Vale a pena ler a íntegra do post abaixo (para o que será necessário conferir a 'fonte', clicando no 'aqui', ao final da reprodução), sobretudo em função de uma abordagem sobre o poeta piauiense Torquato Neto.
A cultura dos anos 80 segundo o Matador de Passarinho
Por Rogério Mattos
Rogério Skylab tem uma trajetória peculiar dentro da música brasileira. Pouco se destaca, além de seus posts no Facebook repletos de audiência (em sua maioria nazistóides, segundo o próprio), sua produção escrita, sua crítica literária e musical, que nos conta bastante sobre a história recente do Brasil, do período em que ganhou maturidade e soube escolher suas referências musicais, como Torquato Neto e a chamada Vanguarda Paulista. Acompanhar seus escritos, seu antigo programa na TV, além de sua atuação nas redes, permite traçar toda uma história do Brasil nas últimas décadas. Do "fino" da literatura e da música, de Dr. Silvana a Jojo Todynho (na companhia de análises de alguém não menos capacitado, o escritor Marcelo Mirisola), toda uma teoria do riso, assim como uma história do Brasil emerge. Foi o que procurei traçar nesse texto.
Passaralho e não Passaredo
Dr. Silvana (Nota deste blog: 'Dr. Silvana & Cia', banda brasileira de rock, criada em 1984 - aqui): "O pessoal [ainda] quer cantar música dos anos 80". Silêncio.
Um olha para cara do outro como se tivessem se ofendido. Parece que o silêncio foi bem grande a ponto de gerar uma contrariedade nesse sentido.
"Me fala uma coisa, corta Skylab. O primeiro LP de vocês foi Dr. Silvana e Companhia... Vocês têm ideia de quanto vocês venderam?". O entrevistado desconversa; diz que não tinha como contabilizar o quanto foi vendido por causa de política interna da gravadora. Pelo discurso, não parece que Cícero Pestana está mentindo... A gravadora fez uma separação "técnica" que não dizia a eles quantos discos venderam. A parte moral é que se a gravadora falasse que eles venderam 100 mil cópias, eles exigiriam o status de alguém que alcança esse número de vendas. Isso é um sintoma típico da época e do meio. Sua banda não poderia se igualar ao "top" da gravadora; no caso, Roberto Carlos ou RPM. "Mas vocês ganharam dinheiro com show", remenda Skylab. Inquestionável. E tudo teria sido torrado em farras (não em drogas, Silvana enfatiza) no Baixo Leblon, no financiamento de comensais que se juntavam para jantar, em táxis especiais que ficavam à espera da festa terminar, etc. "Ela foi dar, mamãe. Foi dar, mamãe", Skylab canta, em cena destacada... Impossível maior silêncio.
Silêncio novamente na câmera que volta a focar os dois personagens. Ofensa é a única palavra que parece condizer com a cara de Silvana diante da cara de paisagem de Skylab...
Não, nenhuma briga.
"Agora me diga uma coisa", interrompe novamente Skylab. Sim: interrompe o silêncio que luta por ser o protagonista do enredo.
"Em 1989 vocês lançaram um LP chamado 'Ataco outra vez'. Na contracapa desse disco existe um texto, que eu não sei se foi você que escreveu ou se foi alguém da banda, que me parece que é um desabafo". Silêncio? Não, vozerio... Mas Skylab conclui: "um desabafo contra a crítica". Davam muito valor a crítica social, a crítica política. Coisas do Legião, do próprio RPM (um dos "filés" da gravadora). A indústria fonográfica gostava de "coisas cabeça". Novo sintoma. Como disse anteriormente, sinal de sinceridade. Mas "Eu fui dar mamãe" também era uma crítica social. Um tapa na cara da hipocrisia. Ele diz que isso era forte na época. Não diria que hoje ainda há resquícios dessa prática por parte dos censores. No caso, a família. Acredito só que a hipocrisia se sofistica. Silvana é certeiro, mesmo dentro de uma quadratura "PLOC".
Depois, o cinismo da crítica. Suas palavras acertam no ponto a respeito. Mas quanto aos motivos...
Novo silêncio.
Silvana faz uma excelente abordagem geo-histórica: Skylab diz que eles fizeram muito sucesso no interior. Silvana diz que pediu uma vez para tocar o "Fui dar mamãe" numa dessas rádios da metrópole. O DJ, algo como um camarada (que dizem não existir mais), disse que não iria tocar porque não tinha audiência. Ele iria tocar "Taca a mãe pra ver se quica", ou seja, o que seria uma crônica que relata o que faz alguém xingar uma outra pessoa. Banalidades. Será? O fato é que a mãe não quica, ou seja, estamos ao lado da chamada morte. Surge um impasse ao ouvir a música. E aí?
Comparado a mais alta cultura produzida pelo mainstream hoje, considero sem dúvida alguma Serão Extra uma "música cabeça". Mais abaixo desenvolvo melhor o tema.
Se existe alguma crítica social além do fumo - algo muito forte - tem que se lembrar da bandeira da emancipação feminina. A moça que "foi dar" o serão extra digita, e quando toca as teclas da máquina de escrever é como se tocasse as teclas que produzem o som que os músicos executam ao fundo. E se foi de fato um serão extra? Isso é um prato cheio para a chamada "história-memória". Caso se transporte para a atualidade, o cinismo como visto por Guattari e Deleuze no Anti-Édipo é a ferramenta conceitual mais do que adequada.
Deve-se dizer que o foco na protagonista parece um prelúdio do que iria ocorrer em Emmanuelle...
No final do clipe, o patrão aparece como um telespectador da antiga série famosa. Em quem está a perversão? E a mãe "come" ele ao final... Depois um come o outro. Anos 80...
(???)
Será? Ah!, minhas leituras de Boccaccio...
E a Peste Negra grassando.
Por isso Cícero Pestana foi ao Matador de Passarinho. Uma importante entrevista-leitura. Pena dos que se debatem nas infindáveis "leituras fundamentais", Dante, Homero, Petrarca ou o ridículo Ricardo Lísias...
Para voltar ao assunto: aí o DJ da metrópole acabou tocando o "Fui dar mamãe" por ser sucesso no Brasil, ou seja, em suas cidades e não na metrópole. Foi algo "do interior para a capital", como diz Silvana.
Silêncio...
(esse o silêncio mais espetacular, ao final do vídeo. inexplicável e espetacular. acentua todos os outros, é o que eu diria)
Depois disso tudo, Skylab constata frente a Silvana que sua banda vendeu muito disco, conseguiu muito sucesso e que depois disso você não morre nunca.
Agora sou eu que faço silêncio...
Porra, mas o vídeo acabou! (...).
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