"...é possível fazer muito mais, com resultados rápidos, para o início de um ciclo de crescimento que JAMAIS se dará exclusivamente pelos pretendidos investimentos em concessões e privatizações, que, mesmo que existam, o que é ainda duvidoso, NÃO terão a força para gerar empregos, demanda e mover a roda da economia para o crescimento. ... A economia brasileira jamais sairá da recessão sem a ação do Estado, toda a História Econômica dos últimos 200 anos mostra que só o Estado tem os instrumentos MACRO para resolver crises econômicas. ... Com todas as lições da História, é inacreditável que ainda existam mentes no Brasil que se iludem com a quimera do 'investidor' resgatando o País da crise."
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De fato, de fato. Porém, 'fica difícil' quando o Estado é de antemão considerado um obstáculo ao desenvolvimento (daí o Estado Mínimo), quando a mídia oferece apoio pleno à política de entrega do patrimônio nacional, quando os carentes de aptidões restam desamparados, tratados como estorvo ('custosos', 'onerosos', lembrando a ministra francesa que cunhou a célebre "o horror, o horror", referindo-se aos alijados pelo sistema que se pretendia implantar quando do início da globalização).
Bolsa respiro ou a estagnação da miséria
Por André Araújo
Quando Franklin Roosevelt assumiu a Presidência dos Estados Unidos em março de 1933, encontrou a economia em ruínas, com uma taxa de desemprego superior a 25%, milhares de bancos fechados, fábricas paralisadas, não havia nenhuma perspectiva de saída da então considerada a Grande Depressão, causada não apenas pela queda da Bolsa de Nova York em outubro de 1929, mas mais ainda pelas políticas ortodoxas, de corte de gastos públicos, do seu antecessor Herbert Hoover, um Republicano que achava não haver outro caminho que não fosse o “ajuste fiscal” para compensar a queda de arrecadação e nada mais havia a fazer.
A Depressão acabaria em algum momento do futuro por ação divina, isso o que pensavam os conservadores empedernidos, era esperar que o sacrossanto “mercado” resolvesse sozinho a crise. Roosevelt, aconselhado por Keynes, tinha outra proposta. Os conselhos de Keynes vieram por uma carta aberta publicada no jornal The New York Times de 31 de maio de 1933, mas Keynes já se correspondia antes com Roosevelt.
Roosevelt lançou um plano de grandes investimentos públicos, o NEW DEAL, para criar empregos, mas sabia que esses gastos levariam tempo para ser implementados, era preciso algo mais imediato e de efeitos rápidos para gerar renda e demanda para fazer andar a roda da economia.
Criou então o CIVILIAN CONSERVATION CORPS, o Serviço Civil de Conservação, para limpeza e reparos em parques e rodovias, recrutando todos os jovens de 18 a 25 anos que se apresentassem, depois alargou para 17 a 28 anos, TODOS seriam contratados com um salário de 30 dólares ao mês, hoje equivalente a 580 dólares, mais alojamento, comida e saúde garantidos. Passaram pelo programa 3 milhões de jovens, gerando renda e demanda, que foi o começo da recuperação econômica. Esse foi apenas um dos programas do NEW DEAL, outro foi a COMPANHIA FINANCEIRA DE RECONSTRUÇÃO (Reconstruction Finance Corp.), para resgatar 8.000 bancos falidos e milhares de fábricas fechadas, FOI UM RESGATE DA ECONOMIA PELO ESTADO, para horror dos “conservadores” liderados por Hoover e seu secretário do Tesouro, Andre Mellon, bilionário banqueiro de Pittsburgh, que achavam que as medidas de Roosevelt eram aparentadas com o “comunismo soviético”.
A Suprema Corte, quase toda nomeada pelos Republicanos, tentou barrar o New Deal. Roosevelt ameaçou aumentar o número de juízes de 9 para 17; foi impressionante a força de Roosevelt para enfrentar os conservadores e resgatar a economia CONTRA a vontade deles, que não se sensibilizavam com a miséria dos desempregados que dormiam nas ruas, um drama que foi magistralmente tratado pela DRAMATURGIA SOCIAL AMERICANA, por escritores como Arthur Miller, Theodore Dreiser, William Faulkner, Eugene O’Neill, Clifford Odetts, Ernest Hemingway, mostrando uma crise social que depois foi esquecida pelos neoliberais dos anos 70 e mais ainda pelos neoliberais brasileiros.
Para poder implementar o New Deal era fundamental operar uma POLÍTICA MONETÁRIA EXPANSIONISTA, imprimindo dólares, o que só seria possível trocando o comando do banco central, o Federal Reserve System, cujo Chairman, Eugene Meyer, foi demitido por Roosevelt logo no início de seu governo.
Apesar da grande expansão monetária para financiar o New Deal, não houve inflação porque havia capacidade ociosa na economia, como há hoje no Brasil.
Aos tolos que propõem a independência do nosso Banco Central, lembrem-se que nos EUA a independência do FED é mais teórica do que real. Roosevelt demitiu Eugene Meyer e Truman demitiu Thomas MC Cabe, sem nenhum problema; Trump ameaça demitir Jerome Powell, que ele mesmo nomeou.
UMA BOLSA RESPIRO
Programas sociais de rápido efeito são possíveis no Brasil, o Bolsa Família é apenas um deles, mas é possível criar outros com novos critérios, a exemplo do Civilian Conservation Corps. O economista MILTON FRIEDMAN, guru de tanta coisa para os neoliberais, tinha perfeita noção da importância de programas sociais. Ele propôs a criação de um mecanismo que é a ideia-base do BOLSA FAMÍLIA, para aqueles que NÃO TÊM COMO COMPETIR NO MERCADO, por insuficiência de aptidões de origem familiar e educacional.
Friedman tinha consciência de que o SISTEMA DE MERCADO só funciona com agentes aptos a operar no mercado por aptidões presentes em suas capacidades pessoais. Ele era um intelectual civilizado e humano e tinha perfeita consciência de que o sistema de mercado era o melhor MAS não era perfeito. Esse lado intelectual de Friedman é desprezado pelos neoliberais, inclusive a aptidão de Friedman de rever muitos de seus dogmas, o que fez no fim da vida em longas conversas com seu adversário doutrinário, Alan Greenspan.
Traço um longo perfil de Friedman em meu livro de 2005, MOEDA E PROSPERIDADE (Top Books), pelo qual se vê que os neoliberais brasileiros usam uma pequena parte do instrumental do guru de Chicago, só a parte que lhes interessa, e não o conjunto do sistema, que pouco compreenderam.
Os saques antecipados do FGTS são um mecanismo da categoria de BOLSA RESPIRO para mover a demanda MAS é possível fazer muito mais, com resultados rápidos, para o início de um ciclo de crescimento que JAMAIS se dará exclusivamente pelos pretendidos investimentos em concessões e privatizações, que, mesmo que existam, o que é ainda duvidoso, NÃO terão a força para gerar empregos, demanda e mover a roda da economia para o crescimento.
A economia brasileira jamais sairá da recessão sem a ação do Estado, toda a História Econômica dos últimos 200 anos mostra que só o Estado tem os instrumentos MACRO para resolver crises econômicas, a última prova foi em 2008 na economia liberal dos EUA, salva pelo Tesouro.
Com todas as lições da História, é inacreditável que ainda existam mentes no Brasil que se iludem com a quimera do “investidor” resgatando o País da crise. - (Fonte: Jornal GGN - Aqui).
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