domingo, 17 de outubro de 2021

CAHIERS DU CINEMA, 70 ANOS

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"Além da intensa influência nos críticos de cinema de diversos países, entendo que os leitores da Cahiers du Cinema, em todo seu período de atuação, foram privilegiados com um  aprendizado diferenciado sobre cinema em cada edição. Afinal, a crítica de cinema tem como objetivo alcançar o público com opiniões e conceitos que possam colaborar em argumentações de uma obra fílmica."

               
(Uma das edições do Cahiers, com o
                     consagrado Martin Scorsese na capa)

Por Marco Antonio Moreira

A história do cinema tem personalidades instigantes que, frequentemente, estão nos filmes, na frente de uma câmera, ou na produção e direção de uma obra cinematográfica. Mas é necessário destacar aqueles que contribuíram com propostas de interpretar o cinema por meio de diversas interpretações: os críticos de cinema. Estes profissionais do cinema, assim como críticos de outras artes, têm várias premissas em torno do seu trabalho. Os críticos podem evidenciar e preferir um cinema mais comprometido com o entretenimento ou entender que o cinema tem complexidades temáticas e estéticas que precisam ser apreciadas e estudadas. A revista Cahiers du Cinema é uma referência essencial sobre conceitos críticos de análise da complexidade e abrangente transformação estética que surgem o Cinema, desde sua criação. Por essa razão, entre outras, fez história além das telas do cinema e, no ano de seu 70ª aniversário de fundação, é preciso ser evidenciada como a revista mais influente da história do cinema. 

A Cahiers du Cinéma foi fundada em março de 1951 por um grupo de críticos e pesquisadores, entre eles, André Bazin,  um dos mais importantes críticos e teóricos do cinema que tem extraordinário histórico de ações cinéfilas que o tornaram uma constante referência para todos aqueles que estudam e gostam de cinema. Com pouco tempo de atividade, no início dos anos 1950, a Cahiers du Cinema tornou-se uma das revistas mais significativas sobre  a sétima arte porque incentivava o estudo do cinema, o pensamento cinematográfico, estimulava  outras e novas interpretações sobre os filmes e, muitas vezes, gerava polêmicas relevantes sobre o cinema como meio de  questionar dogmas cinematográficos. Ou seja, houve indicação de uma intensa cinefilia diferenciada e ativa sobre o cinema.

Nos anos 1950, na redação do Cahiers du Cinema, muitos críticos, chamados de jovens turcos, lutaram pela politica do autor no cinema, ou seja, evidenciaram a importância do diretor em um filme. Entre estes críticos, futuros cineastas como Jean-Luc Godard, Jacques Rivette, Claude Chabrol e François Truffaut. Entendo que defender a política dos autores é uma das finalidades da crítica cinematográfica. Pensar o cinema é importante porque o cinema nos faz pensar e, sem dúvida, o diretor deve ser soberano quando realiza um filme. Desse modo, em um período que pouco se valorizou a obra de diversos cineastas rotulados como comerciais, os críticos de Cahiers du Cinema foram responsáveis por maior reconhecimento de cineastas como Alfred Hitchcock, Howard Hawks, Samuel Fuller e Nicholas Ray, entre outros diretores.

Além de evidenciar os diretores como os verdadeiros autores de uma obra cinematográfica, e afirmarem sua necessária liberdade artística, diversos críticos da revista colocaram em evidência filmes com propostas estéticas diferenciadas com intensas argumentações e teorias cinematográficas para seus leitores. Na postura audaciosa de pensar cinema, essa revista influenciou diversas gerações de críticos cinematográficos. Em Belém, amigos e críticos da associação de críticos como Vicente Cecim, José Otávio Pinto e Luzia Álvares foram influenciados por várias premissas da revista. Meu pensamento sobre o cinema também tem forte influência da Cahiers du Cinema.

Durante muitos anos, a escolha dos melhores filmes do ano da revista era uma referência obrigatória para muitos cinemaníacos que, posteriormente, procuravam assistir estes filmes no circuito nacional, local ou por meio do VHS ou DVD. Nos últimos anos, a procura pelos filmes preferidos dos críticos desta revista está vinculada aos canais  streaming como MUBI. É evidente que outras publicações sobre cinema reuniram ótimos críticos, mas é preciso afirmar que a qualidade dos textos e opiniões do Cahiers du Cinema sempre mereceram atenção especial daqueles que são ávidos por críticas diferenciadas sobre filmes.

Além da intensa influência nos críticos de cinema de diversos países, entendo que os leitores da Cahiers du Cinema, em todo seu período de atuação, foram privilegiados com um  aprendizado diferenciado sobre cinema em cada edição. Afinal, a crítica de cinema tem como objetivo alcançar o público com opiniões e conceitos que possam colaborar em argumentações de uma obra fílmica. Dessa maneira, celebrar e diversidade da Cahiers du Cinema é ratificar que a crítica cinematográfica precisa ser apreciada. Entendo que esta revista ratifica, continuamente, a diversidade do pensamento cinematográfico de seus colaboradores e, de alguma maneira, de outros críticos de cinema que têm extraordinário legado de interpretações sobre a sétima arte.

Parabéns à revista Cahiers du Cinema que, apesar de diversas dificuldades para prosseguir seu trabalho cinéfilo, mantém-se como a revista mais influente do cinema. Acesse as matérias e críticas desta revista em cahiersducinema.com

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(Texto publicado n'O Liberal, de Belém - Aqui -. Marco Antonio Moreira é presidente da Associação dos Críticos de Cinema do Pará - ACCPA -, membro-fundador da Associação Brasileira de Críticos de Cinema - ABRACCINE - e membro da Academia Paraense de Ciências. Doutorando em Artes pelo PPGARTES/UFPA; Mestre em Artes pela UFPA. Professor de Cinema em várias instituições de ensino, coordenador-geral do Centro de Estudos Cinematográficos - CEC -, crítico de cinema e pesquisador).

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