"Uma das facetas mais curiosas do fundamentalismo religioso brasileiro são os chamados fundamentalistas hi-tech. Transitam em ambientes pretensamente modernos, têm-se em conta como agentes da modernidade e da civilização, e são uma espécie de Antônio Conselheiro às avessas.
O original foi tocado pela mão de Deus para salvar os pobres e descamisados. Os novos Conselheiros receberam a missão de salvar o Brasil dos pobres e descamisados.
São imbuídos do mesmo espírito redentorista dos velhos bruxos. Ao contrário dos demiurgos, ambicionam prazeres muito mais terrenos. Ou seja, são tocados pela mão de Deus para salvar o país, mas querem sua parte em compensações mundanas imediatas.
De Deltan Dallagnol já se sabia dessa face, meio mística, meio argentária. No caso de Luis Roberto Barroso, o livro “Os Onze”, de Felipe Recondo e Luiz Weber, sobre o STF (Supremo Tribunal Federal) relata como sua supina vaidade foi crescendo até o ponto de, em certo momento, ver a mão de Deus conduzindo seu destino manifesto, de pregador do novo iluminismo.
O toque divino veio através do médium João de Deus. Diagnosticado com câncer, Barroso foi se tratar com João, e Deus mandou o recado: “Você não vai morrer: você tem uma missão a cumprir” (página 209). E Barroso, que se pretendia um seguidor terreno de Joaquim Nabuco, Ruy Barbosa e San Tiago Dantas, foi literalmente para o além. Tornou-se um pregador, não no deserto, mas nos salões. E com belos cachês porque, afinal, não é todo dia que os fiéis podem falar diretamente com um ungido de Deus.
É essa a tragédia brasileira, o supremo paradoxo, dos babalorixás de gravata usarem como discurso o iluminismo e o processo civilizatório."
(De Luis Nassif, texto intitulado "Recado do Nassif: o fundamentalismo e a mão de Deus em Barroso e Dallagnol", publicado no GGN - Aqui.
(De Luis Nassif, texto intitulado "Recado do Nassif: o fundamentalismo e a mão de Deus em Barroso e Dallagnol", publicado no GGN - Aqui.
Na verdade, todos têm o direito de se considerarem iluminados, pairando sobre o bem e o mal. O problema ocorre quando se recusam a submeter-se à Constituição, e, pior, como Barroso e Dallagnol orgulharem-se disso. A cereja do bolo são os aplausos da plateia e o estímulo, mesmo velado, de certos pares. Consta que o senhor Barroso brilhou meses atrás em pesquisa realizada entre doutos magistrados: o mais admirado dos ministros da Corte. [A propósito, representaria tal avaliação um sintoma da resistência que se está a ver, por parte de setores da categoria, relativamente à Lei do Abuso de Autoridade, a vigorar a partir de janeiro?!].
Permitimo-nos sugerir a leitura no post "OS ONZE - O Supremo, seus bastidores e suas crises", reproduzido por este Blog em 30.09.19, do mesmo autor do texto acima - AQUI - e que mereceu a seguinte 'apresentação' por parte deste escriba:
"Este Blog costuma, ao reproduzir alguns textos, utilizar a 'cabeça' (este espaço) para emitir alguma impressão e/ou destacar trecho(s) marcante(s). Desta feita, nada será destacado, tal a miríade de idiossincrasias e fogueiras da vaidade alinhadas por Felipe Recondo e Luiz Weber, autores de "Os Onze", cuja metade, aliás, aguarda leitura do analista Luis Nassif. O recomendável é comprar o livro e refestelar-se (ou descontentar-se) com as revelações nele contidas. Leitura imperdível de uma obra que certamente confirmará muitas das inferências e 'leituras de cenários' que concebemos ao longo desses tortuosos anos.").
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