terça-feira, 31 de janeiro de 2017
ENTREOUVIDOS AO FINAL DO DIA
'Que nada! Fizemos tudo para que a montanha parisse uns ratos, e deu certo'.
'Você achou aqueles números fora de propósito, a grana é gorda, de fato. Mas você agora vê o quanto a bolsa mídia funciona!'
'Expusemos o Eike pelo triplo do tempo necessário; quando finalmente entramos com a Odebrecht, já havia um certo enfado. Foi uma grande sacada'.
'O Eike foi gente fina, elogiou nossos parceiros. Em retribuição, não o mostramos sem peruca'.
'A receita é infalível: os assuntos constrangedores saem logo na abertura. Do meio para a frente, a gente vai amaciando, e no final exibe matéria para lá de edificante. Pronto. Fica aquela leveza no ar, propícia para a novela das dez. O Brasil mais uma vez volta ao curso glorioso da tranquilidade'.
'A manutenção do sigilo deixou-nos aliviados. Foi uma providência muito bem vinda. Deixamos o Janot meio exposto, mas ele entenderá. É fino. Vamos agora bombar a ideia de que delação não passa de indício, carecendo de confirmação. Caixa 2, por sua vez, é mero recurso contábil. Antes era diferente, lembra?, agora não'.
'Imprensa é oposição àquele partido abjeto, o resto é jornalismo ímprobo'.
'O negócio agora é internacionalizar ao máximo a pauta, e torcer para que não haja vazamento de delação. Vazamento perdeu a serventia'.
'Jornalismo investigativo pra quê? Passou o tempo de desperdiçar dinheiro'.
'O que preocupa é não termos boas notícias na área da economia. O incômodo é indisfarçável. A cada dia, vai se esfarrapando o argumento da herança maldita. Assim fica complicado amaciar o tema Odebrecht'.
'Perigosos, mesmo, são aqueles sujeitos que dispõem de tempo para se informar por intermédio de outras fontes e assistem aos nossos jornais só para ver as distorções de fatos e, pior, os detalhes e até mesmo os temas que sonegamos ao público. Eles deveriam entender que estamos num país livre, em que cada um é dono de sua parcialidade e pode fazer dela o que bem entender!'
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