"A Lei de Execução Penal é absolutamente clara:
Art. 41 - Constituem direitos do preso:
X - visita do cônjuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados;
Preso na sede da PF, Lula está sendo impedido de receber visitas de seus amigos. Um Prêmio Nobel da Paz não recebeu autorização para visitar o prisioneiro, que ademais está sendo deliberadamente impedido de ter contato com seu advogado Wadih Damous e com os parlamentares que foram fazer uma vistoria no local. Portanto, o regime de cumprimento de pena imposto a Lula é evidentemente mais rigoroso do que aquele que foi prescrito em Lei. A ilegalidade da conduta da juíza responsável pode e deve ser objeto de reprimenda judicial e até funcional.
Além de cumprir pena num regime mais severo do que aquele que está prescrito na Lei, o ex-presidente petista continua sendo vítima de uma evidente criminalização por parte da imprensa. Esta semana o âncora do Jornal da Band insinuou que Dilma Rousseff faz visitas íntimas a Lula.
Ricardo Boechat não é um foca inexperiente. Ele é jornalista há décadas e sabe muito bem que a Lei garante a dignidade do detento, bem como a privacidade das pessoas que o visitam na prisão. O comentário malicioso dele, dando a entender que Lula trai a memória da falecida esposa ou, pior, que ele já traia dona Marisa Letícia quando ela estava viva, atinge não só as pessoas envolvidas e seus familiares, mas as imagens públicas de dois candidatos a cargos eletivos.
Mais do que isenta, a imprensa deveria ser honesta. A desonestidade jornalística de Boechat nesse caso é evidente. Lula e Dilma Rousseff nunca demonstraram em público qualquer envolvimento que fosse além da amizade e da camaradagem político-partidária.
Muito pelo contrário, desde 2014 a imprensa vinha noticiando que ambos haviam brigado:
É impossível que Ricardo Boechat não tenha conhecimento destas notícias. Elas circularam de maneira intensa e refletiram em comentários políticos que foram feitos até mesmo na rede de TV em que ele trabalha http://videos.band.uol.com.br/jornaldanoite/13048855/separar-dilma-rousseff-da-imagem-de-lula.html.
O relacionamento entre Lula e Dilma parece interessar muito à imprensa. Ele já foi utilizado para desmoralizar o PT e ambos quando eles supostamente haviam brigado feio. Agora tudo indica que os jornalistas e seus amigos tucanos ("buscarão" a) desmoralização de Lula e Dilma porque eles têm um love affair na prisão.
Dilma Rousseff já foi vítima da divulgação de uma Ficha Falsa do DOPS (que segundo a Folha de São Paulo poderia ser verdadeira apesar do Laudo comprovando a falsificação) e da circulação de uma fotomontagem em que ela aparecia ao lado de um fuzil. O comentário malicioso de Ricardo Boechat certamente irá estimular a criatividade dos inimigos dela e de Lula. É assim que chegamos uma vez mais ao mundo do apeiron num ano eleitoral. (Apeiron = veja observação abaixo).
“O livro VIII de A República estabelece, por sua vez, que o desequilíbrio das funções da alma e das funções da cidade, em que consiste a injustiça, acarreta fatalmente o ciclo dos cinco regimes políticos e dos cinco tipos humanos por meio de sua gênese mútua até o seu termo: o mundo do apeiron, marcado pela esterilidade absoluta da tirania.” (Platão, Jean-François Mattei, editora Uniesp, São Paulo, 2010, p. 145/146)
Os jornalistas experientes das redes de TV sempre reclamam que no Brasil o “campo político” é um pântano asqueroso e nauseabundo povoado por pessoas inescrupulosas, desonestas e sem ética. Boechat teve o mérito de demonstrar na prática que o “serpentário da política brasileira” é apenas um reflexo pálido do “campo jornalístico”. O comentário dele não merece um Pulitzer; um Rotten Tomatoes talvez. Mas para fazer justiça ao que está ocorrendo no Brasil, o prêmio do âncora do Jornal da Band teria que ser entregue pela juíza Carolina Lebbos."
(De Fábio de Oliveira Ribeiro, post intitulado "Carolina Lebbos entregará o Rotten Tomatoes do Boechat?", publicado em seu blog e no Jornal GGN - aqui.
Observação colhida numa roda analítica: "Às vezes, o problema não reside unicamente no jornalista, mas no jornalista e seus patrões!" Ao que o arguto contrapõe: "Mas, sem o jornalista disposto a tudo, nada feito!" É por aí.
Observação colhida numa roda judiciosa: "Aquela autoridade é assim: pratica as maiores barbaridades que lhe ordenam fazer porque tais atos refletem o seu pensamento!" Ao que o arguto vai além: "A razão principal é outra: pratica as barbaridades que lhe ordenam porque há a certeza de que, descumprindo a ordem, perderá as futuras promoções por merecimento!"
Apeiron = para o filósofo grego Anaximandro [sVI a.C.], a realidade infinita, ilimitada, invisível e indeterminada que é a essência de todas as formas do universo, sendo concebida como o elemento primordial a partir do qual todos os seres foram gerados e para o qual retornam após a sua dissolução).
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