quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A PROPÓSITO DO DESASTRE CLIMÁTICO

(Colagem deste blog)
"I  -  Evitar a cooptação no campo, nossa fronteira avançada
O movimento ao qual o artigo se refere está reportado no vídeo abaixo. 
Como o Brasil costuma se inspirar, para o bem e para o mal, no que acontece nas metrópoles mundiais, é importante conhecermos o que estão fazendo, antes que surja um MBL no campo - uma UDR das universidades e escolas públicas - ou outro 2013 da mudança climática que resolva entregar de vez nossos recursos naturais para os USA, já que aqui também as rebeliões costumam inverter seu sentido e resultado. 
E isso não é conspiração: um baba ovo do fascista foi um dos responsáveis por incendiar a população de Roraima contra os venezuelanos e chegou a convencer indígenas brasileiros de que os indígenas venezuelanos estavam tendo privilégios, e toca os nativos brasileiros a protestar contra os pobres venezuelanos... A tática é sempre contrapor entre si os combatentes do mesmo lado com falsas divergências, e o resultado é um farrapo humano na presidência na oitava ou nona economia de um mundo com 193 países, oficialmente. 
Assim como a Natureza, o mundo do pensamento e da ação não tem fronteiras - acreditamos nelas geralmente para nossa própria dominação, apenas. 
II -  Aquecer o debate e desaquecer o planeta, rs
O fato de a extrema-direita brasileira repetir o discurso da direita USamericana é parte da resposta, mas apenas para quem vive nas cidades e não enfrenta a retórica mais crua dos ruralistas, que é violência direta. 
Essa falácia de que a mudança climática era um pretexto para barrar o desenvolvimento das economias emergentes se baseia em uma premissa verdadeira, a de que os países desenvolvidos estavam se eximindo de fazer sua parte na redução de emissões, como numa aritmética simples: "nós já somos desenvolvidos; se vocês quiserem se desenvolver como nós, terão que emitir mais gases e isso vai desequilibrar a conta; então, o caminho mais fácil e rápido é vocês não se desenvolverem". 
Sem falar que os países pobres, e isso é comprovado cientificamente, têm um padrão de consumo que juntos não supera o dos mais ricos dos USA, a questão não é bem essa. Tanto os países desenvolvidos devem se responsabilizar pela sua própria parcela no problema, como a solução não passa apenas pelo nível de desenvolvimento mas pelo tipo, o "como nós", do pensamento anterior. 
Ou seja, não é mais uma questão apenas de reduzir emissões e repensar a velocidade de desenvolvimento, mas de transformar padrões de vida, de produção, consumo e circulação de bens e resíduos no planeta. 
Por isso, no Brasil essa conversa fiada não cola por muito tempo porque a extrema-direita não é desenvolvimentista, é predatória de maneira franca e direta. 
Basta dar voz aos debates entre ruralistas e ativistas do campo e da sustentabilidade que o verdadeiro embate de projetos se revela. E passa longe dessa dicotomia desenvolvimento ou empobrecimento: o papel  do agronegócio na balança comercial não se reflete em melhor e mais comida da mesa do brasileiro comum, o lucro fica com os ricos de sempre. Então, como vão sustentar essa conversa fiada de que não há alternativa a não ser continuar a destruir o planeta em nome do desenvolvimento. Pergunte: desenvolvimento de quem? E terá a resposta. 
Acho mais complicado, e necessário, envolver e conscientizar trabalhadores da indústria, como a automobilística e a da cadeia do petróleo e gás, cujos sindicatos, por exemplo, têm visão parecida à do comentarista ao qual você respondeu (Nota: este comentário se refere ao de um outro leitor, que rebatera posições manifestadas por um outro comentarista). Precisamos de pensamentos de transição e projetos que mostrem aos trabalhadores que o meio ambiente não é seu inimigo, e que a mudança da infra-estrutura de energia e produção tende a fortalecer o mercado de trabalho dos humanos, cuja substituição por robôs é sintoma da desnaturalização dos processos e formas de vida sob o capitalismo. Aí aparecem as contradições: grupos que apenas pensam em seus interesses imediatos e não se vêem como parte de uma sociedade mais ampla, que dirá de um ecossistema que pede socorro e do qual dependem para viver mais do que de seus empregos - se tiver um pedaço de terra pode plantar para comer; na cidade grande, mesmo com emprego, mal sobrevive. Essa a alternativa para o futuro, ter uma vida de fato digna coletivamente ou ser extinto, coletivamente mas com o orgulho individual  ou corporativo intocado." 


(De Cristiane N Vieira, leitora do GGN, a propósito do contido no post "Contra o desastre climático, só a ação radical", de autoria de George Monbiot - aqui -, reproduzido neste blog. 
O vídeo a que a comentarista se refere no início do texto acima é "Canal The Guardian - Life inside Extinction Rebellion: 'We can't get arrested quick enough' - https://www.youtube.com/watch?v=jAH3IQwHKag).

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