Paulinho da Viola: seu tempo é hoje, suas canções, para sempre
Por Zé Carota
desde então, Paulinho dedica-se a apresentar ao público (composto pelas mais variadas gerações que mantém e renova) o frescor eterno do samba, seja com as suas composições ou regravando belezas esquecidas de grandes compositores, muitos dos quais trazidos à ribalta em seus shows para o merecido reconhecimento – não à toa, no ótimo documentário sobre Paulinho, “Meu tempo é hoje” (2003), num registro de sua ida ao famoso feijão de Tia Surica, esta faz questão de dizer que, embora afilhado de todos da Velha Guarda da Portela, é ele quem age como padrinho, fazendo de tudo para mantê-los dignamente na ativa.
no mesmo documentário, dentre as muitas e boas histórias reportadas ora por ele, em estúdios, salões de bilhar e na rotina de seu cotidiano (que inclui cafés da manhã com duração de até 4, 5 horas), ora por familiares e parceiros, merece destaque a história da composição da canção que o projetou nacionalmente – e, servindo como carro abre-alas de tantas outras, para a eternidade.
Paulinho conta que, para abastecer a despensa, compunha para os mais variados projetos, inclusive sambas-enredo para outras escolas, tais como a primeira que ocupou o seu muque do amor, a União de Jacarepaguá (a primeira agremiação a receber, ainda em seus primeiros reco-recos e tamborins, a visita de um chefe de Estado, o então presidente Juscelino Kubitschek), o que gerava muchochos de diretores, compositores e apaixonados da Portela, mas todos relevavam, pois não se discute os meios de se colocar o feijão no prato.
mas quando, em parceria com Hermínio Bello de Carvalho, Paulinho compôs “Sei Lá, Mangueira”, o caldo entornou, pois a rapaziada passou a cobrar-lhe quando, ora bolas, faria uma canção para a sua escola, ao que, muito tímido e sem graça, respondeu o que, a princípio, pareceu uma desculpa vã: “Pra Portela tem que ser especial. Uma hora, vem”.
em 1970, Paulinho lançou seu segundo álbum solo, cujo título era o nome da canção gravada na sexta e última faixa do Lado A, inspirada em sua primeira experiência com a Portela.
quando as escolas ainda desfilavam na Praça XI, Paulinho era menino, já apaixonado por samba, mas, pequenino, não conseguia assistir aos desfiles, com o que agachou-se e esgueirou-se entre quadris até encontrar um ponto que lhe desse boa visibilidade, e a primeira visão que teve foi a daquele azul cujo impacto, já homem feito e compositor, cunhou com a figura de linguagem eternizada no verso e título da canção: “Foi um Rio que Passou em Minha Vida”.
a canção não foi o samba-enredo da Portela naquele ano, mas foi ela que, na concentração e na dispersão do desfile, todos cantaram sem parar.
ele disse que tinha de ser especial, e foi mesmo.
o nome do documentário foi pinçado de uma frase que Paulinho diz em dado momento: “Meu tempo é hoje, eu não vivo no passado, o passado vive em mim”.
já as suas canções, estas são compostas para o sempre. - (Aqui).
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