen Guimarães e Renata Buono 

abismo entre as classes sociais no Brasil fez com que a pandemia atingisse em cheio os mais pobres. Mas, não bastasse isso, a chance de um brasileiro sobreviver à Covid-19 esteve atrelada, desde o começo, a seu gênero e sua raça. É o que demonstra um estudo da Rede de Pesquisa Solidária, baseado em dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde sobre os óbitos por Covid registrados em 2020. Os pesquisadores analisaram as informações de vítimas que tinham profissão registrada no cadastro do SUS. Com isso, apuraram quantos profissionais de cada área morreram na pandemia, mas também quem eram essas pessoas – se eram homens, mulheres, brancos ou negros. O resultado mostrou que, entre grupos menos privilegiados, o risco de morrer de Covid-19 é quase sempre maior do que entre homens brancos. Os homens negros, por exemplo, têm mais risco de morrer não só em profissões de menor remuneração, que geralmente sofrem com maior exposição ao vírus, mas também em carreiras que exigem diploma universitário. As mulheres negras têm risco de morte maior do que homens brancos em todas as profissões que compõem a base da pirâmide social. Confira no =igualdades.

Em números absolutos, o setor de Comércio e Serviços foi o que teve a maior quantidade de trabalhadores vitimados pela Covid-19 no Brasil. Ao todo, foram 6.420 mortos, quase o dobro das outras duas áreas com mais vítimas da doença. A Agricultura perdeu 3.384 trabalhadores, enquanto o setor de Transportes registrou 3.367 mortes pelo coronavírus.

Entre as 29 ocupações listadas pelo estudo, os líderes religiosos tiveram o maior percentual de mortes causadas pela Covid-19. De todos os registros de óbitos de pessoas que ocupam essa função, 44% ocorreram em decorrência da doença. A taxa é quase o dobro daquela verificada entre profissionais de Segurança (25,4%) e Saúde (24%).

Em média, profissionais negros do topo do mercado de trabalho têm risco 45% maior de morrer de Covid-19 que os homens brancos nas mesmas funções. Entre engenheiros, arquitetos e outros profissionais de nível superior, a chance é 44% maior. Entre advogados, os homens negros têm probabilidade 43% maior de vir a óbito que os homens brancos infectados pelo coronavírus. Para profissionais da comunicação, o risco é 45% maior e, finalmente, entre contadores ou administradores, 49%.

Mulheres negras têm mais que o dobro de risco de morrer de Covid-19 que homens brancos que atuam como alimentadores da linha de produção: 146%. Para mulheres brancas, o risco é quase o dobro (95%), e, para homens negros, é 67% maior. O estudo aponta dois fatores principais para essas diferenças. Uma delas é o modo de inserção no mercado de trabalho, que tende a ser mais precário para mulheres em relação aos homens e para negros em relação a brancos, seja pelo tipo de vínculo (formal ou informal) ou pela estrutura do estabelecimento onde atuam. A outra é a desigualdade de acesso a recursos que se somam a fatores ambientais, como saúde, transporte, moradia e alimentação.

Mulheres brancas que atuam como agentes de saúde ou do meio ambiente estão quase três vezes mais sujeitas a morrer de Covid-19 que homens brancos na mesma função. O risco enfrentado por elas é 172% maior que o deles, a maior diferença verificada pelo estudo em todas as ocupações listadas. Homens negros não ficam muito atrás: para eles, o risco é 146% maior que o dos brancos. (...).  -  (Para conferir a matéria completa, clique Aqui).

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