terça-feira, 13 de novembro de 2018

A TRAGÉDIA NACIONAL E OS MACROECONOMISTAS

O político francês Georges Pompidou costumava dizer que "Das várias maneiras para se atingir o desastre, o jogo é a mais rápida, as mulheres a mais agradável e consultar economistas a mais segura".
Mas, certamente há economistas e economistas, talento e tacanhez, visão e miopia, sorte e imponderável.
(Colagem: GGN).
Os macroeconomistas no centro da tragédia brasileira 
Por Luis Nassif
Os macroeconomistas no centro da tragédia brasileira Por Luis Nassif Há dois vícios recorrentes marcando a gestão de política econômica no país.
O primeiro, a profunda incapacidade dos gestores em submeter a teoria à analise da realidade. Assim como na medicina, a economia fornece as ferramentas de diagnóstico e de tratamento. Mas não são fórmulas universais. Cada caso exige uma analise individual e um acompanhamento permanente da maneira como o organismo econômico está reagindo.
É uma fé cega nos manuais e uma incapacidade ampla de analisar a realidade. Parece ser um vício da formação brasileira nas ciências humanas, pois ocorre também no meio jurídico.
Os grandes juristas internacionais têm uma visão ampla sobre sociedade, psicologia social, relações internacionais, direitos humanos. Confesso minha total incapacidade de analisar os escritos jurídicos de Luís Roberto Barroso – tido como grande constitucionalista. Mas a visão rasa que ele tem o país, a sociedade, o mundo, as mudanças sociais econômicas é tão rasa que é impossível desse mingau ter saído qualquer manjar substancioso.
Como explicou o Nobel de Economia Paul Krugman em seu artigo no The New York Times, as crises de “paradas súbitas” que abateram diversas economias nas últimas décadas, tinham as seguintes características:
  1. Fuga dos investidores externos por alguma razão objetiva, ataques contra a moeda local, desequilíbrios no balanço de pagamentos, crises políticas.
  2. A saída provoca uma desvalorização na moeda.  Mas, por outro lado, uma explosão nas dívidas locais em moedas externas, travando a recuperação.
  3. A única saída dos países era aumentar substancialmente os juros para segurar os dólares. Mas comprometendo o nível de atividade.
Krugman não entendeu o que o Brasil fez.  A causa maior das paradas súbitas – o endividamento externo – não era expressivo, nem o balanço de pagamento entrou em crise. Por que, então, emular as estratégias de países com problemas externos?
A crise brasileira decorria de dois fatores:
  1. A queda nas cotações das principais commodities brasileiras.
  2. Um endividamento amplo de famílias e empresas, fruto do período anterior de expansão do crédito.
Por outro lado, havia problemas estruturais, mas não emergenciais, nas contas públicas, que deveriam ser resolvidos em prazos longos. A principal causa do aumento do déficit público era a queda da atividade. Por isso mesmo, qualquer estratégia teria que atacar o problema imediato – queda do nível de atividade – e acenar com soluções consistentes de longo prazo para as questões estruturais. Mesmo porque, quem acredita em milagres imediatos para a questão previdenciária é a imprensa, não os analistas sérios de mercado.
Para espanto de Krugman, o pacote Levy consistiu em um fortíssimo choque fiscal, com reajuste de tarifas e de câmbio e cortes expressivos nos investimentos públicos, aumento dos juros e travamento do crédito, o que acentuou a queda da economia.
O discurso de Levy era mágico. Fazendo o ajuste fiscal radical de bate-pronto – e o mercado acreditando – o primeiro sinal de recuperação seria a queda das taxas longas de juros. Quando isso acontecesse, imediatamente retornariam os investimentos privados, independentemente do nível da demanda.
É a maior jabuticaba plantada em terras tropicais. Se fizer um ajuste fiscal que comprometa radicalmente a demanda, ainda assim os empresários vão investir. E vender para quem? Para esse ente mágico chamado superávit fiscal
Com o choque fiscal, se acentuou a queda do nível de atividade – e, com ele, da arrecadação fiscal promovendo a maior recessão evitável da história.
Mais que isso, o impacto do choque tarifário e cambial produziu inflação de custos. Em uma quadra recessiva, esse impacto ecoaria nos meses seguintes, mas, na medida em que o tempo fosse passando, e esses meses saindo da contagem anual, a inflação se          diluiria naturalmente.
Nesse momento, no entanto, o Banco Central entrou em pânico. Não apenas aumentou as taxas de juros, como travou o crédito, visando derrubar ainda mais a atividade econômica, para segurar a inflação.
O resultado foi que Levy conseguiu com que a economia brasileira emulasse as grandes tragédias das “paradas súbitas”, sem necessidade, e sem ter a vulnerabilidade central: a crise no balanço de pagamentos. Ou seja, a menina que pegou gripe forte, e foi tratada como tísica, saiu do tratamento com o organismo tão debilitado quanto a outra, vítima de uma tuberculose.
Dos anos 90 para cá, atrás de cada tragédia brasileira havia um economista neófito e megalomaníaco se julgando portador da bala de prata.
O segundo vício da gestão econômica brasileira é a confusão entre o economista formulador e o gestor. Sobre isso falaremos amanhã.  -  (Aqui).

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