Outro erro da Lava Jato mostra ter grandes consequências: eles subestimaram a estatura moral de Lula.
Lula surgiu das entranhas do sindicalismo oficial e converteu-se no maior líder operário de nossa história. Mostrou coragem e tirocínio político ao comandar as greves que puseram em xeque a ditadura. Esteve à frente do projeto de um partido de esquerda de novo tipo, tornou-se a voz maior das oposições e delineou um caminho próprio para alcançar e exercer o poder, que a literatura acadêmica hoje alcunha de “lulismo”.
O lulismo foi uma estratégia de transformação social muito moderada, a fim de evitar atrito com os grupos dominantes. Para seus muitos críticos, entre os quais sempre me incluí, Lula se acomodou bem demais à posição de gestor do nosso capitalismo subalterno. Tornou-se amigo de empreiteiros, de financistas e de oligarcas. Tornou-se um mestre da nossa política tradicional, corrompida e excludente. Levava adiante o combate à pobreza extrema e apontava para um horizonte de nacionalismo econômico, mas evitava ciosamente dar qualquer outro passo que melindrasse seus novos parceiros.
A fúria com que as nossas velhas elites se voltaram contra ele e contra seu partido claramente o pegou de surpresa. Mesmo depois do golpe, mesmo depois da prisão, Lula não deixou de expressar sua mágoa com aqueles que romperam unilateralmente um pacto que lhes era muito favorável e que o próprio Lula cumpriu com tanto zelo.
A Lava Jato apostou, então, que a perseguição – que culminou na absurda prisão, que se prolonga há quase ano e meio – produziria um Lula abatido. Um Lula alquebrado.
Um Lula incapaz de aceitar a mudança na sua vida – dos jantares de Estado e dos agrados dos poderosos ao banco dos réus e à pequena cela em Curitiba – e, portanto, disposto a aceitar todas as humilhações.
Em suma: se a campanha contra Lula não fora capaz de destruí-lo, ele, quebrado pela perseguição sofrida, destruiria a si mesmo.
Em vez disso, encontraram um gigante. Um homem com um sentido de honradez pessoal e uma consciência de seu papel histórico como poucas vezes se viu.
Quando Lula fala – e ele tem falado muito, desde que a censura a ele foi levantada – é possível discordar de muita coisa: de seu diagnóstico do passado recente, de sua avaliação da conjuntura, da estratégia que ele propõe para o campo popular.
Mas é impossível não admirar a dignidade e o sentido de sacrifício com que ele enfrenta a adversidade.
Como esperar que a Lava Jato se contraponha a isso? Moro e Dallagnol são nomes próprios que, no português brasileiro, estão se tornando quase sinônimos de abjeção. Carentes de uma régua moral que lhes permita medir alguém como Lula, enredam-se em seus próprios truques e, a cada dia que passa, se resumem, mais e mais, a meros sintomas da degradação do Brasil."
(De Luis Felipe Miguel, post intitulado "O célere caminhar da Lava Jato para um fim inglório", publicado no GGN - Aqui.
A Lava Jato, desde a sua deflagração em março de 2014, elegeu singela diretriz como suprema orientadora: alcançar seus objetivos, mesmo que atropelando, espezinhando, agredindo, ignorando, desprezando a Constituição de outubro de 1988. Eis que há semanas vem ela sendo desnudada pelo site The Intercept Brasil, em parceria com outras publicações, e hoje, 2 de outubro, se vê veementemente denunciada por um ministro - Gilmar Mendes - do STF, em pleno curso da sessão plenária, sendo chamada até mesmo de torturadora, crime hediondo que "só pode ser aceito por quem não lê a Constituição!" e, para completar, é surpreendida com o envolvimento de 14 auditores da Receita Federal em atos clandestinos de obtenção e repasse de dados fiscais de autoridades diversas, agindo ao menos um deles - aqui - em sintonia com os interesses dela, Lava Jato. Enfim, uma vergonha inominável que torna lícita a expectativa manifestada pelo autor do texto acima, Luis Felipe Miguel, de que a tal operação caminha celeremente para um fim inglório).
A Lava Jato, desde a sua deflagração em março de 2014, elegeu singela diretriz como suprema orientadora: alcançar seus objetivos, mesmo que atropelando, espezinhando, agredindo, ignorando, desprezando a Constituição de outubro de 1988. Eis que há semanas vem ela sendo desnudada pelo site The Intercept Brasil, em parceria com outras publicações, e hoje, 2 de outubro, se vê veementemente denunciada por um ministro - Gilmar Mendes - do STF, em pleno curso da sessão plenária, sendo chamada até mesmo de torturadora, crime hediondo que "só pode ser aceito por quem não lê a Constituição!" e, para completar, é surpreendida com o envolvimento de 14 auditores da Receita Federal em atos clandestinos de obtenção e repasse de dados fiscais de autoridades diversas, agindo ao menos um deles - aqui - em sintonia com os interesses dela, Lava Jato. Enfim, uma vergonha inominável que torna lícita a expectativa manifestada pelo autor do texto acima, Luis Felipe Miguel, de que a tal operação caminha celeremente para um fim inglório).
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