É irrelevante que Trump tenha rejeitado um tratado que nunca existiu e que nunca provavelmente existiria na prática. Sua rejeição está no campo estritamente simbólico, que vale para dentro e, contraditoriamente, também para fora. O que se coloca em questão não é o tratado em si mas a simbologia que representa para o resto do mundo, em particular para os países em desenvolvimento e os emergentes. Nas mãos dos neoliberais democratas, mesmo não ratificado, serviria de pressão permanente para a abertura comercial destes últimos. (Nota deste blog: O 'tratado que nunca existiu' é o Acordo Transpacífico).
Para nós, brasileiros, a rejeição é extremamente significativa. Muitos se esquecem de que é um diplomata brasileiro que está à frente da Organização Mundial do Comércio. Sua tarefa, contra os interesses reais do Brasil, é promover o livre comércio no mundo, a começar do nosso. Quanto foi indicado para a OMC, escrevi um artigo inflamado perguntando que diabos um brasileiro iria fazer nesse posto na medida em que os interesses nacionais do país colidem com as prédicas ideológicas do livre comércio. (Nota deste blog: Veja o comentário de André Araújo no post original, clicando no 'aqui', abaixo)
Agora, acredito eu, com base apenas na retórica de Trump – independentemente do que vier a fazer na prática, diga-se de passagem – países como o Brasil poderão criar coragem e defender seus próprios interesses e não os interesses de Washington na questão do comércio. É claro que gente como José Serra e Michel Temer devem estar tontos com a situação pois seria para eles mais confortável defender os interesses dos Estados Unidos na condição de cabeça de império do que como uma nação voltada para seus próprios interesses.
A tentativa de minimização do gesto de Trump ignora a natureza das leis dialéticas pelas quais situações extremas geram contraditoriamente o seu oposto para criar uma nova síntese. Os Estados Unidos estão super-estendidos no mundo. São mais de 700 bases militares, são sete guerras em andamento em que estão envolvidos, são agentes globais do intervencionismo militar e político. Seu povo parece cansado disso. Trump ganhou porque soube interpretá-lo. É o oposto disso. Uma figura contraditória, capaz de gerar uma síntese.
O Papa Francisco fez uma importante advertência a respeito dele. Vamos esperar para ver o que vai fazer, recomendou. Nada de julgamentos precipitados. Ao contrário do que pensam, seu nacionalismo vai muito além da retórica. Ele não quer se meter nos problemas do mundo em todo o planeta. Num dos temas mais sensíveis, Israel, ele fez um comentário absolutamente pertinente. Só Israel e os palestinos poderão resolver os seus problemas, disse ele. A pretensão de que tudo se resolve em Washington mais do que fracassou."
(De José Carlos de Assis, professor, economista, post intitulado "Superficialidade e ignorância nas análises sobre Trump", publicado no Jornal GGN - AQUI.
Há quem divirja da alegação de 'mudança de paradigmas' e outras opiniões do articulista; colisões entre os juízos formulados por comentaristas do post - são quase 90 - também se verificam. O certo é que a doutrina Trump persegue o 'receituário WASP' de forma desbragada: os EUA, que consomem mais de um quinto de toda a energia produzida no planeta, querem mais, e mais, e o resto que se arrebente. Não que antes dele, Trump, existisse o propósito plenamente desinteressado de evitar o caos global, traduzido em fome, entreguismo, relações desastrosas Norte-Sul...
Transcrevemos comentário/desabafo de Vânia, lembrando que vale a pena ler os demais:
"Procure um, unzinho só, post aqui do blog no qual alguém esteja defendendo a Hillary. Não vai achar, e, se por acaso eu comi mosca e existe um post desse tipo, deve ser um apenas e sem repercussão. Agora, procure posts defendendo direta ou indiretamente o Trump. Provável que você encontrará vários. Como já disse aí embaixo (as pessoas têm preguica de ler, e quando leem têm mais preguiça ainda de tentar entender), nem quando o Obama foi eleito pela primeira vez e se configurava uma promessa de avanços de direitos etc, foi tão comemorado como o Trump tem sido por aqui.
Mas... é isso aí. Continuem descendo a lenha no PSoL, nos gays, nas mulheres que não entendem nada de geopolítica e muito menos de geoeconomia, ao tempo em que celebram tipos como o Trump.
Talvez ainda neste ano vocês estejam celebrando a vitória de Le Pen na França ou algum 'antineoliberal regressista' na Alemanha.
Como eu disse em outro post:
A nova 'esquerda reacionária' não quer mais saber de sustentabilidade, nem do racismo, nem da misoginia, nem da xenofobia, nem dos palestinos, nem da homofobia, nem da liberdade religiosa ou do estado laico... Tudo isso agora virou coisa de 'neoliberalista progressista'.
Nada mais importa! O importante agora é apoiar o Trump incondicionalmente. Tendo fé cega nesse senhor com ideias tão nobres, rejuvenescedoras e revolucionárias... Marx tá vendo!
Deixando a ironia de lado, agora eu começo a compreender profundamente Hannah Arendt.").
Nenhum comentário:
Postar um comentário