.
Calote de bancos socorridos por FHC é sete vezes maior que o total recuperado pela Lava Jato
Consta que o setor bancário, generosamente beneficiado no governo FHC no início dos anos 1990 mediante o Proer, foi poupado pela Lava Jato, operação deflagrada em março de 2014. Consta que certos dirigentes da Petrobrás, a exemplo de Pedro Barusco, foram admitidos nos anos 1990 (Barusco em 1997), profissionais mantidos em seus cargos em 2003 por imposição de partidos políticos que dominavam o conglomerado Petrobrás, em troca de apoio ao governo Lula, que, recém eleito, só contava com 17% do Congresso Nacional, precisava de parceiros para assegurar a governabilidade - e, à vista dos registros efetuados por órgãos de controle, desconhecia quaisquer ocorrências capazes de comprometer o conceito dos executivos da estatal. Consta que a Lava Jato, ao estabelecer o 'horizonte temporal' de suas investigações, fixou-o em 2003, 'esquecendo', dessa forma, o governo FHC. Eis, em linhas gerais, por que se torna interessante estabelecer o 'confronto monetário' entre Proer e Lava Jato.
Por Marina Barbosa
Criado no governo Fernando Henrique Cardoso para oferecer auxílio econômico aos bancos brasileiros que quebraram com o processo de controle inflacionário do início dos anos 1990, o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (Proer) ainda custa muito aos cofres da União. Em resposta a um pedido de informação apresentado pelo deputado Gustavo Fruet (PDT-PR), o Banco Central explica que dois dos bancos privados atendidos pelo Proer ainda não quitaram os débitos com a União.
A dívida se acumula há mais de 20 anos e já chega a R$ 28 bilhões - quase o mesmo valor contingenciado pelo governo federal no início deste ano. E sete vezes os R$ 3,8 bilhões que a força-tarefa em Curitiba conseguiu reaver para os cofres públicos na Operação Lava Jato, conforme dados atualizados pelo Ministério Público Federal no último dia 25.
Segundo a resposta enviada pelo Banco Central a Gustavo Fruet, só o extinto Banco Nacional tem um saldo devedor de R$ 20,659 bilhões com o Proer. Criado pela família Magalhães Pinto, o banco era um dos maiores do país, mas quebrou no início dos anos 1990 e, por isso, foi liquidado pelo Banco Central durante o Proer. A "parte boa" do banco foi comprada pelo Unibanco, mas o restante continua em liquidação.
A outra grande parte da dívida é do Banco Econômico, que enfrenta a mesma situação do Nacional. Segundo o BC, o Banco Econômico amortizou R$ 12,732 bilhões do seu débito em 2013 e parcelou o restante em 180 meses. O saldo devedor, porém, ainda é de R$ 7,35 bilhões. Outros R$ 26 milhões são devidos pelo Crefisur. Já os bancos Bamerindus, Mercantil, Banorte e Pontual, além da Caixa Econômica Federal, também socorridos à época, já quitaram as contas com o Proer.
"É algo muito expressivo num momento de crise como esse", comentou o deputado Gustavo Fruet. "O valor é mais de três vezes o orçamento (R$ 9 bilhões em 2019) de uma cidade do porte de Curitiba, com quase dois milhões de habitantes. E quase o total contingenciado (R$ 31 bilhões) pelo governo no Orçamento da União em 2019", comparou. Em artigo exclusivo para o Congresso em Foco sobre o assunto, Fruet diz que o caso é um exemplo da "arte da ineficiência" no país.
Valores desatualizados
Fruet ressalta ainda que, apesar de expressivo, o valor não é atualizado pelo Banco Central desde 2012. Na época, o deputado também pediu o balanço do Proer e recebeu o mesmo saldo devedor de R$ 28 bilhões do BC. Por isso, agora Fruet pediu auxílio da consultoria técnica da Câmara para saber o que pode ser feito para pressionar as autoridades competentes a fiscalizarem essa dívida. "Encaminhei um pedido para a consultoria da Câmara para avaliar quais procedimentos podem ser adotados no Congresso. A intenção é atualizar informações e pedir que seja cumprido o papel de fiscalizador do sistema financeiro nacional", afirmou.
O deputado do PDT, que foi presidente da CPI do Proer em 2002, explica que mais de 80 pessoas já foram denunciadas pelo Proer, mas nenhuma delas foi presa. Também já foi acordado que o Banco Central deveria atualizar esse saldo devedor há cada seis meses, o que, segundo ele, não está acontecendo. "Todo aparato jurídico movimentado teve pouco efeito na recuperação dos recursos aportados aos bancos através do Proer", justificou Fruet.
"Impressionante a incapacidade brasileira em estabelecer prioridades na administração pública do país. Pautas, que poderiam inclusive ajudar as recuperar as contas públicas, acabam sobrepostas pela dinâmica acelerada do cotidiano e por interesses 'maiores'".
O Banco Central foi procurado pela reportagem, mas não se manifestou sobre o assunto. - (Fonte: Congresso em Foco - Aqui).
Nenhum comentário:
Postar um comentário