domingo, 31 de janeiro de 2021

SOBRE REVELADORES INDÍCIOS DE PARCIALIDADE ESCANCARADA DA LAVA JATO CURITIBA (II)

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"...Mas também há outro significado no dicionário: 'adulteração das características originais de algo; desvirtuação, deturpação'. Foi exatamente o que Moro e a turma de Dallagnol teriam feito com as regras do processo legal, segundo o que se conclui dos diálogos que vieram à tona."  -  (Do autor, sobre o significado da palavra 'corrupção', citando Caldas Aulete).


Armações de Moro e Dallagnol na Lava Jato São Atos de Corrupção?

Por Chico Alves (Na Folha de S.Paulo)

Desde que começou, há seis anos, a força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba, se apresentou como grupo de super-heróis decididos a varrer a corrupção do Brasil. Também o juiz escolhido para julgar os casos, Sergio Moro, se vendeu assim. Praticamente todas as instituições da República, a imprensa inclusive, avalizaram essa bravata.

Após esses anos de atuação espetacular, os procuradores e seus fãs se gabam da recuperação de quantia superior a R$ 4 bilhões, provenientes de maracutaias contra os cofres públicos.

Das acusações do Ministério Público Federal e das sentenças de Moro resultaram mais de 155 condenações - em sua maioria, de figuras de destaque na República, como o ex-presidente Lula.

Há evidências de sobra de um gigantesco esquema de corrupção encravado na Petrobras. Segundo várias acusações e provas, no entanto, a força-tarefa da Lava Jato e o juiz Sergio Moro só chegaram a tal performance por meio de expedientes que estão fora dos manuais jurídicos: uso abusivo das delações premiadas, divulgação estratégica de dados sigilosos e parceria indevida entre acusadores e magistrado.

Essas reclamações passariam apenas como choro dos advogados de defesa, não fosse a atuação de hackers que invadiram ilegalmente o aplicativo de mensagens de Moro, Deltan Dallagnol e sua turma. O conteúdo das conversas veio a público em 2019, na série de reportagens conhecida como Vaza Jato, publicada pelo site The Intercept Brasil.

Os bate-papos confirmaram as acusações contra o juiz e os procuradores, revelando um indevido jogo combinado entre eles.

Depois de causar muito barulho e obrigar Moro e Dallagnol a se explicarem muitas vezes - inclusive no Congresso -, a Vaza Jato foi esquecida como se tivesse tratado de um tema irrelevante.

O ocaso da Operação Lava Jato ocorreu pela atuação do procurador-geral da República, Augusto Aras, não pelas acusações feitas anteriormente.

Dallagnol pendurou as chuteiras e Moro, depois de uma temporada como ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, saiu com a popularidade abalada para quem tem pretensão de ser candidato a presidente. No entanto, seu status de caçador de corruptos permaneceu.

Agora, por conta de um pedido da defesa de Lula, acatado pelo ministro do STF Ricardo Lewandowski, parte das mensagens trocadas entre o ex-juiz e os procuradores da Lava Jato foram encaminhadas ao ex-presidente.

Ali está a confirmação de que houve tabelinha entre Moro e a força-tarefa. A tal ponto que Dallagnol apresentou ao magistrado um esboço da denúncia contra Lula, para que ele avaliasse se o documento estava contundente o bastante. Essa colaboração, exposta em matéria do jornalista Jamil Chade, do UOL, é ilegal.

Desde que apareceram as primeiras críticas aos paladinos anticorrupção, os defensores da Lava Jato responderam com os resultados da operação, que prendeu engravatados desonestos e recuperou bilhões em dinheiro público.

É um raciocínio parecido com o que os moradores das favelas cariocas usavam no início da atuação das milícias: são ilegais, mas aumentam a sensação da segurança. Deu no que deu.

O brasileiro parece não se acostumar com a ideia de que só é possível fazer justiça dentro da lei. Agentes públicos que investigam e julgam acertando de antemão a sentença são tão criminosos quanto supõem ser os réus que condenam.

Nesse sentido, talvez os super-heróis da Lava Jato tenham cometido uma modalidade bastante grave de maracutaia.

No dicionário Caldas Aulete, a palavra "corrupção" quer dizer "ato ou efeito de subornar, vender e comprar vantagens, desviar recursos, fraudar, furtar em benefício próprio e em prejuízo do Estado ou do bem público". Nesse caso, os acusados de desviar dinheiro da Petrobras estão incluídos.

Mas também há outro significado no dicionário: "adulteração das características originais de algo; desvirtuação, deturpação". Foi exatamente o que Moro e a turma de Dallagnol teriam feito com as regras do processo legal, segundo o que se conclui dos diálogos que vieram à tona.

Os tietes de Moro e da Lava Jato não gostam dessa avaliação - muitos deles certamente irão consignar sua discordância nos comentários que você lerá abaixo desse texto.  

Mas, a não ser que achemos boa coisa fomentar o culto à personalidade, é preciso arrancar o ex-juiz e os procuradores do pedestal em que se instalaram. Seus admiradores precisam avaliar objetivamente as acusações e tirar conclusões desapaixonadas.

Isso vale tanto para o cidadão comum quanto para as instituições que inflaram a aura de perfeição.

Nós da imprensa tivemos papel fundamental no surgimento dessa lenda. Apesar de quase sempre avessos à autocrítica, é chegada a hora de dizer com todas as letras: erramos.  -  (Folha / UOL - Aqui).

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"Os tietes de Moro e da Lava Jato não gostam dessa avaliação - muitos deles certamente irão consignar sua discordância nos comentários que você lerá abaixo desse texto."

De fato, os comentários estão lá consignados, aplaudindo Sergio Moro pelos 'serviços realizados'. Segundo a maioria, os possíveis excessos se tornam irrelevantes diante da magnitude dos resultados alcançados pela douta operação. 

Este Blog já antevia a reação do leitor médio da Folha, razão por que a realidade não chega a causar estranheza. Mas o excelente artigo acima conseguiu um feito digno de nota: há entre os comentaristas os que desancam o comportamento abusivo e ilegal assumido por Moro e seus acólitos. Se isso não eleva e nem consola (para lembrar Machado de Assis), ao menos tem o condão de furar o balão do ex-juiz, que, esperamos, em breve receberá do Supremo o que merece.

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Adendo  

...Wadih Damous: "O que Vem Aí é de Arrepiar os Cabelos da República"

“O que foi divulgado é uma parte absolutamente ínfima do que vem por aí. E o que vem por aí é em quantidade superior ao que a própria Vaza Jato divulgou”, afirmou o advogado.  -  (Nota deste Blog: O que foi divulgado está contido em 10% do acervo da Lava Jato disponibilizado para a defesa do ex-presidente Lula por determinação da Justiça).

“A Vaza Jato divulgou apenas uma parte, e acho que nem tudo foi entregue ao Intercept. O que foi interceptado na Operação Spoofing parece que vai fazer tremer a República, pois não é à toa que o ministro Lewandowski decretou sigilo sobre as informações contidas naquele acervo”   -  (Aqui).

(Nota deste Blog: O que foi divulgado está contido em 10% do acervo da Lava Jato disponibilizado para a defesa do ex-presidente Lula por determinação da Justiça).

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