segunda-feira, 7 de outubro de 2019

QUAL É A PROVA, PALOCCI? 'MINHA PALAVRA!'

.
"...a que atribuir esse suicídio continuado (da mídia)?".
Simples: à expectativa de que as matérias veiculadas cheguem ao alvo desejado e apresentem 100% de eficácia, atingindo corações e mentes, que desconhecem a lei da colaboração premiada (e que a recusa do Ministério Público em aceitar a delação de Palocci por absoluta falta de provas implicou a modificação da lei, que passou a admitir a celebração de acordos também pela PF) e, melhor ainda, não ligam a mínima para a Constituição Federal e seu garantismo (Lei Maior da Nação mas que nem mesmo no aniversário de sua promulgação merece registro midiático). Para incensar a Lava Jato, sonegando ao público informações cruciais, vale qualquer 'sacrifício', até o suicídio continuado.


As novas fakenews da Lava Jato  e o suicídio continuado da mídia 

Por Luis Nassif

A brava mídia brasileira é mais sugestionável que o ratinho de Pavlov. Está-se em pleno processo de desnudamento do mais prolongado período de antijornalismo da história, no qual a Lava Jato trazia a mídia pela mão, meramente acenando com a cenoura (ou o queijo) de alguma notícia, de um fakenews ou de uma falsa ênfase.
Há um esforço insano para poupar os jornalistas e veículos que participaram desse espetáculo dantesco de antijornalismo, uma vergonha parada no ar, a espera de uma autocrítica em um ponto qualquer de um futuro distante.
No meio do processo, a Lava Jato saca mais algumas cenouras, e os ratinhos de Pavlov recomeçam a bailar.
Alguns exemplos recentíssimos:

Veja – a revista, que ganhou a parceria do The Intercept para se redimir de todos os pecados passados, que destruíram sua credibilidade, estampa a chamada nas redes sociais: “Proposta de delação de Renato Duque tem prova inédita contra Dilma”.
O pobre do leitor vai atrás e encontra um selfie de Duque com Dilma. É a tal prova inédita da cumplicidade. Dilma foi por anos presidente do Conselho da Petrobras. Tinha pelo menos uma reunião por mês com Duque. Posa para uma foto meiga de Duque. Não há nenhum valor legal, como prova e, em jornalismo sério, nenhum valor jornalístico, a não ser por mera curiosidade na seção de Gente. Pouco importa! Não se preocupam sequer em informar que Duque é um réu que passou anos preso até aceitar delatar. E provavelmente a Lava Jato passou a perna no delator, como faz com Leo Pinheiro. O sujeito entrega a alma – a delação preparada pelos procuradores – e a delação não será homologada, por falta absoluta de provas.
O caso Manuela – ao contrário de Deltan Dallagnol, Manuela Dávila entrega seu celular para ser periciado pela Polícia Federal, com os diálogos que manteve com os hackers. Os policiais-repórteres da PF tratam de vazar os diálogos para os repórteres-policiais da mídia, tratando o caso como uma revelação secreta de segredos recônditos. E jornalistas que questionaram o vazamento de informações do Intercept – prática jornalista saudável – se calam com os vazamentos da PF – vazamento efetuado por agente público, portanto prática criminosa.
A milésima delação de Palocci – Antonio Palocci, que enriqueceu no exercício do cargo, narra suas peripécias com Andre Esteves, do BTG. E, para atender às demandas da PF, diz que as operações de insider eram negociadas diretamente com Dilma e Lula. Qual a prova? Sua palavra. No mesmo dia, espontaneamente Marcelo Odebrecht, organizador do maior esquema de corrupção da história, dá um depoimento em um inquérito e espontaneamente diz que jamais tratou de propinas ou compensações com Lula e Dilma. A delação de Palocci não passaria nem pelo crivo básico da verossimilhança. Mas tem tratamento de notícia séria.
Em um momento em que a mídia é atacada por todos os lados, em que sua única arma contra as milícias digitais é a recuperação da credibilidade jornalística, a que atribuir esse suicídio continuado?  -  (Aqui).

Nenhum comentário: