quinta-feira, 29 de novembro de 2018

ASCENSÃO E QUEDA (LÁ FORA) DA ESCOLA DE CHICAGO

Não obstante o desprestígio da Escola de Chicago mundo afora, ela tem tudo para triunfar no Brasil, notadamente após a consagração da Escola da América por essas plagas - AQUI.


Ascensão e queda da Escola de Chicago 

Por André Araújo 

Na realidade a “Escola de Chicago” é uma ideologia e não uma teoria econômica, sua aceitação depende de fé tal qual o marxismo, ambos apresentam a mesma pretensão de ciência, sem ser.
....

“Eles são as trevas do pensamento econômico”, Paul Krugman.
....

“Chicago economics” ou Escola de Economia da Universidade de Chicago é uma linha de pensamento econômico que acredita que os mercados são resultado da “competição perfeita” e, portanto, é o “mercado” deixado operar livremente o melhor modelo de gestão da economia em qualquer lugar. Acreditam também no rígido controle da moeda: quanto menos moeda em circulação melhor será para o funcionamento da economia. Mercados livres e moeda escassa são os mandamentos da Escola de Chicago, o resto se encaixa como consequência.

A História econômica se encarregou de derrubar essa ficção que é obra de fé, mas os adoradores desse modelo insistem em considerá-lo sagrado, não importa em que lugar, país, região, sob que condições ou estágio, como se o modelo fosse algo cientifico, da física.
Na realidade a “Escola de Chicago” é uma ideologia e não uma teoria econômica, sua aceitação depende de fé tal qual o marxismo, ambos apresentam a mesma pretensão de ciência, sem ser.
O Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, da Universidade de Princeton, é um dos maiores críticos atuais do “Chicago economics”, a quem denominou de “Era das Trevas” do pensamento econômico.
Nos próprios Estados Unidos a Escola de Chicago nunca foi uma unanimidade, as escolas de economia da Costa Leste como Harvard, MIT, Columbia, Yale, Princeton têm visão e angulações bem diferenciadas de Chicago, sem falar na New School de Nova York, que é a antítese de Chicago. Hoje, o Institute of New Economic Thinking de Nova York, onde estão Paul Krugman e Joseph Stiglitz, contestam frontalmente toda a filosofia de Chicago.
Os “new keyneisians”, corrente moderna de seguidores da visão de Lord Keynes, em economia, abominam os pressupostos da Escola de Chicago. Na Universidade da Califórnia em Berkeley, Brad De Long diz que a escola de Chicago chegou a um colapso intelectual, significando que parou no tempo e nada mais tem a contribuir no pensamento econômico.
O que restou de crença na Escola de Chicago desabou por completo na crise financeira de 2008, quando o capitalismo americano do “mercado perfeito” ruiu e implodiu, sendo salvo nada mais, nada menos pelo execrado ESTADO. O Tesouro dos EUA despejou US$ 708 bilhões em dinheiro público para salvar o coração desse capitalismo, tanto financeiro, quanto industrial. Salvou o CITIGROUP, a seguradora AIG, maior do mundo, e a GENERAL MOTORS, maior empresa industrial dos EUA e mais outras 200 empresas e bancos.
Foi a segunda vez que o ESTADO salvou a economia americana. A primeira foi em 1933, quando a Reconstruction Finance Corporation, estatal criada por Roosevelt, emprestou dinheiro para resgatar 8.000 bancos e empresas na esteira da Grande Depressão, quando o “crash” da Bolsa de Nova York quase liquidou para sempre a economia americana e mundial.
Em 1929 e 2008 o ESTADO mostrou que é infinitamente maior como instrumento da economia do que o “mercado perfeito”, mas nem isso mudou as mentes dos fanáticos de Chicago.
O DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA UNIVERSIDADE DE CHICAGO
Financiado desde seu início pelo magnata do petróleo John Rockefeller, em torno de 1890, a escola de economia da Universidade de Chicago tem longa história baseada em dois eixos: a competição perfeita que vem dos mercados livres do Estado e o rígido controle do fluxo de moeda, teoria que teve duas fases. A primeira, de Irving Fisher, desaparecida com a crise de 29, quando Fisher, um economista de reputação nacional, disse em entrevista que a “economia americana nunca esteve tão sólida”, isso duas semanas antes da implosão da Bolsa em 24 de outubro de 1929. Com essa profecia furada foi-se embora também o monetarismo de Fisher, que renasceu nos anos 60 com Milton Friedman, nova onda nascida nos cofres do CITIBANK, que financiou as palestras e a revista de Friedman, história que descrevo com detalhes em vários capítulos de meu livro de 2005, MOEDA E PROSPERIDADE, edição Top Books, 900 páginas, hoje esgotado; é um romance (sobre) como se constrói uma teoria econômica de interesses.
No livro de Lanny Eberstein, uma monografia sobre a Escola de Chicago, de 2015, ele destaca um fenômeno muito perceptível, a “apropriação” que economistas medíocres formados em Chicago fazem de seu credo que NÃO é exatamente o neoliberalismo político que se prega em alguns países. Friedman, por exemplo, inventou o conceito de “bolsa família”, ele achava que os muito pobres tinham sim que ser amparados pelo Estado, algo que os seguidores preferem esquecer. No livro, Eberstein fala das preocupações sociais de Friedman e Hayek, esquecidas pelos seus seguidores, que selecionam na teoria o que lhes interessa.
O livro é “CHICAGO ECONOMICS : THE EVOLUTION OF CHICAGO FREE MARKET ECONOMCS”.
O fato é que a “escola de Chicago” criou uma visão de economia para o mundo anglo-americano, inaplicável para países de estrutura econômica onde o Estado historicamente tem um papel muito maior do que na Inglaterra e Estados Unidos. Países de raiz mercantilista, como França e Alemanha, e mais ainda países com outras culturas econômicas como Rússia, Índia e China. A loucura é pretender, como alguns sectários, aplicar o “Chicagonomics” em países de outra tradição, sociedade e formação, como o Brasil, onde desde o nascimento do País, o Estado tem um papel central na economia, que nunca teve na Inglaterra ou nos EUA.
Mas mesmo no seu berço de origem, o modelo de Chicago já foi sepultado. No último enterro o coveiro foi o banco Lehman Brothers. O estranho é que, com todos esses resultados à vista de qualquer indivíduo de mediana inteligência, ainda há fanáticos da privatização e da moeda escassa, mesmo depois de tantos desmontes desse modelo fracassado. Como muito bem expõe o livro de Eberstein, o “quantitative easing” acabou com o monetarismo na Europa e nos EUA, ele sobrevive apenas no Banco Central do Brasil, tão atual como o Templo Positivista de São Lourenço, em Minas Gerais, onde a filosofia Positivista desaparecida da França há cem anos ainda é cultivada com carinho. Os saudosos do monetarismo de Friedman são convidados a visitar o museu do Banco Central em Brasília, onde se lembrarão do mestre e reverenciarão o único lugar do mundo onde se pratica o culto à moeda escassa como religião.
Os visitantes aproveitarão a viagem para conhecer o país do mundo onde se pratica o “monetarismo” religioso de Friedman, sob a regência do Banco Central. É isso que garante aos bancos brasileiros o maior lucro do planeta sobre ativos, graças exatamente à escassez de moeda que, ao mesmo tempo, garante os lucros extraordinários do sistema financeiro e proporciona uma recessão que dura quatro anos e uma monumental taxa de desocupação de um terço da população economicamente ativa, maior índice desde a Grande Depressão de 1929 na Europa e os EUA. No Brasil, a Grande Depressão mundial provocou muito menos desemprego do que a recessão de 2014, sob a regência de Joaquim Levy.
Desocupação, desemprego e recessão não preocupam minimamente os seguidores de Chicago nos Estados Unidos e muito menos no Brasil. Esses fenômenos nem fazem parte de seus manuais. Milton Friedman teria mais sensibilidade do que seus alunos, era um monetarista com algumas preocupações sociais, de visão mais ampla que seus seguidores e com a capacidade da verdadeira inteligência, a de reconhecer erros e voltar atrás; fez isso no fim da vida em conversas com Alan Greenspan, seu amigo mas adversário intelectual.
Como é comum em tantas filosofias, ideologias, religiões, crenças e teorias, os seguidores fora de seu berço são mais fanáticos e radicais; enquanto no ninho original a crença morre ou se recicla, na sua projeção para fora a seita se estratifica, se mumifica no túmulo do fracasso.
Hoje nos EUA, até na própria Universidade de Chicago, os preceitos do “Chicagonomics” têm menor fidelidade. O legado de Friedman foi desmoralizado pela crise de 2008 e se mudou para a Universidade Carnegie Mellon de Pittsburgh, onde seu herdeiro intelectual Alan Meltzler, falecido no ano passado, lecionava. Agora o Brasil pode ser a nova rampa de re-relançamento do “Chicagonomics” embalsamado, o único dos grandes países emergentes outrora conhecidos como BRICS onde essa seita pode caminhar fora do merecido túmulo, enquanto Rússia, Índia e China crescem longe de teorias anglo-americanas e praticando o dia a dia da politica econômica de circunstância, sem metas de inflação, privatizações, preocupação com dívida em moeda nacional e com bancos centrais a serviço do crescimento e não da estagnação. O Brasil sai dos BRICS e vira área de serviço de Washington; é a História.  -  (Aqui).
................
.De Cristiane N Vieira:
De um encontro chamado "Destroying the myths of the market fundamentalism forum" (em tradução livre, "Fórum Destruindo os mitos do fundamentalismo de mercado"), uma palestra sobre antitruste e cleptocracia e seu prejuízo ao papel do mercado (portanto, não se trata de um esquerdista, mas de um capitalista moderado que critica a perversão do sistema), em que a Escola de Chicago é mencionada. .... The Real News Network (USA) - Antitrust and How Kleptocracy Corrupts What Markets are Supposed to do Well. .... https://www.youtube.com/watch?v=yJ_h4JybIUQ&t=17s .... // .... Boca de lobo - https://music.youtube.com/watch?v=jgekT-PEb6c&list=RDAMVMjgekT-PEb6c
