sexta-feira, 1 de junho de 2018

POR QUE O AGRO NÃO É TUDO (OU: AO FIM E AO CABO, QUEM É O PATO?)


"Como presenciamos nos últimos dias, faltam pelo menos rodinhas para que o agro seja tudo, pois só se justifica quando seus produtos chegam aos destinos.
Pois é, quando as federações e confederações patronais do setor agropecuário sentiram-se relativizadas em sua importância para a economia e estigmatizadas por servirem “apenas” aos exportadores de bens primários, encomendaram à Rede Globo uma campanha para revigorar sua imagem. Foi quando surgiu o slogan “Agro é Tech, Agro é Pop, Agro é Tudo”, bobagem há mais de ano massivamente divulgada nas folhas e telas cotidianas.
Como presenciamos nos últimos dias, nem tech, nem pop, muito menos tudo. Faltam, pelo menos, rodinhas para que fosse tudo isso, pois só se justifica quando os produtos chegam aos destinos de consumo.
No passado erramos a matriz de transportes em país de tal extensão? Demos prioridade ao modal rodoviário e a mínima aos modais ferroviário, hidroviário e de cabotagem? Claro que sim, mas hoje em dia seria reclamar o leite derramado.
Deixemos, pois, o passado. Até porque ainda vemos projetos de expansão dos modais adequados ao país serem abortados ou demorarem tanto na conclusão. Tudo se explica por canalhice política e falta de investimentos, públicos e privados, produtivos. Escolhemos premiar o rentismo.
Não, não é assim no mundo todo. Fora da Federação de Corporações, as raízes do neoliberalismo já começam a apodrecer. Aqui se espalham ao custo de desemprego e queda de renda entre trabalhadores.
Não pensem apenas na última semana. A situação vem-se tornando grave desde que, após o impeachment da presidente legitimamente eleita, Dilma Rousseff, mudou-se a política da Petrobras.
Por certo, isso não será agora, caos instalado, reconhecido por Brasília. Temer, Parente e ministros, ineficientes e fisiológicos cabeças duras (ou pior), vêm jogar tudo nos ombros das cotações internacionais da commodity e do câmbio.
Em parte, sim, mas essas altas são recentes. Não ocorrem desde outubro de 2016, quando os preços dos combustíveis passaram a sofrer reajustes muito mais altos e frequentes. Nem mesmo se preocuparam em proteger-se de sua volatilidade.
Mas não só. O senhor Pedro “Serpente” Parente, depois de desmontar as centrais produtoras de fertilizantes (quando na Bunge), começou a vender em peças a Petrobras, em retalhos como se faz em lojas de tecidos.
Isso, sem considerar a unicidade das etapas de prospecção, refino, distribuição e transporte, segmentos a serem integrados para o sucesso e que transformaram a BR em uma das maiores petroleiras do planeta.
No absurdo, chegamos à importação maciça de derivados, o que fez a empresa perder mercado, restando às refinarias 25% de capacidade ociosa e a desovar o estoque de diesel norte-americano. Bonito, não, Dr. Parente?
Por seu lado, o ilegítimo presidente Temer cobriu o rombo com recursos orçamentários em meio a fabulosa crise fiscal. Além dos acionistas da empresa, mais alguém se beneficiou? Com certeza.
E quem não? Aqueles que há uma semana, valentemente, lutam pela sobrevivência, em oposição ao retrocesso que sofre o País desde 2016.
Sustentar uma atividade a custos crescentes, patrimônio se depreciando, e demanda em queda, faz impossível aumentar os preços dos fretes na mesma proporção, e justifica greve, paralisação, bloqueio, manifestação, locaute, peleguismo, “falta de solidariedade com o povo brasileiro”, enfim, o raio de nome que quiserem dar a isso.
Agronegócio, agropecuária, agricultura familiar sofrem. Sou de lá e vejo. Não há robótica inventada que leve tomates ou soja às nossas mesas ou aos portos para exportação.  
O que mais me espanta. No momento em que um grupo representativo da sociedade causa abalo de tal envergadura contra um governo corrupto, golpista, com 5% de aprovação, entregando às pressas nossos patrimônio e soberania, as bandeiras vermelhas que se espalharam pelo País em protesto a tantos desmandos, inclusive a arbitrária prisão do ex-presidente Lula, se escondem e discutem um candidato a votar.
Quem espera faz a hora, não espera acontecer."



(De Rui Daher, post intitulado "Nem tech, nem pop: agro precisa de rodas para ser tudo", publicado na CartaCapital e reproduzido no Jornal GGN - aqui.

"Por seu lado, o ilegítimo presidente Temer cobriu o rombo com recursos orçamentários em meio a fabulosa crise fiscal." 


A propósito... Temer corta verba do SUS, policiamento e reforma agrária para cobrir diesel: "O Diário Oficial da União (DOU), na edição extra desta quinta-feira (31), traz medida provisória que estabelece o cancelamento dotações orçamentárias em diversas áreas, como programas de fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), concessão de bolsas, aquisição de áreas para a reforma agrária e policiamento de rodovias, entre outras.
No total, foram extintas despesas que somam R$ 1,2 bilhão. A meta é viabilizar recursos para o programa de subsídio do óleo diesel, que manterá preços fixos do combustível até o fim do ano.
O governo também vai usar recursos de reservas de contingência que não estavam sendo usadas porque extrapolam e emenda do teto dos gastos, no valor de R$ 6,2 bilhões, bem como uma outra reserva de capitalização de empresas públicas: R$ 2,1 bilhões.
Além disso, o secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, anunciou a sanção do projeto de reoneração da folha de pagamento para 39 setores da economia, que vai gerar economia de R$ 830 milhões, além da redução e eliminação de incentivos fiscais para exportadores e indústrias química e de refrigerantes, somando outros R$ 3,18 bilhões. No total, o governo espera arrecadar R$ 13,5 bilhões para viabilizar o desconto no diesel..."  - Para continuar, clique aqui).

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