segunda-feira, 17 de novembro de 2014

DA SÉRIE MONSTROS SAGRADOS E SEUS CLÁSSICOS IMORTAIS

              Cole Porter: EUA, 1891 - 1964.

Todas as grandes canções de Cole Porter são fáceis de achar

Sucessos do compositor morto há meio século estão em filmes e discos

Por Ruy Castro

O Brasil nunca viveu à míngua de Cole Porter. Desde que o mundo o descobriu, em 1934, com o filme "A Alegre Divorciada" --e se encantou com "Night and Day", na voz e nos pés de Fred Astaire--, foi impossível deixar de segui-lo. Em 1936, ele voltou às telas brasileiras com "Nasci para Dançar", em que Virginia Bruce cantava "I've Got You Under my Skin" e James Stewart --o próprio-- destroçava a indefesa "Easy to Love", e com "Fuzarca a Bordo", em que Bing Crosby e Ethel Merman faziam maravilhas com "Anything Goes", "I Get a Kick Out of You" e "You're the Top".

Em 1940, uma consagração: Fred Astaire e Eleanor Powell em cena por seis minutos, acariciando com suas chapinhas o chão espelhado ao som de "Begin the Beguine", em "Melodia da Broadway de 1940" --que trazia ainda "I Concentrate on You". Em 1941, Fred de novo, mas agora com Rita Hayworth em seus braços, em "Ao Compasso do Amor", trouxe à vida "So Near and Yet So Far".

Notar que, entre um filme e outro, os fãs brasileiros de Porter eram abastecidos regularmente com uma dieta de discos de 78 rpm, nacionais ou importados, trazendo essas e outras canções --"Just One of Those Things", "Let's Do It", "Love for Sale", "It's De-Lovely", "Miss Otis Regrets", "My Heart Belongs to Daddy", "Ev'rytime We Say Goodbye"-- pelos cartazes da época: Bing Crosby, Mary Martin, Benny Goodman, Artie Shaw e o jovem Sinatra. Todas essas canções, pela esforçada Ginny Simms, estavam em "Canção Inesquecível", "biografia" do compositor perpetrada pela Warner em 1946, em que Cole é interpretado por... Cary Grant --o homem bonito que ele queria ser.

Os grandes filmes com "score" de Cole Porter, no entanto, só começaram mesmo com "Dá-me um Beijo" (1953), em que Kathryn Grayson, Howard Keel e Ann Miller (Bob Fosse é um dos dançarinos) recriam um excepcional "score" contendo "So in Love", "Too Darn Hot", "Always True to You in my Fashion", "Brush Up Your Shakespeare" e "From This Moment On". Em 1956, Cole escreveu quatro canções originais para "Alta Sociedade", com Bing Crosby, Grace Kelly e Frank Sinatra. Três delas eram "I Love You, Samantha", "You're Sensational" e "True Love" --que tal?

Fred Astaire (com Cyd Charisse) despediu-se dos musicais no mágico "Meias de Seda" (1957), cujo maior número era "All of You". E Sinatra, Shirley MacLaine e Maurice Chevalier, em "Can-Can" (1960), imortalizaram "C'est Magnifique", "I Love Paris", "It's All Right With Me" e várias outras.

Todos esses filmes estão disponíveis em DVD e muitos dos momentos citados são fáceis de achar no YouTube.

Mas, se você quiser fazer um Ph.D em Cole Porter, tem de ir aos discos --aos songbooks, que incluem as canções menos famosas e tão extraordinárias quanto, gravadas por Lee Wiley, Ella Fitzgerald, Anita O'Day, Sarah Vaughan, Mabel Mercer, Jeri Southern, Bobby Short, Rebecca Luker, o próprio Cole. E o surpreendente "Murilinho - Seven to Seven no Sacha's", de 1959, em que o carioca Murilinho de Almeida (com Sacha ao piano, Cipó ao sax-tenor e Dom-Um à bateria) interpreta 12 clássicos de Cole --este último, naturalmente, o único daqueles LPs que nunca chegou ao CD. (Fonte: aqui).

Nenhum comentário: