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Brasil na ONU by Steve Bannon
Até a noite de ontem, 18, era dada como certa a ida do Presidente aos EUA, para a Assembleia Geral da ONU, onde proferirá o discurso de abertura, honraria reservada ao Brasil em reconhecimento à atuação de Osvaldo Aranha em 1947 pela criação do Estado de Israel. Mas persistia movimento consistente em que a viagem não se venha a concretizar, e tal movimento proviria de apoiadores políticos (preocupados com a saúde do Presidente, que recentemente foi submetido a intervenção cirúrgica). Em vídeo de três minutos e meio - Aqui -, o intrépido titular do Blog da Cidadania Eduardo Guimarães sustenta que o Presidente está sendo compelido a ir (estaria indo a contragosto). Mas o porta-voz da Presidência declarou, horas atrás, que ele irá deliberadamente: "Nós tempos convicção e eu afirmo: o Presidente irá a Nova York" (Aqui). Irá, ou não? Conviria ir ou ficar?
Brasil na ONU by Steve Bannon
Por André Araújo
Stephen Bannon é um americano atípico, de boa formação acadêmica, que incluiu Harvard, tem uma carreira sinuosa: foi produtor de cinema, trabalhou na Goldman Sachs e como marqueteiro ajudou Trump a se eleger. Depois Trump rompeu com ele por razões que adiante explicarei. Bannon se amarrou a um filão político que podemos rotular como “neofascista”, algo não incomum nestes tempos tenebrosos.
Consta que Bannon ajudou na eleição de Bolsonaro. Apresentado a Eduardo por Olavo de Carvalho, Bannon viu em Bolsonaro um filão a explorar para seu projeto de montar uma espécie de Aliança da Extrema Direita Mundial, projeto para o qual quis usar Trump como instrumento, mas Trump é macaco velho e não se deixa usar por ninguém, ele é quem usa outros.
A vida e carreira de Bannon mostram uma trajetória de aventureiro e seu projeto é também uma aventura. Não existe no mundo espaço para uma Liga de Extrema Direita, hoje restrita a Polônia, Hungria e Brasil. A extrema direita sofreu forte reversão na Itália, com a queda de Salvini, e a fugaz onda de populismos de direita é nuvem passageira, anti-histórica porque é contrária aos interesses do grande capital globalizado, que precisa de governos estáveis garantidores de segurança jurídica aos investimentos, algo que ativismos ideológicos não oferecem porque são conflitivos.
Trump não é de extrema direita, é um oportunista com projeto unicamente pessoal, não tem nada ver com uma ideologia universal. Ele aproveita de medos e carências da classe média baixa mais atrasada dos EUA para conseguir seus votos, algo que sequer está garantido em 2020. A estratégia eleitoral de Trump, para 2020, é ir para o centro e não para a extrema direita, que ele já tem mas não é suficiente para ganhar de novo.
Bannon pretende fortalecer sua liga de extrema direita, que denominou de THE MOVIMENT e vai usar o discurso do Brasil na ONU para seu projeto pessoal, vai fazer aquilo que quis fazer com Trump, usar governos para seus fins próprios. Resta ver que conexão de interesse nacional do Brasil liga o Estado brasileiro, que é quem falará na ONU, a Steve Bannon. O Brasil nunca precisou de conselheiros estrangeiros para sua diplomacia.
No ambiente da ONU é bom lembrar que sua maior autoridade permanente é gente de nosso sangue, o português Antonio Guterres, que teve toda sua longa carreira política no PARTIDO SOCIALISTA português, férreo combatente da ditadura salazarista. A segunda autoridade da ONU e a Alta Comissária de Direitos Humanos, Michele Bachelet, duas vezes Presidente do Chile pelo PARTIDO SOCIALISTA chileno e combatente da ditadura Pinochet. Portanto, um discurso ativista de direita no cenário do ONU não terá ambiente e circunstância favorável ao papel do Brasil no mundo, vai pegar muito mal.
A QUESTÃO AMBIENTAL
É uma questão central no mundo civilizado e negar a questão ambiental é passar atestado de ignorância e obscurantismo. O atual Secretário Geral da ONU, o cargo número 1 da instituição, esteve na semana passada nas Bahamas para ver o enorme estrago causado pelo furacão Dorian e o centro de sua declaração, lá no local da tragédia, foi sobre a questão ambiental que está aumentando a força das tormentas por causa da elevação da temperatura da água do mar, causa principal de formação dos furacões.
É bom lembrar que a CHINA, que tinha fama de ser indiferente à questão ambiental, hoje está no meio de um grande plano de combate à emissão de gases efeito estufa, o País tornou-se paladino nessa cruzada. Nos EUA o Presidente Trump é da linha anti-ambientalista MAS o País como um todo é super ativo em consciência sobre o aquecimento global, aliás é o centro irradiador dessa causa no mundo.
Ir à ONU com um discurso negacionista, na linha da extrema direita obscurantista, será um desastre, o Brasil será tratado como país pária do mundo.
O Brasil teve uma inédita cobertura internacional de mídia por causa dos incêndios na Amazônia, cobertura negativa que foi inteiramente associada ao atual governo, o caso foi tratado como incêndio deliberado induzido pelo governo, nenhuma cobertura foi neutra nessa culpabilidade, o Brasil ficou mal.
O BRASIL NA ONU
O discurso do Brasil na ONU só tem sentido se for acoplado à agenda da ONU, se não for é melhor não ser feito naquele palco. Seria como alguém ir a um casamento e na festa pedir a palavra e dizer que é contra o casamento, não vai ficar bem. Bannon não conhece o Brasil profundo, não tem nada a ver com os interesses da população brasileira, não tem o que dizer em um discurso que deve representar uma afirmação do Brasil como país fundador pioneiro das Nações Unidas. Um discurso negacionista, anti-ONU que deve ser a linha de Bannon, vai destruir o capital político do Brasil nessa grande organização, que confiou ao Brasil mais Missões de Paz do que a qualquer outro Pais, tal nosso prestígio de país sem inimigos e bem recebido em todo o planeta. Um discurso fascista inspirado por um estrangeiro é a última coisa que o Brasil precisa.
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