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A CNN teve acesso com exclusividade a uma carta encaminhada no dia 12 de setembro de 2020 pelo CEO mundial da Pfizer, Abert Bourla, ao presidente Jair Bolsonaro e a alguns de seus principais ministros. O conteúdo da mensagem mostra que a farmacêutica insistiu para que o governo fosse célere em fechar negócio com a empresa, tendo em vista a alta demanda mundial.
“A potencial vacina da Pfizer e da BioNTech é uma opção muito promissora para ajudar seu governo a mitigar esta pandemia. Quero fazer todos os esforços possíveis para garantir que doses de nossa futura vacina sejam reservadas para a população brasileira, porém celeridade é crucial devido à alta demanda de outros países e ao número limitado de doses em 2020”, disse Bourla.
Na sequência, ele justifica o pedido de celeridade. “Fechamos um acordo com o governo dos Estados Unidos para fornecer 100 milhões de doses de nossa potencial vacina, com a opção de oferecer 500 milhões de doses adicionais. (…) Temos ainda acordos com o Reino Unido, Canadá, Japão e vários outros países, e estamos em negociações finais com a União Europeia para fornecer 200 milhões de doses, com uma opção de fornecimento adicional de mais 100 milhões de doses”.
Depois, o CEO mundial da Pfizer reforça ainda o pedido para que o governo seja rápido.
“Minha equipe no Brasil se reuniu com representantes de seus Ministérios da Saúde e da Economia, bem como com a Embaixada do Brasil nos Estados Unidos. Apresentamos uma proposta ao Ministério da Saúde do Brasil para fornecer nossa potencial vacina que poderia proteger milhões de brasileiros, mas até o momento não recebemos uma resposta. Sabendo que o tempo é essencial, minha equipe está interessada em acelerar as discussões sobre uma possível aquisição e pronta para se reunir com Vossa Excelência ou representantes do Governo Brasileiro o mais rapidamente possível.”
O documento também foi remetido com cópia ao vice-presidente Hamilton Mourão e aos ministros Braga Netto (Casa Civil), Eduardo Pazuello (Saúde), Paulo Guedes (Economia) e ao embaixador do Brasil para os Estados Unidos, Nestor Foster.
Segundo fontes, a manifestação foi encaminhada ao Ministério da Saúde, mas as negociações nunca andaram. Primeiro, porque o governo avaliou que as condições de armazenagem e distribuição da vacina dificultariam sua distribuição pelo Brasil. Ao contrário de outras vacinas, ela precisa estar refrigerada a cerca de 70 graus negativos.
Mas o problema maior foram as cláusulas que a farmacêutica impôs para a venda. Conforme mostrou a CNN no dia 30 de dezembro, o governo considerou abusivas quatro trechos do pré-contrato: 1) Que o Brasil deposite valores em uma conta no exterior da Pfizer como garantia de pagamento; 2) Que qualquer questão contratual seja julgada em um tribunal de Nova York, nos Estados Unidos; 3) Que o primeiro lote de vacinas seja de 500 mil unidades (número considerado insuficiente pelo Brasil); 4) Que seja assinado um termo de responsabilidade por eventuais efeitos colaterais da vacina. Até hoje a negociação está travada.
A Pfizer acabou vencendo a corrida mundial pela vacina contra o coronavírus e foi a primeira vacina cuja aplicação foi aprovada pelas autoridades sanitárias com a conclusão de estudos da fase 3, o recomendado pela medicina para iniciar uma vacinação. Isso aconteceu no dia 2 de dezembro pelo órgão regulador britânico. Como muitos países haviam fechado acordos com ela na mesma época em que ela tentava fechar com o Brasil, eles largaram na frente em suas vacinações. No Brasil, a primeira vacina só foi aplicada no dia 17 de janeiro, com a Coronavac, após uma iniciativa do governador de São Paulo, João Doria, que em junho do ano passado fechou um acordo com a farmacêutica chinesa Sinovac.
A CNN procurou a Secretaria de Comunicação do Palácio do Planalto, que pediu que o Ministério da Saúde fosse contatado para responder. A pasta ainda não se manifestou sobre o assunto. - (Aqui).
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À primeira vista, o Governo Federal agiu de forma compreensível no episódio, considerando as condições impostas pela Pfizer -- desde que o Brasil já contasse com contratos firmados ou em vias de firmatura com outras empresas fornecedoras e/ou com institutos (Butantan, Fiocruz, Manguinhos) já preparados para produzir vacinas e em fase de fechamento de acordos para aquisição de IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) em quantidade consentânea com as necessidades do País, o que não acontecia e presentemente não acontece.
Ou seja, uma lástima.
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