domingo, 16 de novembro de 2014

PETROBRAS: A PALAVRA DA PRESIDENTE


"No seu primeiro pronunciamento desde a prisão espetacular de chefes de empreiteiras no escândalo de corrupção da Petrobras, a presidente Dilma Rousseff exaltou o mérito do governo de estar investigando a corrupção “pela primeira vez na História do Brasil”. E ainda culpou governos passados pela corrupção que está acontecendo hoje na empresa, afirmando que ninguém fez nada antes dela para combater.

Para a presidente, o escândalo será um marco na história do país :

- Eu acho, de fato, que isso pode mudar o país para sempre. Em que sentido? No sentido de que se vai acabar com a impunidade. Este é, para mim, a característica principal desta investigação.

Vestida num terno marrom claro, respondendo tranquilamente a todas as perguntas, a presidente disse que nem ela, nem o país vão se abalar por causa disso. É parte do jogo democrático, afirmou.

- O Brasil não se abala por um escândalo - disse.

O escândalo, também, não vai significar o fim nem a revisão de todos os contratos do governo com as principais empreiteiras do país, muito menos uma devassa na Petrobras:

- Não acho que nem a Petrobras, nem todas as empreiteiras… não dá para demonizar todas as empreiteiras desse país. São grandes empresas e se a, b, c ou d praticaram malfeitos, atos de corrupção, ou de corromper, eles pagarão por isso.

Segundo ela, é “um absurdo fazer raio x de todas as companhias para trás” - isto é, rever todos os contratos:

- Não tem como fazer isso. Não se pode achar que todo mundo cometeu delito. Isso não ocorre. Não é assim que a Justiça age. Para achar que alguém cometeu delito tem que ter indícios. Não vou sair por aí procurando todas as empresas.

Falando logo após o encerramento da reunião de líderes das 20 maiores economias do mundo - G20 - em Brisbane, na Austrália, a presidente ainda culpou governos passados pelos escândalos de corrupção hoje na Petrobras. Depois de dizer que poderia listar uma “quantidade imensa de escândalos no Brasil que não foram levados a efeito”, ela alfinetou:

- E talvez sejam esses escândalos que não foram investigados que são responsáveis pelo que aconteceu na Petrobras.

A presidente se disse convencida de que o escândalo da Petrobras vai mudar também as relações entre sociedade, estado e empresas privadas.

- Eu acho que mudará para sempre as relações entre a sociedade, o estado e as empresas privadas. O fato de nós, neste momento, estarmos vendo isso investigado de forma absolutamente aberta é um diferencial imenso.

E garantiu que os culpados serão punidos:

- Quem praticou atos ilícitos vai ter que ser punido.

A presidente frisou que este não é , de longe, o primeiro caso de corrupção da história do Brasil - mas é o primeiro a ser investigado, o que, na sua visão, é um mérito do governo:

- Você não vai acreditar, não é, que nós tivemos (agora) o primeiro escândalo da nossa história. Nós tivemos o primeiro escândalo de nossa história investigado. Há aí uma diferença substantiva.

Dilma disse que as investigações na operação Lava Jato vão ter impacto em outros casos de corrupção:

- É uma investigação que vai necessariamente colocar à luz todos os processos de corrupção, inclusive de uso internacional de algumas atividades. Isso ela vai.

A presidente defendeu veementemente a Petrobras:

- Não é monopólio da Petrobras ter processos de corrupção - disse, lembrando que um dos maiores casos de corrupção investigados no mundo foi da gigante de energia americana Enron, que faliu.

E partiu em defesa da honra dos funcionários da estatal brasileira, afirmando que a maioria não são corruptos:

- Nem todos, aliás, a maioria absoluta, quase, dos membros da Petrobras, não é corrupta. Agora, tem pessoas que praticaram atos de corrupção dentro da Petrobras. Mas não se pode pegar a Petrobras e condenar a empresa. O que temos que condenar são pessoas. Pessoas dos dois lados: corruptos e corruptores.

O escândalo da Petrobras, segundo a presidente, também não vai atrapalhar o seu governo ou abalar o apoio no Congresso para a reforma ministerial:

- Nas duas hipóteses, é não.

Dilma deixou claro que, dentro das pessoas cogitadas para o futuro ministério, não há ninguém que possa estar envolvido no escândalo:

- Você há de convir que essa questão da Petrobras já tem um certo tempo. Então, nada disso é tão estranho para nós. Nós não sabíamos as pessoas concretas. Mas a investigação nós sabemos dela. Nós temos conhecimento da investigação.

Dilma Rousseff também não se abalou com as manifestações de rua ou com alguns manifestantes pedindo impeachment ou até intervenção militar no seu governo:

- As manifestações, eu não concordo com o teor das manifestações. Mas com a manifestação em si, não tenho nada contra ou a favor. O Brasil tem espaço para a manifestação que for, mesmo uma que signifique a volta do golpe (militar). Porque somos hoje, de fato, um país democrático. Um país democrático absorve e processa até propostas mais intolerantes. O Brasil tem essa capacidade de absorver e processa."



(Do O Globo, matéria da jornalista Deborah Berlinck, intitulada 'O Brasil não se abala por um escândalo', diz Dilma sobre Petrobras', reproduzida pelo Jornal GGN, aqui).

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