.De Rpv:
A Fé dos Espertos e a Visão dos Ingênuos
O grande desafio é desmistificar a "santíssima trindade" macroeconômica que reina no Brasil há quase 25 anos.
E por que digo isso?
Porque da esquerda à direita, todos aceitam o tripé macroeconômico como um dogma de fé.
E aí me vem a mente a parábola de Santo Agostinho.
Conta ele que estava numa praia e um menino buscava água no mar e colocava num pequeno buraco na areia. Ao perguntar ao menino, o que ele estava fazendo, ele respondeu.
- Vou colocar essa água do mar nesse buraco.
Agostinho, então, retrucou.
- Mas isso é impossível.
E o menino (que era um anjo) respondeu.
- Também é impossível entender os mistérios da santíssima trindade.
Assim é tratado o tripé macroeconômico, como um dogma de fé. Criticá-lo é um sacrilégio.
Mas porque transformaram isso num dogma?
Ora, porque é a maneira mais fácil de preservá-lo intocável. Basta ver o balanço dos bancos no Brasil.
Mas, vejamos como isso é feito na prática. Há  03 eixos estratégicos e seus respectivos objetivos.
Eixo 01 - Congresso:
1) Baixos impostos. (Isenção de lucros e dividendos, baixo imposto sobre transmissão de herança, baixa alíquota para ganhos muito elevados, imposto prioritariamente sobre o consumo, exceto bens de luxo - jato, iate, helicóptero). Além disso, redução dos direitos trabalhistas e do aumento da salário mínimo (se puder ser extinto melhor), enfraquecimento/extinção dos sindicatos.
Eixo 02 - Banco Central:
2) Pouca moeda em circulação - não emissão e enxugamento via Selic, taxa os juros da dívida interna.
Eixo 03 - Fazenda (Congresso):
3) Apropriação da dívida pública interna, com geração de superávits - congelamento e desvinculação dos gastos da União exceto para pagamento de juros da dívida interna (Congresso: lei de responsabilidade fiscal, teto dos gastos e reforma da previdência).
Obs.: O cambio flutuante, associado a meta de inflação (BC) e ao superávit primário (Fazenda), que forma o famoso "tripé macroeconômico" deve-se a relação desse jogo de poder associado com o mercado financeiro do exterior.
E como eles conseguem obter essa hegemonia na sociedade brasileira?
Para entender isso, é preciso ver como um governo de "esquerda-desenvolvimentista" (como o anterior) via cada eixo do tripé:
1 - Câmbio flutuante - Além de ser uma forma de arbitrar conflitos entre importadores e exportadores, também era uma maneira de (combinado no tripé) manter o dólar levemente depreciado e assim, aumentar o poder aquisitivo (do ponto de vista interno) da população
2 - Metas de inflação - Mantém o poder aquisitivo dos salários. Segundo o mantra: "quem ganha com a inflação são os bancos e os rentistas", os pobres assalariados que não tem aplicações financeiras só perdem com a inflação.
3 - Superávit primário - "Ninguém pode gastar mais do que arrecada", se não vira bagunça e, depois, acaba quebrando (fica insolvente). Enfim, é preciso manter as contas públicas sob controle.
Portanto, creio que além da fé pregada pela sacrossanta GloboNews e seus apóstolos, também haja uma visão estreita da ECONOMIA-POLÍTICA. Senão vejamos cada uma das questões sublinhadas.
Aumento do poder aquisitivo da população = dólar elevado = menos importação = mais produção interna e mais exportação = pleno emprego = aumento de produtividade = aumento salarial.
Manter o poder aquisitivo dos salários = falso dilema: perda X valor. Pouca moeda em circulação = moeda mais cara (para acessá-la) = menos consumo/investimentos = menos produção = menos investimentos = menor aumento da produtividade = menor poder aquisitivo dos salários. Mais moeda em circulação = menor custo para acessá-la = mais consumo/investimentos = mais produção = mais investimentos = aumento de produtividade = maior poder aquisitivo dos salários.
Contas públicas sob controle = menos juros da dívida pública, mais impostos sobre lucros, dividendos e herança; menos impostos sobre o consumo de bens em geral e mais impostos sobre bens de luxo = superávit fiscal (contas públicas sob controle).
Enfim, ninguém vai superar uma crença, que amarra o desenvolvimento brasileiro numa espiral "financeiro-concentradora", reproduzindo de maneira simplista e equivocada os dogmas que a sustentam.
Diante disso, o verdadeiro tripé, em oposição ao atual e para o pavor infernal dos crentes, talvez devesse ser:
1 - Cambio apreciado
2 - Imposto progressivo (lucros, dividendos e herança)
3 - Disponibilidade de moeda/investimentos públicos (infraestrutura logística e energética, D, defesa).

Nenhum comentário: