segunda-feira, 21 de outubro de 2019

A ECONOMIA BRASILEIRA, SEGUNDO A GLOBONEWS

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"É melhor seguir o script ideológico da casa: PARA O MERCADO TUDO, para políticas públicas, NADA. A solução para eles é: ou o mercado resolve ou é melhor vender o Brasil para estatais chinesas."  -  (Pano rápido).


A economia brasileira, segundo a GloboNews

Por André Araújo

O SISTEMA GLOBO DE TELEVISÃO é hoje uma raridade mundial, uma rede que funciona como partido político, com agenda própria e convicção ideológica.
As grandes redes por assinatura, como a CNN (em inglês e em espanhol), a TV5 francesa, a TVE espanhola, a BBC britânica, a SIC portuguesa, a excelente DEUTSCHE WELLE têm como regra a PLURALIDADE de opiniões nos seus comentários próprios e nos comentários de convidados a dar sua posição.
A regra nas opiniões e debates é o CONTRAPONTO ao chamado “mainstream” do oficialismo político e econômico. Os debates na CNN são vigorosos, ácidos, contra-pontuais ao extremo sobre política dos EUA, do México, sobre concentração de renda, ambientalismo, questões de gênero.
No quesito ECONOMIA, as grandes redes convidam expositores de esquerda, de centro e de “market oriented voices”, aqueles que só conhecem e veem o ”business” como razão de vida.
Já a GLOBONEWS não tem nenhuma dúvida. Para o canal, a economia brasileira se resume ao mercado financeiro e ponto.
Nos programas EM PONTO, JORNAL DAS DEZ, EM PAUTA, só são convidados a falar de economia OPERADORES E CONSULTORES VINCULADOS AO MERCADO FINANCEIRO. Não são convidados pessoas que criam frango, por exemplo, fabricantes de sapatos, vendedores de camisas. Nada disso interessa, apenas os sempre disponíveis “rapazes do mercado”, de corretoras e bancos de investimento e, quando raramente chamam um professor, é da PUC-Rio ou da FGV-Rio, IBRE-Rio, IBEMEC-Rio, Casa das Garças, Institutos Millenium e von Mises. Nem pensar em UNICAMP, USP ou mesmo UFRJ; são convidados, porque são fanáticos ideológicos neoliberais pro-cortes em educação e saúde, pró-dolarização, anti-indústria, anti-emprego, pro-deflação e pro-privatizações de tudo, e de preferência para estrangeiros
Na GLOBONEWS, só vale a “equipe dos sonhos” de Paulo Guedes, gente como Salim Mattar, que quer vender a Floresta da Tijuca, ou como o presidente-garoto do BNDES, cujo primeiro emprego é presidir o maior banco de fomento do mundo.
O rico, riquíssimo debate sobre a economia brasileira que envolveu um Roberto Simonsen, um Eugenio Gudin, um Roberto Campos, um Celso Furtado, um Romulo de Almeida, um Delfim Neto, nem passa na calçada da GLOBONEWS.
Para o canal, valem nomes que estão sempre disponíveis há vinte anos, sempre os mesmos da “extrema-direita econômica” como um Padovani, André Perfeito, Mailson, José Márcio Camargo, o pessoal da Tendências, da XP. Todos sempre com a mesmíssima linguagem: “o Brasil precisa de competitividade”, de “economia aberta”, “sem déficit fiscal”, “reformas de tudo”, “atrair o investidor”, “melhorar o ambiente de negócios”, a mesma cartilha repetida mil vezes, “a mesma receita para doenças diferentes”, célebre frase do grande economista do desenvolvimento Albert Hirschman. É também uma pobreza intelectual, de conhecimento da História econômica do mundo e do Brasi.
Existem SOLUÇÕES COMBINADAS para economias complexas. Pode-se ser ortodoxo em um ponto e heterodoxo em outro. A política econômica não é binária, é uma combinação de articulações.
Até economistas doutrinários como Milton Friedman previam saídas não ortodoxas para determinadas situações, “dar dinheiro de helicóptero” em determinados contextos pode ser mais barato do que tratar de dez milhões de doentes físicos e mentais causados pela pobreza extrema.
MAS NÃO, eles não têm qualquer receita, além de um ovo frito. Diversidade de ideias não é com a GLOBONEWS, onde seguem apenas uma cartilha. Dizem que a mestra que escreve na lousa é Miriam Leitão. Deve ser mesmo, é impossível que Sardenberg e outros do “time da economia” tenham alguma ideia na cabeça. Pensamento original pode dar ressaca. É melhor seguir o script ideológico da casa: PARA O MERCADO TUDO, para políticas públicas, NADA. A solução para eles é: ou o mercado resolve ou é melhor vender o Brasil para estatais chinesas.
Daí eu pergunto: Que tal vender já para não perder tempo?
A mega-tarefa da GLOBONEWS para servir ao “mercado” é propagar 24 horas por dia que:
“O BRASIL ESTÁ QUEBRADO, a PETROBRAS está quebrada, a ELETROBRAS está quebrada e que a CAIXA, o BNDES e o BANCO DO BRASIL nem deveriam existir. Logo, é melhor vender tudo porque o BRASIL DÁ PREJUÍZO. Vendendo tudo, VIRÃO OS INVESTIDORES e aí serão criados muitos empregos e seremos felizes para sempre.
Assinado por Branca de Neve Leitão”.  -  (Fonte: Aqui).
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Diante do quê, a GloboNews poderia contar com três opções de manifestação (além do silêncio, claro):  

(a) a la Drummond: "Ué, por que a estranheza? Estamos onde sempre estivemos!"; 

(b) a la O Pasquim, nos áureos tempos d'O Pasquim, no governo João Figueiredo, quando a turma do destemido hebdomadário lançou uma série que pegou de jeito os adesistas da época, todos eles recorrendo ao mote: "Nós precisamos sobreviver, entende?";

(c) ou simplesmente: "Os escrúpulos são meus, e eu faço com eles o que quiser!".

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